OMBUDSMAN: Veganismo para além de um modo de vida

As matérias especiais relacionam ideias e produtos muito particulares com realidades que impactam toda a sociedade

Leila Inês
Redação Beta
8 min readJun 21, 2023

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O estilo de vida que está ficando cada vez mais conhecido entre a população tem como um dos seus princípios o bem estar animal. (Reprodução: Banco de Dados/ Freepik)

O último conjunto de publicações especiais do primeiro semestre de 2023 da Beta Geral propôs que a redação trouxesse seus assuntos de interesse — o mais votado, seria produzido de forma coletiva. O resultado você confere nas cinco matérias que trazem como tema central o veganismo. Para isso, os repórteres realizaram uma saída de campo e conheceram a maior feira vegana da região sul do país. Mas, afinal, o que tem para nos ensinar uma pessoa que adquiriu o estilo de vida vegano? Quais são os seus ideais?

A sugestão do assunto foi da editora Marília Port, pois é um tema que se faz presente no dia a dia dela. “Minha irmã é celíaca, daí desde que ela descobriu a gente cortou o glúten em casa e tem um super cuidado com a contaminação cruzada.” Além disso, Marília e a irmã também são vegetarianas, aos poucos estão tentando se inserir no veganismo também. “A gente sente bastante pelos bichos e por toda questão ambiental”, finaliza.

Para produzir essas matérias, acompanhamos a Feira Vegana de Porto Alegre, que ocorre em diversas partes da cidade — uma delas, no Jardim do DMAE, no bairro Moinhos de Vento. Chegamos com fome, por volta das 12h, repórteres, ombudsman, editores e professores. E como vários de nós não estávamos inseridos nesse estilo de vida, a dúvida era: “O que vamos comer?”

A minha escolha foi um hambúrguer com um bife de lentilha, uma experiência gastronômica diferente, e aprovada. A consistência do bife era bem semelhante ao convencional, o gosto muda, mas é muito saboroso.

Opções não faltavam naquele dia: queijos veganos, coxinha de jaca, quiches e até sushi, além dos doces como quindim, brigadeiros e bolos, que estavam com uma aparência ótima.

O queijo vegano despertou curiosidade logo de cara: como assim, um queijo sem leite? Quem respondeu a essa pergunta foi o repórter Eduardo Vidal, que além da busca dessa história, discute também o tema fundamental das agroflorestas na matéria Agricultor de Taquara produz queijos veganos com insumos orgânicos. Muito além de uma questão curiosa a respeito da troca de um ingrediente, a produção destes queijos pela Colono Vegano levanta uma preocupação ambiental e apresenta uma atitude concreta ao encontro da sustentabilidade para a vida do homem no planeta.

O termo agrofloresta já é usado desde a década de 1980, mas pouco se discute sobre o assunto. Um artigo produzido pela Agro 20, aponta algumas vantagens, são elas: a produção de alimentos com conservação do meio ambiente; cultivo sem produtos químicos; controle de erosão dos solos; preservação da fauna e flora, além de tantos outros.

A forma como o repórter Eduardo Vidal trabalhou a história desde o início instiga saber mais sobre o assunto, pois a pauta faz uma ponte diferente: da cobertura de uma feira e de um produto vegano, ela correlaciona a questão das agroflorestas — conexão que eu mesma não havia ouvido antes da nossa ida à Feira Vegana.

Você tem fome de quê?

O dia 1º de novembro marca a data que celebra o Veganismo, uma cultura que não é tão recente assim: foi em 1944 que Donald Watson, marceneiro e secretário da Sociedade Vegetariana de Leicester, reuniu cinco pessoas adeptas ao vegetarianismo para discutir sobre o aperfeiçoamento do movimento para beneficiar mais os animais.

Da Inglaterra do século 20 para a Porto Alegre na segunda década do século 21, o espírito permanece o mesmo — e é o que conta a repórter Vitória Drehmer na matéria Feira Vegana de Porto Alegre é a maior do Sul do Brasil e acontece a cada 15 dias, ao nos revelar as origens do evento que surgiu para ajudar na proteção de animais domésticos. Explica também como expor na feira, mostrando que o processo não é difícil, mas que precisa ser aprovado. A matéria é breve, mas entrega um bom serviço.

