Capítulo 1 — Bem vindos ao Culture Machine

Francine de Oliveira
Carretel Arte & Jornalismo
7 min readMay 11, 2018

(Entra vinheta de abertura do programa “Culture Machine”. Corta para o estúdio ambientado e decorado com elementos inspirados na cultura pop. A apresentadora entra sorrindo ao som de efeitos de aplausos e vivas. Ela para ao centro do estúdio. A moça está vestindo roupas jovens combinando com a temática do programa. Seu cabelo está solto. Ela usa uma tiara vermelha e sua maquiagem é leve).

Fran
Olá viajantes! Sejam bem-vindos ao Culture Machine, o seu transporte semanal pelo mundo da cultura pop!

(Efeitos de aplausos e vivas. Corta para a outra câmera).

Fran
E hoje o tema do nosso programa são as fanfics! Histórias criadas de fã para fã que, normalmente, são inspiradas ou baseadas em universos já existentes.

(Corta para outra câmera com um plano um pouco mais aberto).

Fran
Também existem as fanfics OC (Original Character), que são histórias de criação própria, onde absolutamente tudo, desde personagens até o universo onde ocorre a trama, são criados praticamente do zero. E o tamanho delas varia muito.

(Corta para a câmera anterior com um plano um pouco mais fechado).

Fran
Vai desde uma fanfic de capítulo único (chamadas de “Oneshot”) até as com vários capítulos (conhecidas como “Longshot”). Uma fanfic pode chegar a ter mais de 50 capítulos; pode ser uma trilogia; e até mesmo uma saga com várias continuações. Tudo isso, claro, depende do/a fictwriter (nome dado as pessoas que escrevem fanfics) que escrevê-la.

(Muda para outra câmera com um plano mais aberto para mostrar mais o cenário de fundo).

Fran
Bem, finalizada essa pequena introdução, vamos agora receber duas convidadas super especiais que nos contarão um pouco de como é ser uma fictwriter. Elas escrevem fanfics a anos e já participaram de diversos chats e Fóruns de interpretação online.

(A apresentadora vira-se para a direita e estica o braço para receber as convidadas).

Fran
Sejam bem-vindas a nossa máquina: Minos e Tamires!

(As duas convidadas entram ao som de efeitos de aplausos e vivas. A apresentadora as recebe e as cumprimenta alegremente, indicando-lhes onde sentar logo em seguida. As duas sentam em um pequeno sofá de dois lugares com estampa colorida que harmonizava com o restante da decoração do estúdio. A apresentadora sentou-se em uma poltrona decorada com a mesma estampa, ficando de frente para as duas convidadas. O clima era de descontração).

Fran
É um prazer enorme tê-las aqui no programa.

(Ela pega alguns cartões com o logo do programa de uma pequena mezinha que estava a sua direita).

Fran
Eu tenho aqui algumas perguntas para fazer a vocês, mas não precisam se ater a elas. Podem falar à vontade, me interrompam se for necessário

(As três riem. A câmera mantinha um plano aberto de modo a enquadrar as três mulheres).

Fran
Certo? Sintam-se em casa.

(Rápida pausa).

Fran
Bem, podemos começar?

Minos
Sim.

Tamires
Opa.

Fran
Certo.

(Ela olha nos cartões e depois olha para as convidadas).

Fran
Então, como é ser uma fictwriter?

Minos
Sinceramente eu acho essa questão um pouco vaga, porque acredito que no fundo todos são um pouco fictwriters. Duvido que alguém nunca fantasiou histórias de seu personagem favorito ou se questionou o que ele faria em determinada situação.

(Aqui a câmera faz um plano mais fechado focando na apresentadora que tem uma expressão concentrada enquanto prestava atenção nas respostas. Em seguida a câmera foca na convidada que está falando mantendo o mesmo plano).

Minos
A diferença é que alguns criam coragem de escrever e compartilhar com terceiros, outros escrevem só para si e a grande maioria só fica na imaginação.

(A câmera volta para um plano mais aberto, enquadrando as três).

Tamires
Bom, somos pessoas normais. Trabalhamos, estudamos, temos família. Fanfics são momentos de descontração e às vezes de relaxamento.

(A câmera foca em Tamires usando um plano mais fechado).

Tamires
Usamos o poder das palavras para transmitir o que estamos sentindo ou uma mensagem. Vejo muito da personalidade das pessoas com o seu jeito de contar histórias.

(A câmera volta a focar as três. Ao perceber que as convidadas já haviam dito tudo que pretendiam dizer, a apresentadora faz outra pergunta. Ela se ajeita na cadeira).

Fran
Como é escrever uma fanfic? São momentos de inspiração ou vocês escrevem várias vezes até ficar como gostariam?

(As convidadas fazem expressão pensativa).

Fran
No caso, como seria esse processo quando vocês escrevem?

Minos
Bom, para mim a inspiração é mais do que necessária. É o combustível da escrita. Já aconteceu de eu acordar de madrugada com todo o capítulo da minha história na cabeça, palavra por palavra. E já aconteceu de não conseguir pensar uma linha decente sequer para escrever.

Tamires
Acredito que seja um pouco dos dois.

(As outras duas voltam sua atenção para ela).

Tamires
Nem todos os dias estamos inspirados. Quem nunca empacou em uma determinada parte? Claro que quanto mais perfeita a história, mais emoção você consegue transmitir.

(A câmera foca apenas em Tamires).

