RS é o 6º estado com mais adeptos ao medicamento de prevenção ao HIV

Entrevistados compartilham suas experiências com a PrEP, mas ainda apontam preconceitos

Henrique Tedesco
Redação Beta
5 min readMay 4, 2022

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Acompanhamento acontece de forma regular com exames e consultas. (Arquivo Pessoal/José*)

A profilaxia pré-exposição, conhecida popularmente como PrEP, chega ao seu quinto ano de uso no Brasil. É o medicamento feito para evitar a infecção pelo vírus HIV, causador da Aids e, de acordo com o painel de monitoramento da PrEP do Ministério da Saúde, em fevereiro de 2022, o medicamento tinha 32.933 usuários ativos em todo o Brasil. O Rio Grande do Sul é o sexto estado com mais adeptos, tendo, atualmente, 1.452 usuários.

Painel de monitoramento apresenta dados atualizados sobre usuários ativos do medicamento. (Divulgação/Ministério da Saúde)

Oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) desde maio de 2017, ela é distribuída principalmente para os seguintes grupos: gays, homens que fazem sexo com outros homens (HSH), profissionais do sexo e parcerias sorodiscordantes para o HIV, conforme divulgado pelo protocolo clínico oficial do Ministério da saúde.

Maior parte das pessoas infectadas pelo vírus HIV no Brasil são homens homossexuais. (Reprodução/MS)

O boletim epidemiológico de dezembro de 2021, mostra que a maior porcentagem de diagnóstico para o HIV naquele ano foi de homens homossexuais. O grupo apresentou 49,3% do total de casos em 2021. A tabela também mostra o diagnóstico entre homens heterossexuais, que representaram 26,8% da totalidade.

Segundo o painel de monitoramento, 85% do total de pessoas que estão em tratamento com a PrEP desde 2018 são homossexuais. A Beta Redação conversou com três gaúchos que usam o medicamento para compartilharem suas experiências e dificuldades que ainda tornam complicada a democratização do diálogo dentro e fora da comunidade LGBTQIA+, assim como a humanização daqueles que escolheram se prevenir.

A vida usando PrEP

A dose da PrEP é de um comprimido por dia. (Arquivo Pessoal/Felipe*)

“Pratico caminhada e pilates durante a semana” conta Felipe*, morador de Campo Bom, região metropolitana de Porto Alegre. Ele começou a fazer exercícios físicos antes mesmo de iniciar o tratamento com a PrEP, o que, segundo ele, é mais um aliado para a prevenção contra as infecções sexualmente transmissíveis (IST’s). Assim como ele, José*, de Pelotas, e Marcos*, de Rio Grande, ambos no sul do estado, são solteiros, possuem rotinas agitadas de trabalho e optaram pelo medicamento para ter mais segurança quando forem se relacionar sexualmente. O acompanhamento médico regular e realização de exames renais e de sangue asseguram a saúde de cada um, não só para o HIV, mas para qualquer outra IST.

Quem está a mais tempo em tratamento é José, que iniciou em janeiro de 2020. Ele contou que conheceu a estratégia de prevenção através de um casal de amigos que já eram usuários. Felipe e Marcos começaram em 2021 e se aprofundaram no assunto através da internet. Os dois realizaram o primeiro atendimento no Centro de Testagem e Aconselhamento de seus respectivos municípios, enquanto José foi atendido na Faculdade de Medicina de Pelotas. Sentindo-se à vontade e respeitados durante os primeiros acompanhamentos com uma enfermeira, todos contam que levaram os exames renais e de sangue para os médicos infectologistas. Dali saíram com a primeira quantidade de comprimidos da PrEP para trinta dias. Nesta fase, o paciente toma a medicação e observa se, neste período, não há nenhuma reação negativa no organismo.

Neste tempo, José disse ter sentido um pequeno incômodo no estômago na segunda semana de tratamento. Já Marcos comentou sobre “coceiras” em partes do corpo, mas ambos afirmaram que o problema não permaneceu. Felipe não sentiu efeitos da medicação durante o mês de tratamento.

Assim que a primeira parcela do medicamento foi finalizada, eles retornaram ao consultório com seus exames refeitos para avaliação médica. Então, iniciaram de fato a medicação com a PrEP e o retorno passou a acontecer em intervalos maiores de tempo. Mas José comentou que, depois que iniciou o uso da medicação, começou a fazer também outros exames preventivos com mais frequência. “Hoje em dia faço [exames] no mínimo 4 a 5 vezes ao ano. Agora em maio de 2022 farei exames pela terceira vez”, declara.

PrEP no café, no almoço ou antes de dormir

José afirma que seu exercício físico é o trabalho, já que começa no serviço às 6h e finaliza por volta das 23h. O horário que ele encontrou para tomar o único comprimido diário é durante o almoço. Felipe, que é adepto a caminhada e pilates, prefere ingerir no café da manhã e seguir com seus exercícios. O morador de Rio Grande, Marcos, por sua vez, prefere tomar na parte da noite, depois de fazer seus exercícios de calistenia (que usam o peso do próprio corpo), como forma de precaver-se de alguma reação indesejada.

Mesmo fazendo uso da medicação, os três entrevistados revelam que suas rotinas não sofreram nenhuma mudança significativa. Além disso, praticar exercícios físicos e beber água são hábitos reforçados por profissionais de saúde como de igual importância, inclusive para quem não realiza esse tratamento.

O estigma dentro da comunidade

José, Marcos e Felipe participam do Fórum PrEP, grupo no Facebook onde compartilham ideias e experiências. Eles afirmam que, mesmo havendo mais discussões e busca por informações por parte da comunidade LGBTQIA+, do que por homens ou mulheres cisgênero heterossexuais sobre o tratamento, o preconceito ainda é um desafio.

“As pessoas assimilam o uso da PrEP com promiscuidade, o que não é verdade. Usamos como forma adicional de prevenção”, pontua José.

Mas importa reforçar que o principal aliado para proteção contra as IST’s ainda é o preservativo. Proteja-se, use camisinha.

*Por receio de como a exposição pode reafirmar estigmas e afetar os contatos pessoais e profissionais, as fontes optaram por não se identificar. A Beta Redação manteve apenas a menção a cidade dos entrevistados. Todos os nomes são fictícios.

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