E o movimento cresce e se aperfeiçoa cada vez mais. Matéria divulgada pela Vegan Business traz números de 2018, de uma pesquisa apontando quase 30 milhões de adeptos ao veganismo, apenas no Brasil — o que significa 14% da população brasileira. Outra pesquisa, do Ibope Inteligência, também de 2018, mostrou que 33% dos entrevistados concordam totalmente que consumiriam mais produtos veganos se estivesse descrito nas embalagens. Já quando perguntado sobre os produtos veganos terem a mesma qualidade em comparação a produtos que contém ingredientes de origem animal, 26% dos participantes concordam totalmente.

A alimentação de qualquer pessoa deve ser balanceada e saúdavel, o que muda é o que vai compor esse prato. (Reprodução: Banco de dados/ Freepik)

Neste ponto da coluna, recordo-me do que aprendi nas aulas de ciências, ainda no ensino fundamental, sobre a pirâmide alimentar, que era dividida em oito grupos:

  1. Cereais, pães e tubérculos
  2. Hortaliças
  3. Frutas
  4. Leguminosas
  5. Carnes e ovos
  6. Leite e derivados
  7. Óleos e gorduras
  8. Açúcares e doces

Mas, como funciona essa teoria para uma pessoa vegana? A resposta vem da Associação Brasileira de Veganismo, que divulgou um infográfico da Pirâmide Alimentar Vegana. Sem exploração animal, o grupo das carnes, leites e derivados é substituído por vegetais, e a associação também disponibiliza artigos sobre outras formas de substituir a carne na rotina alimentar.

O modo que a pirâmide alimentar vegana se estrutura é semelhante ao da convencional, mas sem derivados animais. (Foto: Reprodução/ Associação Brasileira de Veganismo)

Para além da substituição de carnes, preocupa também no Brasil o consumo atual de alimentos que possam gerar alergias, como aponta a matéria de Lohana Souza, Metade dos brasileiros pode desenvolver intolerância à lactose. Na reportagem, que traz como alternativa o consumo de doces veganos produzidos pela Mai Cake, a inspiração vai ao encontro da proteção animal em sentido amplo: pela saúde de todos os animais, incluindo o bicho homem.

Quando você pensa no seu círculo de amizades, quantos pessoas você conhece que de alguma forma possui intolerância a algum alimento? A matéria de Lohana também realiza uma ponte entre pautas: de um "simples" doce, expõem-se uma questão principal, das intolerâncias alimentares e de como os produtos veganos podem ser uma saída. Além disso, a matéria apresenta imagens muito gostosas, e reportagens como essas deixam qualquer um com água na boca. Pensando na estrutura da matéria, a repórter conseguiu trazer várias histórias que compuseram o texto — e o ponto alto da reportagem, sem dúvida, foi trazer a história de uma criança logo no início da narrativa.

E para além dos alimentos, o veganismo nos ensina que precisamos ficar atentos ao nosso consumo de modo generalizado. Afinal, como se fazem suas roupas, sua cerveja ou seus cosméticos? Particularmente dando destaque para este último produto, a repórter Amanda Bernardo conta a trajetória interessante de uma expositora da Feira Vegana de Porto Alegre, A Sabida, no texto Consumidores atentos à sustentabilidade buscam opções veganas e naturais. A matéria também aborda a questão da fiscalização de produtos e as diferenças entre cosméticos veganos, naturais e orgânicos, visando um serviço aos consumidores em geral.

O modo explicativo como a repórter Amanda Bernardo trabalhou seu texto e o abre da matéria trazendo a história da marca contribui para que o interesse no produto se amplie. No dia em que visitamos a Feira, fiquei tentada e comprei um balm hidratante. Resultado: estou encantada com o cheiro, a consistência, e a eficácia.

Muito nas redes, pouco na imprensa

Voltando a nossa experiência como exploradores da feira vegana, lembro de um comentário que também foi frequente naquele dia: “Até sushi?”? A curiosidade de como pode ser feita a iguaria foi sanada pela repórter Laura Rolim, que na matéria Sushi sem peixe é tendência na Feira Vegana de Porto Alegre aborda a produção da Melhor que peixe, de Viamão. Sim, peixes não pertencem ao reino vegetal — e daí, com esta observação infantil, percebe-se a importância de coberturas como esta, não apenas para falar de veganismo e mostrar iniciativas de sucesso, mas sim para abordar, relacionar e explicar o assunto para quem não é vegano.

