OMBUDSMAN: Apurações valiosas ainda são ofuscadas por números

Luana Rosales
Redação Beta
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17 min readMay 12, 2020
É preciso focar no que é mais importante: o material obtido pelo repórter (Foto: Terje Sollie/Pexels)

Quem não vê todos os dias manchetes como as seguintes, que atire a primeira pedra. “Coronavírus já infectou pelo menos ‘X’ e matou ‘Y’ pessoas no país”, informa o site GaúchaZH, enquanto o Correio do Povo noticia que o “Brasil tem ‘X’ mortes por Covid-19 e volta a quebrar recorde diário”. No caso do Jornal VS, o título é “Estado chega a ‘N’ casos de coronavírus e registra três novas mortes”.

Essa é uma pequena amostra do que a maioria dos sites e outros veículos de comunicação têm focado diariamente: informações factuais e com muitos números. Eles, é claro, não estão errados. Pelo contrário, buscam cumprir o seu papel de divulgar as informações de interesse público. Há de se convir, porém, que a repetição tem sido uma das coisas mais exaustivas da quarentena, e isso não precisa acontecer na Beta Geral.

No início deste texto, os números foram substituídos por letras propositalmente, para levantar duas reflexões importantes com relação às últimas reportagens publicadas. Em primeiro lugar, é preciso pensar que, se os números reais fossem utilizados, perderiam o seu valor amanhã — ou até no próximo minuto. Depois, a intenção é tornar visível que começar textos com obviedades ou informações apuradas por outros veículos pode repelir o leitor.

Se você não pulou a leitura das frases no primeiro parágrafo, está de parabéns.

De qualquer forma, o recado principal é que os repórteres precisam ressaltar o diferencial do seu trabalho, valorizando o material apurado junto a suas fontes e colocando ele em primeiro lugar. Na segunda entrega, seis reportagens foram produzidas e, entre elas, pelo menos três começam com informações que já são de conhecimento público.

Por outro lado, algumas das mesmas matérias trazem entrevistados que se mostraram elementos determinantes para ganhar o leitor. Assim, a questão principal parece ser organizar as ideias para conseguir mostrar com maior clareza aquilo que é mais importante — uma vez que as pautas escolhidas foram ótimos pontos de partida.

Na reportagem Brasileiros contam como estão enfrentando a pandemia no exterior, deThaís Lauck, Renan Silva Neves e Henrique Bergmann, o tema é bastante recorrente nos meios de comunicação. Apesar disso, as novas fontes trouxeram histórias únicas e tornam-se a grande força da reportagem. A matéria não se detém a cada personagem de forma muito longa e traz fotos de quase todos.

Alguns detalhes relacionados às fontes poderiam, no entanto, ser ajustados. Nos casos da China e dos Estados Unidos, a abordagem pareceu demasiadamente breve. Já a foto de Janaína Aguiar Pereira, moradora de Roma, aparece mais adiante no texto e poderia estar em um local mais próximo às falas dela. Quanto à Irlanda, talvez não fosse necessário trazer duas pessoas do mesmo país. No entanto, a segunda fonte acabou agregando novas e boas informações.

Reportagem trouxe um belo infográfico, porém ele ficou solto no final do texto (Arte: Thaís Lauck/Beta Redação. Fonte: IBGE)

Outro ponto positivo a se ressaltar é escolha dos países abordados, que incluiu alguns dos principais focos da doença no mundo. Em algum momento da narrativa, seria interessante explicar brevemente o porquê dessas escolhas, trecho que poderia ser ilustrado pelo infográfico — que ficou excelente, porém solto no final do texto.

Para o leitor Maurício Renner, que reside na Alemanha, a matéria trouxe uma boa amostra de brasileiros no exterior, mas pecou na apresentação das informações. Isso porque dois brasileiros são apresentados como residentes do país germânico e da Austrália, mas as cidades em que eles vivem não são mencionadas. “Os dois países são grandes, com realidades regionais muito diferentes em relação a tudo, incluindo o coronavírus. A mesma coisa vale para a Califórnia”, ressaltou.

