OMBUDSWOMAN: o início, o meio e o futuro ambiental

Reciclar é falar do social, da economia e de quem cuida do nosso amanhã

Thanise Melo
Redação Beta
6 min readNov 30, 2022

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Neste mês, o Conselho do Leitor conta com a participação de pessoas que fazem acontecer. Se você teve a oportunidade de ler a coluna passada, irá lembrar dos catadores de materiais recicláveis Marcão da Coomcat, de Santa Cruz do Sul, e Michele Ferreira, da Cooperativa Renascer de Canoas. Agora, eles retornam para comentar suas percepções das últimas produções da Beta Geral sobre a reciclagem e a temática ambiental, e trazem à tona - junto das entrevistadas especialmente para esta coluna, Paula Guedes e Stéfani Silva, da SDV Reciclagem - outros entendimentos para complementar o que produzimos. Também participaram desta análise os conselheiros André Félix e Daniele Souza.

Antes de seguirmos, no entanto, cabe destacar a relevância da educação ambiental e a responsabilidade coletiva que temos sobre aquilo que descartamos. Ou seja, todos nós estamos participando — como geradores, coletores, catadores, agentes políticos, recicladores, entre outras atuaçÕes sociais — da problemática dos resíduos sólidos . Cabe a nós, enquanto coletivo, incluir as ações de repensar, reduzir, reutilizar e reciclar em nosso cotidiano. Essas práticas somadas funcionam como um investimento em nosso próprio futuro e, também, impactam no tal de “amanhã sustentável”.

Você sabia que, no 22 de novembro, é celebrado o Dia do Reciclador e da Reciclagem do (sic) Lixo? O nome da efeméride precisaria ser revisto, mas a data segue sendo importante (Foto: Freepick/Banco de imagens)

Mas, qual é a notícia do agora?

Entre a mídia tradicional e o jornalismo independente, as capacitações de catadores e recicladores, fornecidas pelo setor público e privado, aparecem em muitas manchetes. Há histórias de superação de pessoas que acabaram virando um livro, temos leis sancionadas e novas legislações aprovadas. Ainda, nos deparamos com os desafios de coletar e de reciclar no dia a dia, e as inovações feitas pelo setor.

É impossível não citar as reportagens sobre trabalhadores e trabalhadoras da área, que encontraram recém-nascidos ou milhares de notas de dinheiro durante o trabalho. Porém, enquanto estudantes do curso de jornalismo, os alunos e alunas da Beta Geral buscaram saber mais sobre o trabalho diário, os impactos da educação ambiental e o processo de coleta de cada pessoa que contribui socialmente para a transformação dos materiais que produzimos.

O que nossos leitores pensam

Na reportagem Quatro lixeiras subterrâneas começam a operar em Santo Antônio da Patrulha, Mayana Serafini apresenta a solução encontrada pelo Poder Público Municipal da cidade, buscando outras perspectivas e iniciativas sustentáveis. Para o leitor André Félix, “o texto está perfeito, o título agrega ao restante e responde todas as questões propostas na pauta. Foi tão confortável de ler que eu leria muito mais!”, contou.

Já para a leitora Daniele Souza, a reportagem é bastante pontual, mas, adere mais ao tema do descarte do que especificamente sobre a reciclagem. “Na minha opinião, faltou ampliar o assunto, buscando mostrar qual a destinação dos resíduos recicláveis”. Ainda, ela apontou que “no segundo parágrafo, a frase ‘representam’ uma alternativa para a redução dos pontos de descarte, suscita dúvidas no leitor”. Segundo a jornalista, nesse trecho há uma oportunidade da repórter explicar o que houve com esses pontos e se há pretensão de instalar as estruturas em outras regiões da cidade.

Já a matéria Projeto educacional transforma materiais reciclados em fantasias, o repórter João Teixeira trouxe um texto sem uma finalização completa, não apresentou a perspectiva de outras escolas do município, nem buscou mais informações sobre os investimentos do Governo Estadual em incentivos de educação ambiental, como por exemplo, no interior do Rio Grande do Sul.

Para Paula Guedes, a iniciativa é muito boa para perceber o tamanho do poder da reciclagem dentro dos 4 R’s (reduzir, reutilizar, reciclar e repensar). “Tudo se inicia com a reciclagem, tudo vai terminar com a reciclagem, é fato […] A grande maioria das escolas falam sobre resíduos, mas não praticam. E, em todo o texto, não se fala em parceria com alguma cooperativa, associação, grupo ou vínculos”, comenta a fundadora da SDV Reciclagem.

Ainda, ela fala que as escolas pedem materiais reciclados, como as tampinhas para fazer trabalhos, mas não incorporam à rotina escolar uma agenda anual, palestras com catadoras, nem ao menos desenvolvem um trabalho junto dos recicladores. “É lindo de falar, é lindo de ver, mas é difícil de praticar”, afirmou a recicladora.

