Os Benefícios Mal Explorados do uso de Simulações em Projetos

Gustavo Nobre
Business Drops
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5 min readJul 25, 2018
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Aqueles que estudam gestão de projetos na teoria (em boa parte porque estão em busca de alguma certificação) têm, em sua grande maioria, a oportunidade de ler uma ou duas linhas sobre o tema “simulações”, e buscam entender seu propósito com o objetivo de passar na prova. Já os gerentes de projetos de carreira, também em sua grande maioria, raramente fazem uso desse recurso em seus empreendimentos. E afirmo isso com a segurança de quem já estudou bastante a teoria para passar na prova e possui mais de 20 anos de experiência prática na área.

Em uma postagem anterior falamos da importância da disciplina Gestão de Riscos para o sucesso de um projeto. Este artigo estende ainda mais o tema ao tratar o assunto simulações como mais uma ferramenta importante e pouco explorada em projetos, apesar de presente na literatura.

Tendo a acreditar que os gestores percebem a ferramenta como sendo algo complexo e/ou caro ou que exija o uso de ferramentas estatísticas que não estejam disponíveis no projeto. Nossa ideia aqui é mostrar que isso não é verdade, bastando aplicar alguns conceitos básicos e uma planilha estruturada. Vamos aos conceitos:

1- PERT (Program Evaluation and Review Technique): Na década de 1950, o escritório de projetos especiais da marinha dos Estados Unidos concebeu uma técnica para realização de estimativas de atividades de projeto que estabelece, dentre outras definições, que a duração de cada tarefa pode assumir três tipos de valores: mais provável (previsão mais realista possível); otimista (cenário de melhor caso, menor duração prevista); e pessimista (cenário de pior caso, maior duração prevista). E a duração estimada para essa atividade seria obtida através da seguinte fórmula:

Logo, se para a execução de um determinado pacote de trabalho em um projeto, temos uma duração mais provável de 8 dias, uma visão otimista de 5 dias e uma perspectiva pessimista de 20 dias, a duração esperada para este pacote de trabalho, seguindo o PERT, é: (5+8+8+8+8+20)/6 = 9,5 dias.

2- Caminho Crítico (ou CPM, Critical Path Method): consiste na identificação das atividades de um projeto sequencialmente dependentes entre si que representam o caminho mais longo para conclusão de um projeto, sem a existência de folgas (em outras palavras: o sequenciamento de atividades cujo atraso, por menor que seja, compromete o projeto como um todo). Até hoje é considerada uma técnica fundamental presente em literaturas atuais e essenciais relacionadas a gerenciamento de projetos, e em ferramentas tecnológicas.

3- Simulação de Monte Carlo: o nome “Monte Carlo” vem do famoso cassino em Mônaco. O criador do método, Stanislaw Ulan, deu esse nome ao método em razão das probabilidades de ganho de apostas no cassino, que era muito frequentado pelo seu tio. Durante o período de recuperação de uma convalescência, Ulan gostava de jogar Paciência (Solitaire, em inglês), e tentou estabelecer uma fórmula estatística para calcular as chances de se ganhar o jogo. Ao perceber a complexidade para se estabelecer um modelo matemático, ele resolveu anotar os resultados de todas as suas partidas. Algumas centenas de partidas depois, ele verificou a quantidade de sucessos em relação às suas tentativas e chegou à probabilidade de sucesso a partir daí. Nascia aí o Método de Monte Carlo, potencializado pelo advento dos computadores, e sua capacidade de geração de dados aleatórios e processamento.

Para quem tem interesse em se aprofundar na teoria, recomendo dois ótimos livros do Harold Kerzner: Gestão de Projetos. As Melhores Práticas e Gerenciamento de Projetos: uma Abordagem Sistêmica Para Planejamento, Programação e Controle.

Agora, vamos à prática: digamos que há um projeto com 20 atividades sequenciais, todas no caminho crítico, com as seguintes durações previstas:

Temos aqui um projeto cujas ocorrências de 100% das atividades na duração otimista será, de 52 dias; na mais provável, 92 dias, e na visão pessimista, 140 dias. Segundo o método PERT, as chances de uma atividade ocorrer em sua duração otimista são de 1 em 6. Logo, para que 100% das atividades caiam na coluna otimista, as chances são de uma em 6 elevado à vigésima potência, ou seja, uma em 3.656.158.440.062.980 (sim, é isso mesmo!) O mesmo vale para que 100% das atividades caiam na perspectiva pessimista. Já para a mais provável, as chances são maiores: uma em 3.326. Ao simularmos a execução desse projeto, teremos como resultado um número entre 52 e 140 dias, com maior tendência a ficar em torno de 92 dias. Quanto mais vezes simulamos a execução do projeto, mais possíveis resultados são obtidos. Com o uso de uma planilha em Excel simples e fórmulas para cálculos de resultados aleatórios (dentro das regras do PERT), podemos gerar as probabilidades deste projeto-exemplo. A figura abaixo apresenta os resultados em um histograma para 15.000 simulações deste projeto-exemplo:

Cada barra azul representa possíveis resultados para um determinado intervalo. Por exemplo, em 3 das simulações o tempo de execução do projeto ficou entre 68 e 70 dias. Já em 2.844 simulações o resultado ficou entre 91 e 93 dias. Já a linha vermelha representa as frequências acumuladas, que é o dado mais útil para o gestor de projetos. Por exemplo: o gráfico nos mostra que temos 70% de chances de conseguir executar o projeto em até 94 dias. Se quisermos aumentar a nossa segurança para 90%, devemos alterar nossa estimativa para 99 dias.

Mas será que 15.000 simulações são suficientes para testarmos todas as possibilidades? A resposta é não (afinal, as chances de executarmos o projeto no seu tempo mínimo é 1/6 à vigésima potência). Mas nos dá uma noção e argumentos estatísticos para eventuais negociações de prazos com clientes ou outras partes interessadas. Afinal, qual dessas duas afirmações demonstra mais segurança e controle da situação:

- Estou confiante que, em tudo dando certo, entrego o projeto em 100 dias. Vamos torcer!

Ou

- Após simular 15.000 possíveis execuções do projeto, foi verificado que temos 90% de chances de concluí-lo em até 100 dias, conforme apresentado no gráfico.

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Gustavo Nobre
Business Drops

Consultor Empresarial e Gestor de Projetos há mais de 25 anos, Professor na Área de Administração, Mestre e Doutor pelo Coppead/UFRJ