Sua empresa está crescendo! Você sabe o que isto significa?
Entenda um dos mais importantes desafios da gestão de empresas.
A grande maioria das empresas quer crescer. Mas crescer determina o sucesso da empresa? Quais são os motivos que levam as empresas a terem o crescimento como uma de suas principais metas? Tais motivos têm como objetivo promover vida longa e saudável nas empresas? Este artigo visa fazer uma reflexão acerca das possíveis respostas a estas perguntas.
Motivos para o Crescimento
Há muitos motivos para uma empresa crescer e geralmente eles estão relacionados com um desejável sucesso. Curiosamente, porém, o crescimento nem sempre está relacionado com o sucesso da própria empresa. Pesquisas sobre o crescimento empresarial revelam que motivos são estes.
Penrose afirmava que as empresas são motivadas a crescer pois os indivíduos que as gerenciam ganham prestígio, satisfação pessoal no crescimento da firma com a qual eles estão conectados, tomam mais responsabilidades, conquistam posições mais bem pagas e ampliam o escopo de suas habilidades e ambições.
Starbuck (no livro editado por James March) afirma que identificar os reais motivos para iniciativas de crescimento é praticamente impossível, pois os membros da organização não verdadeiramente os revelam. Esse pesquisador argumenta que o crescimento é fruto da tomada de decisão, que por sua vez é orientada pelos objetivos pretendidos pelos membros da organização. O crescimento pode ser (i) um meio para se atingir objetivos; (ii) o efeito de objetivos que foram atingidos e (iii) o próprio objetivo organizacional.
Quando o crescimento é um meio para se atingir objetivos, procura-se aumentar os recursos da empresa para facilitar a conquista de outros resultados esperados. Isto, ao final do processo, de certa forma facilita a gestão interna da organização e pode propiciar sucesso empresarial.
Quando o crescimento é consequência dos objetivos atingidos, a empresa, exitosa ao satisfazer as necessidades de seus clientes através dos seus serviços, desfruta do crescimento resultante de suas ações bem sucedidas.
Finalmente, quando o crescimento é o próprio objetivo, entende-se que crescimento é sinônimo de sucesso.
Portanto, o sucesso empresarial parece estar sempre envolvido quando o assunto é crescimento. Mas o que é sucesso?
O que é sucesso?
Para entender a relação entre sucesso e crescimento precisamos saber o que exatamente é sucesso. Sucesso empresarial pode significar ter maior rentabilidade, mais lucro, mais participação de mercado, mais felicidade no trabalho, prover mais satisfação aos clientes, ter mais estabilidade, aumentar as chances de sobrevivência, etc. Sem definir o que é sucesso, não podemos responder se o crescimento determina o sucesso da empresa.
Apesar do próprio crescimento ser algumas vezes usado como o próprio indicador de sucesso, é possível argumentar que isto é um ledo engano. Muitas empresas quebram justamente porque cresceram (sem o devido preparo).
Empresas muitas vezes caem na armadilha de estabelecer metas que ao invés de promover sucesso, incentiva o caminho inverso. Isto acontece com alguma frequência no (mal) uso de metas financeiras. Uma empresa pode, por exemplo, ter rentabilidade e lucro e ao mesmo tempo ir à falência. Medidas financeiras como indicadores de sucesso podem incentivar "engenharias contábeis" e "manobras gerenciais" que já levaram muitas empresas ao fracasso.
O uso de determinados indicadores de sucesso como meta pode gerar incentivos para se dar muito foco no sucesso de curto prazo (oportunismo) em detrimento do sucesso da empresa no longo prazo (persistência).
O caráter duvidoso de pessoas e o controle inadequado da gestão já levaram boas empresas a maquiarem seus relatórios contábeis-financeiros, simplesmente para forjar um resultado financeiro inexistente. Um dos casos mais famosos é o da Enron, gigante do setor de energia dos Estados Unidos, que acabou decretando falência após escândalos de fraudes contábeis e fiscais. Indicadores financeiros, especialmente quando usados isoladamente, sem o uso de um conjunto deles que permita obter uma visão panorâmica da situação econômica-financeira da organização, geralmente não são boas medidas de sucesso.