Em relação ao trecho sobre a China, também faltou explicar onde a cidade de Dongguan fica. Se ela está localizada perto de Wuhan — primeiro epicentro da Covid-19 — , se é grande, se tem muitos casos. O mesmo raciocínio pode ser aplicado em relação a Reims, na França. “Isso é coisa que uma pesquisa no Wikipedia e uma checagem rápida da imprensa local resolve”, opinou o jornalista.

No caso da fonte que mora na França, também seria interessante informar a sua profissão, pois a brasileira fala da rotina atual, mas não explica como era o seu dia a dia antes da pandemia. Em relação à fonte que mora na Austrália, também fica a dúvida sobre a atividade que exerce: ele é publicitário, mas não é possível confirmar se trabalha em sua área no país da Oceania.

A respeito do assunto, a leitora Júlia Kunrath sentiu falta de informações sobre a situação trabalhista das fontes: “nos casos iniciais, não ficou claro se estão com contrato de trabalho ou se recebem auxílio das empresas em que trabalham, por exemplo”.

Quanto à estrutura da narrativa, vale observar o tamanho dos parágrafos, que parecem longos para a web. Alguns detalhes, como o excesso de vírgulas no início e a repetição de uma informação também foram notadas pelos leitores. No caso da pontuação, uma pequena troca de ordem da frase resolveria o problema. Em alguns momentos, o texto também poderia ter uma transição mais suave entre um país e outro.

A leitora Janaína Carvalho achou a reportagem um pouco longa, porém de fácil entendimento, e isso tornou a leitura agradável. Já Rita Luz teve somente elogios à reportagem: “Fez um apanhado geral com exemplos de vários locais do mundo, de forma muito agradável e fácil de ler. Adorei! Viajei para cada lugar citado ao ler o texto”.

A reportagem Mais de 6 mil profissionais da saúde são afastados no Brasil por suspeita de Covid-19, de Gustavo Machado, também foi elogiada pelas leitoras.

Rita, que atua na revisão de textos, avaliou que a narrativa foi bem escrita, objetiva e a leitura fluiu bem. “Achei o texto muito bom. Me envolvi tanto na leitura do texto, que estava fluindo muito bem, que até esqueci a necessidade da análise crítica”, contou.

Reportagem teve ótimas fontes mulheres e utilizou somente fotos masculinas (Foto: Pixabay/Dimhou)

Além da fluidez do texto, a grande força desta matéria é justamente a qualidade das fontes, que garantiram as novidades apesar do assunto ser bastante falado no noticiário. Por conta dos relatos serem muito interessantes, as fotos dessas personagens fizeram falta. Além disso, todas as fontes são mulheres e as duas fotos utilizadas são de homens.

A leitora Janaína, que é técnica em radiologia, aprovou o conteúdo: “A reportagem está muito boa, é realmente isso que vivemos todos os dias. Esse ritual é necessário quando voltamos para nossas casas, pois todo o cuidado é pouco para protegermos nossos familiares”.

Para Júlia, um ponto positivo é a apresentação dos áudios no corpo do texto, com a opção de ouvi-los no navegador, pois ela não possui o aplicativo do soundcloud no celular. “É melhor do que ter que sair dali e ir para uma outra ferramenta. Essa melhoria ficou muito boa, gostei bastante”, elogia.

Ainda sobre os áudios, é interessante o uso do formato diferenciado, mas vale ressaltar que o seu acabamento junto ao texto poderia ter sido melhor. A impressão é de que os áudios ficaram soltos ao final, sem uma integração na narrativa. Uma sugestão seria transcrever parte do que foi dito em texto, deixando só as frases mais interessantes em áudio.

Entre outros pontos positivos, estão os links para as matérias citadas, a explicação sobre o que é nursing now e a abordagem sobre o aspecto psicológico dos profissionais da saúde.

Quanto aos pontos que podem ser aprimorados, o título e o lead contêm dados obtidos no programa Fantástico, da Globo,em vez de a reportagem iniciar por informações obtidas pelo repórter. Depois, o texto continua com mais dados já conhecidos do público.

No trecho “meu banho é no hospital. A roupa fica na lavanderia, inclusive o sapato. Lavo a roupa com sabão e o sapato com hipoclorito para desinfetar”, a leitora Rita observou que o procedimento feito pela profissional não ficou claro. “Que lavanderia é essa? Da casa dela ou do hospital?”, questionou.

