Créditos: Divulgação BlacKkKlansman.

10 filmes e séries com temática racial para ver já!

Juliana Theodoro
Cadê as três?
Published in
9 min readApr 30, 2020

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Representatividade importa. Disso já sabemos. Ver outras pessoas negras no cinema ou na televisão ajuda com que entendamos que também podemos ocupar estes espaços e principalmente: ver-nos como seremos bonitos e dignos de atenção e audiência.

Filmes e séries que tratam da temática racial, além de ajudar na representatividade da população negra, fazem-nos entender (até de forma mais didática) como o racismo opera e também perceber a força do povo negro, em todo mundo, em sua luta de resistência e liberdade.

Então, resolvi listar 10 filmes preferidos com temática racial para compartilhar e conversar com vocês! Queria aproveitar e pedir desculpa por não trazer nenhum filme nacional (uma vergonha!), mas prometo que vai rolar uma próxima lista, mais completa e com filmes brasileiros e outras nacionalidades (além da norte-americana e britânica).

Bora começar?!

· Estrelas além do tempo

Créditos: Divulgação Hidden Figures

Um filme lindão e cheio de força feminina. “Hidden Figures”, como é o título original, conta a história verdadeira de três matemáticas negras, Katherine Johnson(Taraji P. Henson), Dorothy Vaughn(Octavia Spencer) e Mary Jackson(Janelle Monáe), que trabalhavam na NASA em pleno período de segregação racial nos EUA.

Por que o filme é dos meus preferidos? É importante ver pessoas negras, principalmente mulheres, atuando em lugares que não são considerados para nós, como a ciência ou a matemática. E ver que esse espaço não foi dado, mas conquistado com força coletiva. Atenção, esse filme não é sobre meritocracia (longe disso), é sobre união e força feminina negra.

· Selma

Créditos: Divulgação Selma.

Selma: uma luta pela liberdade conta o contexto das marchas de Selma a Montgomery, em 1965, que buscava a garantia de direito ao voto da população negra. As marchas foram organizadas por importantes líderes negros americanos, entre eles, Martin Luther King Jr.

Por que o filme está entre os preferidos? David Oyelowo como Martin Luther King é maravilhoso, o filme já valeria pelas cenas do ator discursando. Mas além disso, acho que aborda uma questão política muito relevante: o voto da população negra. Eles sabiam que somente elegendo pessoas negras para cargos públicos é que poderiam ter verdadeiros avanços políticos.

Ah! O filme ganhou Oscar, em 2015, de melhor canção original com Glory, de Common e John Legend. É uma música poderosa. Vale muito a pena prestar atenção nela.

· 13ª emenda

Créditos: Divulgação 13th.

Ava DuVernay merece o mundo! Essa mulher, além de ter dirigido Selma (o filme aí em cima), também é responsável por este documentário incrível! A 13ª emenda fala, como o nome indica, sobre a emenda da constituição americana responsável por garantir a liberdade a todos, não permitindo que nenhum cidadão americano fosse escravizado (exceto se cometesse um crime).

Esse pequeno parêntese resulta numa problemática questão carcerária para os Estados Unidos, transformando a população negra de escravizada à criminosa.

Por que é um dos preferidos? O documentário é cheio de informação, entrevistados maravilhosos, entre eles, Ângela Davis, tá, meu bem? Além disso, tem um final emocionante. É para acabar de ler esse texto e correr para Netflix.

Dica extra: Vale a pena conferir, após ver o doc, a entrevista com Ava DuVernay feita pela Oprah. Também disponível na Netflix.

· Belle

Créditos: Divulgação Belle.

Chegou a hora do romance histórico bonitinho! Belle é um filme britânico e é inspirado na vida de Dido Elizabeth Belle e o famoso quadro, de 1779, em que aparece ao lado de sua prima, Elizabeth Murray. Esse aí embaixo! (Dá para fazer todo um trabalho de análise do discurso desse quadro, mas isso é um outro texto, haha).

Dido (Gugu Mbatha-Raw) é uma mulher negra mestiça, filha ilegítima de uma mulher negra escravizada com um Almirante da Marinha britânica. O Almirante assume a filha e a leva para ser criada por seu tio, membro da aristocracia inglesa, William Murray (Tom Wilkinson).

Importante dizer que Belle é um romance histórico, então, o romance tem papel central; devemos assistir sabendo que as coisas não foram exatamente daquele jeito. Inclusive, indico que se leia sobre ela após ver o filme (por favor), assim sabemos quem realmente foi essa mulher.

Por que é um dos favoritos listados? Eu gosto bastante de filmes de época e históricos. Conhecer uma mulher negra que viveu na Inglaterra, pertencendo a elite, nos anos de 1760 é interessante, apesar de sua vida não ter sido fácil. Além disso, William Murray, tio de Dido, foi Lord Chief Justice, sendo importante ao julgar um caso relacionado à escravidão no império britânico (no qual declarou que a escravidão não tinha nenhum precedente no direito inglês). Será que o fato dele ter criado uma menina negra o ajudou na decisão?

Portrait of Dido Elizabeth Belle and Lady Elizabeth Murray.

· Infiltrado na klan

Créditos: Divulgação BlacKkKlansman.

Infiltrado na Klan também é baseado numa história verdadeira. Ron Stallworth (John David Washington), o protagonista, é um homem negro que consegue se infiltrar Ku Klux Klan, grupo extremista americano de supremacia branca. O filme é dirigido por Spike Lee e ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado em 2019.

Por que é um dos favoritos? É um filme extremamente irônico e muito divertido, apesar da temática pesada e necessária. Também gosto muito de ver as diferentes opiniões entre Ron e Patrice (sua namorada/ Laura Harrier) sobre como deve ser a luta, mostrando o quão diverso é o movimento negro. Outra parte interessante, é que Flip (Adam Driver), que se passa por Ron para visitar a Ku Klux Klan, é judeu (a conversa entre os dois sobre essa questão é maravilhosa).