Fora o uso de metas financeiras como tentativas potencialmete frustráveis de se alcançar o sucesso, a participação de mercado é uma meta frequentemente utilizada como indicador de sucesso. Assim como o (mal) uso de indicadores financeiros, a adoção de metas de participação de mercado (market share) não significa necessariamente perspectiva de sucesso.
Se market share fosse sinônimo de sucesso, a empresa Oi seria uma das mais bem sucedidas empresas de telecomunicações no Brasil, pois ocupa a terceira colocação em tamanho de receita, embora sofra atualmente a execução de um plano de recuperação judicial. Vejam isso sob um ângulo diferente: a Petrogal não está entre as 10 maiores empresas do setor de Petróleo e Gás em tamanho de receita, mas é a 4a. maior em lucro e desbanca todas as 10 maiores concorrentes do setor em rentabilidade no Brasil, de acordo com a lista da Maiores Empresas do Valor Econômico.
Alguns podem atribuir a sobrevivência da empresa como sendo um indicador de sucesso, mas muitas empresas sobrevivem se arrastando com resultados econômicos, financeiros e emocionais desastrosos. Fenômenos como este são relativamente comuns e empresas que assim operam são conhecidas como Organizações Permanentemente Fracassadas (Permanently Failing Organizations).
O sucesso, portanto, tem sido indicado de diversas formas, mas em muitas delas há de se ter ressalvas.
“sucesso é a medida da capacidade das empresas atingirem os seus objetivos…”
A definição de sucesso precisa ser mais ampla e abrangente do que o uso de um ou outro indicador usado isoladamente. Uma proposta de definição que delineará as discussões que proponho a seguir é: sucesso é a medida da capacidade das empresas atingirem os seus objetivos, dadas as diversas restrições de viabilidade no longo prazo.
Mas atingir objetivos promove progresso nas organizações?
Starbuck classifica os objetivos organizacionais em (i) aqueles fundamentados no interesse próprio dos membros da organização, a saber: aventura, risco, prestígio, poder, segurança no trabalho, remuneração dos executivos; (ii) objetivos baseados nos problemas da gestão da organização, incluindo aqueles que ameaçam os potenciais da empresa, sua estabilidade e sobrevivência e (iii) objetivos respaldados pelo propósito e desempenho organizacional, sendo exemplos destes as vendas, custos, lucros e poder monopolístico.
Sejam quais forem os objetivos, sabemos que em grande medida quem os determinam são os membros da coalizão política dominante na organização. Alguns leitores devem estar se perguntando: Coalizão política? O autor está falando sobre o Congresso Nacional em Brasília ou sobre organização, direção e administração de nações ou Estados? Não. Falo sobre empresas mesmo, privadas ou públicas, grandes ou pequenas. Os leitores mais experientes sabem que na realidade o que em grande medida move as empresas são as forças de coalizões políticas dominantes formadas em toda e qualquer organização empresarial. Tais forças não são necessariamente formais ou estruturadas, mas têm poder de direção.
Tais coalizões têm interesses próprios e diversos, algumas vezes contrários aos da própria empresa, configurando o conhecido problema do agente-principal, tão bem explicitado na chamada teoria da agência.
Portanto, na realidade não se pode afirmar que sempre que a empresa atinge os seus objetivos ela obterá sucesso. Os objetivos da empresa podem estar enviesados para determinados interesses e podem não estar agregando valor para uma parcela de suas partes interessadas (seus stakeholders). Por isso, nem sempre os objetivos podem estar contribuindo com a sua saúde e longevidade organizacionais. Há de se ter uma visão que vai além dos resultados de curto prazo.
Assim, para alguns dos membros da organização o sucesso pode até ser alcançado através dos objetivos estabelecidos. Para sobreviver saudavelmente, no entanto, a empresa precisa mais do que isto. Ela precisa gerar valor para suprir de uma forma mais ampla e abrangente as necessidades de seus membros internos e externos e isto é um bom tema para futuros artigos do Business Drops.