Outras partes do texto também ficam sem a explicação devida. No caso da frase “já que o vírus tem alta capacidade de disseminação entre idosos e pessoas com doenças crônicas”, era preciso explicar o porquê e citar a fonte dessa informação. Já quando se fala que a lista de cirurgias foi cancelada no tempo recorde de dois dias, faltou explicar por que esse seria um recorde.

Dois outros pontos ainda foram salientados: a repetição do nome da Elisa e a falta de contextualização sobre as cidades citadas.

Na matéria Poluição do ar diminui durante pandemia do novo coronavírus, de Helen Appelt, o tema tinha menos destaque no noticiário no momento da reunião de pauta, mas acabou ganhando força nos dias que seguiram. Apesar de os dados não serem tão inéditos, foi possível perceber uma boa construção do lead.

Para a leitora Rita, o assunto abordado é muito interessante, assim como os seus detalhes, mostrando um aspecto positivo da crise. No entanto, ela acredita que o texto acabou desenvolvendo mais os aspectos negativos, como a falta de recursos do RS e o detalhamento de cada poluente do ar. “Não que esses assuntos não sejam relacionados ou relevantes, mas, além deles, deveriam ser abordados mais aspectos positivos, justificando o título”, pondera.

Julia, que é gestora ambiental, gostou muito da reportagem e elogiou os especialistas escolhidos: “Conheço os dois e sei que eles são especialistas neste tema, então trazem uma credibilidade grande, com clareza no que falam. Me deu uma sensação de satisfação ao ver que essas pessoas foram entrevistadas”. Segundo ela, todas as fontes de informação utilizadas também são muito boas, assim como os infográficos, que considerou esclarecedores para leigos.

Infográficos foram elogiados (Arte: Helen Appelt/Beta Redação. Fonte: OMS)

A produção de infográficos realmente é um ponto positivo do texto. A leitura, por outro lado, não foi tão fácil para aqueles que não possuem o conhecimento técnico sobre meio ambiente.

Os trechos que falam em números, por exemplo, poderiam ser abordados de forma mais simples e explicativa. Renner destacou que é importante tentar uniformizar e explicar os indicadores. “Não tem um índice MP10 para o Rio de Janeiro? O índice de MP10 vai de quanto a quanto? Além de ‘boa’, quais são os indicadores?”, questionou o editor.

Outras informações também precisavam de uma maior explicação. No caso da frase “apenas uma cidade ficou com qualidade ruim e quatro com a classificação moderada”, é preciso dizer quais são esses municípios citados. Sobre São Paulo, o texto diz que o resultado é positivo, mas não apresenta quais eram os números anteriores para comprovar essa evolução.

Para Rita, a parte que fala “MP10 (Material Particulado com Diâmetro Menor que 10 micrômetros)” também gerou dúvidas. “Acredito que tenha faltado dizer de forma clara onde está essa quantidade. Suspensa no ar, talvez?”, arriscou. A informação só foi esclarecida mais adiante no texto, assim como o conceito de HPA, que deveria ser explicado na primeira vez que a sigla é citada.

Apesar da qualidade inegável da escrita, a ordem das informações parece estar um pouco confusa. Alguns parágrafos poderiam ser mudados de lugar, como no caso da contextualização sobre a asma. Na gramática, também é possível perceber pequenos tropeços com relação ao uso do plural, além de erros de digitação, como algumas repetições de letras e palavras.

Na reportagem Profissionais da saúde oferecem serviços online em tempos de pandemia, de Ketlin de Siqueira, a temática é interessante, trazendo a perspectiva de diferentes áreas da saúde. Normalmente elas são vistas de forma separada na imprensa e, assim, foi possível ter um panorama geral. No entanto, a pauta parece pender mais para a editoria de economia, mostrando como os profissionais estão fazendo para manter a sua renda.

Essa impressão pode acontecer por terem sido entrevistados apenas especialistas. Para dar uma aspecto mais de Geral, uma saída poderia ser focar em alunos ou pacientes como fontes, e em como eles estão fazendo para manter sua saúde.

Outra opção poderia estar nos serviços oferecidos gratuitamente, como na ideia da leitora Rita: “Pelo título da matéria, eu acreditei que encontraria um texto abordando os serviços que esses profissionais têm oferecido voluntária e gratuitamente nas redes sociais, visando auxiliar a população nesse momento de pandemia”.

