A vírgula
Ansiedade palpável como uma vírgula que entra duas palavras antes
Voltar a escrever e assim me propus. Meu compromisso é com o fluxo impublicável, hálito de essência. Só isso.
Não é que eu gostaria que saísse algo decente, mas se a vastidão vocabular e a coesão, que já foram mais colegas, dessem uma olhadinha aqui, não estaria.
Tem um fenômeno estranho que anda acontecendo. Eu vejo a minha ansiedade materializada na escrita. Palpável como uma vírgula que entra duas palavras antes. A vírgula sorrateira que me faz esquecer que existem pontos finais, parágrafos e até ponto e vírgula.
A vírgula. Tudo é sobre ela. E também sobre todas as vezes que troquei 06h por 18h. Vivendo lá na frente, engasgada, sempre a ponto de vomitar.
Uma vez eu chamei de processo estrambólico. A Ferrante chama de desmarginalização.
A falsa esperança de escrever os textos impublicáveis e encontrar uma obra do acaso dia antes ou depois. Relendo ao relento.
A mesma vírgula interrompe o fluxo de pensamentos e me faz ser a mais incompreensível das comunicadoras. Nada com nada. Ninguém entende e eu me agarro ao meu título.
A vírgula entra onde não deve. Me proponho a ignorá-la e fazer como nos tempos de oitava série, salpicá-la aleatoriamente no fluxo da respiração.
A vírgula anda comendo uma série de palavras e não para de se preocupar com o contador de caracteres. A vírgula me obriga a olhar para o relógio e a intersecionalizar com a longitude do texto. Malditas 3 páginas matinais.
Nunca mais escrevi até ter vontade de parar. Escrevo reparando no tamanho, na falta de cadência e em toda a sua aparência. Não tem nada de extensa, coisas que a gente dispensa.