Campeonato de bocha adaptada é disputado em Canoas

Competidores da Região Metropolitana se reuniram para o torneio no final de semana

Jaime Zanatta
Redação Beta
4 min readNov 26, 2018

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Campeonato foi disputado em uma cancha emprestada pelo colégio La Salle, em Canoas (Foto: Jaime Zanatta/Beta Redação)

Canoas sediou no último sábado, 24, no estádio do colégio La Salle, um campeonato de bocha adaptada que contou com a participação de 12 atletas em cadeiras de rodas. Além de jogadores locais, a disputa reuniu competidores de Novo Hamburgo, Porto Alegre e Viamão.

As semelhanças da bocha adaptada em relação à versão tradicional são poucas. Um fator em comum é que o jogo se baseia na capacidade de lançar bolas coloridas o mais perto possível de uma pequena bola branca. Na adaptada, os atletas nas cadeiras de rodas não podem queimar uma linha demarcada — precisam arremessar a partir dali. A cancha também traz outra grande diferença: é forrada com carpete, e não com areia.

Prática contra o desânimo

Joel é um dos responsáveis por iniciar a modalidade da bocha adaptada em Canoas (Foto: Jaime Zanatta/Beta Redação)

“O esporte é um remédio maravilhoso contra a depressão”. É com essa expressão que Joel Storck, 50, define sua participação na bocha e em outros esportes adaptados. Há seis anos ele começou a sofrer com uma doença generativa muscular que o fez perder os movimentos do corpo. “Eu tinha quebrado uma das pernas, fui piorando e a depressão pegou. Na internet, descobri a esgrima para cadeirantes e larguei a depressão”, comentou.

A relação de Joel com a bocha começou há três anos, quando sofreu lesões no braço causadas pela esgrima. Desde então, se juntou a colegas da Associação Canoense de Deficientes Físicos (ACADEF) para treinar a modalidade. “Comecei os treinamentos e agora viajo pelo Estado em competições”, comemora.

Inclusão

Tirar a pessoa de casa. Segundo Joel, esse é um dos principais mandamentos da Federação Gaúcha de Bocha (FGB), instituição responsável por organizar as competições no Rio Grande do Sul. “Está no nosso regulamento fazer as pessoas com deficiência socializarem com outros que sofrem do mesmo problema, ou até piores, para enfrentar os desafios com mais facilidade”, explica.

Essa também é a meta da Prefeitura de Canoas. De acordo com o diretor da Secretaria Municipal dos Direitos Humanos e Participação Social, Jair Silveira, o objetivo da pasta é promover a inclusão nas diversas modalidades esportivas. “Tivemos os Jogos Paradesportivos de Canoas em agosto e temos equipes de basquete sobre rodas, futebol para cegos, goalball e tantos outros times visando aumentar a prática esportiva das pessoas com deficiência”, salienta.

Fora de combate

Há 31 anos, o sargento da Brigada Militar, José Carlos Gomes, perdeu o movimento das pernas. Durante uma ocorrência policial, criminosos atiraram contra ele e uma das balas atingiu a sua coluna. “Eu patrulhava por Porto Alegre nos fuscas e nos Fiat 147 até esse dia. Depois, a BM me deu um curso de marceneiro, mas tive que parar por recomendações médicas”, recorda.

Depois de ficar paraplégico, José Carlos abriu uma empresa com o filho. O empreendimento familiar produz equipamentos adaptados para veículos de pessoas com deficiência. “Eu larguei tudo e hoje só testo tudo para ele”, brinca.

Hoje, o sargento Gomes participa de competições de bochas pelo Rio Grande do Sul (Foto: Jaime Zanatta/Beta Redação)

No ano de 2000, o ex-sargento se uniu a outros ex-colegas da Brigada Militar para fundar a Associação de Servidores da Área de Segurança, Portadores de Deficiências, do RS (ASASEPODE) e, atualmente, exerce a função de vice-presidente da entidade. “Nos desenvolvemos no para-desporto com a esgrima, competições de tiro, tênis de mesa e, hoje, com a bocha adaptada. O esporte ganhou muito com isso”, reconhece.

O ex-militar está participando do 2º Campeonato Estadual de Bocha Adaptada. Contudo, antes de investir na bocha, viajou por todo o país nas competições de tiro. “Era um esporte que exigia muito treinamento e eu não tinha esse tempo. Parei e fui atrás do meu sonho, que era criar a bocha adaptada. Construímos uma cancha no Clube Farrapos, em Porto Alegre, e hoje estamos aí, competido por todo o território gaúcho. Nosso sonho é o campeonato brasileiro”, finaliza.

Mesmo quem não ganhou levou medalha para casa (Foto: Jaime Zanatta/Beta Redação)

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