A leitora Júlia concordou. Ela gostaria de ver um pouco mais sobre os sistemas de consultas gratuitas, como redes de atendimento que psicólogos e psiquiatras têm criado para auxiliar as pessoas que precisam de apoio. A gestora ambiental também dá a sugestão de abordar as dificuldades com itens para os quais o sistema presencial é fundamental, como a obtenção de receitas médicas.

Dicas dos profissionais, como no caso da nutricionista e da educadora física, são recursos que aproximam a pauta de Geral e poderiam ser mais explorados. “Achei interessante a ideia de dar uma lista de tópicos com dicas da nutricionista. Isso poderia ter sido feito com os outros profissionais”, aponta Renner. Vale ressaltar, porém, que apenas dois dos seis tópicos estão relacionados diretamente à nutrição. Todos os outros são sobre prevenção em geral, como cuidados na ida ao supermercado.

Matéria apresentou fotos dos profissionais de saúde, como a fonoaudióloga Anelise Possan (Foto: Arquivo Pessoal)

Quanto à construção do texto, foi possível perceber a padronização da estrutura para todos os personagens, assim como o mesmo posicionamento para as fotos de cada um. A ideia é boa, trazendo um equilíbrio entre as fontes. No caso do pilates e da yoga, uma observação é que ambos podem ser incluídos em educação física. Logo, poderia ser utilizada apenas uma fonte da área, mantendo essa harmonia entre as áreas.

Para a leitora Júlia, o texto se mostrou um pouco repetitivo, principalmente onde eram citadas as resoluções e nas legendas das fotos. Já o uso dos links para a legislação é positivo, trazendo a referência para o leitor caso haja o interesse em saber mais sobre o tema.

A matéria é bem ilustrada em termos de fotografia e vale ressaltar o diferencial de se trazer vídeos. Uma dica seria utilizar a conta da Beta Redação no YouTube para postagem do material audiovisual. Quando se trata de materiais falados, o tempo pode ser diminuído, utilizando apenas a parte mais importante. Se necessário, o restante pode ser citado em texto.

Com relação aos detalhes minuciosos, vale observar que a palavra on-line é escrita com hífen na língua portuguesa e, na reportagem, é utilizada na grafia da língua inglesa. Também há um link na palavra doutorado que não teve o uso justificado, pois leva a um material com orientações para psicólogos.

O texto ainda apresenta alguns problemas de pontuação, digitação e concordância, além de certas partes serem escritas em terceira pessoa e outras em primeira. A leitora Rita sentiu falta, ainda, de uma finalização mais elaborada para o texto, que foi encerrado com a citação direta de uma fonte.

No texto Gestão correta de resíduos infectados pode evitar contágio do coronavírus, de Guilherme Pech, a pauta é muito boa, trazendo um tema original e relevante, além do fator local de Esteio. “O tema é bem interessante e sua abordagem é pouco ou nada explorada em relação à pandemia”, comentou a leitora Rita. No entanto, a execução poderia ser aprimorada.

Título, linha de apoio e lead, por exemplo, poderiam focar na falta de destinação correta para o resíduo perigoso em Esteio, que parece ser a informação mais importante da matéria. “Se a prefeitura está descuidando de um aspecto importante da prevenção, isso precisa ficar muito melhor estabelecido, e também ser o lead da matéria”, aponta o jornalista Renner.

Na sequência, poderia ser trazida a parte sobre o crescimento da procura por itens como máscaras, além dos exemplos corretos e incorretos do descarte destes materiais, abordando como isso é praticado em outras cidades.

Leitores apontaram que a duração do vírus em superfícies sólidas é um tema secundário. (Arte: Guilherme Pech/Beta Redação)

Para a leitora Rita, o autor parece ter perdido o foco ou ficado com pouco material a respeito do tema principal, uma vez que direcionou o texto para temas secundários — como o aumento na demanda de itens de higiene e duração do vírus em superfícies sólidas.

Já a leitora Janaína pensa que as informações sobre as plataformas Zoom e AliExpress também fugiram um pouco ao título da reportagem, que seria sobre o correto descarte de lixo e não propriamente em relação à venda de materiais de proteção e higiene. Sobre o assunto, vale explicar no texto que o Zoom se trata de um e-commerce, pois também existe uma plataforma de videoconferência com o mesmo nome.

