Magia Feérica — Fadas? Feéricos? Sídhe?

Atheris L.
CarpeNoctem
Published in
5 min readJun 10, 2020

Esse texto é uma pequena exposição sobre alguns debates e discussões levantados na bruxaria sobre o que são feéricos e como se referir a eles. Recomendo a leitura do outro artigo sobre fadas “Magia Feérica — Avisos iniciais” antes de começar esse!

Florence Harrison (1877–1955)

Eu estaria sendo muito presunçosa se pudesse te dizer que consigo conceituar fada, pois o debate sobre que são fadas e como classificá-las corretamente abarca várias visões e tradições de magia feérica, desde as wiccanas até as de magia eclética, algumas definições andam de mão dadas e outras batem de frente em seu conceito. Meu objetivo é expor um pouco a você, leitor, algumas das diversas definições de fadas e um pouco sobre a origem dos termos usados para defini-las.

Primeiramente vamos conversar sobre os termos que eu usei na escrita deste artigo e os outros termos usados para esses seres.

O termo Feéricos, fae e fadas são geralmente termos amplos e utilizados para todos os seres encantados que compõem a tradição e prática bruxa e são os que vou usar ao longo do texto, já termos como Sidhe ou Aos sí, que vou dar um pequena introduzida, é um termo específico, “bom povo” ou “bons vizinhos” são termos usados para evitar ofensas, pois alguns não gostam de ser definidos e resumidos a fadas, além de representar a tradição de naturalidade e convívio constante com eles.

A palavra inglesa ‘fairy’ (fada), do francês antigo ‘faerie’ deriva do latim ‘fata’, traduzido como destino/fatalidade. Porém tão comum como o termo fada/feérico termos como “o povo bom”, “bons vizinhos” ou Sidhe são parte da tradição religiosa e mágica ligada à esses seres.

Mesmo que as definições mudem de acordo com o autor ou grupo que utilize-se de magia feérica, o surgimento dessa prática se dá de uma mesma tradição, mais especificamente do povo europeu na era do bronze, principalmente os irlandeses. É importante pontuar que para eles a tradição das fadas é muito forte ainda hoje, ela não só é algo religioso como é parte do dia a dia e do coletivo deles independente da religião, mostrando a força e a incapacidade de ser esquecida. Mas voltando a era do bronze, a história do surgimento das fadas e do seu plano energético na cultura celta se dá pela chegada dos Tuatha de Danann, muito resumidamente eles eram uma segunda geração de Deuses filhos de Danu que governavam e cuidavam dessa região, e que depois de serem derrotados pelos Milesianos criaram um outro plano, uma espécie de submundo/outro plano, se fixando nos montes ocos desse local, assim eles e seus descendentes receberam o nome de Sidhe (pronúncia: shee) que significa “povo das colinas” e seus remanescentes e moradores desse plano astral são as fadas da tradição celta.

Pela definição dos Sídhe você pode perceber que o conceito de fadas perpassa e muito a definição que encontramos em filmes e mídia em geral, eles não são só seres pequenos e brilhantes, como alguns deles são Deuses e Divindades muito poderosos, sem assim, deixarem de ser feéricos/Sidhe. E é dessa maneira que a discussão sobre o que são feéricos e o que não são feéricos se inicia.

Nessa circunstância você já entendeu que eles não habitam no mesmo plano que o nosso e esse é um bom ponto para se iniciar. O plano que feéricos habitam os permite permear entre o físico, espiritual e mental, sendo assim entidades que não só habitam no astral, mas se manifestam na natureza e em seres vivos, coexistindo conosco. Confuso? Deixa eu explanar mais um pouco, feéricos não são apenas divindades ou pequenos seres, são guardiões que fazem a manutenção de cada ser vivo e não vivo da natureza, não se limitam a conceitos e estereótipos, eles são caóticos e neutros e o plano que habitam os dá poder para fazer o nosso plano físico continuar existindo, eles são todas as forças da natureza manifestadas, mas podem vir a assumir uma forma, seja ela mental, física ou espiritual, para aparecer a humanos, assim como os Filhos de Danu fizeram quando foram governantes! podem aparecer como uma flor, assim como podem ser a flor. Definir feericos é um trabalho maior do que parece, eles estão em tudo, sempre coexistindo conosco em outro plano.

“Quando os Filhos de Mil, os antepassados do povo irlandês, vieram para a Irlanda, encontraram os Tuatha de Danann em plena posse do país. O Tuatha de Danann então se retiraram antes dos invasores, sem, no entanto, desistir de sua ilha sagrada. Assumindo invisibilidade, com o poder de qualquer momento reaparecer em uma forma humana como descendentes dos Filhos de Mil, o povo da deusa Dana se tornou e são os fadas, o Sidhe da mitologia irlandesa e romances".

— W. Y. Evans-Wentz, The Fairy-Faith in Celtic Countries

“Então qualquer ser encantado conhecido por fazer a manutenção da natureza é um feérico?”

Sim e não! Vamos lá mais uma vez.

Para algumas tradições fada se limita a os seres conhecidos pela civilização celta, os Sídhe comentados anteriormente e seus descendentes, sao eles: ondinas, leprechaun, pixies e outros que fazem parte dos contos e lendas especificamente da região britânica.

Para outros, como a maioria das tradições de Faery Wicca e Bruxaria, o termo fada fica em aberto sob a visão de “encantados” englobando seres que tenham suas características similares aos conceitos expostos anteriormente. Nessas tradições se trabalha amplamente com seres ligados a natureza, usando fae e feéricos como um termo guarda-chuva e o nome Sídhe como algo dentro da classe de feéricos. A exemplo algumas vertentes que trabalham com Yokai japoneses e Nixies alemães.

Mas e os elementais, eles são feéricos?”

Sim! Dentro das diversas tradições de magia feérica, os elementais são o poder e o próprio elemento manifestado em certo tipo específico de fada, que são tanto os guardiões desse elemento como o próprio elemento em si. Porém eles são específicos! E mais uma vez essa conceituação nem sempre está em todas as vertentes.

Os elementais:

  • Água: Ondinas
  • Fogo: Salamandras
  • Terra: Gnomos
  • Ar: Silfos

Então como eu devo me referir a um feérico quando não sei se ele é Sidhe ou algum outro encantado?”

Para evitar erros ou problemas com feéricos quanto a sua nomeação, geralmente os tratam como “bons vizinho”, “povo bom” e similares. Eles gostam e evita desrespeito. Porém nada substitui, se possível, perguntar ou saber diretamente o que aquele ser é e se referir a ele como o mesmo pede!

Espero que esse artigo tenha te esclarecido algumas perguntas mais comuns sobre como se referir a fadas e feito você entender um pouco mais da complexidade desse seres!

Bibliografia:

  • The Fairy-Faith in Celtic Countries. W.Y. Evans-Wentz;
  • Fairy and Folk Tales of the Irish Peasantry. W. B. Yeats;
  • The Nine Secrets of the Faery Witches. Aline deWinter;
  • The Living World of Faery. R.J. Stewart;

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Atheris L.
CarpeNoctem

Feiticeira alinhada ao caoismo com interesse em formas de magia relacionadas a morte e cultura moderna. Meu objetivo é conseguir difundir conhecimento.