Tamires
O processo de criação é complicado. Acredito que cada um tem seu jeito. Às vezes vem de uma música, outras de um filme, ou naqueles momentos reflexivos antes de dormir. Cada um tem seu nível criativo e modos para despertá-lo.

(Câmera volta a focar nas três).

Minos
Sabe, o mais complicado não é imaginar uma cena, mas conseguir descrever em palavras.

Fran
Isso é verdade. Enfrento essa dificuldade a anos, porque já tentei escrever algo e sempre passo por esse problema.

Minos
Imaginar uma cena legal não é difícil, mas descrever ela de forma que todos entendam e consigam visualizar é muito complicado. Quanto mais complexa a cena, pior para descrever.

(Câmera foca em Minos).

Minos
O conhecimento da língua portuguesa também ajuda muito nessa hora. Quanto mais rico teu conhecimento linguístico, mais fácil será descrever uma cena.

(Voz de Tamires ao fundo. Câmera foca nas três).

Tamires
O meu problema varia. Às vezes é descrever e às vezes é visualizar.

(Risos. Minos retoma a palavra. Câmera foca nela).

Minos
Sinônimos nos ajudam muito a não ser repetitivos.

(Voz da apresentadora de fundo. Câmera foca nela).

Fran
É aquela coisa: você escreve e reescreve a cena umas mil vezes e parece que nunca está bom, que sempre falta alguma coisa. É como se faltassem palavras.

(Câmera foca as três).

Tamires
Fato.

(Risos).

Minos
Sim, por exemplo…

(Pausa na resposta. Tamires toma a palavra enquanto isso. Câmera foca nela).

Tamires
Já fiquei meses enroscada em um capítulo, então prefiro fazer a fanfic inteira no Word primeiro e quando termino posto os capítulos um a um. Os leitores são ansiosos e eu mais ainda.

(Risos. Minos retoma a palavra. Câmera foca nas três e, em seguida, em quem está falando).

Minos
Se você ler minha fanfic, notará uma diferença linguística grotesca entre o primeiro e o último capítulo escrito, porque à medida em que fui escrevendo, meu português foi evoluindo. Hoje eu leio e tenho vontade de reescrever tudo de novo.

(Câmera foca nas três).

Fran
E porque não faz?

(Tamires se interpõe na conversa).

Tamires
Eu não faria, porque é um registro da sua evolução.

(Minos retoma a palavra).

Minos
Eu sou daquelas que escreve um capítulo por vida. Começou por semana, depois passou para mês, depois ano… Etc. Ainda nem terminei minha história. Tive vários problemas pessoais e minha vida mudou muito. Hoje trabalho cerca de 12 horas diárias. Não tenho tempo para nada. Fora meu computador que está quebrado e sabe-se lá quando eu poderei consertá-lo novamente.

Fran
Nossa, assim fica complicado. Cabeça cheia demais torna praticamente impossível de criar alguma coisa. Nessas horas parece que tudo se ajeita para “ajudar”.

Minos
Pois é. Eu tenho uma vida muito conturbada. Minha fanfic está parada a anos, mas tenho muita vontade de retoma-la.

(Pequena pausa).

Fran
Ok. Bem, continuando. Para vocês, qual seria a definição de fanfic? Como vocês definem isso? Consideram uma escrita literária? Acreditam que um escritor(a) de fanfics poderia se tornar um escritor por profissão?

Tamires
O novo filme do Harry Potter sobre a vida do Voldemort é a prova que sim. E não foi o primeiro. Já li várias fics que viraram livros.

Minos
Sim, temos muitos exemplos de escritoras que se tornaram profissionais.

Fran
Dizem que 50 Tons de Cinza era uma fanfic. Isso é verdade? Nunca descobri.

Tamires
Eu li isso também. A autora de Crepúsculo também.

Minos
Sim, também ouvi falar que a escritora era uma fictwriter e hoje vive da escrita.

Fran
É incrível isso. Ver uma fanfic se tornar um livro de grande sucesso. Realmente surpreendente.

(As convidadas concordam).

Fran
Bem, próxima pergunta.

(Pequena pausa).

Fran
Que importância tem para vocês ser uma fictwriter?

Tamires
Divertimento, distração, socialização. Por exemplo, conheci a Minos lendo a fanfic dela. Na mesma hora mandei mensagem e estamos com 10 anos de amizade. A arte de contar histórias está na humanidade desde os tempos pré-históricos, porque não criar também?

Minos
Escrever uma história é eternizar um pensamento. Sua imaginação, algo pessoal que se perderia com o tempo, mas que foi salvo pela escrita e compartilhado com outras pessoas. Escrevendo você amadurece seus pensamentos, melhora sua escrita, sua linguística, conhece muitas pessoas, obtém um reconhecimento inesperado. Escrever fanfics te abre um leque muito grande de benefícios.

Fran
Eu complementaria dizendo que escrever fanfics pode dar um rumo na vida de uma pessoa. Ela pode começar isso como um hobby e acabar descobrindo um talento latente e usar isso como meta de vida.

Minos
Sim, é verdade.

(Apresentadora interrompe a conversa).

Fran
Bem meninas, preciso interromper a conversa por alguns minutinhos.

(Ela vira para uma das câmeras que foca nela com um plano mais fechado).

Fran
Nós vamos para um rápido comercial, mas logo o nosso programa estará de volta. Sai daí não, o Culture Machine volta já.

(Apresentadora sorri para câmera. Entra vinheta do programa. Corta para o comercial com duração de 5 minutos).

No próximo bloco >>

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