MUSICARALHO: Music To Be Murdered By (2020) — Eminem

Vinícius Silveira
Caralho à 4
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18 min readJul 19, 2020

Salve meus e minhas cabeças de hip-hop!

A grande estréia do Caralho a 4 em sua sessão musical, ou como eu chamo carinhosamente ou apenas imbecilmente, Musicaralho, não podia ser com um disco diferente, ou bem, podia, mas para propósitos de desenvolvimento da história que eu pretendo contar, não podia. Esse é o Music To Be Murdered By do inevitável, lendário, polêmico, lixo humano, Eminem.

Music To Be Murdered By (2020)

Antes de de fato iniciar a análise/resenha/crítica do álbum, eu gostaria de já inicialmente falar que todo mundo tá de saco cheio do Eminem e eu entendo isso, porém, eu tenho uma relação muito íntima com o seu trabalho. Ok, essa relação “relação íntima” é meio gay, mas é real! Dito isso, eu não tenho como ser absolutamente imparcial aqui, até porque isso simplesmente NÃO EXISTE. Todo mundo é parcial em algum nível. Então apesar de curtir uma homossexualidade eventualmente, não espere uma crítica pitchfork. Eu não sou nenhum idiota também, o que significa que eu vou TENTAR ser razoável e sensato, não por mim porque eu sou um total fodido, mas pela cultura. Sempre.

Eu queria falar também que eu me sinto um McLovin da vida falando sobre cultura hip-hop assim, bom, talvez eu seja mesmo, é bom ser sincero e admitir já de cara.

McLovin, o cara.

Music To Be Murdered By (MTBMB) é o 11º álbum do Eminem e sucede “Kamikaze”, lançado em 2018 e que é um ponto de partida fundamental para entender o contexto do atual álbum. Ano passado escrevi aqui nessa mesma plataforma que o Eminem não tinha aprendido muito com o seu fracasso musical em “Revival” (2017) e que parecia não conseguir entender os motivos de sua decadência, musicalmente falando. Em Kamikaze o rapper parece admitir que se fodeu bonito na cena, mas não entende o porquê, então ele ataca as críticas, ataca os críticos, não deixa de admitir que se fodeu, ele só não concorda. E isso até que faz sentido, já que NINGUÉM é obrigado a fazer autocrítica, é chato ficarem cobrando essa porra a todo momento. Mas sabem, com essa atitude ele esconde toda a evolução musical que ele teve desde Revival e sua busca por uma nova identidade no cenário atual (que é vista obviamente já na INTRO do álbum) em um monte de disses e algumas tracks sem sentido. É um pouco exagerado, mas uma evolução em vários sentidos ao fazer o exercício de tentar se encontrar em uma casa que já foi dele, mas que não é mais. E em Music To Be Murdered By ele se encontra.

That’s hip-hop, that’s life. E é doido pensar isso porque a gente esquece que esses ídolos, essas lendas, são apenas pessoas. São hipócritas, são inconstantes, erram, acertam, se perdem e se acham. MOMENTO TERAPIA, pague na saída.

They’re askin’ me “What the fuck happened to hip-hop?”
I said “I don’t have any answers”
’Cause I took an L when I dropped my last album
It hurt me like hell but I’m back on these rappers.

(Lucky You)

Mas é o suficiente. MTBMB para todos os efeitos é inspirado em Alfred Hitchcock, lendário cineasta que dirigiu filmes como “Psicose”, “Janela Indiscreta” e “Um Corpo que Cai” na década de 1950 e 1960 e que em 1958 também produziu um álbum intitulado justamente como Music to Be Murdered By. Assim, várias referências diretas, além de samples de Hitchcock aparecem nas músicas de Em, também orientando a temática de muitas delas. A obra também conta com a participação de 12 artistas no curso de 8 músicas, entre os artistas está o cantor Ed Sheeran e os rappers Juice WLRD e Royce da 5'9. O álbum também marca a importante volta da participação de Dr. Dre na produção de várias tracks.

O disco inicia já com uma intro simplesmente FODA. Premonition conta com uma produção foda de Dr. Dre e Eminem, que já inicia o disco refletindo sobre a repercussão dos seus trabalhos anteriores, bem como o seu papel no hip-hop como coloquei anteriormente.

