A Origem d̷a̷ ̷v̷i̷d̷a̷ dos testes — Quem somos, de onde viemos e para onde vamos?

Fábio Correia e Mello
CESAR Update
Published in
6 min readSep 21, 2018
Grace Hopper e a origem do termo bug, literalmente.

Como prometido em 20 de Fevereiro deste ano, guardei a data de 09 de Setembro para falar um pouco sobre o marco mais antigo que também é considerado como referência para a área de Testes de Software. Todo mundo, ou pelo menos quase todo mundo da área, sabe que os nossos dois principais marcos se dão por: O uso do termo BUG pela analista de sistemas da Marinha Americana, Grace Hopper, em 09 de Setembro de 1947 e uma publicação oficial sobre testes em 20 de fevereiro de 1979 (dá uma lida lá também!).

Não há como falar em testes sem celebrar e reverenciar Grace Hopper, tanto pela sua contribuição incomensurável para a computação moderna, quanto pelos feitos dentro do campo das ciências exatas.

Bem a frente do seu tempo, ela se tornou notável por vários trabalhos pioneiros, como programar o primeiro computador digital de larga escala, por criar o primeiro compilador, por se envolver na criação do COBOL e por dar origem ao termo bug ao identificar uma mariposa morta em cima de uma placa lógica de um Harvard Mark II, mariposa essa que estava interrompendo o funcionamento da sua máquina. A história criou pernas e o termo bug(inseto) passou a ser usado no meio da computação. Ela também foi a primeira a debugar um sistema propriamente dito, removendo da máquina a bendita mariposa atraída pelo calor. Em um história de infindáveis proezas e uma carreira brilhante, Grace mostrou a capacidade das mulheres em um meio tão cheio de preconceitos e segregação, desafiando os moldes da sociedade a época.

Harvard Mark II — O painel de controle principal e suas asas laterais.

Com um PhD de matemática em Yale, uma carreira brilhante na Marinha Americana e um extensivo trabalho de pesquisas em Harvard, ela se tornou a segunda mulher a ser homenageada através do batismo de um navio da Marinha Americana, o USS Hopper, um navio da classe destroyer que recebeu seu nome, que ainda está em atividade, inclusive. A ousadia de Grace e sua sempre altiva energia serviram de lema para o navio, que em latim diz: “aude et effice — ouse e faça”.

Hoje ela nos inspira em todos os aspectos, e sua carreira expõe duas características fundamentais de qualquer testador: Ousadia e desafio. Ela costumava dizer:

“Se é uma boa ideia, prossiga e leve-a adiante. É muito mais fácil pedir desculpas do que conseguir a permissão necessária.”

Vivi nas paradas! o/

Não satisfeito com apenas o meu ponto de vista para uma publicação que considero tão importante, busquei Viviane Lyrio, uma amiga de longa data e excelente QA, para trazer a sua perspectiva sobre a importância da ousadia e brilhantismo de Grace, e não só dela, spoiler!

Mais que uma mulher, Grace Hopper!

Grace Hopper, representa não somente um marco, ela também firma a participação da mulher nos próximos avanços “não apenas” tecnológicos.

Professora por muitos anos, ingressou na Marinha (início da II Guerra Mundial) embora não tivesse idade ou atributos físicos compatíveis, seu diferencial era seu conhecimento.
[Abre parênteses]Nessa época várias mulheres trabalhavam nas máquinas fazendo os cálculos matemáticos, antes realizados manualmente! Embora há quem acredite que mulher não se dá bem com ciências exatas.[Fecha parênteses]
Pós-guerra, quando iniciou-se um movimento para colocar a mulher no “lar” [que até hoje eu não entendo], Grace persistiu e consolidou sua carreira. Imagina que a tecnologia é a lua, a Grace estava lá fincando a bandeira feminina, mantendo a porta aberta para as próximas gerações! Foi isso que a Grace fez, lutou pelo direito de estar onde quisermos!

Não consigo explicitar a importância da Grace, sem mencionar a Ada Lovelace e a Margaret Hamilton. Também não sei em que mundo eu vivia, mas só descobri a existência delas depois de alguns anos na área. Como pode a criadora (Ada) do primeiro algoritmo não estar estampada nos livros?

Desde pequena eu gosto do céu, já pensei em ser astronauta! haha
Com meus 6–7 anos, meu pai já me falava de Iuri Gagarin o primeiro “homem” a ir ao espaço, da cadelinha Laika e era fantástico, principalmente para uma criança, saber que é possível descobrir o universo… Mas, porém, contudo, entretanto e todavia…. Eu gostaria de ter ouvido também sobre a Margaret Hamilton (a mulher que viabilizou o pouso na lua), ela desenvolveu o software de voo usado do Apolo 11. Além de codificar um software robusto suficiente para uma missão desse porte, ela ainda previu possíveis falhas humanas, o que de fato ocorreu. Na vida há mais que fluxos principais…

A Ada e a Margaret representam o antes e o depois da Grace! Gosto da possibilidade da Ada ter inspirado Grace e tenho certeza que Margaret foi umas das mulheres que passou na porta que a Grace deixou aberta lá trás, assim como eu tantos anos depois!

Obrigada Grace por representar tão bem a classe e achar o bug, que hoje é o que chamo de profissão! #TesterDay #GraceHopper #womenInTech #GirlsPower #EuTambémQueroDeixarAPortaAberta

CODE LIKE A GIRL! Créditos da foto: LYNN GILBERT, CC BY-SA 4.0, WIKIMEDIA COMMONS

Com duas datas tão significativas, e com a atividade de testes de software desempenhando cada vez mais um papel de extrema importância em praticamente todas as etapas do processo, é importante que saibamos onde nos encaixamos como indivíduos nesse vasto universo de tantas possibilidades e fluxos alternativos.

Somos fruto da era da computação, essa é a nossa origem, surgimos para garantir que todo código faz o que foi programado para fazer, mas será que só checar é o suficiente? Como trabalhamos nossos riscos e quanto de liberdade damos para que as nossas ideias se transformem em processos? Esse questionamento é a base fundamental para estruturarmos os nossos conceitos, ao abordar riscos e assumirmos os mesmos, começamos a habitar uma zona que poucas pessoas se aventuram. Eu me arrisco a dizer que se você só viver "by the book", você morrerá "by the book".

Contudo, não sou eu quem vai dizer para você ligar o drive da loucura e sair fazendo tudo fora do processo, mas posso lhe convidar a se questionar sobre o processo pelo processo, a burocracia pela burocracia. O que você pode mudar substancialmente nos seus hábitos para se tornar um QA mais eficiente? Esse é o ponto principal para sabermos para onde vamos, desconstruindo o aspecto principal das nossas certezas.

No fim, a dúvida que fica é se um bom repelente de insetos ou um mosquiteiro teriam garantido a integridade do Harvard Mark II, mudando a nomenclatura do mais precioso acontecimento das nossas carreiras, o bom e velho bug.

P.S: Deixo uma recomendação de um livro de histórias de ninar para meninas e meninos, é o Histórias de Ninar para Garotas Rebeldes, conheci a obra através de um podcast sobre a Margaret Hamilton. A publicação lista histórias de mulheres fantásticas ao redor do mundo em formatos resumidos, a Grace Hopper também está por lá! Comprei de presente para a minha primeira sobrinha e aprovei demais!

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