O guia final dos quarterbacks de 2017, parte final

17 semanas recheadas de grades, film e notas que resultaram num texto gigante. Assim, o último guia falando sobre os quarterbacks em 2017 é dividido em três partes e publicado com opiniões de diversos comentaristas, jornalistas e torcedores.

Henrique Bulio
ZONA FA
24 min readJan 26, 2018

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Se você está lendo isso, você está num universo no qual Blake Bortles, Case Keenum e Nick Foles foram, junto de Tom Brady, quarterbacks titulares nas finais de conferência da temporada de 2017. Absolutamente nenhuma pessoa poderia ter previsto isso, mas a tônica do ano na NFL foram acontecimentos os quais ninguém podia esperar. Esse foi apenas mais um.

Para 30 equipes, a offseason já começou. Num ano no qual a liga perdeu precocemente muitas de suas estrelas por lesão, não foi diferente na posição mais importante do jogo — Aaron Rodgers e Carson Wentz, como exemplos, são dois dos melhores quarterbacks da liga e que não puderam terminar a temporada. Para os dois ainda restantes, o Super Bowl está a apenas uma semana.

O ponto desse ranking é julgar somente a temporada regular, pois é quando todas as equipes estavam em situação de igualdade. Além disso, somente um quarterback por equipe e cada caso específico julgado por este que vos fala — Deshaun Watson é o futuro do Houston Texans; faria muito mais sentido analisá-lo do que Tom Savage, por exemplo. No caso do Cardinals, tanto Palmer quanto Stanton não deverão estar em Arizona em 2018. Dessa forma, prevaleceu o titular. Por fim, em Green Bay, Rodgers foi o analisado ao invés de Brett Hundley, mesmo com menos jogos.

Os rankings e as grades envolvem análises de TODOS os passes que cada quarterback lançou, desde o primeiro snap em setembro até o último na véspera de ano novo. É claro que se pode discordar e o Twitter para vocês discutirem esse ranking é o @henrique_bulio; desde que o façam de forma educada, é claro.

Cada quarterback foi analisado por cinco variáveis: precisão, trabalho de pés, arm talent, sob pressão e tomadas de decisão. As métricas são quase semelhantes as do NFL1000, com o adendo do footwork como nota + diferenças nas formas de avaliação dos itens “sob pressão” e “tomadas de decisão”. Cada item recebe uma nota de 0 a 2 que representam as médias durante a temporada, e a soma dos cinco itens representa a grade final do ano.

Por fim, cada quarterback recebeu um comentário de um torcedor do seu time: fica aqui o agradecimento a todos os que se dispuseram a participar do texto. Quando existentes, as @’s dispostas ao fim da apresentação representam o perfil de cada um no Twitter: sigam-lhes!

Parte 01: 32–21

Parte 02: 20–11

Parte 03: 10–1

10. Cam Newton, Carolina Panthers

Números em 2017: 291/492, 3302 jardas, 22 touchdowns, 16 interceptações, 80.7 passer rating, 5.28 ANY/A

Grade: 8,4

Opinião do torcedor: “Cam Newton começou a temporada com uma impressão que teria um ataque mais dinâmico nos últimos anos. A adição de Christian McCaffrey e Curtis Samuel no Draft deram essa esperança. E antes da temporada começar, muito se falava se Cam se adaptaria com McCaffrey por que supostamente não era o seu ponto forte os passes curtos, logo essa bobagem acabou e viram que o problema não era Newton e sim que faltavam armas para os mesmos. Assim que Cam recebeu a sua arma, ele foi bem nesse aspecto. Apesar disso, ao longo da temporada, Newton foi perdendo suas armas, Kelvin Benjamin foi trocado (ainda bem), Greg Olsen perdeu metade da temporada, Curtis Samuel e Damiere Byrd se machucaram e de repente Cam estava disputando os playoffs com Devin Funchess e mais 4 WRs de practice squad. Mesmo assim, Cam ainda deixou Carolina no jogo e deu a chance de vencer a partida, mas Funchess não conseguiu fazer a jogada.” (Felipe Vieira, redator do On The Clock, editor-chefe do Panthers Brasil e torcedor do Carolina Panthers — @lipevieira; @OnTheClockBR; @Panthers_brasil)

Se você não gostar de Cam Newton, é um direito seu — especialmente se considerarmos alguns dos atos do jogador fora de campo. A verdade é que, sem ele em campo, o Panthers tem um dos piores ataques em toda à NFL. Newton é basicamente o sistema ofensivo de Carolina como um todo e as defesas são obrigadas a respeitar seu atleticismo e sua capacidade de playmaker. Ele consegue lançar com incrível velocidade em todas as partes do campo e completar passes de forma precisa mesmo quando sua plataforma de lançamento não está na forma correta. Além disso, sua habilidade de correr com a bola é um pesadelo para qualquer coordenador defensivo que tenha de planejar como defrontar o Panthers. Goste dele ou não, é impossível negar que Newton é um dos jogadores mais divertidos de se ver em campo e que ele é um excelente quarterback.