They said my last album I sounded bitter
No, I sound like a spitter
Who ninety percent of
These hypocrites are tryna get rid of
But why would I get a chip on my shoulder?

É importante ressaltar que esse “chip on my shoulder” ao qual ele se refere quer dizer não guardar rancores, o que ele apesar de negar, faz constantemente com as suas derrotas e ataques sofridos. Mesmo assim, no som ele já parece adotar uma outra perspectiva em relação a esse rancor, entendendo que as coisas mudam e que mesmo PUTO com as críticas, ele precisa de uma outra atitude. E ele parece mais lúcido do que nunca nesse sentido, após tanto apanhar e bater em fantasmas, parece finalmente tentar entender melhor o seu papel na cultura e sei lá, viver isso, não combater.

I was the G, the O-A-T
Once I was played in rotation
At every radio station
They said I’m lyrically amazing
But I have nothing to say
But then when I put out Revival and I had something to say
They said that they hated the awake me
I lose the rage, I’m too tame
I get it back, they say I’m too angry
I need to get me some Dre beats
No, I should hook up with Tay Keith
Fans keep on pulling me one way
Haters pull me in another

Tudo isso já fica muito mais palpável na segunda track do disco: Unaccommodating com participação da Young M.A. A faixa que foi produzida pelo próprio Em mistura a sonoridade do trap com uma sonoridade que me parece meio circo bizarro, meio terror meio cômico, algo que tem super a ver com o trabalho tanto do Eminem quanto do Hitchcock. Essa faixa é um espetáculo de referências bizarras, onde Marshall se compara a Saddam Hussein (ex-presidente do Iraque), Ayatollah Khomeini (líder espiritual e político da Revolução Iraniana), Osama Bin Laden e John Wayne Gacy, um serial killer americano conhecido por se vestir de palhaço para atrair e matar suas 33 vítimas. Bem bizarro e bem foda, vamos concordar. (Foda a referência, no caso, não as mortes, sem cancelamentos por hoje, ok).

A track também é marcada pela participação FODA da rapper Young M.A que tem 28 anos, é de Nova Iorque (east coast, baby) e estourou em 2016 com a faixa “Ooouuu”. Ela é uma grande representante da new school, tem muitas e muitas barras e esse ano ainda lançou o EP Red Flu. Ouçam! Essa colaboração é muito simbólica porque mostra a tentativa (bem sucedida) do Em de se adaptar aos novos tempos, mas sem abandonar suas antigas temáticas e seu estilo. Resultou em um som foda e um dos carros-chefe da obra, apesar de ter sido criticada e reconhecida negativamente pela referência que o rapper faz ao atentado terrorista no show da Ariana Grande em 2017, em Manchester. Mas vamos ser sinceros, isso é Musica Para Ser Assassinado.

But I'm contemplating yelling, "bombs away, " on the game
Like I'm outside of an Ariana Grande concert waiting

Here comes Saddam Hussein, Ayatollah Khomeini
Where's Osama been? I been laden lately

só passando um paninho por aqui…

A terceira faixa mantém o nível das duas anteriores e ainda aumenta a barra. You Gon’ Learn conta com a participação de White Gold e do frequente colaborador de Marshall, Royce da 5'9. Foi produzida por Luis Resto e pelos dois rappers. Essa faixa, meus amigos… Puta que pariu, totalmente FODIDA. Que beat maravilhoso, desde os scratches até a bateria, a faixa foi toda muito bem e cuidadosamente produzida. Royce e Em são dois MCs de alto nível, inevitavelmente dois dos melhores liricistas na cena atualmente e eles fazem valer essa reputação na track ao refletirem sobre suas jornadas de luta e determinação para e no sucesso. Eles mandam tão bem e tem uma dinâmica tão foda que nem importa qual dos dois tem o melhor verso, é como se os dois se completassem. Mesmo assim, Royce veio com um dos melhores versos e barras do ano ao falar sobre a reparação da escravidão nos EUA nessa faixa que por enquanto é uma das melhores do ano:

