William Faulkner sobre a morte de Albert Camus

O Olavista
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2 min readApr 26, 2020

Por William Faulkner

Camus disse que a única autêntica função do homem, nascido num mundo absurdo, é viver, estar consciência da própria vida, da própria revolta, da própria liberdade. Disse que se a única solução para o dilema humano é a morte, então estamos no caminho errado. O caminho certo é aquele que leva à vida, ao sol. Não é possível suportar incessantemente o frio.

Ele se revoltou. Recusou-se a padecer o frio incessante. Recusou-se a trilhar um caminho que leva apenas à morte. O caminho que percorreu foi o único possível que não poderia levar apenas à morte. Ele seguiu a trilha para a luz do sol, sendo aquele que se devota a realizar, com nossos frágeis poderes e nosso absurdo material, algo que não existia no mundo até que o fizéssemos.

Camus disse: “eu não gosto de acreditar que a morte abre-se para uma outra vida. Para mim, ela é uma porta que se fecha”. Ou seja, ele tentou acreditar nisso. Mas falhou. Apesar disso, como todos os artistas, ele passou sua vida buscando a si mesmo e demandando de si respostas que só Deus poderia dar; quando tornou-se o vencedor do prêmio Nobel, liguei para ele e disse: ‘On salut l’âme qui constamment se cherche et se demande’(1); por que ele não desistia então, se não queria acreditar em Deus?

No momento em que o carro atingiu a árvore (2), ele estava ainda procurando e questionando de si mesmo; Eu não ao acredito que naquele instante ele tenha achado as respostas. Não acredito que elas possam ser achadas. Creio que devem apenas ser procuradas, constantemente, por algum frágil membro da absurdidade humana. Da qual nunca existem muitos, mas há sempre ao menos um, e um será sempre suficiente.

As pessoas dirão que Camus era demasiado jovem; que não teve tempo para terminar. Mas não se trata de por quanto tempo, tampouco de quão intensamente, mas se de O quê. Quando a porta se lhe fechou, ele já havia escrito deste lado dela aquilo que todo artista capaz de suportar, como ele, a vida ante a previsível e odiável morte, esperando poder afirmar: Eu estive aqui. Camus estava fazendo isto, e talvez naquele breve segundo ele tenha tido a consciência de tê-lo conseguido. O que mais ele poderia querer?

(1)Louvamos as almas que constantemente procuram a si mesmas, que colocam questões a si mesmas (N.T).
(2) Para saber mais sobre o acidente de carro que matou Albert Camus clique aqui:

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