Colocar a temática dentro das escolas é importante para falar e discutir sobre a reciclagem e o meio ambiente, comentou Michele Ferreira. “São as crianças e os jovens que vão aderir às práticas, muito mais do que os adultos. Sem falar que crianças e jovens vão cobrar futuramente a sociedade”, concluiu a coordenadora da Cooperativa de Reciclagem Renascer.

Seguindo na mesma ideia sobre a pauta, a leitora Daniele Souza reconhece positivamente a iniciativa escolar, mas recomendou ao repórter: “É preciso ter cuidado com alguns termos utilizados no texto, como ‘lixão da cidade’. Desde 2010, quando foi instituída a Política Nacional de Resíduos Sólidos, há orientação para que os municípios tenham aterros sanitários, em vez de lixões, o que me parece, após breve pesquisa, ser o caso de Farroupilha”.

A reciclagem é uma proposta coletiva que deve estar conectada ao cotidiano de cada pessoa. (Foto: Freepick/Banco de imagens)

Na matéria Coleta de tampinhas plásticas vai além da reciclagem, do repórter Henrique Kirch, há uma ótima prestação de serviço sobre o caminho do material até o seu reúso. Mas, o rumo da pauta tomou uma proporção um tanto distante da proposta de pensar mais em relação aos recicladores e recicladoras. Ao fim da leitura me questionei: será que a entrevistada se considera uma?

“Acho que falta o reconhecimento […] Para nós, recicladora é aquela pessoa que transforma a reciclagem em um artesanato, dá outra forma para aquele resíduo. No caso da moça (entrevistada), ela não sai da linhagem de catadora”, comentou Paula Guedes. Para ela, é importante notar que, muitas vezes, as pessoas juntam e doam para ONG’s ou instituições, mas não há ninguém dizendo ‘eu vou designar para um galpão de reciclagem’. A gente se pergunta: onde está a diferença nisso?”, perguntou.

Na percepção da recicladora da SDV, Stéfani Silva, “às vezes, as pessoas dão atenção para a separação de tampinhas […] Isso é bem dificultoso, porque no momento que se dá prioridade para um material, uma maioria pensa ‘isso é o que importa, o resto é o resto!’. Deveria ter uma política para todos os tipos de resíduos com uma direção e mais prioridades”, refletiu. Para o leitor André Félix, algumas linhas da matéria ficaram vagas e, além disso, faltou explorar mais a pauta em relação às tampinhas. Ele acredita que poderia ter um parágrafo falando mais sobre o uso da tampinha como um material reciclável.

Por fim, na matéria Resíduo reciclável não é lixo, tem valor, da repórter Milla Lima, o texto está bem estruturado, mas há um erro: a Cooperativa Renascer está localizada na cidade de Canoas. Ainda, a repórter faz uma espécie de releitura da roda conversa que houve em aula virtual, o que facilita a produção. Contudo, ela traz a matéria publicada pela revista Veja, intitulada “Catador de lixo é aplaudido no JN”, retomando a importância de valorizar esses profissionais através do jornalismo.

Marcos Geovane, o Marcão, refletiu sobre a reportagem: “acho que o mais correto é usar o catador e a catadora”. Ainda, ele contou que “apesar do dia 22 de novembro ser o dia de celebração da profissão, a comemoração ocorre no 1° de março, Dia Mundial dos Catadores e das Catadoras de Materiais Recicláveis, tanto no movimento nacional, quanto nas cooperativas regionais”, complementou.

Sobre a matéria, Paula Guedes contou que os catadores e catadoras são organizados e que existe um movimento nacional para trabalhar na formação, reeducação e no apoio aos estudos. Ainda, ela avisou: “Há um pecado em não colocar a porcentagem de mulheres que existem nesses grupos, porque dos 100%, 80% são mulheres, chefes de família, que fazem parte desse sistema de reciclagem, que estão no galpão tirando sustento dos seus filhos”, concluiu Stéfani Silva.

Conheça o Conselho do Leitor da Editoria Geral, da Beta Redação, em 2022/2:

Michele Ferreira, 37 anos, casada e tem filhos. Atualmente é coordenadora da Cooperativa de Reciclagem Renascer da cidade de Canoas.

Marcos Geovane Pereira dos Santos, 28 anos, solteiro, não possui filhos. Morador de Santa Cruz do Sul, é catador e Coordenador Geral da Coleta Seletiva Solidária da COOMCAT.

Paula Guedes, 33 anos, casada, não possui filhos. É uma das fundadoras do SDV Reciclando, localizado no bairro Agronomia, em Porto Alegre.

Stéfani Silva, 29 anos, solteira, possui filhos. Natural de Porto Alegre é uma das trabalhadoras da SDV Reciclando.

André Félix, 35 anos, solteiro, não possui filhos, morador de Novo Hamburgo. É estudante do curso de Gestão de E-Commerce e especialista em CRM e E-Commerce.

Daniele Souza, 42 anos, casa, possui um filho. Nasceu em Porto Alegre, mas reside em Dois Irmãos. É jornalista formada pela PUC/RS e assessora de Comunicação na Câmara Municipal de Novo Hamburgo.

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