“Negócio de Sexo”: A exploração do corpo da mulher e suas várias faces

Penélope Cravo
CARPAS
4 min readFeb 11, 2023

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Quando se trata da exploração sexual de crianças e adolescentes, o Brasil ocupa o segundo lugar no ranking mundial — Jornal A Verdade

Recentemente, veio à tona no jornal português Correio da Manhã, um crescimento na busca de sexo com mulheres grávidas chamado de “negócio de sexo”. De acordo com a notícia, as mulheres conseguem faturar até 5 mil euros por mês (cerca de 25 mil reais), porque como a oferta é reduzida e a demanda é muita, podem cobrar valores mais altos.

A prostituição de mulheres grávidas torna-se, por vezes, a única forma de sobrevivência de mulheres pobres, exploradas no momento em que o corpo feminino está em transformação e merece cuidado em razão de possíveis complicações.

Outra notícia que viralizou há pouco tempo foi o caso de Andrew Tate, acusado de estupro e tráfico humano. Ele iniciou sua fama em um reality britânico em 2016 quando foi expulso porque um vídeo seu espancando uma mulher com um cinto viralizou na Internet. Mesmo assim, foi capaz de fazer sucesso online outra vez através da plataforma TikTok, onde defendia ideias como “sua preferência por namorar apenas mulheres de 18 e 19 anos e a crença de que as vítimas de estupro deveriam ‘assumir a responsabilidade’ pela agressão.” O seu sucesso entre adolescentes e homens adultos reflete como os valores misóginos ainda estão perpetuados nas raízes de nossa sociedade.

Nestes exemplos, estamos falando da exploração sexual da mulher. Se olharmos a questão do tráfico humano, que é o terceiro negócio ilícito que mais gera lucro no mundo, mulheres correspondem a mais de 96% das vítimas, sendo grande parte das vítimas brasileiras ou latinas. Ainda, segundo o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), 86% das mulheres são traficadas para a exploração sexual. Essas mulheres normalmente vêm de países de marcável pobreza, violência urbana, sem políticas públicas e/ou violação aos direitos humanos, sendo levadas a países desenvolvidos como os europeus, que são alvos de trabalho e casamento forçado.

Essas mulheres são obrigadas a se prostituírem para quitar dívidas inventadas e absurdas que buscam mantê-las sob a dominação dos cafetões, criando um ciclo de dependência quase impossível de se libertar.

De acordo com a diplomata soviética Alexandra Kollontai, a prostituição possui raízes econômicas e está ligada à renda não produtiva que prospera quando há domínio do capital e da propriedade privada, enquanto a mulher está vulnerável e dependente dos homens.

Mas as prostitutas profissionais, mulheres que vivem pelos seus corpos, são com raras exceções, recrutadas das classes mais pobres. Pobreza, fome, privação e flagrantes desigualdades sociais que são a base do sistema burguês levam essas mulheres à prostituição. — Alexandra Kollontai

Logo, para Kollontai, a prostituição precisa ser combatida porque ela reflete os valores que pertencem ao sistema burguês, dos homens ricos e brancos que ocupam o espaço de opressão e poder sobre as mulheres; porque a prostituição não é uma escolha: se o fosse, não seriam apenas aquelas que não possuem escolha alguma que estariam neste meio.

Contudo, é impossível combatê-la se a sociedade atual não oferece outro recurso às essas mulheres pobres senão a prostituição.

É possível encontrar diversos relatos, de brasileiras e estrangeiras, declarando que se prostituem para pagar as contas, cuidar dos filhos, porque foram abandonadas por seus maridos e perderam o sustento financeiro ou, ainda, porque sabiam que não ganhariam o mesmo que limpando a casa ou sendo manicure, por exemplo. Então, não há um real direcionamento dessas mulheres para um trabalho que supra suas necessidades para que ela não seja forçada a vender o próprio corpo.

Nesse sentido, é preciso lutar para a emancipação das mulheres que só virá por emancipação de toda a sua classe (a classe trabalhadora) e com leis libertadoras que, como escreveu Lênin:

“A verdadeira emancipação da mulher, o verdadeiro comunismo, só começará onde e quando comece a luta das massas (dirigida pelo proletariado, que detém o poder do Estado), contra a pequena economia doméstica ou melhor, onde comece a transformação em massa dessa economia na grande economia socialista.”

Com a emancipação de classe, poderemos construir uma sociedade onde a mulher deixa de ser um objeto a ser mercantilizado e se liberta das amarras do capital.

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Penélope Cravo
CARPAS
Writer for

Ciências Sociais (UNIFESP). Tópicos de pesquisa giram em torno de: Gênero; Oriente Médio; Sociologia da Arte.