Pergunta ao torcedor: Qual o caminho para a nova coaching staff conseguir desenvolver todo o potencial de Cam Newton e, ao mesmo tempo, tornar o ataque do Panthers menos dependente do quarterback?

Felipe: Newton teve uma temporada ótima e se contarmos o apoio ao redor dele então, isso fica ainda mais evidente. Precisamos cercar Newton de mais jogadores de bom nível, acredito que mais um ou dois recebedores são necessários e mais um running back com a característica mais power runner. Carolina teve um dos melhores jogos corridos da liga, mas se tirarmos o Newton da conta, teve o segundo pior, isso mostra a dependência que temos dele em todos os aspectos do jogo.

9. Alex Smith, Kansas City Chiefs

Números em 2017: 341/505, 4042 jardas, 26 touchdowns, 5 interceptações, 104.7 passer rating, 7.65 ANY/A

Grade: 8,4

Opinião do torcedor: “Pra muita gente, quando se fala em Alex Smith, a primeira coisa que vem à cabeça é a alcunha de “game manager” que ele recebeu ao longo de sua carreira. Passes em profundidade? Isso não é algo que ele faz. É um cara que, pra muitos, vive de checkdowns e screens. Nessa temporada, no entanto, Alex Smith elevou seu jogo de uma forma tal que pode-se dizer que ele foi o terceiro melhor quarterback da liga, atrás apenas de Tom Brady e Carson Wentz — ele bateu ambos, diga-se de passagem. Apoiado no talento insano de Travis Kelce (pra mim, o melhor TE da liga) e na velocidade absurda de Tyreek Hill, Smith teve a melhor temporada de sua carreira mesmo com uma sequencia ruim de Kansas City no meio da temporada. Com a chegada de Mahomes, parecia certo que o Chiefs estava pronto para seguir em frente, mas a prova de que o veterano ainda consegue jogar em alto nivel torna tudo um pouco mais complicado para o time de Andy Reid.” (Vinicius Buono, torcedor do Kansas City Chiefs)

No que foi provavelmente a última temporada da passagem de Smith por Kansas City, vimos um jogador que estava escondido desde que fora escolhido pelo San Francisco 49ers há treze anos. A impressão geral sobre Alex era de um quarterback costumeiramente conservador, que pouco arriscava verticalmente e pouco representava uma ameaça explosiva para as defesas adversárias.

O casamento com Andy Reid, contudo, tomou um rumo inesperado em 2017. Reid, lembremos, é um treinador com grande tendência a buscar as jogadas explosivas desde o tempo de Philadelphia, o que sofreu forte diminuição quando começou a trabalhar com Alex Smith. O passador do Chiefs, entretanto, nos mostrou que seus passes longos também são excelentes: o X da questão era sua relutância em lançá-los, o que mudou na última temporada. Sua precisão e seu footwork continuam em alto nível, e a equipe que trocar pelo jogador receberá um bom quarterback.

Pergunta ao torcedor: Alex Smith parece estar com os dias contados em Kansas City. Você tem confiança em Patrick Mahomes para manter a equipe no topo da AFC West?

Vinicius: O ideal, pra mim, seria que o Smith renovasse com Kansas por mais uns 02 anos. Mahomes se mostrou muito promissor contra uma das melhores defesas da liga (já desinteressada, é verdade). Ele se movimenta bem no pocket e tem um braço que é um canhão. Mas o Smith teve a melhor temporada da carreira e acho que seria ótimo para o Mahomes passar mais um ano ou dois no banco, sem apressar seu desenvolvimento. Eu confio que o Mahomes vai ser um excelente jogador, mas a AFC West é uma das divisões mais fortes da liga e jogá-lo “no fogo” cedo demais seria ruim tanto pro time quanto pra carreira dele.

