Narcoestado

R$ 150 mil para comprar um deputado. E quem manda é o tráfico

Leandro Demori
3 min readJul 15, 2013

— Negócio de vereador aí, eu vou ajudar mais de um, que é pra 2014
— Não, tem que ajudar vários, pô, porque no final, os cara fica amarrado contigo

(…)

— Tu vai me dar essa lista dos que tem chance, chefe
— Nós fazendo quatro vereador, nós manda na cidade, depois manda na Prefeitura

[vídeo]

Rondônia é um narcoestado. A prefeitura de Rondônia, Porto Velho, é o centro de poder de um narcoestado. Investigações mostram que o narcoestado de Rondônia já se burocratizou, como pede o destino de todo grande estado. Uma deputada financiada pelo dinheiro do tráfico de drogas registrou em cartório o nome de quem mandaria em seu gabinete: Alberto Ferreira Siqueira, o Beto Baba, receberia — está registrado em cartório — 33% dos rendimentos da parlamentar, “e ainda dá poder a ele para indicar o chefe de gabinete e mais alguém para um cargo com salário de R$ 3 mil”. Beto Baba pagou 150 mil reais para comprar a deputada, financiando sua campanha. Com ela em mãos (e quantos mais outros deputados?), poderia interferir na administração pública, beneficiar empresas do grupo em licitações, dar vida ao dinheiro sujo da cocaína.

O narcoestado de Rondônia emprega muita gente. Entre os funcionários-fantasma do gabinete da narcodeputada Ana da Oito, que prometeu — em cartório — “compartilhar o mandato” com o traficante, estão um taxista e uma professora de dança. Ambos moram em Porto Velho e jamais bateram ponto na Assembleia Legislativa, onde deveriam trabalhar.

Talvez o taxista e a dançarina tenham inveja de Andréia Macedo Braga, expoente máximo do estado de bem-estar social do narcoestado de Rondônia: ela recebe, “como funcionária fantasma, um salário de quase R$ 6 mil por mês. Ela foi presa, junto com o marido, Fernando Braga Serrão, no apartamento onde moravam, de frente pro mar, em Natal”.

O narcoestado de Rondônia funciona melhor do que muitos estados da Federação.

“Para infiltrar integrantes da quadrilha na política de Rondônia, os bandidos movimentaram mais de R$ 33 milhões e abriram 500 contas bancárias nos últimos cinco anos. O dinheiro era arrecadado com o tráfico de drogas e estelionatos. ”

Maria Eliane dos Reis Soares está morta. Foi, acreditam as autoridades, envenenada aos poucos — almoçava e jantava alguma substância que a fez adoecer. Maria entregou o esquema do narcoestado de Rondônia em 2011: “a mulher do vereador de Porto Velho, Jair Montes, que está preso, foi vítima de um assalto e procurou a delegacia. Nessa época, a polícia já investigava o envolvimento de políticos com o crime organizado. E questionou Maria Eliane dos Reis Soares sobre os gastos de campanha do marido. Ela acabou revelando que o dinheiro vinha do traficante preso esta semana, Beto Baba”.

A esperança deles para 2014 é nós. A nossa eleição pra estadual é quase certa pra 2014, entendeu? (Jair Montes)

“As escutas mostram que, depois de eleito, o vereador passou a estreitar a parceria com os bandidos, para conseguir uma vaga de candidato a deputado estadual nas próximas eleições.”

(é a história de Plínio Madeira que quer se realizar na vida real)

Beto Baba poderia estar à frente de qualquer manifestação antidrogas. Poderia ter tentado financiar os deputados — nada indica que tenha feito isso — que votaram a favor da recentemente aprovada lei que amplia a guerra ao tráfico no Brasil.

Beto Baba é contra a legalização das drogas.

Leandro Demori é jornalista e escritor, autor do livro Cosa Nostra no Brasil, a história do mafioso que derrubou um império.

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