Uma dose de inteligência emocional, por favor

O que podemos descobrir quando olhamos para dentro

Gabriella Lopes
Coloco em palavras
3 min readJul 3, 2020

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Recentemente escrevi sobre o maior aprendizado da minha quarentena: viver um dia de cada vez. Nesse período somos obrigados a conviver com nós mesmos na marra, no meio de um turbilhão de reflexões. Com pouco esforço é possível aprender um pouco mais sobre nossos limites, medos, qualidades e defeitos. Nesse contexto, a inteligência emocional tem o potencial de se firmar como chave para entendermos melhor sobre o nosso funcionamento interno.

Mas o que é inteligência emocional?

A inteligência emocional é um conceito da psicologia que foi difundido pelo psicólogo Daniel Goleman. Segundo ele, o ser emocionalmente inteligente é capaz de identificar seus sentimentos e suas emoções com mais facilidade. Não posso falar como especialista, mas sim como praticante. Digo praticante porque a inteligência emocional é um exercício, não se estabelece da noite para o dia. A terapia é uma aliada para desenvolver essa importante habilidade, mas é necessário ter o ímpeto de querer aprender.

Por que estou tendo esse comportamento? O que estou sentindo nessa situação? Por que agi dessa maneira? O que eu poderia ter feito diferente? Questionar é o primeiro passo para tentar compreender e analisar os processos internos. As respostas dessas perguntas dão insumos para potencializar o autoconhecimento, trazendo reflexos nos campos pessoal e profissional.

No mercado de trabalho muito se fala sobre os soft skills, que são as habilidades ligadas ao comportamento humano. Resiliência, organização e felicidade são algumas características que podem ser desenvolvidas a partir da inteligência emocional e que costumam ser levadas em consideração durante avaliações.

Por meio do autoconhecimento entendemos nossas forças e fraquezas, aprendemos a potencializar o que há de bom, expurgar o que não faz bem e atrair aquilo que almejamos. Conhecer a si mesmo é um esforço diário, que leva tempo e traz paz. Quando nos percebemos mostramos ao mundo a nossa essência, somos mais capazes de mantermos relações saudáveis e nos comunicarmos de maneira clara.

Se conhecer é se ver de fora através de uma lupa, dissecar cada detalhe que nos faz ser quem somos. Olhar para dentro pode ser doloroso quando não aceitamos nossas imperfeições, mas é recompensador. O amadurecimento traz a sabedoria necessária para passarmos pelas tantas transformações interiores ao longo da vida. Se estamos aqui para evoluir, façamos-no com maestria.

A filosofia explica

A figura de Sócrates traz uma mudança significativa no que se sabia sobre o conhecimento, já que colocou o foco da filosofia no ser humano e suas relações com o mundo. A famosa frase "Conhece-te a ti mesmo" se tornou uma referência na busca por autoconhecimento e também por conhecimento de mundo. Para o filósofo, não é possível ser feliz sem interrogarmos a nós mesmos.

Ainda no campo da filosofia, Platão prega que “todo aprendizado tem uma base emocional”. Hoje parece óbvio, mas em 400 a.c. a frase foi bastante revolucionária. Estamos submersos em emoções da hora que acordamos ao momento em que vamos dormir e o modo como interagimos com elas é determinante no processo de aprendizagem.

Com a inteligência emocional sabemos lidar com quem somos e enxergamos com nitidez onde queremos chegar. O caminho para qualquer objetivo se torna mais palpável quando nos damos a chance de desbravar nosso próprio eu. Parece profundo, mas é só a vida e suas incríveis nuances. Durante a nossa jornada mudamos de cabelo, endereço, por que não de opinião, motivação ou propósito? Às vezes me pego olhando para trás e dizendo para mim mesma “eu teria feito tudo diferente se fosse hoje em dia”. Mas é claro que essa tomada de consciência vem a partir do amadurecimento, conforme vamos ganhando casca.

Pensando na aplicabilidade do conceito, reconheço, sem esforço, algumas das vezes em que a inteligência emocional me trouxe de volta para a realidade e me fez colocar os pés no chão. Ela foi fundamental nos momentos de crise com a profissão, nos fracassos, nas escolhas e até na maneira de me expressar. Também é útil na hora de dizer não. E sim também. Quando me permito ou quando prefiro dar um passo atrás.

Me conheço nas palavras que eu escrevo e nas atitudes que partem de mim. Me revelo num auto-retrato mutável. E você? Está dedicando tempo o suficiente para se conhecer melhor?

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