8. Matthew Stafford, Detroit Lions

Números em 2017: 371/565, 4446 jardas, 29 touchdowns, 10 interceptações, 99.3 passer rating, 7.01 ANY/A

Grade: 8,5

Opinião do torcedor: “Stafford teve mais um ano bom numericamente falando, passando das 4 mil jardas, feito que foi facilitado pela presença de dois wide receivers talentosos e uma linha ofensiva que sofreu com muitas lesões, mas que de vez quando o protegia de forma decente. Mesmo com bons números, o ano não parece tão muito bom, já que ele, assim como o time, deixaram a desejar em momentos extremamente importantes e ainda teve um número relativamente alto de passes passíveis de interceptação. Para a primeira temporada em que John Matthew passou a ser o jogador mais bem pago da liga, o saldo termina no meio na soma de altos e baixos.” (Matheus Ribeiro, editor do The Fraternity e torcedor do Detroit Lions — @_ribeirom)

Ainda que seja claro e evidente que Stafford não é o melhor quarterback da liga apesar de ser o mais bem pago, 2017 foi um ano em que se pode dizer que ele foi realmente efetivo ao invés de seus bons números funcionarem como uma espécie de máscara. A antiga primeira escolha geral continua com o braço mais impressionante da liga, mas Matthew foi muito bem quando sob pressão e seu atleticismo foi bastante útil ao longo do ano.

No que eu esperaria uma melhora de Stafford para a próxima temporada seria o supracitado turnover-worthy throws (ou passes passíveis de interceptação, as you wish). Como exemplo, o Pro Football Focus aponta que 3,7% dos passes lançados pelo quarterback ao longo do ano se encaixam nessa estatística — uma das piores marcas da liga. Outro fator onde se faz necessária uma melhora, ainda que não necessariamente, é o trabalho de pés do jogador, que parece inconsistente as vezes.

Pergunta ao torcedor: o torcedor do Lions pode esperar alguma mudança no estilo de jogo de Stafford com uma nova coaching staff à caminho?

Matheus: Acredito que não, já que até o momento em que estou escrevendo isso, o coordenador ofensivo dos Lions continua sendo Jim Bob Cooter. As grandes questões que poderiam facilitar a vida de Stafford seriam no jogo corrido, com a busca de um running back mais completo (Abdullah e Riddick são muito parecidos) e uma mudança nos esquemas da linha ofensiva, já que Ron Prince foi demitido do cargo de técnico da unidade. Um jogo corrido melhor poderia dar mais oportunidades boas para que o Stafford gunslinger de verdade voltasse com mais confiança e segurança.

7. Matt Ryan, Atlanta Falcons

Números em 2017: 342/529, 4095 jardas, 20 touchdowns, 12 interceptações, 91.4 passer rating, 6.87 ANY/A

Grade: 8,6

Opinião do torcedor: “Matt Ryan é sem duvidas um dos quarterbacks mais injustiçados da liga. Após anos atuando em alto nível mas tendo seu sucesso minado por inúmeras falhas no restante da equipe, o camisa dois finalmente teve o reconhecimento merecido ao fazer a melhor temporada da carreira e conquistar o prêmio de MVP em 2016; porém, as coisas voltaram ao normal para o jogador já em 2017: em um dos anos mais decepcionantes da franquia, a entrada de Steve Sarkisian transformou uma das melhores unidades da história da liga na 10ª pior em aproveitamento na red zone e a derrubou da 1ª para a 15ª colocação em pontos por jogo, resultando assim em uma queda drástica nos números de Ryan, que não só sofreu com péssimos planos de jogo como também com as constantes falhas de seus companheiros, que foram responsáveis por absurdas oito de suas 12 interceptações.” (Guilherme Nascimento, estudante, dono do Dirty Bird Brasil e torcedor do Atlanta Falcons — @DirtyBirdBrasil)

A regressão estatística era evidente com relação à Matt Ryan — com a perda do melhor coordenador ofensivo da liga para o posto de treinador no San Francisco 49ers, não havia dúvida de que seus números dariam um passo para trás em 2017. Isso se confirmou ao longo do ano, com o ataque inteiro regredindo no sistema implantado por Steve Sarkisian, mas quem assistiu jogos do Falcons ao longo do ano percebeu que Ryan continuava em altíssimo nível e que a culpa de sua regressão era quase que exclusivamente do novo líder do ataque.

Poucos jogadores conseguem lançar com tanta precisão e antecipação, além de suas mecânicas serem extremamente refinadas e seu footwork parecer algo completamente natural. Além disso, Ryan consegue lançar passes com velocidade em qualquer faixa do campo e consegue escapar do pocket e estender jogadas com as pernas frequentemente, evitando sacks e turnovers. Se Sarkisian não limitar o maravilhoso ataque de Atlanta mais uma vez em 2017, podemos ver uma temporada com números quase semelhantes aos que lhe renderam o prêmio de MVP há dois anos.

Pergunta ao torcedor: Com a manutenção de Steve Sarkisian no cargo para 2018, por qual motivo o torcedor do Falcons deveria acreditar que seu quarterback voltará a um nível perto de 2016?

