Paul George e Russell Westbrook, a nova etapa de um MVP

Felipe Haguehara
buzzerbeaterbr
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8 min readJul 3, 2017

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O armador conseguiu uma temporada histórica, mas apenas individualmente

A mais nova grande dupla de uma Conferência Oeste poderosíssima

A temporada 2016–17 marcou muitos grandes acontecimentos, que vão desde a tão esperada estreia de Joel Embiid no Philadelphia 76ers, depois de dois anos lesionados, até o segundo título do Golden State Warriors em três anos.

Porém, nada foi mais falado e destacado do que as atuações individuais de um certo armador. Além de 42 triplos-duplos feitos em toda a temporada regular ele conquistou um dos recordes o qual até grandes estrelas como LeBron James considerava inabalável. 31.6 pontos, 10.7 rebotes e 10.4 assistências de média ao longo dos 81 jogos que disputou. Poderíamos estar falando da estrela do Cincinnati Royals e Milwaukee Bucks, lá dos anos 60 e 70, Oscar Robertson. Mas, não, seus recordes foram obliterados e igualados por Russell Westbrook.

Poderíamos falar de toda a narrativa que foi construída em cima de seu nome, desde a saída de Kevin Durant para integrar o Golden State Warriors. Mídia, fãs e até o próprio jogador ajudou a climatizar uma espécie de épico esportivo digno de atenção de Norman Mailer, autor de “A luta” — livro que conta a história em torno da disputa entre Muhammad Ali e George Forman em 1974. Mas já detalhamos esse assunto em outro texto.

Ao invés disso trazemos a atenção para o mais novo craque que acompanhará o armador numa jornada em busca de um novo objetivo. O prêmio de MVP já está em mãos, agora com a chegada de Paul George o sonho é ir mais longe na corrida dos playoffs do Oeste, que prometem ser mais disputados do que antes.

Paul George e suas circunstâncias

Num dos movimentos mais aguardados da off-season da NBA, o destino da (ex-)estrela do Indiana Pacers, Paul George foi definido. O ala já havia afirmado para a própria franquia que não ficaria em após o término de seu contrato, após a temporada 2017–18. O Los Angeles Lakers emergiu como seu destino favorito, levando em conta a proximidade com sua cidade natal. Por isso o time de Indianapolis buscava uma troca urgente pelo atleta.

Seu nome passou, como era de se esperar de uma estrela, no radar de diversas franquias. Muitos apontavam Boston Celtics como o destino mais certo, por conta do projeto para ser campeão na próxima temporada. Até Cleveland Cavaliers apareceu como candidato. Mas os pedidos pouco realistas diante das várias peças de troca no terreno celta bagunçaram a negociação.

Ao invés de todo hype da mídia a troca decidida foi por peças um tanto quanto duvidáveis. Domantas Sabonis e Victor Oladipo foram enviados pelo Oklahoma City Thunder pelo All-Star da franquia adversária. Analisando atentamente foi, basicamente, a troca por Serge Ibaka que o OKC efetuou no draft de 2016. As duas mesmas peças foram embora, agora por alguém para dividir responsabilidades com sua principal estrela.

Pelo menos por um ano veremos esses dois jogando juntos.

Toda a situação é a consequência de planejamentos falhos e frustrações coletivas que cultivaram-se até ficar claros dois aspectos sobre a trajetória entre jogador e franquia. Indiana não tinha atrativos para grandes jogadores para acompanhar George; e o próprio jogador não se tornou no objeto que traria sucesso ao time.

A tentativa final foi na temporada passada. Não era possível montar os “supertimes” como a tendência está ditando, mas era possível cercá-lo de talento, não com Myles Turner demonstrando claros sinais de evolução para tomar o garrafão da equipe. Chegaram, Jeff Teague e Thaddeus Young, que se juntariam a Turner e Monta Ellis no elenco de apoio ao pilar que o ala seria.

A estrategia como bem sabemos falhou miseravelmente. Dados os nomes no time titular, eram cotados para desafiar o reinado de King James e o Cavaliers na Conferência Leste. Ao fim, quase deixou os playoffs escaparem, terminando em 7ª lugar, apenas para ser varrido logo na primeira rodada pelo mesmo Cavs. Não dá pra dizer que não hão responsabilidades, desde um ano um tanto quanto apagado de George, até a péssima escolha de treinador em Nate McMillan.

Russell Westbrook e a necessidade de um bom companheiro

Quanto a Westbrook, seu sucesso individual se traduziu em um MVP. No entanto devemos dar uma olhada em uma outra marca que ele quebrou nesse prêmio: pela primeira vez desde Moses Malone em 1976 o prêmio foi dado a um jogador de uma equipe com menos de 50 vitórias.

Premiação por sua temporada histórica, porém ”sua” até demais.

Isso mesmo, Russ era fenomenal, mas pouco traduziu isso em vitórias. O ano lhe rendeu 47 triunfos, apenas a 6ª colocação no Oeste e a necessidade de enfrentar o terceiro melhor recorde da conferência, o Houston Rockets, do outro candidato a MVP, James Harden.

Se ser reconhecido como o Jogador Mais Valioso da temporada pode provar um maior peso da opinião pública na decisão dos prêmios. O resultado coletivo atestou que não basta uma temporada histórica individual para conquistar o posto mais alto da liga.