· Cara Gente Branca

Créditos: Divulgação Dear White People.

A série da lista. Dear White People, inspirada no filme de mesmo nome, conta a saga de jovens negros dentro de uma universidade americana de maioria branca. Sam White (Logan Browning), uma das protagonistas, é a criadora do programa de rádio “Dear White People” que fala, de maneira irônica, sobre o racismo no campus. A série já está em três temporadas, todas disponíveis na Netflix.

Por que é uma das preferidas? Acho que a diversidade dos personagens é a maior riqueza da série. Negros são diversos, assim como suas personalidades e por isso, as formas de lidar com o racismo também são diferentes, tudo isso está bem presente na série.

· Moonlight

Créditos: Divulgação Moonlight.

Moonlight narra a vida de Chiron (Alex Hibbert, Ashton Sanders, Trevante Rhodes) dividida em três partes: infância, adolescência e vida adulta. Chiron vive na periferia de Miami (que é bastante violenta) com sua mãe (Naomie Harris), que é dependente química. É uma história pesada, lenta e extremamente sensível.

Ganhou o Oscar de Melhor Filme em 2017, sendo o primeiro filme com temática LGBT a vencer o prêmio, também foi o primeiro filme com elenco inteiramente negro a ganhar e Mahershala Ali o primeiro mulçumano a ganhar como melhor ator coadjuvante.

Por que está na lista dos preferidos? Moonlight reúne o contexto onde muitos negros estão inseridos, um ambiente de drogas, tráfico e violência. Esse conjunto poderia criar um filme bem estereotipado, mas o que acontece é uma humanização dos personagens, vemos as pessoas por trás do traficante, da mulher do traficante, da mãe viciada e do moleque de rua. Também toca em questões importantes, como a masculinidade negra. É realmente emocionante.

Ah! O cartaz do filme é lindo! E o Alex Hibbert, nesse filme, é a criança mais encantadora (e vulnerável) do mundo. Dá vontade de abraçar e proteger de tudo.

· Corra (Get out)

Créditos: Divulgação Get Out.

Chegou a vez do filme de terror (psicológico, o que é pior)! Chris Washington (Daniel Kaluuya) é um fotógrafo negro que está preocupado em conhecer a família da namorada, Rose Armitage (Allison Williams), uma jovem branca. Rose garante que os pais não são racistas e os dois concordam em ir visitá-los. Chegando lá tudo parece normal, mas algumas coisas esquisitas começam a se revelar, como o fato de todos os empregados da casa serem negros.

O filme é de ficar com o coração na boca de tanta tensão, vale super a pena! Foi dirigido por Jordan Peele (que também fez “Nós”, outro super filme) e venceu o Oscar de Melhor Roteiro Original.

Por que é um dos favoritos? Get Out (título original) além de ser excelente filme de suspense/terror, é cheio de detalhes significativos. Depois de ver o filme vale a pena pesquisar mais por esses pequenos significados e entender melhor os contextos racistas criados.

· Pantera Negra

Créditos: Divulgação Black Panther.

Essa lindeza, acredito que seja o filme mais conhecido da lista. Pantera Negra é o filme da Marvel Studios, inspirados nos quadrinhos, que narra a saga do super-herói T’Challa, o Pantera Negra. A história se passa no reino de Wakanda, um lugar incrível em solo africano, superdesenvolvido tecnologicamente, mas que mantém suas raízes culturais. Muito afrofuturismo.

Por que é um dos preferidos? Pantera Negra é representatividade pura. Finalmente crianças negras podem ver um herói negro ser protagonista de sua própria história! A estética africana presente na obra é majestosa e faz um resgate de várias civilizações do continente (afinal África não é uma coisa só), as mulheres são bem representadas (vejam também o texto que eu fiz sobre as mulheres de Wakanda), e a questão racial é trazida de forma muito interessante no personagem N’Jadaka / Erik “Killmonger” Stevens (Michael B. Jordan).

· Histórias Cruzadas

Créditos: Divulgação The Help.

Esse é o filme da lista que vi mais recentemente. The Help (como é o título em inglês) mostra a história de Skeeter (Emma Stone), uma jovem jornalista branca, e de Aibileen Clark (Viola Davis) e Minny Jackson (Octavia Spencer), duas empregas domésticas negras, na elaboração de um livro que narrasse a vida das empregadas num Estados Unidos segregado. Só por ter Viola Davis e Octavia Spencer juntas, já vale a pena.

Por que é um dos favoritos? O filme traz o contexto das empregadas negras que criam crianças brancas, enquanto seus próprios filhos estão em casa sozinhos. Essa relação é muito complexa, porque enquanto é injusta, exploradora e racista por parte dos patrões, há amor entre a cuidadora e a criança cuidada. Situação que ainda é muito comum no Brasil.

O filme também é bem-humorado e cheio de falas interessantes. Podem perguntar se a personagem de Emma Stone não fica como a “salvadora branca”, eu, sinceramente, acho que não. A figura Skeeter é realmente necessária porque ela é a única (justamente por ser branca) que consegue ter os meios e o acesso a publicação do livro. Uma mulher negra, empregada doméstica, sozinha publicar um livro em que “fala mal” de suas patroas seria praticamente impossível, Skeeter usa justamente de seu privilégio branco para conseguir isso.

Gostaram dessa listinha? Acho que consegui reunir filmes de todos os gostos: drama, comédia, romance histórico e terror. Mas me conta, qual desses vocês gostam mais? E quais outros vocês me indicam? Estou doida para saber!

Beijos, e até a próxima!

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