Guilherme: A confirmação da permanência de Sark para a próxima temporada certamente não traz otimismo ao torcedor de Atlanta. Ainda assim, o longo período de offseason será perfeito para rever os erros e sintonizar Ryan e todo o ataque com seu coordenador, portanto é plausível esperar ao menos uma pequena melhora em 2018, algo que — considerando a altíssima qualidade dos jogadores ao seu redor — talvez seja suficiente para retornar o quarterback à forma anterior. Em adição, é possível que a equipe traga ao menos uma cara nova ao corpo de recebedores no Draft, ajudando ainda mais a compensar as falhas do coaching staff.

6. Drew Brees, New Orleans Saints

Números em 2017: 386/536, 4334 jardas, 23 touchdowns, 8 interceptações, 103.9 passer rating, 7.71 ANY/A

Grade: 8,6

Opinião do torcedor: “Depois de mais uma temporada com resultados medíocres e estatísticas surpreendentes, Drew Brees conseguiu virar o jogo. Um ataque rejuvenecido facilitou o trabalho do quarterback, que não precisou lançar uma quantidade absurda de passes para ser produtivo. Conforme os jogos passavam, ficou muito claro que Brees não estava em decadência nos últimos anos, mas as peças ao seu redor não eram boas o suficiente. Em 2018, ele manteve a mesma qualidade de sempre, mas contou com uma linha ofensiva incrível e um jogo corrido versátil com Alvin Kamara e Mark Ingram. Acostumado a precisar pontuar muito para vencer jogos, ele finalmente recebeu uma defesa que criava turnovers e o colocava em posições de campo muito favoráveis, além de sofrer poucos pontos. Finalmente, um dos melhores quarterbacks dessa geração teve apoio o suficiente para fazer uma temporada digna de seu talento: 11–5 e o título da NFC South.” (Breno Deolindo, jornalista e torcedor do New Orleans Saints)

Sean Payton finalmente entendeu que New Orleans não é um time que pode depender somente do braço de seu quarterback para ganhar jogos. Ficou claro durante a inter temporada que o Saints buscaria mudar seu sistema ofensivo, dando mais espaço para o jogo corrido e tirando um pouco do peso dos ombros de Brees. Ainda que a badalada contratação de Adrian Peterson não tenha tido o impacto esperado, a dupla formada por Alvin Kamara e Mark Ingram foi extremamente efetiva e facilitou o trabalho do veterano.

A queda nos números não quer dizer nada pelos motivos acima apresentados. Brees simplesmente teve de lançar menos a bola pois o ataque não dependia totalmente disso, mas a precisão, o trabalho de pés e as mecânicas estiveram afiadas como sempre. Com um release tão rápido, Drew não é um quarterback propenso a sofrer sacks com frequência, o que também é uma qualidade notável. Ele foi bem como sempre em 2017 e, num ataque balanceado como o de New Orleans, alguns bons anos ainda estão por vir — se ele renovar seu contrato e permanecer no Saints, é claro.

Pergunta ao torcedor: Brees é um free agent com idade avançada ao fim da temporada. É hora de buscar um novo quarterback?

Breno: Não. Brees provou esse ano que seu jogo ainda está muito acima da média, e terminou o ano batendo o recorde de porcentagem de passes completos na NFL. Sua janela para o futuro é curta, sim, mas com uma linha ofensiva que ranqueou entre as melhores da NFL em pass protection e dois running backs de alto nível, Brees é peça fundamental pra um time que pode chegar como favorito para a próxima temporada.

5. Carson Wentz, Philadelphia Eagles

Números em 2017: 265/440, 3296 jardas, 33 touchdowns, 7 interceptações, 101.9 passer rating, 7.43 ANY/A

Grade: 8,6

Opinião do torcedor: “As melhores palavras para descrever Wentz em 2017 são “excelente” e “divertido”. Vimos uma grande progressão em relação a temporada de 2016, onde ele dava amostras que seria um grande jogador na liga. Apesar de ser apenas o seu segundo ano, Wentz mostrou suas habilidades com ótimas leituras, ótimos passes e grande desenvoltura em relação a pressão dos adversários, podendo ser comparado com Wilson e Rodgers. Embora seja normal um quarterback ser eleito capitão, Wentz mostrou muita liderança em comandar tanto o ataque como o vestiário, dando esperanças de temporadas melhores em seus próximos anos na liga” (Bernard Poupart, editor do Fumble na Net e torcedor do Philadelphia Eagles)

Se em 2016 as críticas em relação ao nível de Wentz eram justíssimas — incentivadas pelo maciço investimento realizado por Howie Roseman anterior ao Draft daquele ano — , os elogios em 2017 também são extremamente merecidos. Carson parecia um quarterback completamente diferente em campo, seja por suas mecânicas ajustadas ou por sua confiança e elusividade demonstrada jogo a jogo.

