Pandemia ainda é tema central nas reportagens do segundo semestre

William Martins
Redação Beta
Published in
11 min readSep 8, 2020

As matérias da Beta Geral são comentadas por novo conselho do leitor

O segundo semestre inicia com o ensino remoto e alunos seguem produzindo reportagens de casa (Foto: Fancycrave1/Pixabay)

O desafio segue o mesmo: a produção integral das reportagens da Beta Redação de forma remota. Esse novo formato de construção das matérias apresenta provocações tanto aos repórteres, quanto aos editores e professores. A falta da metáfora, materializada como prática, “colocar os pés no barro”, tão orientada pelos docentes em tempos normais, nesta primeira entrega não prejudicou o resultado, apesar do distanciamento social. Entretanto, grande parte das reportagens ainda giram em torno do tema da pandemia.

Nessa primeira coluna ressaltar a importância da Beta Redação no curso de Jornalismo da Unisinos é necessário. Completa-se em 2020 cinco anos deste espaço de simulação do ambiente profissional e de redação jornalística. Muitos discentes que passaram pelas editorias de Esporte, Geral, Economia, Política e Cultura já contribuíram com grandes e reconhecidas produções.

Quem faz o jornalismo da “Beta” são alunos e professores, sem abrir mão do compromisso ético. Portanto, é preciso acreditar no trabalho aqui desenvolvido — que vem crescendo e se diversificando em número de leitores.

Podemos fugir da Pandemia?

O país está imerso em uma pandemia desde março deste ano. O Brasil já acumula mais de 120 mil mortos. Produzir conteúdos que não falem especificamente deste acontecimento é um desafio, pois o assunto é latente e pauta diversas outras questões que se apresentam a partir dele. Mas o público também precisa de pautas que se proponham a contar outras perspectivas em meio ao caos.

É o que os colegas Elias Vargas, Cristina Bieger e Thariany Mendelski conseguiram fazer em suas entregas. A Covid-19 estava no contexto das produções, mas não foi ela quem guiou as narrativas. Em especial as reportagens Protetoras voluntárias enfrentam a pandemia para resgatar animais e Futuras mamães unidas durante a pandemia, dão leveza à dureza da realidade atual. Já a reportagem Mudanças no pedágio de Gravataí facilitam o dia a dia da população oferece um ar de cotidiano pré-pandêmico, que recupera um sentimento de saudosismo.

A problematização com a volta às aulas e as metodologias pedagógicas utilizadas pelas escolas públicas e privadas no ensino remoto também se fazem presentes entre as matérias. Discussões necessárias que estão em alta no momento e que precisam ser debatidas junto à sociedade. Cenário muito bem apresentado nas reportagens sobre educação.

Em relação à matéria Mudanças no pedágio de Gravataí facilitam o dia a dia da população, já citada anteriormente, não há contextualização para o leitor sobre o período em que a obra ocorreu. A repórter utiliza a seguinte frase: “Os pedágios de Gravataí e Santo Antônio da Patrulha, na BR-290, a Freeway, passaram por algumas mudanças importantes nos últimos dias.” A data da obra só aparece após o subtítulo “Entenda como ocorreram as mudanças”.

“Nesta reportagem, dados importantes foram apontados, como a localização, vantagens e benefícios econômicos e de tempo, para a população da cidade e arredores. Embora o texto seja bem claro e de fácil leitura, já criamos a cultura de não ler textos muito longos”, comenta a leitora Claudete Morellato, orientadora educacional aposentada da rede de ensino municipal de Canoas.

A reportagem tem uma função de prestação de serviço, informando a nova localização do pedágio e como se deu essa organização. Mas poderia ressaltar mais sobre a economia dos moradores de Gravataí, apresentando o valor total economizado por aquele cidadão que viaja todos os dias da sua cidade para a Capital.

O leitor Jeferson Luis da Silva, professor de Letras/Inglês e Técnico em Eletrônica, ressalta a importância e os reflexos da mudança de local do pedágio. “Ela impulsiona uma melhoria para a cidade. Problemas de tráfego são apenas um aspecto que a cidade acaba por resolver, bem como outras demandas, tais como a redução no valor da passagem de ônibus”, comenta.