Y’all call this fame, I call this shit alcoholistic infamy
Targettin’ my kids and babies through population and gun control
Shit make me wanna make a hunnid more
Make a bigot racist uncomfortable
If y’all against talk and reparation then I’m not against the thought of separation
While the politicians that are white and privileged ask how is this different from segregation, that’s funny bro
Segregation is bein’ told where I’m gonna go
Separation is bein’ woke and goin’ wherever I wanna go

Those Kinda Nights é produzida pelo D.A Got That Dope e marca a terceira participação de Em com Ed Sheeran. E porra, é TÃO melhor que as duas outras mesmo sem fazer muito esforço. Aqui temos o velho e infalível Slim Shady contando a história de uma noite regada a putaria, drogas e machismo. Nada fora do normal. Temos também um refrão bom do Ed Sheeran, nada muito meloso tipo “River” mas meio baladinha com um quê de bizarro, novamente como o tom do disco, além de algumas linhas inteligentes de Em (e outras nem tanto). Não é exatamente um ponto alto, mas funciona muito bem como um single que introduza o álbum e toque em um lugar ou outro mais popular.

That’s totally awesome, I’m Marshall, what’s goin’ on? Ah (Haha)
Seriously though, jokes aside, how you doin’? You straight?”
She said, “No, I’m bi”
She said, “Are you drunk?,” I said, “No, I’m high
I’m checkin’ out the chick,” she said, “So am I”

Godzilla, um dos singles principais, é também a música mais estourada do disco. Produzida pelo D.A. Got That Dope, que nos apresenta aqui um beat super cômico, o som também conta com a participação do finado rapper Juice WRLD (Rest in Power) no refrão. Na faixa Em e Juice se comparam ao monstro fictício Godzilla ao descrever uma série de bizarrices que só o Eminem no estilo Slim Shady consegue descrever bem. (Sério, fiquei aqui quebrando a cabeça e não tem como). O som ficou muito marcado pelo ótimo refrão chiclete na voz de Juice e pelo famoso “speedflow” de Em no terceiro verso.

Eu sinceramente nem sei o que falar sobre speedflow, é um bagulho que nasceu como uma técnica usada por grandes rappers como Twista, Busta Rhymes, Kraizie Bone e que foi meio banalizada ao ser usada exageradamente por “rappers vergonha alheia” nos últimos anos (podemos chamar mesmo de rappers?). A técnica tem sido muito associada a Marshall desde “Rap God” em 2013, mas é francamente meio injusto, já que ele usou essa porra umas 6 vezes no máximo na carreira toda como uma técnica e não como modo de parecer fodão sem falar muito (ok, talvez um pouco). Só que ninguém liga pra isso, é mais fácil não ligar. Enfim, além do flow rapidão o 3º verso de Godzilla mostra toda a habilidade e versalidade de Em, tanto no flow quanto no delivery, vale ouro e tá super presente em todo o disco.

Darkness, WOW, esse é o single principal do disco e foi lançado acompanhado de um videclipe no mesmo dia de estréia do álbum. Cara… que música pesada, sombria e importante. O som produzido por Luis Resto, Eminem e Royce da 5'9 sampleia HELLO DARKNESS MY OLD FRIEND (Sound of The Silence) o que é uma escolha no minimo diferente, mas que acabou pegando muito bem. A faixa com um incrível storytelling começa narrando o que seria o próprio Eminem antes de um show em Las Vegas bebendo e tomando pílulas para aliviar o stress.

I keep pacin’ this room, Valium, then chase it with booze
One little taste, it’ll do
Maybe I’ll take it and snooze, then tear up the stage in a few
(Hello, darkness, my old friend)
Fuck the Colt 45, I’ma need somethin’ stronger
If I pop any caps, it better be off of vodka
Round after round after round, I’m gettin’ loaded (Haha)
That’s a lot of shots, huh? (Double entendre)
(Hello, darkness, my old friend)

Na medida em que a música continua, descobrimos que o narrador é na verdade Stephen Paddock, estado-unidense responsável por um assassinato em massa em Las Vegas, em 2017, que deixou 58 vítimas. É descrito então com detalhes os movimentos e pensamentos que poderiam estar passando na cabeça do atirador. Em coloca:

But if you’d like to know the reason why I did this
You’ll never find a motive, truth is I have no idea
I am just as stumped, no signs of mental illness
Just tryin’ to show ya the reason why we’re so fucked

A faixa genialmente usa a performance de um artista enquanto uma alegoria ao problema seríssimo dos assassinato e tiroteios em massa nos EUA, uma das grandes militâncias do próprio Eminem nos últimos anos. Para (in)formação, nos primeiros 275 dias de 2017, nos EUA já haviam sido registrados 273 tiroteios em massa.

