Como lidar com a ansiedade e o medo durante uma viagem

Victor Tohmé
Canal da Mundo
Published in
4 min readMar 12, 2021

Episódio 1 | Capítulo 11 — O Explorador

O resultado de um dia inteiro na rua, conhecendo vários cantinhos do Rio de Janeiro, sentindo praias, recebendo o bafo carioca e me encantando com as diferentes belezas do local (algo que eu conto bastante no capítulo 02 do episódio 01), foi me hospedar, à noite, em um pequeno hostel na área central da cidade.

Como cheguei até ele? Muito simples o meu método: abri o HostelWorld, no meu celular, achei o local mais barato e perto da rodoviária, liguei e reservei. Eu sei, posso virar um guru das reservas de hostels agora.

Mas por que perto da rodoviária? Eu tinha uma passagem comprada, para o dia seguinte, em direção à Búzios.

Os sentimentos pré-viagem

Lembro que naquela noite, depois de me adaptar ao lugar em que ia dormir, a minha ansiedade e medos voltaram à tona. Às vezes eu tenho uma brisa mucho louca: eu transformo meus sentimentos em seres, como se eu conseguisse dialogar com eles. Então, na minha cabeça, podia muito bem ter rolado um chá da noite com 3 pessoas conversando: eu, minha ansiedade e meu medo.

- E se roubarem suas coisas? — comentou, distraída, Margareth, a ansiedade.

- Já falei, deram um cadeado pra mim, tem um armário do lado da cama — apontei pro armário e depois, com um aceno, o meu bolso — e vou dormir com a chave. Dá pra relaxar?

- Eu sei, eu sei, é que eu fico imaginando: vai dormir, acordar, tomar um café da manhã, aí tem o ônibus lá na rodoviária, aí a pessoa que vai te receber em Búzios mal te falou certinho as coisas, e olha, estamos no Rio né, e se o taxista não te levar pra rodoviária?

- Margareth, sério, você não ajuda em nada também, só deixa o menino ainda mais doido — falou, pela primeira vez, o medo. Ou melhor, Jack. — Já não basta estarmos no Rio, lugar mó perigoso. Já não basta os dois amigos dele, que apresentaram a cidade, terem ido embora. Já não basta também ele não conhecer mais ninguém…sua insensível.

- Uau, se eu dependesse de vocês dois, estaria na merd*…

Eu não podia negar: mil preocupações fuzilavam minha mente, toda a inconstância e incerteza do que viria pela frente aumentavam um sentimento interno de solidão. E eu precisava, mais que tudo, buscar forças internas pra suportar isso.

Pra tentar me aliviar um pouco, aqueci meu coração com uma ligação pra minha mãe e fui deitar mirando o dia seguinte e tudo de bom que ele poderia me reservar.

A chegada em Búzios

As mil preocupações de Margareth não se concretizaram: o motorista do Uber era um cara muito gente boa, me apresentando o Rio enquanto andávamos pela rua. A dona da hospedagem, que me receberia em Búzios, me pegaria assim que eu chegasse. Na rodoviária não houve contratempos nem imprevistos: esperei o horário do busão, embarquei e mergulhei, nas duas horas de viagem, em séries atrasadas. Vai, não eram séries, eram vídeos do Youtube pra acalmar a ansiedade, mas vamos fingir que eram séries.

Notei que estava chegando ao destino quando vi o mar e as placas. Tudo bem, o mar era a prova mais cabal, denunciava bastante, mas as placas de estrada tinham dizeres como “Região dos Lagos” (como se fosse uma zona do estado do Rio) e outras, mais óbvias, exibiam os letreiros “A melhor culinária de Búzios”. Todas as pistas estavam bem ali na minha frente.

Ao chegar fui muito bem recebido pela dona da guest house onde ficaria. Ela me levou pra almoçar e, ao chegarmos em sua casa, me ajudou com as acomodações. Cada cantinho do local e as experiências, quero contar num outro capítulo.

Mas o que me marcou no dia 01 em Búzios não foram as coisas que eu achava que dariam errada, mas no fim, deram certo. O que me marcou foi o espetáculo da natureza que eu assisti, no final da tarde, quando resolvi caminhar até a primeira praia da cidade. A praia de Manguinhos. A praia que possui um dos mais belos pôr-do-sóis do Brasil.

Foi ali, em contato com a natureza, que me dei conta que o sonho do mochilão, aquilo que eu tinha desenhado em novembro de 2020, estava se concretizando. Eu havia enfrentado meus medos, minha ansiedade e, mesmo que eles me acompanhassem para os lugares, eu entendi que não era para deixá-los e sim, para aprender a lidar com eles.

Se eu fosse ouvir a Margareth, me paralisava antes de embarcar no Buser, em São Paulo, a caminho do Rio. Mas apesar da Margareth, eu embarquei.

Se eu fosse ouvir os comentários de Jack, estaria imerso em desespero e solidão. Mas por causa de Jack, busquei forças internas para seguir em frente.

E eu acho que é isso: os medos e a ansiedade não vão nos deixar. Eles existem e sempre irão existir, principalmente quando enfrentamos situações novas nas nossas vidas. O que conta é de qual lado você irá ficar: dos que ficam ou dos que vão adiante, apesar de tudo.

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Esse foi o Episódio 1 | Capítulo 11 da Série “O Explorador”.

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