O texto Protetoras voluntárias enfrentam a pandemia para resgatar animais, apresenta um título na capa da editoria e outro na página do texto. Além disso, a foto de capa na abertura do texto não privilegiou a leitura. É o que pontua a leitora Claudete. “Acredito que o título é o que vai motivar para leitura, então não colocaria a fotografia em destaque antes do título, e esta imagem, ao meu ver, não remete ao título da reportagem”, afirma.

O repórter inicia a matéria se colocando na narrativa na seguinte frase: “Durante toda a nossa vida sempre escutamos que o cachorro é o melhor amigo do homem”. Precisamos tomar distanciamento da narrativa enquanto jornalistas e não nos colocar como parte da notícia.

Com as dificuldades impostas pelo distanciamento, encontrar boas imagens para compor as matérias pode ser um desafio. Por isso, é compreensível que buscar ilustrações com boa resolução pode não ser fácil. Na quarta foto do texto, a legenda traz o nome do cão como Pepita. Mas o texto a apresenta como Lupita. Fica a dúvida ao leitor de qual é o correto.

Lupita ou Pepita?

Contudo, a reportagem apresenta uma realidade tão presente no dia a dia, que é a dos animais abandonados e que pode ter sido mais invisibilizada durante esta pandemia. “O texto é ótimo. Traz um assunto muito atual e de grande relevância. O autor busca termos claros e desenvolve os parágrafos com muita coerência. Pontuação usada de maneira adequada e vocabulário acessível.”, afirma a leitora Ana Cristina Petter Gitaí, formada em Letras e mestranda em Representações Sociais.

A reportagem Futuras mamães unidas durante a pandemia apresenta uma proposta que se diferencia das outras entregas, dando leveza a essa primeira rodada de materiais. Ela é composta por belas imagens, que ajudam a contar a história. Além disso, o case das três amigas, que compõem a reportagem, privilegiou a construção do conteúdo.

Conforme a leitora Indianara, disseminar informações entre mulheres grávidas é muito necessário. “Sempre é importante a troca de informação entre mães e gestantes, ainda mais no período atual com tantos medos de contaminação”, afirma.

Já a leitora Claudete Morellato sugere que sejam publicados novos capítulos dessa reportagem, onde a Beta Redação possa acompanhar as gestantes durante o semestre. “Esta reportagem poderia ser dividida em capítulos, acredito que as pessoas, e em especial as gestantes, gostariam de saber o que acontece nas diversas fases e, acompanhar as mudanças físicas e emocionais ocorridas, das futuras mamães, aqui apresentadas”, comenta.

Stephane (E), Daniela e Ediane (D) fizeram ensaio fotográfico coletivo para eternizar a gravidez simultânea. (Foto: Ediane Meier/Arquivo pessoal)

A matéria Professores alteram rotinas e metodologias para as aulas remotas se insere em um debate que está em alta desde o momento que as aulas foram transferidas para o modelo de ensino remoto. As fontes apresentadas são qualificadas e com propriedades para discutir o assunto. Além disso, o texto conseguiu traduzir muito bem as rotinas dos professores nessa pandemia.

Para a leitora Camila Botelho, doutoranda em Ciências Sociais, a reportagem é muito relevante, pois mostra realidades e metodologias distintas usadas neste momento. “Acredito que os pontos fortes do texto estão em trazer as múltiplas realidades do ensino remoto e apresentar ao final do artigo, as normas adotadas em algumas instituições de ensino. Matéria mais que necessária”, afirma.

A leitora Ana Cristina Petter Gitaí, formada em Letras e mestranda em Representações Sociais, diz que “a reportagem nos traz um tema de grande relevância para o leitor, pois aborda um assunto dos Professores e as suas práticas em meio à pandemia. Fala sobre os problemas enfrentados. O texto tem coerência e é claro nas suas considerações.”

