12 livros que ajudaram Barack Obama a ser o presidente dos Estados Unidos

Cassio Bartolomei
Blog do Book4you
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10 min readJan 19, 2017

Por Jacob Paes.

Barack Obama deixa a presidência dos Estados Unidos nesta sexta-feira (19). Leitor assíduo, pode-se dizer que Obama foi um dos presidentes americanos que mais “interagiu” com o público e a cultura pop, tendo, inclusive, participado de programas de televisão ao longo de seu mandato e influenciado as readlists de diversas pessoas mundo afora. Ele compartilhou com todos nós, diversas vezes, o que estava lendo. E, prestes a deixar o cargo, não poderia ser diferente.

Em entrevista ao The New York Times, Obama comentou o papel dos livros em seu mandato, e como foram importantes para que ele chegasse ao fim de seu governo — seja para entender melhor algumas questões ou para escapar delas e enxergar novas perspectivas. O presidente utilizava a literatura “para sair da minha própria cabeça” e para melhor “imaginar o que está acontecendo na vida das pessoas”. Ele também admitiu que queria encorajar um debate público sobre livros e destacou a importância dos livros também em sua formação, desde a infância solitária até o entendimento da pessoa na qual estava se tornando na adolescência.

“Numa época em que os acontecimentos são tão velozes e tanta informação é transmitida”, disse Obama, a leitura representa a possibilidade de “desacelerar de vez em quando e ganhar uma perspectiva mais ampla”, além da “possibilidade de se colocar na pele de outra pessoa”. Provavelmente, de acordo com ele, essas foram as principais qualidades da leitura para ele no período em que esteve na Casa Branca. “Se me fizeram um presidente melhor, não sei dizer. Mas o que posso dizer é que me ajudaram a conservar o equilíbrio ao longo de oito anos”.

Obama passará o bastão para o magnata Donald Trump, que tem visões totalmente opostas às do democrata e derrotou a candidata do partido de Obama, Hillary Clinton. Nesse cenário mais conservador, ele não poderia deixar de destacar o papel dos livros. “Numa época em que grande parte de nossa política está tentando gerenciar esse choque de culturas provocado pela globalização, pela tecnologia e pela migração, o papel das histórias para unificar — em vez de dividir; envolver e não marginalizar — é mais importante do que nunca”, disse ele.

Tendo em vista a importância que Obama deu para a literatura, neste post listamos algumas das leituras que marcaram sua trajetória na presidência americana. Aqui, temos ficções e não ficções, lidas recentemente ou em suas férias e indicações dele para suas filhas. Clássicos e lançamentos se encontram numa lista de peso, marcada por grandes questões em voga em tempos de pós-verdade.

1. ‘The Underground Railroad’, de Colson Whitehead

Nessa releitura da história americana, depois de Cora, uma escrava numa plantação da Geórgia, ser espancada e estuprada por seu senhor, ela foge para o norte, encontrando mais perigo ao longo do caminho. Último livro lido por Obama em seu mandato, ‘The Underground Railroad’, de Colson Whitehead, ainda é inédito no Brasil e ficou em primeiro lugar na lista do Book4you com os melhores livros de 2016, tendo sido eleito a melhor ficção de 2016 pela Time. Também figurou nas primeiras posições nas listas de The New York Times, The Wall Street Journal e Publisher’s Weekly. Para o WSJ Review, o livro consegue confrontar o pecado original da nação americana, mas também reafirmar a visão esperançosa da experiência estadunidense. Outras obras do autor já foram publicadas no Brasil pela Companhia das Letras.

2. ‘O Problema dos Três Corpos’, de Cixin Liu (Suma de Letras)

Nas palavras de Obama, foi um livro “divertido de ler, em parte porque meus problemas corriqueiros com o Congresso passaram a parecer mesquinharia — algo para não se preocupar”. Dá para entender o motivo da fala do presidente: o livro se passa em parte na China, no final dos anos de 1960, e enquanto o país inteiro está sendo devastado pela violência da Revolução Cultural, um pequeno grupo de astrofísicos, militares e engenheiros começa um projeto ultrassecreto envolvendo ondas sonoras e seres extraterrestres. Uma decisão tomada por um desses cientistas mudará para sempre o destino da humanidade e, 50 anos depois, uma civilização alienígena à beira do colapso planeja uma invasão.