Essa é uma questão que passa inevitavelmente pelo tópico do controle de armas, que tem sido uma temática cada vez mais discutida no país na medida em que os tiroteios em massa continuam sendo registrados. São casos em que pessoas aparentemente “normais” (como coloca Em na música), mas com ideais escrotos muitas vezes ligado ao supremacismo branco, aproveitam a fragilidade das leis anti-armamento para causar esse tipo de tragédia. Nesse sentido, a regulamentação à armas parece cada vez mais próxima de acontecer, inclusive em estados mais conservadores dos EUA. Mais armas, SEMPRE significam mais crimes. Fica a lição para o Brasil…

Mais uma coisa, é muito interessante a opção do Eminem por colocar na música vários trechos de jornais noticiando os tiroteios em massa. É uma estratégia interessante para dar uma veracidade maior para o argumento principal dele e ressaltar que HEY é um problema real, tá ai todo dia, do nosso lado, não fechem os olhos, todo mundo vê. FODA. FODA. F-O-D-A.

Manifestação a favor do desarmamento nos EUA em 2018.

Leaving Heaven é uma típica colaboração entre Eminem e Skylar Grey, até o beat soa comum para os dois, com os claps e aquela “construção” para o refrão. Entretanto, essa funcionou melhor do que as outras colaborações. Ótimo flow, ótimo delivery, rimas e metáforas super inteligentes. O tema é a infância difícil do rapper e sua relação com o abandono paterno, temática já conhecida pelo público (e por mim pessoalmente, daddy issues, sim). Eu chapei demais nessas rimas:

Five dozen flies buzzin’ over your head
Call me the Grim Reaper, sleep is my cousin
You’re dead to me now and I’ma be the last face you see
‘Fore you die cussin’ (Yep)

Pop was a sack of shit, yeah, he died, but I gave half a shit
Yeah, which brings me back to the dear ‘ol dad that I zero had
Since a year-old, forty-seven year-old scab
Just to hear them words, ear piercing
Like my earlobe stabbed with a needle for an earring
Should I feel upset? You were dead to me ‘fore you died
Me? Tear no shed
Should I have made a mural at your funeral?
Had your coffin draped with a hero’s flag?

Yah-Yah-Yah é uma das melhores faixas do álbum. Com a produção do hype man de Em: dEnAun e a participação de Royce da 5'9", Black Thought e Q-Tip, temos aqui um clássico posse cut num beat clássico de boombap que sampleia Woo-Hah!! Got You All in Check do Busta Rhymes (1996). Sobre esse som não tem muito o que falar, apenas ouvir, novamente dois dos melhores liricistas do mundo e Black Thought que na minha opinião é o melhor liricista do mundo (ou na língua inglesa, para ser justo), aqui ele ficou com o melhor verso.

Yo, snappin’ necks plus I’m live, in effect
I’m in the Slick Rick eye patch, but I got it from Hex
Rappers avoid eye contact, that’s outta respect
For the god in the flesh, the ominous Indominus Rex
They be like, “You put the Thought on? Yikes”

Esse bicho é um gênio, sinceramente. Outro destaque aqui é pro verso do Eminem e pra todas as referências que ele traz pra música e pra sua própria carreira e obra, não é fraca essa lista. Muito foda essa homenagem por quem pavimentou a estrada para você passar. Máximo respeito.

Now here’s to LL, Big L and Del
K-Solo, Treach, and G Rap
DJ Polo, Tony D, ODB, Moe Dee, Run-DMC
Ed O.G. , and EPMD, D.O.C., Ice-T, Evil Dee
King Tee, UTFO, and Schoolly D, PE, and BDP
YZ and Chi-Ali, Rakim and Eric B., they were like my therapy
From B.I.G. and Paris, Three Times Dope, and some we’ll never see, and PRT
N.W.A and Eazy-E, and D-R-E was like my GPS
Without him, I don’t know where I’d be

Em Stepdead que conta com a produção de seu colaborador e gênio contemporâneo nas horas vagas, The Alchemist. Com um beat com um quê de rock, um refrão meio tosco, mas chiclete, temos aqui um dos melhores storytellings de toda a obra do Eminem, onde ele descreve a difícil relação entre uma criança e seu novo padrasto de forma cômica, narrativa muito provavelmente inspirada em suas próprias memórias.