A Beta Geral conversou com expositores sobre o veganismo e como os produtos são planejados e desenvolvidos. (Foto: Lucas Alves)

O destaque para o veganismo na grande imprensa não é nulo, mas está longe da abordagem proposta pela Beta Geral. Agora em época de festas juninas, o G1, traz duas reportagens que abordam formas de preparar comidas típicas veganas. Porém, as duas divulgadas no Bom dia Piaui. Já quando pesquisamos a palavra no site da Folha de S. Paulo, as matérias trazem histórias de celebridades, pouco se é destacado sobre o tema em si.

É o caso da youtuber americana Yovana Mendonza Ayres, que seguia o veganismo e foi flagrada comendo um peixe. Nas suas redes sociais ela defendia o movimento crudivegano, uma alimentação sem origem animal e à base de alimentos crus. Os fãs ficaram desapontados, mesmo que a americana tenha afirmado que precisava desses alimentos por falta de deficiência de ferro, e que estava consumindo a carne por indicação médica. A imprensa deu grande destaque ao caso, mas pouco se falou sobre alternativas alimentares e saúde.

Já nas redes sociais, há uma rede de incentivo e debate sobre o tema. A história mais interessante que pude conhecer foi de Elo Beraldo, que através do veganismo conseguiu vencer a anorexia, e afirma que o modo de vida o ajudou e motivou a ter um propósito para vencer o distúrbio alimentar. Nas suas redes, a jovem mostra o seu dia a dia, além de receitas veganas que ela ensina a preparar.

A jovem sofre ataques sobre o seu estilo de vida, mas nem por isso ela deixa de compartilha suas experiências com seus seguidores. (Foto: Reprodução/ Rede Social)

“Minha missão é mostrar que o veganismo vai muito além de “não comer animais” mas sim um movimento que transforma vidas por dentro e por fora. Se você está preso em um ciclo de transtorno alimentar, eu quero te dizer que há esperança. O veganismo pode ser a chave para a sua libertação, assim como foi para mim” — Elo Beraldo.

O casal, Gah e Lisi, dois veganos, também usam o Instagram para ajudar pessoas que estão entrando nessa realidade. Atualmente os dois residem em Porto Alegre, mas já passaram por Londres, Paris, Lisboa, São Paulo e Minas Gerais. Essas experiências estão disponíveis nos destaques da rede social, onde eles mostram as suas vivências.

A nutricionista Sabrina Pimentel, também usa as redes sociais para falar sobre o veganismo e partilhar sobre o seu dia a dia. Os posts trazem um pouco da rotina da profissional, além das pautas que giram em torno do veganismo com receitas que ela também prepara. Sabrina traz uma postagem importante, na qual dá três dicas para ter uma transição leve:

1. Respeite o seu tempo. 2. De nada adianta (relacionado a saúde) retirar a carne e outros alimentos derivados de animais do prato e manter uma alimentação baseada em frituras e industrializados. 3. Cozinha, sua mais nova melhor amiga! — Sabrina Pimentel.

Um semestre que se despede com novidades

Nesse semestre, 2023/1, a Beta Geral estava preocupada em manter, além de textos de qualidade, as imagens e infográficos que compuseram as matérias ao longo das publicações. Pensando nisso, a editoria de imagens e artes foi criada e ficou por conta de Lucas Alves, que ao longo do semestre, trabalhou lado a lado dos repórteres para trazer sempre informações que complementariam as reportagens.

Nesse semestre também, além da editoria de imagens e artes, a editoria de redes sociais, a cargo de Thomás Ramos Domanski, teve um trabalho muito mais estratégico do que apenas divulgar o link das matérias no Instagram da Beta Redação. Thomás trouxe informações nas redes que complementaram os textos — como uma receita de quindim vegano. Ficou curioso? Então acesse o perfil da Beta, onde você descobrirá sobre essa delícia, e muito mais.

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Leila Inês
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Estudante de Jornalismo, apaixonada por palavras