Cemitério de Consoles | Commodore 64 Games System (1990): o computador disfarçado de videogame

Tentando tirar proveito de um produto ultrapassado, a Commodore desenvolveu um console sem apoio e planejamento.

Gustavo Maganha Andria
Aventurine Brasil
5 min readOct 13, 2018

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Alcançamos o quarto texto da série Cemitério de Consoles, onde abordamos videogames que fracassaram no mercado e que impactaram, de certa forma, cada empresa e suas finanças. Chegou a vez do Commodore 64 Games System, lançado apenas na Europa em dezembro de 1990, pela Commodore.

O Commodore 64 Games System foi um console projetado para ser uma adaptação do computador caseiro (home computer) da própria empresa, chamado de Commodore 64. Utilizava um sistema baseado em cartuchos ROM e era focado em jogos, competindo (ou ao menos tentando) com o mercado altamente movimentado do início da década de 90, tendo como principais protagonistas a Nintendo e a Sega.

O C64GS em si não teve comercial, mas eu fiquei fã dos “takes” de câmera deste comercial do C64!

Um console desacreditado

Lançado juntamente com outras tentativas da Commodore de se aproveitar do sistema Commodore 64, o C64 Games System sofria com uma falta de suporte por parte das empresas desenvolvedoras, que não viam no console um potencial decente para competir no mercado e isso o deixava em desvantagem se comparado à outros da época. Foi lançado em um bundle contendo quatro jogos: Fiendish Freddy’s Big Top O’Fun, International Soccer, Flimbo’s Quest e Klax. Esses títulos foram produzidos pela própria Commodore e também foram os mais conhecidos do console, justamente por acompanharem o aparelho. O próprio International Soccer foi pensado para o Commodore 64 e adaptado para o console de games.

Um pouco atrás dos FIFAs de hoje…

A já extinta Ocean Software contribuiu e muito para a biblioteca de jogos do C64 Games System, sendo uma das únicas a realmente acreditar em seu potencial. Desenvolveu e realizou o porte de uma série de títulos, incluindo Navy SEALS, RoboCop 2 e RoboCop 3, um remake de Double Dragon e outros jogos como Toki e Shadow of the Beast. Apesar dos esforços por parte da Ocean e de outras empresas, como a System 3 e a Domark, a falta de suporte e o descrédito dado ao Commodore 64 Games System desde o seu lançamento fez com que sua queda fosse constante.

O Commodore 64 (esquerda) era a base do Commodore 64 Games System (direita). Até que o C64GS é charmosinho.

Problemas de planejamento

A falta de suporte por parte de terceiros não foi somente o responsável pelo fracasso do Commodore 64 Games System. Por se aproveitar do sistema cartridge, esperava-se que o console utilizasse totalmente de suas funcionalidades e programações. Porém, por não possuir um teclado, muitos comandos e usos não eram possíveis e isso foi refletido em alguns jogos, como por exemplo em Terminator 2: Judgment Day. Esse último foi desenvolvido levando em conta a arquitetura base do Commodore 64 e necessitava que o jogador apertasse uma tecla para iniciá-lo, além usar um controle para jogá-lo. Isso tornava o título impossível de jogar, tanto no 64 Games System, quanto no Commodore 64, necessitando de várias “gambiarras” para que funcionasse adequadamente.

Terminator 2: Judgment Day no Commodore 64

O joystick que acompanhava o console também veio a se tornar um problema. Apesar de ter um visual moderno para a época e ser compatível com sistemas como o Sega Master System, oferecia uma programação estranha pelo fato de seus botões serem apenas reconhecidos no próprio C64 Games System, especialmente o botão da base. Esse botão só era utilizável no próprio console. Outros controles compatíveis com o aparelho, mesmo possuindo um botão com função similar, não conseguiam exercer a mesma função, fazendo com que o joystick do console fosse quase insubstituível. Isso dificultou a vida útil do mesmo, que expunha um erro da Commodore a cada dia que passava.

Desisto, é bizarro mesmo.

Promessas e mais promessas

A Commodore investiu muito no marketing pré-lançamento do Commodore 64 Games System. Prometeu cerca de 100 títulos para o console poucos meses após o lançamento, mas foram lançados apenas 28, sendo 9 desses exclusivos da programação cartridge e o resto sendo portes de jogos antigos e títulos não originalmente criados.

Contando apenas com o apoio já mencionado da Ocean Software, a Commodore até tentou estabelecer outras parcerias. Apesar de empresas como Thalamus, The Sales Curve e Hewson demonstrarem algum interesse, nenhuma se concretizou e o C64 Games System afundava-se no fracasso, não conseguindo competir no mercado da época e limitando-se ao continente europeu.

Um compilado dos principais jogos do console

Optar pelo C64GS era um investimento claramente arriscado. Sendo composto por basicamente falhas, o Commodore 64 Games System teve como principais motivos de fracasso:

→ Falta de suporte de third parties e planejamento ruim do uso do software baseado em ROM cartridge;
→ Sistema baseado em um modelo de home computer que foi lançado em 1982, portanto que já estava obsoleto;
→ Mercado de consoles altamente competitivo com a Nintendo e a Sega no páreo, não dando chance para falhas como as do C64 Games System;
→ Compatibilidade ruim de joystick.

Mas o C64GS não seria a última tentativa da Commodore de criar um console. O Commodore CDTV, também conhecido como Amiga CDTV, foi o primeiro videogame da história a apresentar drive CD-ROM de fábrica e é o próximo participante do Cemitério de Consoles. Comercializado também como uma central multimídia, a adição de periféricos opcionais transformava o sistema em um Amiga 500, computador em que o console se baseou.

Mas, afinal, será que a Commodore aprendeu com os erros que cometeu no C64GS? Se sim, o quê levou o CDTV ao fracasso? Descubra na próxima edição do Cemitério de Consoles e curta a página do Aventurine Brasil no Facebook para acompanhar nosso conteúdo e reduzir as chances de perder novos textos dessa série especial.

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