UM VISLUMBRE DO BRASIL SEGUNDO O V5

Brasil In The Darkness
Brasil na escuridão
9 min readDec 3, 2019

Traduzido por Porakê Martins

Embora o V5 traga muitas mudanças no cenário do jogo, buscando aumentar a liberdade e o protagonismo dos personagens dos jogadores no cenário e facilitar a entrada de novos fãs, simplificando o metaplot do jogo, essa nova abordagem parece ter tido pouco impacto no cenário nacional de VaM. Na verdade, é como se o ambiente de caos e fraca influência das seitas, que sempre caracterizou países periféricos como o Brasil, se estendesse agora mesmo para os EUA e a Europa, onde a Camarilla costumava dar as cartas.

O Brasil, de maneira mais especifica, tem crescido de importância no cenário mundial do jogo, relegado a uma posição marginal até a terceira edição, onde o país passou a ser indicado como a terra natal da nova Justicar Brujah e passou a sediar em São Paulo um dos domínios mais relevantes do Sabá em escala mundial, se aprofundou nesta quinta edição, com o Brasil ocupando papel de destaque, como um bastião da Segunda Inquisição, um dos principais antagonistas introduzidos pelo V5.

Abaixo transcrevemos o trecho completo que explica o que ocorreu com a Camarilla e os Anarquistas diante da ameaça da Segunda Inquisição:

COMEÇOS E FINS

Poucos anos após o começo da Guerra ao Terror, a Camarilla se encontrou em uma situação desesperadora. Milhares de membros foram para a NSEERS e outras listas de observação estabelecidas pela Segurança Interna nos Estados Unidos. Em 2007, logo após a aprovação do “Ato de Proteção à América” e se juntarem ao ainda confidencial “Projeto PRIS”, O Serviço Secreto do Vaticano (A Entidade), a CIA e a NSA lançaram um grande ofensiva. Elas fazem isso secretamente, apoiados pelo poder mundano das maiores agências antiterrorismo no planeta. Mais de mil Membros foram mortos no espaço de três meses.

Poucos dos ataques são reportados como letais ao público. Muitos são classificados como “prisões”, outros são ocultados como violência entre gangues, ao passo que os piores e ainda mais odiosos são mascarados ataques terroristas Islâmicos. A destruição executada pelo Vaticano-SOCOM da Capela Principal de Viena em 2008 oficialmente permanece uma “atrocidade terrorista” creditada à União Jihad Islâmica. Somente os Autarcas e Inconnu mais reclusos não foram afetados. O jogo acabou, o uso da vigilância e alta tecnologia explodiu na face da Camarilla, e eles foram pegos na pior crise desde a Convenção dos Espinhos e a criação da própria seita. A Segunda Inquisição começou.

Em resposta, a Camarilla ordenou o primeiro passo, a Limpeza: hackers Nosferatu mais velhos desmantelaram seus servidores, desmontando a SchreckNET para apagar qualquer rastro de comunicação que os Membros possivelmente consigam da rede.

O Segundo passo é um decreto amplo da Camarilla, espalhada de boca em boca assim como uma última transmissão codificada nos canais de comunicação dos Membros. Qualquer Membro pego contatando um outro através de canais online será removido da proteção da Camarilla e declarado desleal, com a ameaça da Caçada de Sangue pairando sobre eles se a comunicação for considerada comprometedora à Máscara.

O terceiro passo é a reunião do primeiro conclave global realizado em um século. Por causa das dificuldades da viagem no despertar da Inquisição, somente representantes de primogênitos e príncipes são esperados para participar. Uma convenção é realizada em Chicago, a maior cidade da Camarilla no EUA, a outra na cidade neutra de Praga. A Convenção de Praga quase evolui para uma guerra civil quando a facção Anarquista alegou que a elite da Camarilla e suas intromissões com os governos federais e nacionais eram culpados pela Inquisição, enquanto que a Camarilla apontava a maneira irresponsável e despreocupada com a qual ao Anarquistas e neófitos em geral vem usando a internet.

A convenção acaba em caos. Theo Bell, Arconte Brujah e legalista da Camarilla, executa seu antigo mestre diante de uma atordoada reunião de pares. As Tradições da Camarilla são mudadas para sempre. A expulsão dos Anarquistas da seita é um fato. Os Anarquistas são agora considerados qualquer um filiado com o Movimento assim como todos os vampiros Sangue Fraco, Caitiff e Autarcas, e nenhum Membro da 13ª geração ou maior é bem-vindo na Camarilla.

