Ecossistemas baseados em plataformas transacionais e plataformas de inovação: qual a diferença?

Ana Facin
Bridge Ecosystem
Published in
3 min readApr 1, 2022

No texto sobre os alicerces para construção de ecossistemas baseados em plataformas, discutimos sobre a importância das plataformas tecnológicas e da modularização para o desenvolvimento desse tipo de ecossistema. Falando mais especificamente das plataformas digitais, não é de hoje que vemos sua proliferação como propulsora da geração de negócios e produtos inovadores.

Como já mencionamos, empresas como Google, Apple, SAP, iFood, Uber, são exemplos muito conhecidos nesse contexto. Segundo o artigo “Platform: something to stand on”, de Michael Cusumano da MIT Sloan School of Management (THE ECONOMIST, 2014), as plataformas digitais passaram a atrair mais atenção da indústria de software nos anos 1980 e 1990, quando este setor se dividiu em duas partes: a do desenvolvimento dos sistemas operacionais (plataformas) e a do desenvolvimento das aplicações que funcionam sobre estas plataformas. E, até hoje, elas continuam sendo a base para o desenvolvimento ágil de novos produtos e serviços e para a inovação.

Discussões recentes destacam dois tipos distintos de plataformas digitais: as plataformas transacionais e as plataformas de inovação. Annabelle Gawer, uma especialista em plataformas explica cada um desses tipos:

As plataformas transacionais têm como principal função facilitar a troca de bens e serviços. Em geral, os lados envolvidos (compradores e vendedores) se tornam usuários dessas plataformas para realizar seus negócios. Alguns exemplos de empresas que lideram plataformas transacionais são Uber, Airbnb e Amazon. O valor oferecido por essas plataformas cresce à medida que atrai mais participantes, disponibiliza mais funções e gera mais conteúdo digital. O modelo de negócios se baseia principalmente na cobrança de taxas sobre as transações e publicidade. Esse tipo de plataforma é comumente utilizado nos famosos “marketplaces”.

No Brasil, uma plataforma transacional muito conhecida é a da iFood. No caso da iFood, que surgiu para intermediar o delivery de comida, o seu ecossistema envolve milhões de usuários da plataforma, que são os restaurantes, os entregadores e quem deseja comprar comida sem ter que ir ao restaurante, e mais recentemente passou a atrair novos parceiros, tais como, mercados, farmácias, pet shops.

A iFood oferece uma série de serviços para todos os tipos de usuários que utilizam a sua plataforma, quem compra comida, por exemplo, pode encontrar em um único lugar diversos tipos de restaurantes, consegue fazer o pagamento de diversas formas e ainda recebe a refeição sem ter que se deslocar. A plataforma também oferece, entre outros, serviços de gestão logística para os restaurantes que podem optar por fazer a própria gestão ou utilizar esse serviço disponível na plataforma.

Por outro lado, as plataformas de inovação criam valor porque facilitam o desenvolvimento de inovações sobre a plataforma, que é base tecnológica utilizada por organizações ou indivíduos para prover inovações complementares. As plataformas de inovação oferecem ambientes de desenvolvimento com ferramentas e vasto conteúdo digital para facilitar a sua utilização para que desenvolvedores possam inovar de forma independente. Inovações complementares desenvolvidas por terceiros visam tornar a plataforma cada vez mais útil, ou seja, ao aumentar o número ou utilidade dos complementos surgem os efeitos de rede, atraindo mais clientes.

A Google Android e a Apple iOS, por exemplo, são duas conhecidas plataformas de inovação que concorrem no vibrante ecossistema de smartphones.

Algumas empresas adotam plataformas híbridas, para gerar e explorar oportunidades de transação e também complementaridades de inovação. A Google, por exemplo, adota os dois tipos de plataforma. A plataforma Google Play é do tipo transacional, servindo como um marketplace para oferta de produtos e serviços digitais desenvolvidos por terceiros e a plataforma Google Android oferece uma plataforma de inovação, onde desenvolvedores encontram todo tipo de ferramenta para o desenvolvimento de novos produtos e serviços de software para usuários de smartphones.

Ana Facin

Mestre e doutora pela USP e Pesquisadora na iniciativa Bridge Ecosystem.

Referências

GAWER. A. Digital platforms’ boundaries: The interplay of firm scope, platform sides, and digital interfaces. Long Range Planning, 2020. Disponível em: (https://doi.org/10.1016/j.lrp.2020.102045).

THE ECONOMIST. Platforms: something to stand on, 18 Jan. 2014. Disponível em: (http://www.economist.com/news/special-report/21593583-proliferating-digital-platforms-will-be-heart-tomorrows-economy-and-even).

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