A gestora ambiental Júlia salienta que alguns outros aspectos poderiam ser esclarecidos na reportagem: “A gente estimula que as pessoas usem o resíduo orgânico para fazer composteiras nas suas casas, para colocar na horta, então como eu vou dizer para alguém colocar uma máscara ou uma luva plástica contaminada junto a um resíduo orgânico? Isso meio que ‘buga’ a cabeça das pessoas”, explica.

Segundo a leitora, a legislação determina que cada pessoa é responsável pela destinação correta dos seus resíduos, com a ajuda da respectiva prefeitura. No caso dos contaminados, o processo correto seria o coprocessamento. Ele já é muito utilizado no caso dos hospitais, mas também é muito caro e somente duas empresas o fazem no Rio Grande do Sul. Informações como essas acrescentariam muito na reportagem caso mais fontes fossem entrevistadas.

Outro fator que poderia ser explicado é que o saco de lixo vermelho, que está sendo utilizado em Pelotas, tem a cor estabelecida pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) para o plástico, que é reciclável, então isso poderia causar problemas no processo de coleta seletiva.

Júlia ainda acrescenta que não ficou claro o que uma pessoa com sintomas deve fazer com os seus resíduos. Para ela, as informações no manual trazido em link têm uma linguagem muito técnica e poderiam ser trazidas para o corpo do texto de uma forma mais simples. Rita sugeriu de forma parecida: “O autor poderia ter abordado, mesmo que em linhas gerais, orientações a respeito do manejo adequado do lixo residencial contaminado”.

Com relação à escrita em si, é possível perceber a qualidade da escrita e correção gramatical, com apenas uma falta de vírgula registrada. Além disso, foi observado que na expressão Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS), a sigla foi aberta incorretamente no texto.

Algumas questões não ficaram esclarecidas na matéria. No trecho “o lixo normal deixamos para os caminhões, mas esse tipo de material levamos direto para um descarte adequado”, por exemplo, não foi mencionado qual é o tipo de material, nem aonde seria esse descarte. Já quando é citado “em Pelotas, na região sul do estado”, também não é mencionado qual é o estado.

Na mesma parte, a leitora Rita apontou algumas dúvidas que ficaram em aberto. “A prefeitura não realizou divulgações onde? A orientação da vigilância sanitária foi feita onde? A coleta em sacos separados é feita pela Stericycle? Quais são as instruções inerentes?”, questionou.

Por fim, é importante destacar que a falta de citações diretas de fontes aparece como o ponto mais preocupante da narrativa, que conta somente com comentário curto.

Na reportagem Religiões recorrem às redes sociais para fazer celebrações de Páscoa, de Natan Cauduro, a questão mais levantada pelos leitores não foi sobre a data e sim no sentido de quais religiões foram abordadas e de que forma elas aparecem na narrativa. Como era de se esperar, tocar em um assunto que envolve crenças é delicado e divide opiniões.

O jornalista Maurício Renner considerou discutível a decisão de falar de católicos, evangélicos e judeus, excluindo as igrejas evangélicas de matriz neopentecostal.

Para ele, este é um grupo muito mais relevante do que os judeus no Rio Grande do Sul. “Parte dessas igrejas, inclusive, tem defendido uma orientação diferente em relação aos cultos, o que poderia agregar uma dose de conflito na matéria. Talvez o autor não queira conflito, mas é estranho simplesmente não reconhecer ele de nenhuma forma”, ressalta.

Já a leitora Rita, cristã protestante, acredita que faltou conhecimento sobre o tema, afirmando que o texto limita os evangélicos a luteranos. “Não seria melhor ter apenas abordado cristãos e judeus, visto que cristãos são os católicos, os evangélicos, os protestantes, os batistas, os metodistas?”, sugere.

Janaína, por sua vez, pensa que era preciso deixar mais explícita a grandiosidade da romaria de devotos no Santuário do Padre Reus na Semana Santa, pois aqueles que não pertencem à região de São Leopoldo podem não conhecê-la.