O que mais causou boa impressão na organização, contudo, diz respeito aos aspectos mentais envolvendo Wentz. Não foram poucas as oportunidades onde jogadores, treinadores e até o front office encheram o jogador de elogios pelo fato de Carson ter se tornado um líder no vestiário e um jogador com Football IQ altíssimo, a ponto de Doug Pederson e Frank Reich fornecerem-no liberdade para palpitar e adicionar jogadas no playbook ofensivo. Ainda que a grave lesão no joelho seja motivo de intensa preocupação com relação a seu futuro — e, mais precisamente, o fato do jogo de Wentz ter como grande asset a mobilidade — , a tendência é que esse desenvolvimento continue em 2018. É seguro dizer que Philadelphia acertou ao pagar alto para adquirir um novo franchise quarterback.

Pergunta ao torcedor: É justo imaginar uma regressão de Wentz por conta de sua grave lesão no joelho (que pode ter efeito em sua mobilidade) ou você acredita que o nível dele continuará o mesmo

Bernard: [A lesão] foi um fato que preocupa bastante, mas há bons sinais que ele voltará bem, como se foi reportado — ele já vem trabalhando para voltar. Apesar disso, ainda assim preocupa, pois ACL é uma lesão gravíssima e, como Wentz é bastante móvel e gosta de se arriscar, podemos ter um Carson mais suscetível a sacks e hits; contudo, há esperança que ele volte no mesmo nível, apesar de meu pessimismo apontar que haverá um downgrade em relação a suas corridas. Esperamos também que, após esses acontecimentos, ele se arrisque menos, ou tenha melhor compreensão da situação em seus scrambles.

4. Ben Roethlisberger, Pittsburgh Steelers

Números em 2017: 360/561, 4251 jardas, 28 touchdowns, 14 interceptações, 93.4 passer rating, 6.95 ANY/A

Grade: 8,8

Opinião do torcedor: “A temporada de Roethlisberger pode ser analisada dividindo-a em duas: pré-bye e pós-bye. Na fase pré-bye, Roethlisberger teve problemas claros, que foram identificados por boa parcela da torcida. Forçou passes demais para Antonio Brown e não teve a mesma precisão em passes longos, a qual talvez tenha sido sua maior qualidade na era Todd Haley. Em meio a isso, teve quiçá seu pior jogo da carreira contra os Jaguars, no qual lançou 5 interceptações e questionou suas próprias habilidades na entrevista pós-jogo (“maybe I don’t have it anymore”). O ataque não conseguiu atingir 30 pontos — meta por jogo estipulada pelo time antes da temporada — em nenhuma partida. Após o bye, contudo, Big Ben finalmente encontrou seu ritmo e liderou a equipe para sua melhor campanha desde 2004, seu ano de calouro. Sua química com Antonio Brown melhorou drasticamente, enquanto outros recebedores — mais notavelmente JuJu Smith-Schuster — foram mais envolvidos no plano de jogo. Seu ratio touchdown/interceptações melhorou de 1,11 para 3,6 e foi decisivo, tanto dentro da estrutura ofensiva quanto em no-huddle que tanto gosta. Nos Playoffs a temática continuou, com o camisa 7 dissecando a melhor defesa da liga para 469 jardas e 5 touchdowns. Seria interessante para a equipe já buscar seu eventual sucessor — que não, não é Landry Jones, tampouco Joshua Dobbs. Contudo, eu não apostaria nisso já para 2018, visto que o quarterback mostrou que pode jogar em alto nível por mais alguns anos.” (Vinicius Cesarini, antigo redator do Pro Football e torcedor do Pittsburgh Steelers)

É justo fazer uma divisão entre Roethlisberger antes do meio da temporada e depois do meio da temporada — como costuma ocorrer com todos os times de Mike Tomlin, diga-se. Se na primeira seção do ano o veterano parecia estar em declínio e, de certa forma, desmotivado (podemos tomar como exemplo o aftermath das cinco interceptações contra Jacksonville na temporada regular), a segunda viu um Big Ben bastante efetivo contra blitzes e com um decision making extremamente acima da média — Roethlisberger, segundo as grades que compõem esse texto, teve a maior média do quesito, com 1,9.

