Quem está pensando o futuro do futebol brasileiro?

Rodrigo Romano
5 min readJan 26, 2021

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Em outros tempos, o mercado da bola era exclusivo aos jogadores e técnicos do futebol brasileiro. Para 2021, presenciamos executivos das áreas do futebol e marketing saindo e chegando em alguns dos principais clubes do país. Entre nomes novos e outros já conhecidos, uma dúvida surge. Estes profissionais possuem a visão de futuro necessária para liderar a mudança pela qual o futebol brasileiro precisa passar?

Os executivos da vez

Os primeiros momentos de 2021 nos mostraram um futebol brasileiro diferente, ao menos na sua estrutura. Algumas das mudanças têm origem nas eleições que aconteceram em diversos clubes do futebol brasileiro ao longo do ano passado, que foi inclusive tema de um texto por aqui. Seja por divergências políticas ou vontade de mostrar algo novo, profissionais mudaram de casa neste novo ano. Os principais nomes foram de Alexandre Mattos, que foi demitido do Atlético-MG, e Rodrigo Caetano, que não renovou com o Internacional e acabou no Galo. Outras mudanças foram Alexandre Pássaro no Vasco, Paulo Bracks, saindo do América-MG para o Inter, e Roberto Andrade no Corinthians.

Claro que o futebol é o grande destaque, mas também houve importantes mudanças no marketing de alguns clubes. A chegada de José Colagrossi, ex-diretor executivo do Ibope Repucom, ao Corinthians mostra que executivos do mercado podem ter espaço nos principais clubes do país. No alvinegro paulista Colagrossi assumiu o cargo de superintendente de marketing, comunicação e inovação. Além dele, Eduardo Toni, ex-diretor de marketing da LG, Gradiente e Semp Toshiba, foi contratado pelo São Paulo para ser o novo diretor de marketing.

Essa série de chegadas e partidas nos fez refletir sobre a necessidade de mudança do futebol brasileiro. Nosso futebol precisa assumir de vez seu papel de indústria que movimenta bilhões anualmente. Em um mercado desse tamanho, não podemos mais aturar dirigentes políticos tomando decisões importantes, sendo que muitos não tem conhecimento para isso, além de deixar a paixão ter forte influência em suas ações. Precisamos também adequar nosso futebol às transformações que acontecem no mundo, que se torna cada vez mais digital e dinâmico.

Em coluna recente, o consultor esportivo Cesar Grafietti complementa este raciocínio: “[…] o futebol brasileiro precisa urgentemente de três coisas: dinheiro, governança e planejamento.”

Refazendo a pergunta do parágrafo inicial, será que estes dirigentes estão preparados para liderar tal transformação?

Seremos diretos por aqui. Na nossa opinião, a turma que começa 2021 atuando nos clubes ainda não será aquela responsável por mudar o ecossistema do esporte nacional. Aqui, existe um motivo ainda muito forte que dificulta as melhorias descritas no texto até este ponto. Alguns vícios não permitirão, por enquanto, que as coisas mudem de verdade.

Estes vícios estão presentes tanto em dirigentes antigos, que ainda têm poder de decisão, quanto na imprensa e torcedores. Ou seja, na estrutura toda. O principal ponto em comum destes três agentes do nosso futebol é o imediatismo como o jogo é tratado, rejeitando pensamentos de longo prazo. Além disso, podemos questionar o medo de novas práticas que todos possuem, perpetuando as mesmas formas de gerir um clube de outros tempos. Quando alguém surge com um novo pensamento, por exemplo, de um técnico estrangeiro como Sampaoli, Eduardo Coudet e Abel Ferreira, são muitos os que questionam suas práticas apenas pelo fato de que estas são diferentes das utilizadas por aqui.

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De onde virá a mudança?

Diante do cenário exposto, cabe pensar em algumas alternativas que possam auxiliar os clubes a crescer, com novas receitas e novas formas de se relacionar com seus torcedores, patrocinadores e possíveis investidores do esporte. A conclusão que chegamos é que esta ajuda precisa vir de fora. As instituições que podem fazer este trabalho e que de fato pensam no futuro do futebol brasileiro estão fora do âmbito clubes e federações.

Seguindo o raciocínio, dois agentes precisam ser mencionados. O primeiro são as instituições de ensino, como FootHub, THE 360 e Universidade do Futebol, que buscam construir o futuro do futebol brasileiro através da educação. Desde o conteúdo gratuito em seus sites e redes sociais até cursos de estrutura mais densa, estas escolas são responsáveis por formar uma geração mais inteligente de torcedores, comunicadores e dirigentes. Esta nova geração, a partir do momento em que está buscando se qualificar, mostra que tem o desejo de acabar com os vícios do passado para ajudar o futebol brasileiro a crescer.

Um segundo personagem importante dessa história são as sportstech, que já foram mencionadas por aqui anteriormente. Estas empresas utilização inovação e tecnologia para resolver os problemas. A principal característica de uma startup, seja ela do setor esportivo ou não, que pode ajudar no futuro do futebol brasileiro é a forma como o erro é encarado. Nestas empresas, o erro é algo que faz parte do processo e, muitas vezes, pode ser bem-vindo. O ato de errar vai mostrar aos responsáveis pela atividade o que não está funcionando e como melhorar tal produto ou serviço. No entanto, é importante ressaltar que este erro deve acontecer rapidamente, com as correções sendo feitas de forma rápida. No futebol brasileiro, os erros costumam perdurar, sem que correções sejam feitas. São os tais vícios do passado que atingem a estrutura do esporte nacional.

A grande chave para a mudança

Photo by Ross Findon on Unsplash

Estes dois players mais novos têm uma dificuldade em comum. Tanto os responsáveis por passar conhecimento para quem deseja trabalhar no esporte, quanto os principais encarregados de iniciativas envolvendo inovação e tecnologia, ainda não são responsáveis pela tomada de decisão nas maiores entidades esportivas do país. Sendo assim, os vícios observados no início do texto tendem a permanecer por mais tempo.

Para solucionar isso, observamos duas alternativas. A primeira é incentivar ações que envolvam inovação no esporte. Quanto mais pessoas compartilhando conteúdo sobre novas práticas que acontecem em outros mercados, maior será a abertura no futebol brasileiro para copiar estas ações. A segunda alternativa é o tempo. Com o passar dos anos, será impossível para os clubes não aceitarem as transformações na indústria do esporte. No entanto, é possível dizer que não temos tanto tempo para esperar pelas inovações. Os principais mercados do esporte já estão aproveitando tecnologias e ideias que irão atrair as próximas gerações e, quanto mais os clubes e federações do Brasil esperam, mais distantes ficam.

Ver a importância que executivos têm recebido é alentador. Como mostramos ao longo do texto, será preciso que estes profissionais enxerguem a necessidade de se abrir cada vez mais ao novo, liderando a consolidação do futebol brasileiro como uma indústria, ao lado de outros agentes do mercado. Precisamos de todos juntos, pensando no futuro do futebol brasileiro.

Texto de Rodrigo Romano.

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Rodrigo Romano

Head de Operações FootHub — Gestão e inovação no esporte