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A literatura brasileira sempre foi negra. E nós podemos provar…

Neste 13 de maio de 2020, nada melhor do que uma lista de escritores negros que nos ajudam a interpretar o Brasil

Caio Faiad
Boletim Antidoto

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Inspirado pelo post de Eliane Alves Cruz, escritora de Água de Barrela (2016) e O Crime do Cais do Valongo (2018), resolvi expandir a lista que a romancista apresenta em seus tweets.

Em cima, da esquerda para direita: Paula Brito, Teixeira e Souza, Maria Firmina dos Reis e Luiz Gama. Embaixo, da esquerda para direita: Machado de Assis, Cruz e Souza, Lima Barreto e Carolina Maria de Jesus.

Francisco de Paula Brito (1809–1861)

Paula Brito

Tipógrafo, fundador da sociedade petalógica, ativista político, poeta e tradutor. Um dos primeiros contistas brasileiros. Precursor da imprensa no Brasil, foi fundamental, como editor, na difusão do movimento literário do romantismo brasileiro. Defendia a imprensa livre e foi o primeiro a inserir no debate político a questão racial; atuou na valorização de um olhar étnico no cenário cultural com a Sociedade Petalógica. Tido por muito como o primeiro editor brasileiro, Paula Brito foi o primeiro empregador do ainda jovem Machado de Assis.

Mais sobre Paula Brito: biografia em A Cor da Cultura e a entrevista do Nexo Jornal com Rodrigo Camargo de Godoi, professor de História do Brasil Império da Unicamp, e autor do livro “Um editor no Império: Francisco de Paula Brito (1809–1861)”

Antônio Gonçalves Teixeira e Souza (1812–1861)

Teixeira e Souza

Teixeira e Souza é o autor do primeiro romance romântico brasileiro, O filho do pescador (1843). Assim como Joaquim Manuel de Macedo e José de Alencar, que provavelmente você dever ter lido nas suas aulas de Literatura Brasileira no Ensino Médio, Teixeira e Souza também tinha preocupação nacionalista.

Contudo, Teixeira e Souza não é o único escritor negro romântico. Silva Rabelo, Tobias Barreto e José do Patrocínio são alguns dos que compõem essa lista. A quantidade de escritores românticos negros é tão expressiva, que o crítico Roger Bastide afirma que há um momento africano no Romancismo brasileiro.

Mais sobre Teixeira e Souza: biografia no Instituto Palmares. Sobre escritores negros do romantismo brasileiro, sugiro o capítulo “Romantismo e poesia afro-brasileira no livro A poesia afro-brasileira de Roger Bastide.

Maria Firmina dos Reis (1822–1917)

Maria Firmina dos Reis

Publicado com o pseudônimo “Uma maranhense”, Úrsula (1859) é seguramente, segundo o portal literafro da UFMG, o primeiro romance publicado por uma mulher negra em toda a América Latina — e primeiro romance abolicionista de autoria feminina da língua portuguesa.

Além de escritora, Maria Firmina dos Reis foi professora e fundou, na localidade de Maçaricó, a primeira escola mista e gratuita do Maranhão e uma das primeiras do País.

Mais sobre Maria Firmina dos Reis: matéria da revista Cult e do El País.

Luiz Gonzaga Pinto da Gama (1830–1882)

Luiz Gama

Figura-chave do movimento abolicionista, tentou ingressar no curso de Direito do Largo de São Francisco, mas por ser negro e ser hostilizado pelos professores e alunos, frequentou as aulas como ouvinte. Com isso, Gama foi o responsável pela libertação de cerca de mais 500 pessoas no período da escravidão, garantindo acesso jurídico a elas.

Na literatura, Gama, em alguns poemas, colocava a mulher negra como a musa de sua poesia romântica e, em outros, fazia críticas sociais que foge da estética convencionada como Romantismo.

Mais sobre Luiz Gama: matéria do Brasil de Fato, portal Literafro da UFMG.

Dica Literária: Em Um defeito de cor, Ana Maria Gonçalves cria a personagem Kehinde/Luísa é inspirada em Luísa Mahin, mãe de Luiz Gama.