Ainda que jogar atrás de uma linha ofensiva tão forte e contar com skill players excelentes facilite o trabalho de um quarterback, a precisão do signal caller foi evoluindo ao longo da temporada, assim como suas mecânicas diminuíram a inconsistência da primeira metade do ano. Pittsburgh deveria sem dúvidas se preocupar com o substituto de Roethlisberger; entretanto, não é um declínio no nível do jogador a causa para tal preocupação.

Pergunta ao torcedor: na sua opinião, devemos esperar mudanças na estrutura do ataque com a saída de Todd Haley e a promoção de Randy Fitchner para o cargo de coordenador ofensivo?

Vinicius: Minha resposta resumida seria que não, não devemos esperar muitas mudanças. Todd Haley, apesar de não ter a simpatia de boa parte da torcida, foi fundamental em moldar Roethlisberger no quarterback de elite que é hoje. Aquele estilo de jogo cheio de scrambles e jogadas estendidas, apesar de divertido, causou inúmeras lesões ao jogador, que dificilmente chegava inteiro aos playoffs. Com Haley, Big Ben aprendeu a jogar dentro de uma estrutura, com jogadas baseadas em timing, e tomou consideravelmente menos sacks do que tomava na era Bruce Arians. É possível afirmar que é muito graças a Haley que Big Ben ainda está em seu auge. Com Fitchner, os Steelers ganham em comunicação: diversos reports de dentro de Pittsburgh afirmam que Roethlisberger e Haley mal se comunicavam nas sidelines e, embora nenhuma faísca tenha vindo a público, a relação certamente não era a esperada entre coordenador e quarterback. Fitchner, técnico de quarterbacks de Pittsburgh, já tem uma relação muito mais estreita com o jogador, e era presença constante na sideline. Desta forma, eu esperaria uma maior liberdade para Roethlisberger operar o ataque — em consequência, mais uso do no-huddle — e maior foco no ataque dentro da red zone, principal problema de Haley em seus seis anos na equipe.

3. Aaron Rodgers, Green Bay Packers

Números em 2017: 154/238, 1675 jardas, 16 touchdowns, 6interceptações, 97.2 passer rating, 5.99 ANY/A

Grade: 9,0

Opinião do torcedor: “Com a saída de TJ Lang era esperado que a OL do Packers não fosse tão boa quanto na temporada passada. Em compensação esperava-se muito dos recebedores, principalmente com a chegada de Martellus Bennett. Apesar da não-evolução da secundária, tão ruim quanto na temporada passada, Green Bay vinha jogando bem e havia perdido apenas um jogo na temporada, numa atuação um pouco controversa dos juízes para o Falcons no Mercedes-Bens Stadium. Tudo isso deve-se a performance de Aaron Rodgers, conseguindo levar o time a marcar mais pontos do que sua defesa permitia. Parecia uma caminhada razoável até os playoffs. Isso desmoronou quando, na semana 6, jogando contra a incrível defesa do Vikings, Rodgers sofre uma lesão na clavícula, ficando fora de boa parte da temporada. Parece que esse tempo fora de campo pesou para ele, pois quando voltou em campo contra o Panthers na semana 15, não parecia estar em sintonia com seus recebedores e dentre as 3 interceptações desse jogo, duas foram bastante longe do recebedor. Green Bay teve que interromper sua sequência de ida aos playoffs para que a questão da defesa virasse um grande elefante branco na sala. Ficou bem nítido que o time só iria para frente por causa da genialidade do seu quarterback. A esperança da torcida cabeça de queijo é que com a mudança de boa parte da comissão técnica, Green Bay consiga entregar uma defesa top 10, para que seu principal jogador não precise fazer mágica para levar o time para frente” (Kamila Torreão, estudante, apaixonada por esportes e principalmente por Green Bay.)

Fomos privados de apreciar um dos maiores talentos que a NFL já viu por grande parte de 2017 — e, na volta contra o Carolina Panthers, o mesmo estava completamente enferrujado. Relevemos — , mas os poucos jogos em campo mostraram pela milésima vez que Aaron Rodgers é a alma e o coração do Green Bay Packers e, sem ele, o time não consegue mascarar suas deficiências.

Rodgers teve notas altíssimas (1,9) em dois quesitos: sob pressão e arm talent. Ele continua capaz de lançar a bola com precisão em qualquer faixa do campo, estender as jogadas com as pernas — Rodgers é a personificação perfeita de um quarterback scrambler, inclusive — e encontrar formas de produzir em situações adversas. Se rodeado por melhores recebedores na próxima temporada, podemos ver mais um ano incrivelmente explosivo da estrela de Wisconsin.

Pergunta ao torcedor: Considerando a idade de Rodgers e o fato do quarterback ter sofrido com lesões nos últimos anos, você investiria uma pick alta no Draft buscando se preparar para o futuro ou acredita que a janela atual do Packers com seu principal jogador ainda deve durar alguns anos?