3. ‘Uma Curva no Rio’, de Vidiadhar Naipaul (Companhia das Letras)

Um imigrante indiano que se estabelece num país africano recém-desocupado pelos colonizadores britânicos assiste à lenta degradação dessa sociedade depois que o Grande Homem, um líder populista e corrupto, assume o poder. Atrás do balcão de seu armazém, num lugarejo imaginário localizado na curva de um rio, na Costa Leste da África, ele testemunha o destino dos vários personagens que habitam a região. A obra tenta examinar o impacto da herança colonial e do fervor nacionalista no interior profundo do continente africano, explorando as contradições do contexto social e político da África e ilustrando a dificuldade de seus povos em criar uma identidade coesa e forte. Não à toa, Obama classificou a leitura como “uma espécie de frustração”, pois, de acordo com a entrevista ao The New York Times, ele passou seu governo inteiro tentando pensar num mundo que não fosse tão duro quanto realmente é — e o livro mostra em suas páginas justamente essa realidade cruel.

4. ‘A Sexta Extinção’, de Elizabeth Kolbert (Intrínseca)

Lido por Obama em suas últimas férias, em agosto, ‘A Sexta Extinção’ fala exatamente sobre um dos temas polêmicos que marcaram a eleição nos Estados Unidos, tendo em vista que Donald Trump já declarou não “acreditar” no aquecimento global. Na obra, a jornalista Elizabeth Kolbert explica de que maneira o ser humano alterou a vida no planeta como nenhuma outra espécie fez até hoje. Para isso, lança mão de trabalhos de cientistas nas searas mais diversas e vai aos lugares mais remotos em busca de respostas. Kolbert apresenta ao leitor 12 espécies — algumas desaparecidas, outras em vias de extinção — e, a partir daí, chega à conclusão de que uma quantidade inigualável de animais está desaparecendo bem diante de nossos olhos. Ao mesmo tempo, a jornalista traça um panorama de como a extinção tem sido entendida pelo homem nos últimos séculos, desde os primeiros artigos sobre o tema até os dias de hoje. Kolbert mostra que a sexta extinção corre o risco de ser o legado final da humanidade.

5. ‘Toda Luz Que Não Podemos Ver’, de Anthony Doerr (Intrínseca)

Este romance vencedor do Prêmio Pulitzer também foi uma das leituras de Obama em suas férias do ano passado. Ele conta a história de Marie-Laure, que vive em Paris, onde seu pai é o chaveiro responsável por cuidar de milhares de fechaduras. Em meio à ocupação nazista em Paris, pai e filha fogem para a cidade de Saint-Malo. Enquanto isso, numa região de minas na Alemanha, o órfão Werner cresce com a irmã mais nova, encantado pelo rádio que certo dia encontram numa pilha de lixo. Com a prática, acaba se tornando especialista no aparelho e vai para uma escola nazista. Logo depois, recebe uma missão especial: descobrir a fonte das transmissões de rádio responsáveis pela chegada dos Aliados na Normandia. Cada vez mais consciente dos custos humanos de seu trabalho, o rapaz é enviado então para Saint-Malo, onde seu caminho cruza o de Marie-Laure enquanto ambos tentam sobreviver à Segunda Guerra Mundial.

Você encontra este livro em duas listas do Book4You: Best-seller e O melhor de 2015.

6. ‘Tudo Que É’, de James Salter (Companhia das Letras)

Em suas férias, Obama também encontrou tempo para ler o novo livro de James Salter, considerado um dos maiores autores da literatura americana atual, após 35 anos de intervalo na carreira. No livro, após participar da Segunda Guerra Mundial como soldado no Japão, Philip Bowman retorna aos Estados Unidos para recomeçar a vida. Pelas décadas seguintes, acompanhamos sua carreira, seu casamento e seu divórcio. Novas relações amorosas aparecem — a mais significativa delas marcada por uma traição que Bowman vinga de forma particularmente cruel.

7. ‘Cem Anos de Solidão’, de Gabriel García Márquez (Record)

Recentemente, Obama deu de presente à sua filha Malia um Kindle com diversas obras que ele considera inspiradoras. Aparentemente, o presidente gosta de ler para as suas duas filhas, e no Kindle também estava esse clássico da língua espanhola. Em ‘Cem Anos de Solidão’, Gabriel García Márquez narra a história da família Buendía, uma estirpe de solitários que habitam a mítica aldeia de Macondo. A narrativa se desenvolve em torno de todos os membros dessa família, com a particularidade de que todas as gerações foram acompanhadas por Úrsula, uma personagem centenária e uma matriarca conhecida.