Mas afinal, o crescimento de fato aumenta as chances de sobreviver?
O crescimento permite que as organizações atenuem suas dependências do ambiente e suas incertezas. Crescendo, algumas empresas ganham economia de escala, tornam-se mais competitivas, aumentam o seu poder de barganha, consequentemente aumentam o seu controle sobre o ambiente externo. Por estes e outros motivos, alguns podem imaginar que o crescimento é um bom caminho para a empresa.
Entretanto, quando a sobrevivência está em jogo, o que faz a diferença é o tamanho da empresa, sua idade e principalmente a sua gestão, não o crescimento em si. Enquanto grandes empresas têm de fato vantagens para subsistir, o crescimento impõe desafios que a gestão precisa superar para sobreviver.
Portanto, ser uma empresa grande e longeva tem benefícios que aumentam as suas chances de sobrevivência saudável, mas (i) essas chances obviamente não são garantidas e (ii) o caminho para se chegar lá é desafiador e cheio de armadilhas.
Então, é melhor crescer para ser uma empresa grande, com mais chances de sobrevivência saudável?
Há quem argumente que grandes empresas não têm lucros maiores proporcionalmente do que as de pequeno porte, pois aquelas absorvem lucros potenciais (não alcançados) na forma de burocracia, desperdícios e folgas organizacionais (slacks), que se por um lado atenuam choques oriundos de eventos adversos, por outro lado têm seus custos.
Além disto, empresas maiores tendem a ser as mais velhas e estas sim desfrutam de relacionamentos mais bem estabelecidos e importantes, que acabam dando suporte a elas em momentos de crise. Parceiros financeiros de longa data, por exemplo, tendem a apoiar essas empresas com recursos, assim como clientes antigos e fiéis tendem a mais facilmente concordar em pagar as contas com mais rapidez, da mesma forma que fornecedores que há tempos têm a empresa como cliente tendem a estender o prazo de pagamento para manter a parceria de longa data e assim por diante.
Algumas pesquisas associam a longevidade da empresa com teorias baseadas no ciclo de vida, ou seja, as empresas nascem, enfrentam e superam diversos desafios ao longo de suas vidas e um belo dia morrem. Há, no entanto, uma vertente dessa linha de pesquisa que entende que cada estágio da vida organizacional na verdade não é parte de um desenvolvimento natural tal como o ciclo biológico, que ao final se conclui com morte, mas entendem que cada estágio da vida da empresa representa conjuntos ou tipos de problemas ou desafios que a gestão precisa resolver.
O que faz diferença para a sobrevivência empresarial, portanto, não é o crescimento em si, mas outros aspectos, particularmente o resultado global da gestão em cada fase de sua vida. Portanto, cabe à gestão encontrar o equilíbrio no direcionamento da empresa. Cabe a ela decidir como, quando, com que velocidade e onde se posicionar para crescer.
Se o tamanho e o tempo de vida da empresa importam, só se chega lá através de uma gestão que a leve ao crescimento saudável. A teoria do crescimento pode ajudar a gestão das empresas que almejam conquistar um tamanho que ofereça vantagens competitivas e benefícios não só para a organização em si, mas para seus stakeholders e para a sociedade com um todo. Isto é fundamental para o seu sucesso de longo prazo.
Para crescer, a empresa precisa ter visão estratégica, dispor de fôlego financeiro, fazer ajustes operacionais durante o processo de crescimento, criar valor sem se expor demasiadamente a riscos, assegurar que sejam satisfeitas as aspirações dos stakeholders envolvidos no negócio, garantindo que parte do valor criado pela empresa seja por eles capturado. Para crescer, a empresa também precisa renovar, inovar e se reinventar.
Portanto, se sua empresa está crescendo, ótimo! Seu sucesso, porém não está garantido, muito pelo contrário. Somente uma boa gestão e o tempo podem levar a empresa a um bom estágio de evolução. Para chegar lá é necessário bem administrar os desafios que sempre estarão presentes ao longo da vida da sua empresa e evitar as armadilhas que o próprio crescimento lhes impõem.
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