Kamila: A lesão de Rodgers e a atuação de Brett Hundley nessa temporada fizeram os fãs de Green Bay ficarem bem receosos quanto ao substituto do primeiro. Aaron tem apenas 34 anos e espera-se que ele jogue com eficiência por pelo menos mais cinco. Se Green Bay gasta uma pick alta em quarterback nesse Draft, duas coisas podem acontecer: ou o quarterback não rende e é escanteado (como parece que vai acontecer com Hundley), ou o quarterback aprende muito com Rodgers mas não fica em Green Bay, pois Aaron não vai aposentar pra dar espaço à ele no tempo certo. Em ambas as situações o Packers perde. Soma-se a isso o fato de a defesa de Green Bay precisar ser restabelecida: seu novo coordenador defensivo Mike Pettine vai precisar bastante de pass rusher e secundária. As últimas 3 temporadas do Packers deixaram bem claro que a maior necessidade para o time é a defesa: não adianta você ter um quarterback de elite se a defesa entrega o jogo sempre, basta olhar o último jogo de Rodgers: ele estava longe de ser aquele exímio passador que é, mas a defesa ajudou bastante Cam Newton a marcar em cima do time. A lesão de Rodgers acontece, ainda mais num esporte com tanto contato como é o football. Ele poderia ter se recuperado normalmente com o tempo, mas foi feita a cirurgia somente para que ele pudesse voltar ainda na mesma temporada. Se o corpo dele desse algum sinal de que não suportaria, isso jamais teria sido feito. Portanto, não há o que se preocupar na questão de saúde dele, somente com o que acontece de jogo, que pode acontecer com qualquer um! Pensar em um substituto para Rodgers hoje é ser muito pessimista e imediatista.

2. Russell Wilson, Seattle Seahawks

Números em 2017: 339/553, 3983 jardas, 34 touchdowns, 11 interceptações, 95.4 passer rating, 6.45 ANY/A

Grade: 9,1

Opinião do torcedor: “Prejudicado pelo esquema. Prejudicado por quem deveria protegê-lo. Temporada de MVP. Futuro Hall of Famer. Líder na teoria, na prática, fora e dentro de campo. Este é Russell Wilson. Esta foi a temporada de 2017 para Russell Wilson. Se o Seahawks brigou por playoffs até a última semana, agradeçam tão somente à seu quarterback — mesmo que tenham falhado. Tendo a segunda pior linha ofensiva da NFL ao seu dispor, Wilson liderou a liga em passes para touchdown, sem contar todas as vezes em que precisou fazer mágica para manter uma jogada viva e, dessa jogada, tirar uma primeira descida ou até mesmo uma big play. Como grande falha, Wilson continua segurando muito a bola e falhando em algumas leituras e, por isso, de vez em quando se torna necessário o improviso. Para dar o salto rumo à elite de quarterbacks da NFL, Wilson precisa evoluir principalmente nestes pontos.” (João Pedro Pereira, do 12th Man Brasil e torcedor do Seattle Seahawks — @Joao_PPereira)

Seria extremamente chocante se Wilson tirasse qualquer coisa diferente de nota máxima no quesito “sob pressão”, e nenhuma surpresa aqui ocorreu. Não há como olhar pro ataque de Seattle e ignorar o fato de que Russell representou basicamente todo o sistema ofensivo do Seahawks em 2017 — tanto passando quanto correndo com a bola.

Imagine ter que jogar num time com uma das piores — se não a pior — linha ofensiva em toda a NFL, com um jogo corrido extremamente improdutivo e ainda assim produzir ótimos números. É assim que se pode resumir Russell Wilson em 2017. Um jogador que era forçado a sair do pocket e correr pela sua vida em quase toda jogada e ainda assim fazia jogadas mágicas. Nenhum outro passador é capaz de jogar igualmente produtiva ao quarterback de Seattle naquele sistema. A tendência é de melhora para 2018, com a saída de Tom Cable do posto de treinador de linha ofensiva — a menos que tenha como piorar, certo?

Pergunta ao torcedor: Por qual caminho você começaria a reconstruir o ataque do Seahawks?