O clássico de García Márquez está na lista Livros até R$ 35

8. ‘O Caderno Dourado’, de Doris Lessing (Record)

Outra obra recomendada por Obama a suas filhas foi ‘O Caderno Dourado’, na qual uma escritora, autora de um romance de grande sucesso, mantém uma série de cadernos de notas. Em um deles, ela relembra a experiência na África em sua juventude. Em outro, rememora sua vida política, sua desilusão com o comunismo. No de capa amarela, escreve um romance no qual a heroína revive parte de sua própria experiência. E no azul, mantém um diário pessoal. Finalmente, apaixonada por um escritor americano e ameaçada pela insanidade, a escritora resolve reunir as linhas dos quatro cadernos num só — um caderno dourado.

9. ‘Entre o Mundo e Eu’, de Ta-Nehishi Coates (Objetiva)

Em suas férias, Obama não leu — ou comprou — apenas romances. Este livro, do jornalista Ta-Nehisi Coates, que trabalha com a questão racial nos Estados Unidos desde que escolheu sua profissão, relata como a mácula da escravidão ainda está presente nas sociedades em diferentes roupagens e modos de segregação. Em 2014, quando o racismo volta a ser debatido com força nos Estados Unidos, Coates escreve uma carta ao filho adolescente e compartilha, por meio de uma série de experiências reveladoras, seu despertar para a verdade em relação a seu lugar no mundo e uma série de questionamentos sobre o que é ser negro na América.

10. ‘Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar’, de Daniel Kahneman (Objetiva)

Entre as últimas leituras de Obama como presidente dos Estados Unidos está este livro do Prêmio Nobel de Economia, Daniel Kahneman. Todos nós acreditamos que o homem por ser dotado de razão, é capaz de conter os instintos e as emoções, avaliando objetivamente as situações e escolhendo, dentre várias alternativas, a que lhe é mais vantajosa. Entretanto, estudos conduzidos durante anos pelo autor colocam em xeque a ideia de que a nossa tomada de decisões é essencialmente racional. Kahneman nos leva a uma viagem pela mente humana e explica as duas formas de pensar: uma é rápida, intuitiva e emocional; a outra, mais lenta, deliberativa e lógica. O autor expõe as capacidades extraordinárias — e também os defeitos e vícios — do pensamento rápido e revela o peso das impressões intuitivas nas nossas decisões.

Este livro também está no Book4You, nas listas Fritando os Miolos e Livros até R$ 35

11. ‘Destinos e Fúrias’, de Lauren Groff (Intrínseca)

Este romance foi eleito por Barack Obama o melhor livro de 2015, numa lista publicada pela revista People, quando também foi finalista do National Book Award e do Kirkus Prize, além de também ter sido eleito livro do ano pela Amazon, pelo The Washington Post e pela Time. A história começa quando, aos 22 anos, dois jovens estão perdidamente apaixonados. Eles se conhecem na faculdade e antes da formatura já estão casados. Daí, seguem-se anos difíceis, mas românticos. Uma década depois, ele é um dramaturgo famoso e ela se dedica ao sucesso do marido; a vida dos dois é invejada como a verdadeira definição de parceria bem-sucedida. Porém, se em “Destinos” somos seduzidos pela imagem do casal perfeito, em “Fúrias” a tempestuosa raiva da esposa se revela fervendo sob a superfície. Em uma reviravolta emocionalmente densa, o que começa como uma ode a uma união se torna muito mais complexo.

Você encontra esta obra nas listas Novos romances estrangeiros e Livros até R$ 25

12. ‘Aguapés’, de Jhumpa Lahiri (Biblioteca Azul)

Obama também adquiriu este romance, finalista do Man Booker Prize e do National Book Award de 2013, em suas férias. A história se passa tanto na Índia como nos Estados Unidos, com os ingredientes das tradições ocidental e oriental: a jornada de dois irmãos rumo ao desconhecido, ao risco, os conflitos de uma mulher ainda presa ao passado e o aspecto político de um país no caos de uma revolução. Acompanhamos o quanto a perspectiva pessoal e subjetiva dos dois irmãos ecoa numa base histórica, da fundação da Índia como um todo e de sua relação com os ingleses e com a língua inglesa.

Aguapés é um dos títulos da lista Livros até R$ 25

Com informações de The New York Times, The Bookseller e Folha de S. Paulo

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Triathlon, Iron Man, Livros, ovo de gema mole e feijão por cima do arroz.