Film Room: sobre Cam Newton, running backs e drops

O Panthers encerrou a temporada de 2017 sendo derrotado pela terceira vez pelo New Orleans Saints no wild card round. No que foi provavelmente o melhor jogo da primeira rodada dos playoffs, faltou pouquíssimo para Carolina completar o upset em cima do rival, que venceu a divisão e jogava em casa.

Henrique Bulio
ZONA FA
7 min readJan 11, 2018

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Se você me acompanha no Twitter, não é novidade o fato de eu ser um grande defensor de Cam Newton. Ainda que ele não seja perfeito — igual todo e qualquer quarterback que já tenha passado pela NFL — , a antiga escolha geral é a principal razão pelo Panthers conseguir ser produtivo no ataque mesmo com um grupo de recebedores tão abaixo da média.

O primeiro é um tight end. O segundo é um running back. O terceiro é o principal wide receiver da franquia na temporada atual e, embora Funchess tenha evoluído muito em 2017, ainda tenho dúvidas se ele é um real WR1. Por fim, ainda não entendo muito bem qual a função de Ed Dickson no Panthers além de completar os 11 em campo.

O ponto desse artigo não é muito diferente do último Film Room, onde separei algumas jogadas do ataque do San Francisco 49ers contra a fortíssima defesa do Jacksonville Jaguars. São alguns cortes isolados com jogadas interessantes, ou momentos nas quais ficou claro que o Panthers precisa dar mais opções para Cam Newton. Não se pode esquecer que Carolina perdeu por 5 pontos depois de ter chegado três vezes na red zone no primeiro tempo e ter anotado seis pontos somando as campanhas.

1st quarter, 02:58 > 2nd & 10 at NO 15.

Depois de defender Newton no início do texto, vamos começar com uma crítica.

Contra uma das melhores defesas da liga, não foi difícil para o Panthers mover a bola como se esperava. Contudo, nessa jogada específica, no segundo drive do ataque de Carolina na partida, Newton desperdiçou uma chance de ouro de abrir o placar ao não lançar para Christian McCaffrey completamente livre numa corner route no topo da tela.

Como se vê pela imagem, New Orleans planeja mandar uma blitz contra a empty formation de Carolina, com seis jogadores (os que não possuem nenhuma demarcação de coverage em amarelo) atacando os cinco da linha ofensiva. Ok, Newton é obrigado a se livrar da bola rápido com um linebacker se aproximando; no entanto, o quarterback sabe que terá vantagem em seu lado direito. Uma oportunidade desperdiçada que teve muito peso ao fim do confronto.

1st quarter, 02:12 > 3rd & 10 at NO 7.

Na jogada seguinte, aparece o principal motivo pelo Panthers estar fora da disputa pelo título: falta de qualidade de seus wide receivers. Não há o que exagerar na análise aqui: Cam começa a jogada olhando para a direita, não vê ninguém livre e olha para a esquerda, onde Kaelin Clay está um passo à frente de Ken Crawley. Newton lança a bola no canto da end zone de forma precisa, praticamente perfeita, onde só Clay tem chance de fazer a recepção.

Kaelin Clay dropa a bola.

Foram sete pontos a menos sem essa recepção, já que Graham Gano erraria o field goal de 25 jardas na quarta descida.

1st quarter, 01:46 > 1st & 10 at CAR 25.

Algo que o Panthers fez com frequência ao longo da partida foi utilizar flood quando o Saints jogava em zone coverage, como se pode ver na jogada acima. O strong safety se aproxima do box pensando que vem uma corrida e, logo após Manti Te’o ser atraído por Christian McCaffrey no flat, Greg Olsen está completamente livre na wheel route perto da sideline. É um ganho de 22 jardas para Carolina logo após sofrer um touchdown gigantesco.

1st quarter, 00:37 > 2nd & 9 at CAR 48.

Carolina em 12 personnel no meio do campo e o objetivo da jogada é um só: arriscar. New Orleans manda uma blitz tardia com sete jogadores enquanto Devin Funchess e Kaelin Clay correm duas rotas verticais pelas laterais do campo ao passo que Olsen corre para o flat.

O essencial da jogada aqui é justamente a rota de Olsen.

Logo após o snap, o free safety Marcus Williams hesita e foca no lado esquerdo. Isso abre espaço para Newton lançar uma bomba perfeita mesmo frente à pressão para Clay dentro da red zone. O passe não foi completo puramente por uma interferência de Ken Crawley, o responsável pela marcação do recebedor no topo da tela na jogada. Ou seja, o ganho foi o mesmo.

2nd quarter, 09:04 > 1st & 10 at CAR 25.

O Panthers alinha pré-snap Christian McCaffrey como recebedor no strong side da formação e isso instantaneamente causa confusão na secundária do Saints (nota do editor: a confusão pré-motion não coube no gif, infelizmente). Essa é uma jogada interessante e inteligente pois onde McCaffrey melhor se destaca é no open space, o que fica evidente pelas 12 jardas conquistadas após a recepção nessa jogada.

4th quarter, 14:17 > 3rd & 1 at NO 42.

Uma jogada bem simples e bastante utilizada por toda à NFL, aonde até mesmo é comum no Madden em situações de curta distância. Um play-action spot com a hot read sendo a rota corner de Greg Olsen, que se encontra completamente livre logo após o release.

4th quarter, 04:20 > 2nd & 10 at CAR 44.

Uma outra jogada que representa uma staple da West Coast Offense é a que originou o touchdown de Christian McCaffrey no último quarto. O Panthers aplica aqui o conceito Texas — uma leitura Hi-Lo com um recebedor correndo uma rota vertical/post e um running back correndo uma angle route.

Olsen é o responsável pela rota profunda no topo. Quando ela não se desenvolve, McCaffrey torna-se então a opção principal e, como você já leu ali em cima, deixá-lo em open space é basicamente ceder um caminhão de jardas de graça para o ataque.

4th quarter, 01:05 > 2nd & 7 at NO 47.

Para fechar esse film room, o último passe que Newton completou na partida, no drive final onde o Panthers não ficou muito longe de realizar o upset. Com a defesa focada nas laterais do campo para que o tempo continuasse rolando, Cam coloca a bola numa janela incrivelmente minúscula. Não houveram muitos passes melhores do que esse ao longo de toda a temporada.

É ok se sentir desapontado com Newton as vezes — a primeira jogada desse texto mostra que ele tem suas falhas. Ao longo da partida, o game plan de New Orleans ficou claro: forçá-lo a lançar na zona intermediária, onde é sabido que a antiga primeira escolha geral tem problemas de inconsistência. Ainda assim, sua atuação foi excelente.

O Carolina Panthers demitiu o coordenador ofensivo Mike Shula no início da semana. Pessoalmente falando, não era muito fã do trabalho de Shula, mas o ex-treinador chamou um bom jogo no último domingo.

Dê valor a Cam Newton. Nenhum quarterback na liga tem suas habilidades atléticas. Não é divertido ver mulheres falando sobre rotas só por serem mulheres — e isso não pode passar batido nunca, diga-se — ; todavia, é muito divertido vê-lo em campo.

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Henrique Bulio
ZONA FA
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Numa eterna cruzada contra o feijão por cima do arroz.