One thing that sticks in my craw
When I was six and I saw my stepfather hittin’ my mom
Socked her right in her eyeball
I’m startin’ to think I’m psychotic
With all the pictures that I draw of
Shit that I’ve already witnessed, this probably twisted my thoughts

Marsh apresenta Eminem em uma egotrip ao se comparar a um extraterrestre, no sentido de ser tão bom e fazer tantas coisas inacreditáveis que ele só pode ser de outro planeta (salve pro Messi). E ele não falha em provar, temos aqui 3 versos muito bons, super inteligentes, cheios de metáforas, punchlines e um ótimo flow.

I should just live in a nuthouse
Right now, I live in an igloo (Yeah)
And I’m not chillin’ the fuck out
Treat you like a stepparent, does to a stepchild with red hair and
Plus I get dough like Ed Sheeran, so call me the ginger bread man
I’m a stan of Redman, X-Clan and I’m a Treach fan
But I look up to myself (Yeah)
Like a fucking headstand (Yeah)
So why, w-w-why else would I call myself an alien?
How could I hit a dry spell? (Yeah), I’m named after the wetlands

Little Engine é um dos sons que recebeu menos atenção no disco, mas é um puta clássico na minha opinião. Produzido pelo Dr. Dre, com um beat super estranho e meio fantasmagórico, um flow afiado, diferentes vozes e deliverys, um refrão estranho, mas chiclete ao mesmo tempo e trazendo muito a temática da violência e do humor bizarro que inspiraram o álbum, essa é para mim uma das melhores músicas do disco. Aqui ele fala sobre seus hábitos violentos, brinca sobre o uso de drogas, menciona o assassinato de Sharon Tate pela “família” de Charles Manson e apresenta o conflito que existe na sua cabeça entre a persona do Eminem e seu alterego Slim Shady.

I am the top-selling, who cares?
Stop dwelling, then stop yelling
I’m not yelling, you’re yelling
Smart-aleck, goddammit
Fuck is that? Stop hammering (Goddamn)
That’s what it sounds like in my brain
Much as I fight to restrain
I have the right to remain violent
Any rhyme that I say can and will be used against you

Lock It Up é uma colaboração de Eminem com Anderson .Paak que conta com a produção de Dr. Dre, reunindo dois de seus protegidos na mesma faixa pela terceira vez. Novamente a track é puro fogo, o verso de Paak podia ser maior, mas caiu muito bem no beat e no próprio refrão também. A dinâmica entre os dois rappers foi incrível. Os versos de Em foram como no resto do álbum, afiados, cheio de metáforas, referências e com o acréscimo de alguns ataques aqui e ali para seu desafeto Joe Budden, mas também nada fora do normal ou muito chamativo.

No Regrets traz novamente a produção de D.A Got That Dope, que entrega um som aproximado do trap, mas mais suave e melódico comparado ao resto do disco. O som conta também com a participação do rapper de 26 anos e estrela em ascensão, Don Toliver, que entrega um ótimo refrão. O que chamou a atenção aqui, além de uma variação no flow de Em em alguns momentos, aparecendo mais calmo, é a reflexão sobre suas últimas brigas e ataques públicos, onde o mesmo diz se arrepender pelos ataques a Tyler The Creator e Earl Sweatshirt feitos no seu último álbum, Kamikaze. Se pá ele amadureceu mesmo.