Quanto à estrutura do texto, a parte que trata do número de católicos e evangélicos no RS, como aponta Rita, poderia estar mais no início do texto ao invés de aparecer na retranca sobre o judaísmo. Neste contexto, também seria interessante apresentar o total de habitantes do estado para deixar claro o tamanho da representatividade de cada religião entre a população.

O início da reportagem tem pequenas falhas, como no trecho: “o mês de abril carrega consigo datas importantes para os católicos, evangélicos e judeus. Para os primeiros, o domingo (12) é de Páscoa, a ressurreição de Jesus Cristo. Para os últimos, é momento de resguardo e de relembrar o povo hebreu do Egito”. A construção não deixa clara quem são os primeiros e quem são os últimos, podendo conferir uma menor importância aos evangélicos — que estão no meio.

No trecho “igrejas, cultos e sinagogas têm adaptado o seu modo de contato com os fiéis”, também falta clareza, uma vez que igrejas e sinagogas são locais físicos, enquanto cultos são celebrações que, geralmente, acontecem em igrejas.

É possível perceber, no entanto, que existe uma tentativa de equilíbrio entre as religiões citadas, estabelecendo uma estrutura de texto muito parecida para as três. Pontos que demonstram isso são as abordagens sempre sobre Porto Alegre e São Leopoldo, assim como a contextualização quanto à estrutura administrativa das instituições religiosas.

Escolha das fotos foi pertinente (Foto: Reprodução do site do Vaticano)

Outro ponto positivo é a preocupação com a contextualização, com destaque para o uso de links para materiais externos — como páginas do Facebook vídeos, matérias que mostram a fonte da informação — além da escolha das fotos, que estão posicionadas de forma pertinente ao longo do texto, ilustrando aquilo que está escrito.

De modo geral, a matéria recebeu elogios dos leitores. Rita considerou que o texto trouxe três abordagens interessantes a respeito das celebrações de Páscoa. Para Renner, a matéria “é bem informativa e com contexto histórico”, enquanto Júlia disse que gostou bastante da reportagem, afirmando que ela é “leve e bacana de ler”, inclusive nas questões da Páscoa Judaica. “Eu não fazia ideia de como era e explicou muito bem, achei super interessante”, destacou a leitora.

Conheça os leitores convidados para o conselho da Beta Geral em 2020/1

Em todos os semestres, a Beta Redação tem um conselho de leitores que opina sobre as produções jornalísticas da editoria Geral, contribuindo para a coluna de ombudsman. No período de 2020/1, quatro novos voluntários estão lendo e o ouvindo as matérias.

Conheça os componentes do conselho do leitor:

Janaína Carvalho, 47 anos, solteira, mãe de Tanise, 29 anos. Nascida em Canoas, é moradora de Nova Santa Rita. Trabalha como técnica em radiologia no Hospital Nossa Senhora das Graças, em Canoas, e cursa Gestão Hospitalar na FADERGS.

Júlia Inês Kunrath, 33 anos, solteira. Natural de Montenegro, é moradora de Canoas. Formou-se em gestão ambiental pela Unisinos, onde atualmente cursa Engenharia Ambiental. Trabalha como assistente de meio ambiente na General Motors.

Maurício Flach Renner, 39 anos, casado, pai do bebê Ingo. É natural de São Leopoldo e mora atualmente na Alemanha. Jornalista formado pela Unisinos em 2006, é sócio e editor do site Baguete, que cobre o mercado de Tecnologia da Informação.

Rita Luz, 49 anos, casada, mãe de Leonardo, 25 anos, e Pedro, 15 anos, cristã protestante. Natural de Porto Alegre, mora em Canoas há 15 anos. Formada em Processos Gerenciais pela Ulbra, cursa a segunda graduação, em Marketing, na mesma instituição, onde também se especializou em Gestão de Instituições de Ensino Superior e em Docência para o Ensino Superior. Cursa, ainda, MBA em Finanças e Controladoria pela Uniritter. Profissionalmente, atua como professora particular, além da revisão e formatação de textos e de trabalhos acadêmicos. Trabalha também como consultora de processos e finanças para o segundo e terceiro setores, além de voluntariar há mais de 20 anos em ONGs.

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Luana Rosales
Redação Beta

Escrevo, aprendo, viajo, logo existo. Não necessariamente nessa ordem.