Apresentando dados e uma contextualização da realidade de quem está atuando na linha de frente do combate ao novo coronavírus, a reportagem Profissionais da saúde relatam medo de reinfecção por Covid-19 tem um texto coeso e uma estrutura uniforme. As imagens e os cases escolhidos ajudam a tornar a narrativa mais atraente e deixam o leitor mais próximo do conteúdo. A matéria resume de forma muito bem escrita a dimensão da pandemia no Brasil.

Contudo, o que torna o texto muito longo são os depoimentos dos entrevistados. A sugestão é que esses fragmentos das falas não fossem tão longos. A repórter já apresenta boa parte das histórias no texto. É a impressão da leitora Indianara Kopplin. “A matéria é muito boa, os relatos dos profissionais de saúde são impressionantes. Mas acho que a reportagem ficou muito densa, com grandes períodos de falas das entrevistadas”, comenta.

Já a reportagem Como fica a merenda escolar durante a pandemia, que durante a reunião de pauta despontou a partir de um release da prefeitura, conseguiu ir além da divulgação de uma iniciativa do governo, a partir de dados e depoimentos de beneficiados envolvidos no projeto.

A leitora Camila Botelho questiona a falta de organização da Prefeitura de Sapucaia do Sul e a utilização dos recursos do PNAE para a compra de kits de alimentação. “Reportagem muito bem redigida, achei lamentável que a prefeitura de Sapucaia não esteja mobilizada nesse sentido, assim como São Leopoldo, talvez seria bacana nesses casos, questionar algum responsável da Secretaria de Educação da cidade de Sapucaia”, afirma.

Entrega dos kits de alimentos pela Prefeitura de São Leopoldo (Crédito: Smed de São Leopoldo/Arquivo)

Já a leitora Claudete Morellato ressalta os dados que foram apresentados no decorrer do texto. “Esta reportagem traz dados e informações bem importantes para o momento atual. Destaco o relato de como os municípios se organizam sobre esta questão e como ocorrem as doações. Texto explicativo, claro, de fácil leitura e compreensão”.

Apesar das reportagens terem propostas distintas, Escolas municipais de São Leopoldo retomam o ano letivo em ambiente virtual e a de metodologias de ensino acabam impulsionando uma mesma problematização, que é a dificuldade na aprendizagem e no ensino. Talvez uma parceria entre os repórteres pudesse ter resultado em uma grande matéria. Entretanto, essa reportagem apresenta pontos a favor e contra a retomada das aulas presenciais e a posição do poder público municipal e estadual. Texto muito bem construído e que busca dar voz a todos os lados.

“Achei excelente a forma como a reportagem mostrou opiniões diferentes sobre o ensino remoto deste semestre na cidade de São Leopoldo. Acho que foi importante ressaltar sobre o material impresso disponível, pois no semestre anterior acompanhei famílias que tiveram dificuldade de acesso ao google sala de aula e não conseguiram outra forma para obter o conteúdo”, destaca Camila Botelho.

Para a leitora Claudete Morellato, as informações relevantes estão inseridas em dois principais momentos do texto. “Reportagem com conteúdo informativo de muita importância no momento, para toda comunidade escolar. As informações necessárias estão contidas na primeira e última parte da reportagem”, afirma.

A reportagem Maior escola estadual de Gravataí enfrenta condições precárias recupera a discussão das questões estruturais das escolas públicas no Rio Grande do Sul. Problemas esses que tem origem muito antes da pandemia e se estendem para além do debate do retorno das aulas. A matéria consegue sintetizar tudo isso e se diferencia das demais reportagens da editoria sobre educação.

Alunos tiveram aulas no pátio da escola, em Gravataí, em função do calor. (Crédito: Fernanda Pacheco Laesker/Arquivo pessoal)

Contudo, a reportagem peca pela falta de cobrança ao poder público, papel fundamental do jornalismo. Poderia constar alguma nota de declaração do governo do estado explicando como está a situação do colégio e de que forma se daria um retorno presencial das aulas. Caso tenha sido realizado contato e a resposta não tenha sido enviada até o momento da publicação, era importante informar ao final da matéria.

