Mariana Belmont
Bancada Ativista
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4 min readJun 27, 2016

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Outra conclusão possível

Desde o início do século XIX a política institucional vem…

Não, melhor assim: Desde o início da humanidade grupos de pessoas se tornaram marginalizados pelo sistema político institucional. Há teses, teorias, mestrados e doutorados sobre isso, mas a realidade nos mostra que isso vai além da intelectualidade, que tem uma parcela importante na construção da história.

Mas será que há democracia nas periferias Será que o povo preto, periférico e pobre recebe esses direitos e conquistas de uma democracia que nunca foi sentida de fato? E como funciona nas urnas? O nosso direito segue sendo respeitado? E como funciona a cada dois anos? É tanto candidato, mas quem realmente representa os becos e vielas? As periferias são também conservadoras? São perguntas intermináveis e recordes diferentes de realidades e de sofrimentos.

“Este processo, muitas vezes chamado de autoconstrução, transformou as periferias no local de demandas sem precedentes por direitos e cidadania — direitos à infra-estrutura e aos serviços urbanos, bem como à participação política e jurídica. Seus pedidos de inclusão plena no contexto legal da cidade foi resultado de transformações em sua auto-identificação como cidadãos e do entendimentos de seus direitos, ambos baseados em grande medida em suas experiências urbanas: no fato de terem construído a cidade, apropriado-se de seu solo através da autoconstrução, lutado para adquirir uma casa própria — tornando-se consumidores modernos no processo-, e pago várias taxas e impostos relacionados ao consumo e à habitação.” — Ref.: HOLSTON, James e CALDEIRA, Teresa, em “Urban Peripheries and The Invention of Citizenship”, Harvard Design Magazine, 2008

As periferias sempre integraram movimentos sociais antes mesmo do nascimento de qualquer partido político na luta pelo básico: luz instalada, moradia digna, água encanada, rua asfaltada e criança matriculada na escola.

Alguma coisa está acontecendo na política, suas bases estão ruindo e o castelo do poder intocável está quebrando, já não resiste, e precisa com urgência ser desmitificado. Há dinâmicas eleitorais que precisam ser desconstruída, e a grande sacada é como fazer isso com real mudança, como trazer pessoas da sociedade civil, com perfis progressistas, para a política institucional?

Há dois meses um grupo de pessoas começou a se reunir, pessoas diversas, mas com inquietações e angustia sobre aquele dia 04/03, um espetáculo de horror, indignação e todos os piores clichês que se tenha. Diversos encontros, diversas construções, semanas pensando em conexões e quem seriam, e como, os pré-canditatos. E se ele topariam chegar junto e acreditar. E o principal, a ideia era tornar todo esse processo o mais pedagógico e acessível possível, com seus acertos e erros.

Mas afinal, como se sentir parte de um grupo tão diverso? Tanto no sentido de ideais como na divergência de posicionamento. Foram dias repensando minha permanência ali, se eu seria útil mesmo, ou só era a cota. No início eu não soube me conectar, dispenso falas difíceis, por não acreditar que “enchem barriga” da realidade diária lá da borda. Pois há fronteiras traçadas não apenas sobre territórios, mas dentro de nossas cabeças.

Mas hoje, o texto do Caio Tendolini faz muito mais sentido, em toda essa construção de poucos meses de Bancada, eu percebi que pode haver conecções e troca de aprendizado. O texto faz sentido pelo propósito e urgência da mudança do sistema eleitoral.

E precisamos desconstruir essa barreira de “da ponte pra cá”, sabemos e validamos as diferenças, acreditem. É necessário entender o papel de todos esses agentes nesse processo de construção, e como a periferia deve dialogar com tudo isso em um papo horizontal e de fato se sentindo no processo.

Afinal as periferias não aguentam mais político que só aparece de quatro em quatro anos, político que captura lideranças, que se vendem por um processo natural de necessidade. A gente não acredita em “entregadores de cesta básica”, mas há parcela representativa da margem que acredita, porque esse tipo de promessa é a única que se tem para a sobrevivência muitas vezes.

Somos um movimento suprapartidário da cidade de São Paulo, um movimento que juntou diversos ativistas com atuação em múltiplas causas sociais, econômicas, políticas e ambientais, para dar suporte a pré-candidaturas de ativistas ao poder legislativo nas eleições de 2016.

”[…] Na raiz de sua mobilização política estava a condição de ilegal/irregular de suas propriedades e da situação precária de seus bairros, que as autoridades públicas nunca consistentemente atenderam com serviços e infra-estrutura, alegando exatamente sua situação irregular. Participantes desses movimentos, em sua maioria mulheres, eram novos proprietários que compreenderam que a organização política era a única maneira de forçar as autoridades municipais a estender a infra-estrutura e serviços urbanos para seus bairros. Eles descobriram que, como contribuintes, legitimavam o seu “direito a ter direitos” e o seu “direito à cidade”, isto é, os direitos de acesso à ordem jurídica e à urbanização (infra-estrutura, água encanada, esgoto, coleta de lixo, energia elétrica, telefonia, e assim por diante) já disponível no Centro”. — Ref.: HOLSTON, James e CALDEIRA, Teresa, em “Urban Peripheries and The Invention of Citizenship”, Harvard Design Magazine, 2008

Impulsionar candidaturas, de pessoas que a gente acredita e ativistas com trabalhos sérios e verdadeiros, será um desafio. Desafio tanto no sentido da construção de ferramentas que dialoguem com o que eles precisam, quanto no diálogo com a esquerda, que deveria estar unida e se racha pelo poder e por voto. Não estamos trabalhando com disputa de território, estamos trabalhando com pessoas que acreditam no poder da mudança dentro do legislativo.

E nunca uma frase do NiBrisant, poeta de tantos saraus das margens, fez tanto sentido nesse processo da Bancada Ativista, “não sei explicar direito, mas deve existir uma relação íntima entre a luta, o cansaço e a felicidade”

Para saber mais sobre a Bancada Ativista e se quiser colar cunóis, acessa o site.

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Mariana Belmont
Bancada Ativista

acredita que manuel estava certo quando disse “acho que o quintal onde a gente brincou é maior do que a cidade”