Se sua vida fosse uma série, quantas temporadas teria?

Barbara Miranda
barbararmiranda
Published in
5 min readMar 5, 2020

Estou completando mais ano de vida e, como a maioria das pessoas, eu começo a refletir sobre tudo o que já me aconteceu e é sempre um misto de alegria e confusão porque já mudei tanto que não consigo me reconhecer em vários eventos que se passaram comigo, ao mesmo tempo, que sim, eu vivi e tenho essas memórias, diálogos e cenas ainda muito vivas na minha cabeça.

Eu sempre digo e acho que já falei no Outras Mamas Podcast que a impressão que eu tenho é que são várias de mim em uma só vida ou talvez eu tenha várias vidas e estou vivendo todas elas paralelamente, em cada hora, uma eu sendo a protagonista da vez. Mas eis que, ouvindo o podcast é nóia minha sobre não se sentir com a idade que se tem eu vi uma analogia ainda melhor e mais atual para esse sentimento: de que a nossa vida é uma série, com várias temporadas! Comecei a refletir então, sobre como algumas pessoas tem várias temporadas numa vida só, enquanto outras tem uma longa e única temporada e outras uma temporada curtíssima, mas ainda assim cheia(s) de reviravoltas e com um episódio final digno de cinema.

Aí comecei a escrever o roteiro da série da minha vida.

Eu, com alguns dias de vida.

Minha primeira temporada eu acho que durou até os meus dezessete anos, logo após eu terminar meu intercâmbio na Alemanha. Foi longa eu sei, mas é que apesar deu ter crescido de tamanho, mudado de escola várias vezes, aprendido um monte de coisa eu não sinto que eu mudei tanto assim (e isso você pode reparar pelo meu cabelo ao longo dos anos). Eu era muito tímida, boa aluna, boa filha, tive uns momentos de rebeldia na puberdade mas, no geral, minha vida era uma vida regular.

Na UnB

A segunda temporada começou quando eu aprendi que eu podia ser diferente e crescer. Eu tive uma adolescência tardia, continuei tímida mas já questionava várias coisas que me incomodavam, arrumei um namorado, fiz vestibular e tinha certeza, como toda jovem, que meu plano de me formar na faculdade e seguir na carreira de designer ia dar certo — afinal, essa era a profissão do futuro. Curti bastante a universidade, peguei estágio cedo e a meta era clara: começar a trabalhar o quanto antes — e eu fui muito bem sucedida nisso: fiz vários amigos, viajava bastante, ganhava dinheiro e era elogiada por isso. Os episódios duraram uns quatro anos, até eu começar um novo relacionamento e entrar na vida adulta ou, pelo menos, era isso o que eu pensava.

Fazendo a cenografia pro show do Móveis

Começa então a terceira temporada comigo apaixonada, me formando e de carteira assinada, trabalhando com o que eu gosto: música! Na época, eu era designer da banda Móveis Coloniais de Acaju, ia à shows, conhecia mais pessoas maravilhosas e tudo isso num relacionamento com potencial pra seguir por várias temporadas seguintes, quiçá todas! Meu sonho de princesa, que eu nem sabia que tinha, estava se realizando. Dois anos vivendo o sonho e aparece um sonho ainda maior: morar e trabalhar em Nova York. Sabe aquelas oportunidades que é pegar ou largar? Eu sei que não é oportunidade, é privilégio, mas na época parecia o destino me chamando pra algo maior e eu fui. Sonhando alto com o que eu poderia vir a ser naquela cidade que antes eu só via em filmes.

Foto tirada do Dumbo em Nova York

Mas como todo carnaval tem seu fim, o sonho também não durou tanto assim (até rimou!). O emprego acabou. E o relacionamento? Me apagou. E como essa história merece um texto só pra ela, vou deixar pra depois, mas fica aqui o spoiler de que ela não me apagou por inteira! No fundo ainda tinha uma chama bem fraquinha que reascendeu na quarta temporada.

Na minha festa de 27 anos

A quarta temporada começa com aquilo que todo mundo precisa, mas poucos conseguem ter e se entregar de verdade: terapia. A verdade é que eu dei sorte de ter encontrado uma terapeuta maravilhosa que em menos de dois meses me ajudou a mudar minha vida do avesso. Eu estava desempregada, tinha acabado meu relacionamento de princesa e, mesmo assim, feliz. Me sentindo livre, pela primeira vez desde que minha história começou. Nessa liberdade toda comecei uma busca incessante pela minha identidade, engatei num novo relacionamento, mudei de cidade com o boy e decidi começar um podcast com uma mulher (maravilhosa) que eu mal conhecia na época.

Eu e Thais posando pro Outras Mamas Podcast

Por incrível que pareça essa está sendo a temporada mais curta em anos, mas a mais longa em mudanças internas e externas. Minha vida de designer? Nem sei mais o que significa isso: sucesso, trabalho, carreira. No momento, eu acho que são só coisas que a gente coleciona pra contar pros outros ao longo da vida. Nesse meio tempo, aprendi a me politizar, e aprendi que eu tinha voz e poderia ser ouvida e compartilhada com milhares de outras vozes pelo sentimento de querer transformar. O podcast vai bem e a mulher que eu mal conhecia se tornou uma companheira e tanto! E o relacionamento? Tivemos várias crises como esperado, mas ele ainda cresce e já virou um laço muito maior do que eu jamais poderia imaginar existir entre duas pessoas. Seguimos caminhando juntos, construindo novas pontes, conhecendo novos lugares e formando novas famílias por aí.

Depois de tantos plot twits, estamos chegando na season finale. Não sei quantas temporadas serão ao todo mas, relaxa, que já garanti que a série será renovada e a nova temporada começa em breve: nova mudança, cidade antiga e amizades reencontradas e muitos, muitos lugares pra conhecer e visitar.

O que me aguarda pra essa quinta temporada, eu não sei. Só sei que hoje, dia 05 de março de 2020, ficará marcado como o dia que eu comemoro mais uma volta ao sol com o sentimento de que independente do que vier, tem sempre uma temporada nova pra recomeçar (e pode vir com reviravoltas e tudo, que eu to pronta e muito bem acompanhada!).

E você, está em qual temporada?

--

--