I can make a mistake and erupt and end up takin’ a dump
Or sayin’ some dumb shit, thinkin’ I run shit
Misplacin’ my anger enough to give Earl and Tyler, The Creator the brunt (Yeah)
Shoulda never made a response, shoulda just aimed for the fake ones
Them traitorous punks, ’cause snakes are just cunts
They can get fucked with eight hundred motherfuckin’ vibrators at once (Yeah)

I Will, que som desgraçado, puta que pariu. Na moral. Aqui temos a produção de Eminem e Luis Resto em mais um posse cut com um boombap clássico, além dos elementos meio bizarros e assustadores presentes na batida, temos a temática do álbum muito clara nesse som. Temos também a participação de 3 ex-membros do super grupo de rap Slaughterhouse: Royce, KXNG Crooked e Joell Ortiz. E porra, são todos liricistas de ponta, colocaram a barra muito alta e ninguém deixou cair. Todos os versos foram muito inteligentes. É muito interessante também a temática do som que é descrita por Eminem como o Diabo em sua cabeça obrigando-o a matar o beat. Incrível. As referências são ao filme de terror “O Iluminado” de Stanley Kubrick, ao assassinato de Abraham Lincoln e as homenagens de Eminem ao rap old school do Run-DMC, Wu Tang Clan, Rakim e etc. Como o mesmo muito bem descreve: “nothing means more than respect”. O melhor verso, porém, ficou com KXNG Crooked, ele simplesmente levou o microfone para casa e fez o que quis:

Manslaughter goons under the moonlight
John Wilkes, that’s who I’m in the booth like
Ayy, bruh, I go ham for dead presidents
And everything I record is over your head like a boom mic
Why would you irrelevant fucks want to rebel against us
Knowing your Smith & Wesson has never been clutched?

Eu deixei 3 músicas de fora da seleção, são elas In Too Deep, Never Love Again e Farewell. Todas elas tem em comum o fato de serem músicas de CORNO, um gênero que tem se tornado cada vez mais comum para o trabalho do Eminem. É legal porque o orgulho corno merece ser reconhecido, mas isso não significa que sejam músicas exatamente boas, porque não são. Fica pra próxima, Marília Mendonça!

Esse é um disco que por todos os fatores apresentados acima ficou facilmente entre os 5 melhores da carreira do Marshall Mathers. É muito legal ver o amadurecimento dele no discurso e na própria musicalidade, trabalhando de forma madura com uma sonoridade que ele não tem tanta intimidade (o trap) e aí os features da Young M.A e do Don Toliver mostram isso, mas também trazendo rappers e produtores com os quais ele tem uma PUTA intimidade, como o Royce e o Dr. Dre. Eu acho que esse é o álbum onde o Eminem consegue finalmente, depois de uma década meio perdido, achar sua sonoridade, seu lugar e seus parceiros, porque quando ele trabalha com esses caras, principalmente com o Royce, simplesmente não tem erro, SEMPRE saem sons incríveis das colaborações entre os dois. Eu não hesitaria em dizer que esse disco marca uma reinvenção dele mesmo.

Sobre os pontos fracos: eu entendo que esse álbum é muito longo. FUUUUUCK, álbum de rap hoje em dia TEM que seguir o padrão 4:44 do Jay-Z, dez sons e PRONTO. Isso já é mais do que o necessário para contar uma ótima história, tal qual 4:44. No mais, eu acho que a temática e o conceito do álbum são muito bons, mas ficaram perdidos em alguns momentos. Além disso, penso que o som do Eminem ainda pode soar meio exagerado para alguns ouvidos, obviamente não podemos agradar todo mundo, mas apesar de ter melhorado bastante desde Kamikaze, as vezes parece que ele quer convencer todo mundo de que faz o que quiser com as palavras, de que é o maior liricista de todos os tempos e simplesmente acaba ficando meio cansativo, como se tivesse tentando demais provar um ponto que na verdade ninguém duvida. Não é enjoativo pra mim, mas temos que entender que pra bastante gente é. E mais, ele manda TÃO bem quando varia o flow e tenta coisas diferentes nesse sentido, então porque não fazer mais isso ao invés de transformar o beat em uma corrida pra ver quem chega primeiro.

Apesar de não ser nenhuma genialidade ou algo muito marcante para a cena no momento, esse disco é nada mais nada menos que uma ode ao hip-hop, tanto pelas referências, quanto pela obra em si. E mais, é para TODOS os hip-hop’s. Toda a cultura se beneficia pela reinvenção de um dos maiores de todos os tempos.

Até a proxima, fuckers!

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