Debutando como viajeira em Istambul

Regiane Folter
Histórias que queria ter contado
9 min readOct 16, 2017

--

Turquia?

Se eu tivesse que chutar quando conheceria o primeiro país depois do meu Brasil, provavelmente nunca diria que seria aos 13 anos. E menos ainda que seria a Turquia. Essa foi a viagem que me levou a todas as outras e, além de conhecer uma terra muito distinta da minha, de uma tacada só estive em dois continentes. Para quem não sabe, a Turquia está parte na Europa e parte (a maior) na Ásia. Bom começo de trajetória como viajeira, né não?

Tudo em relação a Turquia foi uma surpresa. Começando pelo convite. Minha madrinha e sua neta, minha melhor amiga naquela época, foram minhas companheiras de aventura. A sobrinha de minha madrinha tinha se casado com um turco e se mudando pra lá. Em 2005 elas decidiram ir visitá-la e tiveram a incrível ideia de me levar junto. Imagina minha loucura: viagem internacional e ainda mais com minha best friend!!! Uma oportunidade única.

Em nenhum momento pensei em dizer não e, por sorte, minha mãe também não. Foi assim que começamos algo que se repetiria muito ao longo dos anos: semanas de preparação em que tanto mamãe como eu organizávamos malas e documentos, preparativos que geravam uma crescente excitação até chegar a uma despedida chorosa.

A ida foi uma revolução de emoções e eu adorei cada segundo. Adorei colocar minha melhor roupa para ir até o aeroporto e esperar horas e horas naquele lugar cheio de gente cool. Adorei todas aquelas filas para sair de uma nação e entrar em outra, emocionada em ser parte daquele cenário tão glamouroso. Adorei as 15 horas dentro do avião e todos os filmes disponíveis na minha mini televisão. Adorei as refeições empaquetadas e gostei tanto do café da manhã que comi mais croissants do que devia e passei mal durante a conexão em Londres.

A primeira vez é inesquecível e hoje dou risada pensando em como mudei minha visão sobre aeroportos e longas horas esperando/viajando por aí. Mas, embora agora eu prefira viajar de pantufa e confortáveis roupas já pra lá de gastas, e embora nem a decolagem ou a aterrissagem me causem frio na barriga, ainda existe algo daquela emoção. Aquela sensação de descoberta, aquela espera, aquela ansiedade pelo que vem. Pelas coisas que ainda não vi, mas que já amo. Porque sei que em questão de horas serão para sempre parte de mim.

Pedacinhos do quebra-cabeça

Não gosto de dizer que conheci países, mas sim que estive neles. Porque cada país é um mundo à parte e nem de longe eu posso afirmar que conheci de verdade cada um dos lugares em que já pus meus pés. Prefiro pensar que conheci pedaços, pequenas partes de um quebra-cabeça enorme, joias de uma coleção preciosa. Conheci ruas, cafés, casas, parques. Conheci um pedaço do todo, e cada um apresentou infinitas possibilidades. Na Turquia, onde estive cerca de um mês, conheci várias paisagens. Estive principalmente em Istambul, onde vivia nossa atenciosa host, mas também passeei alguns dias por Kuşadası e Pamukkale.

É difícil falar com clareza sobre as coisas que vi na Turquia, porque já fazem muitos anos. Infelizmente, muitas coisas eu já esqueci. Mas é também surpreendente que mesmo depois de 12 anos eu ainda lembre de algumas coisas com tanta vivacidade. Como o dia que subimos no alto de um grande edifício para ver um por do sol precioso, que naqueles lados acontece depois das 8 da noite no verão. Ou da variedade de cores, vozes e brilhos do Grand Bazar, um dos maiores centros comerciais do mundo. Ou do sabor da comida que eu nunca imaginaria que se tornaria minha preferida na Turquia: pizza gigante e hamburguês picantes! São lembranças que guardo com carinho e que de alguma maneira me moldaram. Espero poder transmitir ao menos parte das belezas que vi e quem sabe te incentivar a conhecer esse país mágico também!

Istambul: lar por 1 mês

A casa onde nos hospedamos era uma graça, pequenina e confortável. Minha amiga e eu dormíamos na sala, em dois sofás gigantes, em frente a uma grande janela de vidro por onde podíamos ver uma imensidão de água. O Estreito de Bósforo é como uma fronteira que divide o país em dois: metade ásia, metade Europa. Em Istambul, ao menos na época que estive, sentia que todo o país vivia em harmonia nessa dicotomia entre ocidente e oriente que em muitos lugares parece não poder coexistir.

Mas depois de tantos conflitos, governos e religiões, acredito que a Turquia não poderia ser algo uniforme. Em outra palavras, é um país cheio de misturas, nem só uma coisa nem outra, e que por isso é tão espetacular. Um dos meus lugares preferidos em Istambul é um exemplo mais dessa mescla: um grande parque no centro. De um lado, uma imponente mesquita toda azul, com sete minaretes que provavam sua importância hoje e no passado. Do outro lado, um enorme edifício avermelhado que embora tivesse uma configuração de mesquita, qual não foi nossa surpresa ao entrar e descobrir que na realidade havia sido uma basílica católica. Hagia Sophia e Mesquita Azul, uma junto da outra, provando que a tolerância pode existir.

Dentro da Hagia Sofia
A Mesquita Azul

Em Istambul tínhamos uma rotina super movimentada. Todos os dias acordávamos, tomávamos café e saíamos para passear. Nossa host foi uma das pessoas que me ensinou a importância de aproveitar ao máximo uma viagem, de fazer tudo que seja possível para conhecer uma nova realidade ao máximo. Graças a ela, aquele mês de viagem foi intenso e enriquecedor, porque não parávamos quietas e ela sempre tinha um novo lugar, uma nova comida ou uma nova vista para mostrar.