Joaquim Maria Machado de Assis (1839–1908)

Machado de Assis

Sem dúvida, um dos maiores nomes da literatura brasileira, Machado publicou mais de 200 contos, 10 romances e diversos textos em outros gêneros como peças teatrais, ensaios, crônicas e poesias. É também o fundador da Academia Brasileira de Letras.

Embora fosse um grande cronista de sua época, o que faz ser reconhecido na atualidade são os romances realistas: Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891) e Dom Casmurro (1899), que costuma aparecer todo ano no twitter.

Logo após a sua morte, os processos de embranquecimento de sua imagem começaram a ser implementados como mostra Carlos Nobre em matéria do Géledes. Fez parte desse processo, a crítica literária que difundiu a ideia que o autor não pautava a abolição. Tal ideia vem paulatinamente sendo desconstruída, como se por ver nas matérias do Vermelho.org e do Jornal da Unicamp.

Mais sobre Machado de Assis: portal do MEC dedicado ao autor.

João da Cruz e Sousa (1861–1898)

Cruz e Sousa

O maior poeta simbolista da literatura brasileira foi filho de pais alforriados e fez os estudos sob a prote­ção do marechal Guilherme Xavier de Sousa e da esposa, como filho adotivo. Essa situação lhe deu a oportunida­de de acesso à produção da intelectualidade europeia e constituir-se em uma figura singular à época: um negro intelectual. Todavia, isso não foi o bastante para escapar do esmagador preconceito racial de sua época: nomeado promotor público em Laguna, teve sua posse impugnada por causa da cor de sua pele.

A luta contra o preconceito, que marca sua obra e sua vida, indica um aspecto pouco tratado pelos simbolistas: o engajamento político-social. A cor branca é bastante presente na poesia de Cruz e Sou­sa e, muito embora, a crítica rasa tenha pensando nela como uma estratégia de compensação para a própria condição negra do poeta, a cor branca serviu como representação da transcendência, da irrealidade e das abstrações de que falavam todos os simbolistas.

Mais sobre Cruz e Sousa: portal Literafro da UFMG

Afonso Henriques de Lima Barreto (1881–1922)

Lima Barreto

Enquadrado como pré-modernista, Lima Barreto tem seu primeiro romance publicado em 1909, Recordações do escrivão Isaías Caminha. Em 1911, escreve e publica Triste fim de Policarpo Quaresma em folhetim do Jornal do Comércio. Publicou ainda Numa e a ninfa (1915), Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá (1919), Histórias e sonhos (1920). Postumamente saem Os bruzundangas e as crônicas de Bagatelas e Feiras e mafuás.

Suas obras são realistas e trazem uma visão crítica da sociedade brasileira. O escritor trabalha, com ironia, não só a temática nacionalista, como também discute as diferenças sociais e a questão do preconceito racial.

Mais sobre Lima Barreto: portal Literafro da UFMG e em matérias do El País e da Revista Cult.

Carolina Maria de Jesus (1914–1977)

Carolina Maria de Jesus

Contemporânea da chamada 3ª geração dos escritores modernistas, Carolina Maria de Jesus publicou, em vida, Quarto de Despejo (1960), Casa de Alvenaria (1961), Pedaços de Fome (1963) e Provérbios (1963). Quarto de Despejo, desde sua publicação, vendeu mais de um milhão de exemplares e foi traduzida para catorze línguas, tornando-se um dos livros brasileiros mais conhecidos no exterior.

Postumamente foram publicados: Diário de Bitita (1977), Um Brasil para Brasileiros (1982), Meu Estranho Diário (1996), Antologia Pessoal (1996), Onde Estaes Felicidade (2014) e Meu Sonho é Escrever: contos inéditos e outros escritos (2018). As obras póstumas de 2014 e 2018 foram editadas pela pesquisadora Raffaella Fernandez a partir de um material inédito deixado por Carolina de Jesus em 58 cadernos que somam 5 000 páginas de textos: são sete romances, sessenta textos curtos e cem poemas, além de quatro peças de teatro e de doze letras para marchas de carnaval.

Mais sobre Carolina Maria de Jesus: LabJor Unicamp e Suplemento Pernambucano.

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Caio Faiad
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👨🏽‍🔬Doutorando-USP e fã da Beyoncé ✊🏼Ciência, Democracia e Direitos Humanos. @ocaiofaiad em todas as redes sociais