Tácio Magalhães, estudante e torcedor do Seattle Seahawks: Para a próxima temporada, é nítido que o time necessita de novos jogadores para a linha ofensiva e principalmente de running backs. Depois da “aposentadoria” de Marshawn Lynch, o time que sempre aterrorizava os adversários no jogo corrido nunca mais foi o mesmo e esse ano isso ficou claro, quando o seu melhor jogador no jogo terreste é seu quarterback. Tentou-se uma investida com Eddie Lacy, mas o ex jogador do Packers não mostrou absolutamente nada de especial até aqui. Além disso, o time de Pete Carroll PRECISA trabalhar na disciplina de seus jogadores, já que essa temporada o número de faltas cometidas por Seattle era extremamente irritante ao torcedor, e esse foi só mais um dos fatores que fez com que o time parasse ainda na temporada regular

1. Tom Brady, New England Patriots

Números em 2017: 385/581, 4577 jardas, 32 touchdowns, 8 interceptações, 102.8 passer rating, 7.56 ANY/A

Grade: 9,3

Opinião do torcedor: “Parafraseando a abertura de uma série ruim, a estrada até agora de Thomas Edward foi irregular. Apesar de ter mais pontos altos que baixos, o costume com a excelência do maior quarterback de sistema (que você respeita) deixou a torcida mimada e bem alheia a uma série de situações. Houve uma série de mudanças no time por trocas, aposentadorias e lesões (volta pra mim, Edelman!), e isso afeta o desempenho individual e coletivo em vários pontos. E, apesar tudo isso, a atuação do Brady é sempre muito acima da média. Com as derrotas contra Chiefs e Panthers, frutos de um conjunto desentrosado em todos os aspectos, falou-se muito em fim de uma de dominância (um assunto que sempre volta quando a atuação do time é menos do que impecável); já o jogo contra o Dolphins foi a coisa mais dolorida e injustificável da temporada. Ninguém entrou em campo, ou dormiram todos acreditando que o jogo estava ganho. A verdade é que não existe razão para escrever sobre os números de Thomas para além de: 40 anos e ainda jogando em nível altíssimo. Tom Brady é, incontestavelmente, o maior quarterback de New England todos os tempos. No fim das contas, ao se analisar friamente, a temporada de 2017 do Brady não foi diferente das outras 16: jogou muito além do previsto e o declínio parece não vir, apesar dos momentos de desconcerto exagerado; continua um jogador inteligente, capaz de se adaptar às condições apresentadas e tirar o máximo de cada situação.” (Lila Chelles, menina do Rio e torcedora do New England Patriots)

No fundo, eu acho que o nível de Brady caiu um pouco esse ano. Ou, pelo menos, ele não é tão supremo como eu pensava. Ainda que ele tenha demonstrado o mesmo nível altíssimo quando sob pressão e que seu decision making continue extremamente afiado, 2017 me provou que o pentacampeão do Super Bowl não é exatamente o melhor quarterback da liga quando o assunto são os passes longos.

Isso é apenas um ponto negativo naquele que foi sem dúvidas o melhor quarterback da liga mais uma vez. Brady mais uma vez teve o footwork perfeito, um comando magistral sobre qualquer defesa e se o Patriots é o favorito para conquistar o sexto anel, é porque Thomas Edward é de longe o melhor nome na posição mais importante do jogo que ainda está em disputa pelo título. Tom Brady foi o melhor quarterback da NFL em 2017 e, se confirmado, o prêmio de MVP será merecido.

Pergunta ao torcedor: depois das trocas de Garoppolo e Brissett, como você acha que o Patriots deveria atacar o Draft se preparando para a era pós-Brady?

Lila: O futuro da franquia nesse momento é mais do que nebuloso. Com os rumores dando conta de mudanças significativas na comissão técnica (a perda dos coordenadores ofensivo e defensivo e talvez o treinador de linebackers Brian Flores também esteja de partida) a direção que o time tomará a partir da próxima intertemporada ainda está indefinida. É inegável que as trocas de Jacoby Brissett e Jimmy Garoppolo acabaram com os planos imediatos na liderança do ataque; as linhas ofensiva e defensiva tem pouquíssimas opções de rotação/substituição; o corpo de wide receivers não é lá grande coisa e eu poderia seguir listando uma série de “deficiências” que não exatamente impactam de forma negativa o sistema, mas que são pontos a trabalhar, sim. Pessoalmente, prefiro o desenvolvimento de um jogador novo à contratação de um veterano, mas entendo que a classe de calouros também não é um poço sem fundo de talentos; ou que essas promessas A) fiquem disponíveis por muito tempo; B) de fato se confirmem. Para mim, a necessidade mais imediata é o futuro do ataque: nós precisamos de um quarterback e para ontem e o Draft é o melhor momento para escolher um. No mais, in Belichick we trust.

O mais sincero obrigado a todos que, de alguma forma, dedicaram um pouco de seu tempo e contribuíram para a montagem deste guia.

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Henrique Bulio
ZONA FA

Numa eterna cruzada contra o feijão por cima do arroz.