A não violência começa no amor próprio
Quando falamos em violência, logo associamos a uma imagem de dor, sofrimento, morte. É fácil imaginar agressões físicas como exemplos de atitudes violentas e aí pensamos: eu não bato em ninguém, nunca matei, então, não pratico violência. Será?
No último artigo, falamos sobre alguns tipos de manifestações de violência, mas hoje queremos ir um pouco além e propor uma reflexão interna.
Há pouco passamos de cem mil vítimas fatais no Brasil por Covid-19, temos visto diariamente notícias de mortes em detrimento de conflitos em todo o mundo. Já acostumamos com as vidas perdidas nas comunidades, até mesmo quando se trata de crianças inocentes. São números e não mais pessoas. Histórias que não existem mais.
Às vezes até nos conectamos com as vítimas, mas geralmente, temos apatia e incapacidade de sentir a dor dessa violência quando isso acontece distante. Temos mais capacidade de nos importar com as pessoas que morrem se elas são parecidas com a gente, próximas de nós. Será que só assim damos valor à vida?
Aprendemos que só é possível responder a um conflito com violência e não aceitar isso é um exercício diário para procurar uma mudança de intenção, uma vontade de fazer diferente. Uma quebra de paradigma, um inconformismo com o status quo. Nesse sentido, é possível procurar criar conexões de qualidade em casa e no trabalho e concentrar nossos esforços para promover mudanças sociais.
E a violência que praticamos contra nós?
Sim, porque quando chegamos ao ato de machucar alguém, seja fisicamente, com palavras ou até em pensamento, isso significa que a violência interna já aconteceu. Esse é um sintoma de como não estamos nos cuidando, já que a violência é o puro reflexo do medo.
Medo da falta, medo de receber algum tipo de violação, medo de perder algo ou alguém. Quando os nossos medos alimentam uma insegurança, o resultado é hostilidade. E aí descontamos em outra pessoa o que na verdade precisa ser resolvido dentro de nós.
Cultivar pensamentos que não alimentam o nosso amor próprio é uma forma de desrespeito e violência com a gente, por exemplo. São situações que criamos internamente de muita violência e nós praticamos isso todo dia, sem perceber.
Precisamos entender que agir com não violência começa em não violar a pessoa mais importante da nossa vida: aquela que vemos diante do espelho. Até porque nos colocar à prova em determinadas situações que sabemos que vão nos fazer mal é tentar nos encaixar em espaços onde não nos cabem. E isso gera frustração.
Amor: o combustível da coragem
Gandhi falava que só o amor é capaz de nos dar a coragem que precisamos para enfrentar os nossos medos e, só com a coragem, é possível mudar as atitudes perante a vida e o mundo com o qual convivemos. Nesse artigo aqui, também falamos um pouco mais sobre os ensinamentos dele para uma liderança baseada na não violência.
Podemos entender, então, que agir com coragem é agir com amor e isso se fortalece até com o próprio significado da palavra coragem: coraticum, em latim, coração. Mais do que o amor pelas outras pessoas, primeiro vem o amor em cuidar de si, cultivar de dentro e colocar para fora e aí receber de volta.
Só a paz com nossos corações pode refletir na paz com mundo, pois a violência de fora é reflexo de dentro. Esperamos que o nosso conteúdo tenha sido útil para você e, se quiser entender melhor o conceito de não violência, indicamos esse artigo em que também contamos como nos baseamos nos preceitos éticos do yoga para o nosso nome (yama diz respeito à forma como nos relacionamos com os outros, como nossas atitudes atingem quem está ao nosso redor).