Por um Segundo parecia que uma guerra aberta iria eclodir. No entanto, os Anarquistas concordaram em sustentar uma Tradição e somente uma: a Máscara. A Camarilla estabelece uma “segunda máscara”, ditanto que os membros devem cortar todos os laços com os Membros não iniciados. Uma paz instável é estabelecida. Mas tensões estão aumentando, e se recentes eventos em Berlim e Praga forem um indicativo, a Guerra das Eras está prestes para mudar de uma Guerra fria para um conflito declarado. (V5, pg. 56–57)

Como esperado, em meio às incertezas e ao caos dominante no cenário do V5, pouca coisa mudou nessas paragens abaixo da linha do equador. Em um breve trecho do novo Guia da Camarilla, que busca atualizar o mais tradicional cenário brasileiro no jogo, a cidade do Rio de Janeiro, a cidade é descrita nos seguintes termos:

Se você quer se divertir, venha para o Rio. Se você quer uma refeição fácil, venha para o Rio. Se você quer viver a vida como se fosse a última noite, venha para a porra do Rio! Venha ao Rio para uma experiência completamente nova, meu amigo. Você não acredita em mim? Apenas observe como a cidade funciona. Os Lasombra controlam os clubes, a vida da elite, as áreas turísticas, as praias. Os Toreador estão nas favelas, nos barracos, rondando em torno dos marginalizados nas ruas. Isso parece loucura pra você? Bem, você não viu nada. A cidade é livre, mas acredite, nós temos regras. Só não são as regras da Camarilla de sua Paris ou Chicago. Imagine que a Camarilla fodeu o Sabá, ou melhor, que o Sabá fodeu a Camarilla. Bem, o Rio é o bebê das duas seitas. Compartilhamos o sangue, nos divertimos, não damos a mínima para o que acontece fora da cidade. A festa nunca acaba!
E outra coisa. Não ultrapasse os limites da cidade. Eu sei o que digo. Se esbalde na Praia de Copacabana, abra a garganta de um turista, dance em sangue — o que for. Mas não perca de vista as luzes da cidade. Há algo fodido lá fora. Não é o Sabá ou a Inquisição. Eles podem ser Membros, mas não tenho certeza. Eles pegam qualquer um que saia da linha, meu amigo. Eles se escondem nas árvores e permanecem como cadáveres, esperando por alguém como você passar. Então se divirta no Rio, é o que lhe digo!”

- “Dizzy” Barretti, um Malkaviano qualquer. (Camarilla Guide V5. Pág. 120).

A verdadeira novidade que o V5 trás ao cenário brasileiro é um vislumbre da situação dos cainitas na Amazônia, em especial nas cercanias de Manaus, em um trecho do novo Guia Anarquista, surpreendentemente bem mais extenso do que aqueles que vimos anteriormente, no Guia da Camarilla, sobre o Rio de Janeiro. O trecho sobre a Amazônia no V5 é este que segue:

MANAUS, BRASIL — 12 DE NOVEMBRO DE 1981.

Encontrei uma criança com um ouvido perfeitamente moldado no meio de seu rosto. Ela não tinha outros traços. Sem nariz, sem boca, sem olhos. Quando a criança morreu, entendemos que nosso mundo perfeito não seria mais perfeito por muito tempo.

Eu sei que muitas pessoas estão interessadas em como nosso experimento utópico está indo. Eu confio em você para divulgar essas notas entre elas. Tenho certeza que alguns vão nos ridicularizar por pensar que poderíamos encontrar um lugar não contaminado por monstros antigos, mas por alguns bons anos, tivemos nossa utopia na floresta amazônica. Assentamentos humanos imaculados, vilas e cidades longe de tudo.

A criança foi a primeira, mas não a última. Eu nunca vi nada assim. Eles continuaram aparecendo, crianças, adultos, idosos. Todos mutilados da mesma maneira. Eu possuo uma propriedade muito agradável. Moro aqui como convidado permanente de uma família mortal. Quando eu ainda era humano, já morava aqui. Fico feliz em fazer essa família abastada servir a mim, um mestiço indígena que eles não permitiriam cuspir aqui quando era mortal. Ainda assim, eu prosperei me preocupando com eles do meu jeito. Certa noite, acordei com uma das crianças em pé na minha cama. Ela ainda tinha uma boca espumando, e continuou engasgada com as palavras: “Ouça a voz de Caim.” Foi assim que o Sabá entrou em nossa porção do mundo.