Essa enorme cidade, que embora não seja a capital do país, é a mais conhecida da Turquia. Ao menos para nós, estrangeiros. Depois de muitos anos de guerras e batalhas levadas pela ambição de ter o poder da antiga Constantinopla, muitos reis, sultões e outros personagens da história passaram por lá e deixaram atrás de si castelos, fortalezas e todo o tipo de símbolos para ilustrar seu trajeto e sua glória. Em nossa viagem, conhecemos um pouco mais da história da Turquia e do mundo em nossas visitas a museus, mesquitas, palácios e outros lugares milenares. Aqui deixo uma lista dos lugares mais apaixonantes em que estive e mais informação sobre eles:

Hagia Sophia

Mesquita Azul

Palácio Topkapi

Kiz Kulesi, “a Torre da Menina”

Grand Bazaar (o maior shops do mundo)

Palácio de Verão do Sultão

Galata Tower

Palácio Dolmabahçe

Contrastes

Kuşadası e Pamukkale

Durante essas lindas semanas na Turquia estivemos a maior parte do tempo em Istambul, mas durante alguns dias viajamos até Kuşadası, uma cidade turística localizada na costa do Mar Egeu país. Nessa pequena cidade vivi algumas das coisas mais significativas de toda a aventura, como nadar naquele marzão impressionante e conhecer resquícios de Éfeso, que em seus tempos de glória foi a segunda maior cidade do mundo antigo. São três mil anos de pura história em restos de edifícios, estátuas e outras criações de povos como os gregos e os romanos.

Perto dali também conhecemos um lugar que é uma verdadeira ilusão de ótica: a montanha Pamukkale. À primeira vista parece neve, mas na realidade todo esse branco é mármore em estado bruto. Como se tanta beleza não bastasse, a montanha também abriga piscinas de águas termais e, embora fosse verão e o calor estivesse mortal, nos jogamos e relaxamos depois da subidinha intensa.

Neve????

Quem levei na mala (e no core)

Muitas pessoas fizeram dessa viagem algo especial, mas preciso destacar as três mulheres que me acompanharam mais de perto. Minha madrinha, minha amiga de infância e nossa host/guia turística. Éramos um grupinho muito diferente, desde as idades até experiências de vida, mas para mim éramos as companheiras de aventura que precisávamos naquele momento. Nos ajudamos, nos apoiamos e conhecemos um mundo totalmente novo. Sou muito grata a elas pela oportunidade, e também pela energia que compartilhamos.

Também conheci nativos e assim compartilhar experiências mais imersivas. A família do marido de nossa host nos recebeu de braços abertos eram muito amáveis e hospitaleiros. De uma maneira meio louca a Turquia foi minha casa naquele mês. Ainda era muito pequena e não fiz muitos novos amigos nessa viagem, mas me lembro de conhecer a uma garota turca numa tarde cruzando o Bósforo em uma das incontáveis balsas que tomamos. Nem me lembro o seu nome, mas lembro do rosto dela, do véu negro que ela usava e de como ficamos felizes de naqueles minutos conversar em inglês e praticar o idioma.

Se eu tivesse que escolher de novo o meu primeiro destino internacional, não mudaria nada. A Turquia me mostrou um lado oriental que eu desconhecia e pelo qual me apaixonei. Inclusive elegi próximos destinos graças a essa primeira experiência! É um país que (felizmente!) quebra bastante com as ideias fechadas que muitos temos da Ásia e das nações muçulmanas, porque muitos tipos de pessoas e crenças convivem aí. Harmonia não significa que tudo seja igual, mas sim que todos os lados respeitem igualmente as diferenças dos outros. Isso a Turquia me transmitiu, com suas cores e sedas, com sua arquitetura e seus costumes marcados por tantas épocas e tantos povos.

5 coisas random que nunca vou esquecer…

  • Vista da casa da minha host
    Que céu, que Bósforo, que tudo! Adorava essa vista. Adorava amanhecer e ver o céu azulzinho ai. Adorava ir dormir e olhar o céu violeta de Istambul. Impressionante.
  • O costume de tirar os sapatos ao entrar em uma casa
    Era tudo mais limpinho :) E não sei, é gostoso que o primeiro ato ao chegar em casa seja tirar o sapato apertado e colocar uma pantufla confortável. Hoje faço muito isso aqui em casa também, um costume que está lindo replicar.
  • Tarkan
    O verdadeiro galã turco é o Tarkan. Essa cara de romântico que não vale um centavo e essa voz que a gente não entende nada, mas que soa lindamente me conquistaram! Foi trilha sonora de muitas histórias que inventei quando voltei pra casa (até CD comprei hehe).
  • Cubinhos de açúcar no chá
    Coisa besta né, mas achei tudo haha! Tomávamos muito chá e os cubinhos eram tão bonitinhos. Me sentia fina.
  • Hambúrguer Bambi
    Continuando no tema alimentação, acho que nunca comi um hambúrguer tão BOM! Você não espera muito de um restaurante chamado Bambi, mas posso assegurar que a surpresa é deliciosa. Não é um prato muito típico, mas com certeza foi o mais marcante para mim.
O último entardecer :)

Espero que tenha gostado das minhas lembranças e se interessado ao menos um pouquinho pela Turquia e seus encantos! Outra brasileira muito querida que é fã desse país tão apaixonante é a Nati, e ela atualmente está morando lá. Dá uma olhada nessa entrevista com ela e conheça uma perspectiva mais sobre a Turquia.

--

--

Regiane Folter
Histórias que queria ter contado

Escrevi "AmoreZ", "Mulheres que não eram somente vítimas", e outras histórias aqui 💜 Compre meus livros: https://www.regianefolter.com/livros