“Acho que a notícia é fundamental, problematizou a relação volta ao ensino presencial versus a qualidade dos estabelecimentos. Acrescentaria apenas trazer mais as respostas das autoridades frente aos descasos ou averiguar outras escolas em situações similares”, ressalta Camila Botelho.

A reportagem Como países da América‌ ‌Latina‌ estão lidando com a pandemia traz o contexto do avanço da pandemia nos países vizinhos ao Brasil, dois deles fazendo fronteira com o Rio Grande do Sul, em especial a Argentina. Além disso traça um paralelo entre as ações e os resultados obtidos por Governos na contenção da doença. A narrativa construída permite ao leitor imaginar a situação nessas regiões.

Um apontamento e uma sugestão: o título faz referência a América Latina. Os cases apresentados na reportagem são apenas de países da América do Sul: Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Regionalizar o título seria uma opção mais apropriada, visto que a AL é composta pelas Américas do norte, centro e sul. Utilizar América do Sul, ao invés de América Latina pode ser mais apropriado. Apesar de que na forma que está publicada não há erro.

“As medidas Impostas pela Argentina, Paraguai e Uruguai para conter são um exemplo para o Brasil seguir, mas fica inviável se nem o presidente as respeita ou compreende sua importância”, afirma Indianara Kopplin.

A matéria destaca as diversas realidades de enfrentamento da pandemia. Para a leitora Claudete Morellato, reportagens que tem esse foco chamam a sua atenção justamente pela possibilidade de comparação. “A matéria é longa, porém, por se tratar de comparações e explanação da situação da pandemia, em três países, acredito que não poderia ser diferente. Foi a reportagem pela qual mais me interessei”, comenta.

Conheça quem compõe o Conselho do Leitor da Editoria Geral, da Beta Redação, em 2020/2

Ana Cristina Petter Gitaí, 58 anos, é casada e possui dois filhos: de 31 e 25 anos. Nasceu na cidade de Barbacena, em Minas Gerais, mas mora em Canoas, no Rio Grande do Sul. Ela tem formação em Letras, Pós-Graduação em Cultura: Arte Literária e Psicologia nos Processos Educacionais. Atualmente é Mestranda em Representações Sociais. Em relação ao trabalho, Ana Cristina é Diretora na empresa RODI Projetos — Educacionais — Culturais — Sociais e Diretora da Comissão de Educação do Rotary Internacional no RS — Distrito 4670.

Camila Botelho, 30 anos, solteira, não possui filhos. Nasceu na cidade do Rio de Janeiro, mas atualmente reside em São Leopoldo. É formada em Biblioteconomia, mestra em Sociologia e, atualmente, é graduanda e doutoranda em Ciências Sociais. No momento atua como tutora na Especialização em Direitos Humanos da Universidade Federal do Rio Grande (FURG).

Claudete Morellato, 58 anos, é solteira e não possui filhos. Nasceu na cidade de São José do Ouro, no Rio Grande do Sul, mas atualmente reside em Canoas. Tem formação em Pedagogia, com Especialização em Orientação Educacional e Pós-Graduação em Orientação Educacional e Informática na Educação. Ela trabalhou por mais de 20 anos nas escolas da rede municipal de Canoas.

Indianara Kopplin, 23 anos, é solteira e não possui filhos. Nasceu na cidade Erechim, no Rio Grande do Sul, mas mora atualmente em Canoas. É estudante do curso de Moda, na Universidade Feevale.

Jeferson Luis da Silva, 28 anos, é solteiro e não possui filhos. Nasceu na cidade de Novo Hamburgo, mas reside atualmente em São Leopoldo, também no Rio Grande do Sul. Tem formação em Letras/Inglês, além de lecionar Literatura, e é Técnico em Eletrônica. Jeferson trabalha na empresa Underwriters Laboratories (UL), como Performance Material Laboratory Technician.

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