EM ALGUM LUGAR NA FLORESTA, BRASIL — 3 DE MAIO DE 1982.

Eu gostaria que pudéssemos encontrá-los. Quando chegamos à Amazônia, pensamos que estávamos a salvo dos monstros do mundo exterior. Se farejássemos a Camarilla, poderíamos desaparecer nos pequenos assentamentos e esperá-los.

Eu costumava ter certeza de que nenhum sugador de sangue europeu iria me derrotar em meu próprio país. Os outros que vieram aqui comigo, talvez. A maioria dos estrangeiros eram europeus cansados ​​da Guerra das Eras. Mas eu não. Eu conheço a floresta.

Agora não tenho tanta certeza. Hoje em dia, Manaus está cheia de vampiros ignorantes e insanos. O Sabá vem para a cidade, sequestra um grupo de humanos, abraça-os e vai embora. Eles não dão a mínima para a Máscara. Os novos vampiros criam mais como eles próprios.

Eu matei dezenas deles, alguns deles disformes e mutilados, gritando e balbuciando. Muitos dos outros anarquistas que vieram comigo para a Amazônia não têm coragem de matar. Eu costumava ser um marinheiro, em uma vida passada. Agora sou apenas um carrasco tentando conter a maré de sangue.

MANAUS, BRASIL — 9 DE SETEMBRO DE 1982.

Achamos que há apenas três vampiros do Sabá por aí. O resto são apenas habitantes locais que eles abraçaram. Eu tenho uma das vítimas deles para interrogar. Sua boca estava coberta de carne, mas eu a abri com uma faca. Ele me disse que eles falavam espanhol e eram duas mulheres e um homem.

Nós não sabemos seus nomes, mas a artista da carne que chamamos de borboleta. Gosta de remover traços faciais e substituí-los por ouvidos. Ela é muito meticulosa sobre isto. Uma vez eu vi um homem com dez deles por toda sua cabeça.

Três deles, quase cinquenta de nós. Eles mutilam os mortais, Abraçam as pessoas em nossas cidades e vilas, mas ainda não conseguimos encontrá-los.

Sua amiga polonesa Agata Starek esteve aqui por um mês no verão. Eu não a queria aqui porque ela é quase tão ruim quanto o Sabá, mas no final eu implorei para ela ficar. Ela tinha um talento real para matar os jovens.

EM ALGUM LUGAR NO RIO SOLIMÕES, BRASIL — 11 DE NOVEMBRO DE 1982.

Eu sei que isso é anticlimático, mas acho que vencemos. Eu tenho a notícia de que algo estava acontecendo em uma madeireira. Quando cheguei lá, todo mundo estava morto, exceto por alguns balbuciando, deformados e desafortunados, arrastando-se na lama. O Sabá havia zombado deles, mutilando-os e forçando-os a correr com mentiras de salvação.

Eu nunca vi tal carnificina, exceto nos restos abandonados por esquadrões da morte. Alguns dos corpos secos de sangue, outros espalhados pelo chão em pedaços encharcados de vermelho. Quando cheguei aos Sabá, eles estavam fora de suas mentes por conta das drogas em seu sangue, cantando, gritando e dançando entre as ruínas. Não foi uma luta, eu não falei com eles. Apenas os matei.

Eu tenho caçado sua progênie ao longo do rio e refletido sobre liberdade. Eu não acho que os Sabá vieram aqui para nos trazer a guerra. Eles vieram para a selva pela mesma razão que nós: serem livres. Sua liberdade apenas significava sangue, insanidade e morte.

MANAUS, BRASIL — 5 DE JUNHO DE 1986.

Encontrei outro dos vampiros que o Sabá deixou para trás. Ela era uma coisinha confusa e agressiva, vivendo do sangue de seus parentes mortais. Quando a executei, ela sussurrou uma oração para Caim. O Sabá está morto na Amazônia, mas sua fé continua viva. (V5 — Anarchs Guide. Págs. 135–136).

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