Na verdade, tudo isso era bastante compreensível, já antes da debandada de Kevin Durant. Não quero dizer que o Brodie é inútil sem uma grande estrela, mas o acúmulo de responsabilidades e a própria complacência que obrigou Billy Donovan a manter o ambiente ao seu entorno fértil transforma-o num efeito viciante, suas estatísticas passam a extasiante sensação de que está tudo dando certo, enquanto o cenário real é mais catastrófico do que parece.

Tomemos por exemplo as duas últimas temporadas de KD em OKC. Na temporada 2014–15, o ala perdeu a maior parte da temporada, só jogou 27 partidas. O próprio Westbrook jogou menos partidas que o habitual, 67. Nessas situação, o armador colocou excelentes números, liderou a liga em pontos pela primeira vez na carreira, 28.1 por jogo, e ainda somou 8.6 assistências e 7.6 rebotes às suas médias. Em muitas ocasiões números de MVP, mas o número de vitórias do OKC se resumiu a 45, nem pós-temporada viu.

No ano seguinte KD voltou com mais gás, jogou 72 duas partidas e sua parceria com um Westbrook acordado levou o time de volta aos playoffs. 55 vitórias, 3º colocado no Oeste, e foram vencendo até serem eliminados para o Golden State Warriors, do MVP unânime Stephen Curry. Mesmo numa temporada satisfatória podemos levantar essa fragilidade de Westbeast quando não tem um bom apoio. Dentre as 10 partidas que Durant não jogou na temporada, ele esteve em quadra em 8; nesses jogos ele conseguiu um triplo-duplo, dois jogos com mais de 40 pontos e um com mais de 30, porém, venceu apenas três.

Se outros grandes jogadores são limitadores de suas capacidades fora de série para produzir estatísticas, sua solidão é um limitador para que ele possa obter sucesso grupal. Isso as próprias estatísticas mais avançadas podem afirmar.

O prêmio e os números, são apenas consequência da necessidade de se desdobrar.

Nos momentos em que Durant não estava em quadra e Russ estava, na temporada 15–16, ele dominava as porcentagens de assistência do time, 9.7% a mais do que com o ala em quadra. Porém, as opções de passe se limitavam, não havia alguém para controlá-la quando ele era fortemente marcado e isso o obrigava a arriscar passes difíceis. Sem Durant em quadra ele produzia 2.1 turnovers a mais a cada 100 posses.

Outra coisa que se provou, em sua última temporada foi que mesmo cerca de 10 assistências por jogo não o colocam como um absoluto “senhor coletivo”. Uma estatística muito pouco lembrada para determinar o sucesso de um elenco na distribuição da bola são as estatísticas secundárias, ou seja, quando um jogador passa para outro e este sim faz a assistência.

Westbrook não tinha esse ball-handler confiável para entregar a bola, ao invés disso ele a mantia até encontrar alguém livre aberto ou cortando para o garrafão. Resultado? O OKC acabou com a 2ª pior média de assistências secundárias, com apenas 4.1 por jogo. O próprio número total de assistências tradicionais não foi excitante, 21 por jogo, 6º pior desempenho da liga.

Em sua última temporada ao lado de KD ele fez 132 assistências secundárias, muitas delas passando pelo ala, a 4ª melhor marca de toda a liga. Já em 2016–17, esse número caiu para 98, menor do que jogadores como T.J McConnell, Daren Collison e Elfrid Payton, e apenas a 15ª melhor marca da liga.

Na temporada 15–16 ele já estava entre os líderes de passes totais efetuados e recebidos, mas não com o destaque da temporada que acabou de terminar. Em muitas ocasiões de seu ano de triplo-duplo, ele passava a bola apenas para recebê-la em seguida e tomar um rumo de ações para si próprio. Os 4.684 passes efetuados do ano passado viraram 4.952; e os passes recebidos saíram de 5.634 para 6.072.

Assim, Russ tocou na bola em média 99.5 vezes durante as partidas, bem mais do que seus 88.8 anteriores. Porém essas estagnação da bola em uma única pessoa e a falta de rotatividade resultava em ataques previsíveis. Sem Durant em quadra ele produzia 2.1 turnovers a mais a cada 100 posses.

O ponto a ser provado aqui é que: Quando tem um atleta de alto nível ao seu lado, suas estatísticas podem não ser tão absurdas, mas o valor do time como um todo aumenta bastante. Paul George será um canalizador de toda essa responsabilidade o cara que pedirá a bola, aquele que ele efetuará o passe para algo que não seja apenas um arremesso. E não se deve esnobar a importância de outros atletas, principalmente em se tratando das coberturas defensivas, Steve Adams é extremamente sólido, e Andre Roberson é um dos melhores defensores de perímetro da liga.

É apenas um ano de contrato, e se não conseguirem desafiar as potências do Oeste, George nem titubeará em dizer adeus à cidade. Na verdade mesmo resultados positivos, ainda podem culminar em sua saída, a volta para a Califórnia ainda pesa em sua mente. Então, é tempo de aproveitar e ver se uma dupla entre o ala e o atual MVP da temporada regular renderá as vitórias esperadas.

Ironicamente, são duas iniciais que trazem esperança ao OKC… PG!

Dados: Basketball-Reference, RealGM e NBAwowy

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