GINE Yourself — Aprendizados do Percurso

Um pouco do que aprendi nos últimos três meses sobre como ser uma pensadora melhor.

Nos últimos 3 meses participei do GINE Yourself, um percurso de aprendizagem autodirigida com mais sete pessoas. A cada semana, definíamos nossas ações de aprendizagem (que podiam ser conteúdos, experiências, pessoas ou redes) e, na semana seguinte, nos encontrávamos para compartilhar aprendizados, desafios e percepções. O texto a seguir é uma síntese, um fragmento muito pequenininho de tudo que aprendi com eles.

Pergunta Norteadora

Começamos nossa investigação definindo uma pergunta norteadora. Em um percurso de aprendizagem autodirigida, a pergunta é um ingrediente muito importante. Além de ser um poderoso lembrete do foco de nossa investigação, ela garante um recorte, um contorno do que iremos pesquisar.

No meu caso, a pergunta foi "Como posso me tornar uma melhor pensadora?".

Escolhi esse tema de investigação porque sentia que tinha dificuldade de aprender de forma mais estruturada. Meu processo era fluido, espontâneo, mas frequentemente pouco aprofundado. Lia muito, consumia muito conteúdo, mas na hora de compartilhar com outras pessoas, não conseguia.

Ao mesmo tempo, acompanhava de longe pensadores que considero extremamente habilidosos. Pessoas como Jordan Greenhall, Daniel Thorson, Richard Bartlett e Bonnita Roy — todos grandes pensadores e comunicadores, capazes de transmitir ideias complexas de forma eloquente, didática e estruturada.

Com isso em mente, defini que "ser uma melhor pensadora" envolvia três competências principais:

1. Leitura de contexto
2. Entendimento profundo de temas
3. Comunicação clara e envolvente

Obs: Essa definição foi levemente inspirada no conceito de soberania do Jordan Greenhall, que eu explico um pouco melhor aqui.. Também foi inspirada por toda essa galera que acompanho e admiro. Pra saber um pouco mais deles, deixo aqui um compilado de referências que moldam a minha forma de enxergar o mundo — inclusive pessoas.

Abaixo, exploro o que pra mim significa cada uma dessas habilidades e também os principais aprendizados que extraí sobre elas ao longo do percurso.

As Três Competências

1. Leitura de contexto

Isso não é um cachimbo.

É a capacidade de entender a realidade em sua volta (ou melhor: de se aproximar dela). Afinal das contas, "o mapa não é o território" e precisamos ter consciência de como a nossa percepção influencia o que entendemos e como nos relacionamos com o mundo.

Principais aprendizados sobre como fazer isso

• Aprenda sobre modelos mentais e vieses cognitivos. Saiba quais operam mais fortemente em você e em que situações.
• Amplie seu repertório (social, afetivo, cultural). Quanto mais repertório, maior o número e variedade de modelos mentais você terá e maior será sua capacidade de interpretar o mundo em sua volta.
• Ganhe consciência sobre suas emoções. Entenda o que está passando dentro de você a cada momento e por que (através de práticas contemplativas e reflexivas como meditação, journaling e yoga, por exemplo).
• Aprenda a acessar diferentes níveis de percepção (se conectando com a sua intuição e com o seu inconsciente, por exemplo).
• Desenvolva a sua escuta — sobretudo a capacidade de ouvir opiniões contrárias às suas, de sustentar pontos de vista conflitantes dentro de você.
• Faça parte de grupos que te apoiem no processo de entender a realidade.

2. Entendimento profundo de temas

In a world where everyone is a click away from being a self-declared expert, learning to think differently is more important than ever. (Rohit Bhargava)

É a capacidade de se aprofundar, entender e dominar temas de interesse. Para isso, é preciso saber separar o sinal do ruído. É também preciso ter paciência e disciplina para focar em apenas um assunto (mesmo que seja apenas por um tempo).

Principais aprendizados sobre como fazer isso

• Leia mais e melhor. Escolha boas (e variadas) fontes, leia ativamente e crie seu próprio método de sistematização e revisão periódica de conhecimento.
• Sempre que possível, viva conceitos na prática.
• Desenvolva pensamento crítico. Entenda como ideias e conceitos são influenciados por diferentes forças (políticas, econômicas, sociais, culturais).
• Deixe ideias fermentando na cabeça. O tempo é um grande aliado no processo de extrair insights — sobretudo quando o tema é complexo.
• Compartilhe o que você está aprendendo. Escrever nos obriga a consolidar e organizar os pensamentos na cabeça, o que garante uma compreensão maior.

3. Comunicação clara e envolvente

É a capacidade de síntese e storytelling, de saber comunicar conceitos de forma clara, didática e envolvente.

Essa foi a competência que menos investiguei sob ponto de vista conceitual. Ao mesmo tempo, ao longo de todo o percurso busquei entender qual seria a minha forma de gerar conteúdo e cheguei a alguns pontos que considero importantes:

Principais aprendizados sobre como fazer isso

• Escreva com o coração. Fale sobre assuntos que realmente te tocam e seja autêntico na sua comunicação.
• Vista o "chapéu" de quem está consumindo o conteúdo. Se coloque no lugar de quem nunca ouviu falar sobre o assunto e experimente diferentes formas de explicar. Evite usar jargões ou palavras em inglês sem trazer o que elas significam.
• Ao estudar um assunto, tente reconhecer padrões. Isso pode te ajudar na hora de comunicar de forma mais estruturada.
• Não cague regras. O mundo não precisa de mais um sabe-tudo. Use a sua escrita em primeiro lugar como forma de desenvolvimento pessoal, como uma maneira de amadurecer as próprias ideias.

Aprendizados com o Processo

Também tirei muitos aprendizados do próprio processo de aprender de forma autodirigida.

• Aprenda a criar conteúdos em estágio beta. A fazer o possível em vez de empacar no perfeito.
• O pior é o primeiro passo. Depois que começamos a escrever, pensar e criar, tudo flui.
• Siga a sua curiosidade e sua intuição. Aprenda aquilo que faz sentido pra você (e que muitas vezes não será o que você acha que deveria querer aprender).
• Busque o equilíbrio entre honrar compromissos e deixar fluir. Entre vencer a procrastinação e se forçar a fazer algo que não quer. Entre ter autocompaixão e ser condescendente consigo mesmo.

Evidências

Se tornar um melhor pensador é uma investigação para a vida inteira. Por isso, no início fiquei me perguntando como eu mediria meu progresso ao longo desses três meses.

Cheguei a três formas principais: minha própria avaliação, o feedback de meus companheiros de percurso e a quantidade de conteúdo gerado.

Em todas elas, o resultado foi muito positivo. Fazer parte do GINE me ajudou a adotar e retomar hábitos que me trazem centramento (como meditar e escrever), a ler de forma mais ativa (e com isso reter mais do que aprendo) e a compartilhar meus aprendizados.

Sinto que foi um primeiro passo de uma longa caminhada. :)

Esse post é um resumo do que aprendi nos últimos três meses sobre como posso me tornar uma pensadora melhor. Ele só existe graças a Alex, , Fred, Isa, JP, Ju, Maria e Pri ❤

Fez sentido pra você? Conta pra mim. Não fez? Conta pra mim também. :)