“Para ser grande, sê inteiro…”

Simone Pereira
CoiSas Que aConTecEm…
3 min readJun 22, 2018

Filosofando a partir de Fernando Pessoa

“…em cada lago a lua toda brilha, porque alta vive.”

Plenitude, estado do que é inteiro, completo; sinônimo de totalidade, de integridade, grandiosidade e em usufruto de vigor.

Pessoas plenas não têm necessidade de competir ou de ter razão, tampouco precisam aparecer, aparentar ou mentir. Elas são transparentes, autênticas, éticas e empáticas. Não querem ‘ter’, querem ‘ser’. São autodeterminadas, não culpam, responsabilizam-se. Desconhecem a ganância ou a mesquinharia, pois vivem no plano da abundância. Vivem numa órbita própria, dançando leves conforme a sinfonia sideral. Não se vê nelas o “lado escuro”, só a face que brilha. Possuem elas os dois lados, sim, mas evidente está que se pode haver equilibro e escolha de qual lado deseja-se mostrar ao mundo.

É possível encontrar pessoas assim. As descobrimos observando suas ações, como elas usam as palavras, como se relacionam e como se colocam no mundo. Elas brilham e se destacam a partir dos holofotes que nós voltamos à elas. Que ser! Que luz! Que beleza discreta! Todes nós admiramos…

Simplicidade, moderação e ao mesmo tempo, transbordante júbilo, fazem parte do “saber-se estar no mundo” próprio das pessoas plenas. Até quando estas sentem orgulho, é um orgulho desprendido, surgido apenas pela alegria da recompensa pelo esforço, pelo objetivo alcançado ou pela certeza dos benefícios coletivos gerados. Ela se comporta como sabendo-se ser o mundo todo num átimo, e por isso mesmo, cuida-se.

Humildade, respeito pelos outros, amabilidade, todos esses sentimentos que nascem de um coração autêntico, são como um imã nessas pessoas. Temos verdadeira atração por seres assim. E os seguimos como a uma maré: eles são a conexão que tanto precisamos com a energia luminosa que também deveria habitar em nós. E mesmo sendo tão poucas no mundo, pessoas plenas nos fazem sentir que a humanidade ainda tem solução.
Que nós ainda temos solução.

Para que possamos igualmente exercer essa humildade, bondade e nobreza, é preciso internalizarmos que a verdadeira conquista está em aprimorar-se, facilitar a vida de terceiros, retribuir e contribuir para o coletivo. E principalmente, agradecer os passos dados na jornada do autoconhecimento, dia a dia, até o apagamento de nossa própria luz. Importa mesmo é luminar de volta as muitas luzes que nos observam. E, com tranquilidade lúcida e desapegada, passar da fase nova à crescente, da crescente à cheia, sabendo plácidos, que a minguante é o que virá na sequência.

Desnecessário é então, exibir conquistas. Aqueles que estiverem à sua volta, perceberão uma “nova você” a cada mutação evolutiva. e mesmo quem não estiver de olho em você, nem precisará saber que é você que contribui para reenergizar e mudar o mundo. Saber que existem mutas pessoas que serão apenas beneficiárias indiretas, é um ‘efeito colateral’ positivo mais do que desejada, um bom motivo a mais para buscar e exercer a plenitude de ser. Afinal, todo mundo merece como carinho, um banho de lua, mesmo que não olhe para o firmamento.

O futuro da humanidade agradece!

Moni Abreu,
Niterói, 21 de junho, 2018

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

Ricardo Reis (Heterônimo de Fernando Pessoa)

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Simone Pereira
CoiSas Que aConTecEm…

Fusqueira letrada e terapeuta agrofloresteira que ama café. Ex cafeóloga que adora escrever e que voltou a ser terapeuta. A vida dá voltas.