Como nós planejamos um podcast narrativo?

Vou contar um pouquinho de como é o processo de produção dos podcasts no Comunicast

Victor Amaral Arias
Comunicast
6 min readAug 24, 2020

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Quando o Comunicast surgiu, a Universidade Pública estava sofrendo constantes ataques do Governo Federal. Os cortes na educação foram justificados pelo então Ministro porque nós só promovemos "balbúrdia". Nós sabíamos que era mentira. Na nossa faculdade mesmo temos projetos e pesquisas incríveis como a TOCA — Agência Experimental de Comunicação Social, o CICLO (Grupo de Pesquisa em Comunicação, Política e Cidadania), o Observatório de Publicidade e Sociedade, o Pauta Gênero, Tardes Lúdicas, ComunicArte … enfim, a Universidade Federal do Mato Grosso tem muitas ações, mesmo com todos os ataques.

Manifestações em defesa da educação pública no dia 15 de maio de 2019 em Cuiabá, Mato Grosso. Foto: Com_Texto.

Também era ano de Copa do Mundo Feminina. Nós nos organizávamos para assistir Marta, Formiga, Cristiane, Tamires e companhia jogar a Copa da França no saguão da nossa faculdade. As meninas assistiam do estúdio de rádio. No intervalo elas comentavam o jogo e, quem estava no saguão, ouvia tudo. Quando a Marta fez o gol que a definiu como a maior goleadora de todas as Copas, foi só gritaria e abraços no saguão. Mas elas percebiam que a mídia, repleta de homens, não dava evidência ao esporte feminino fora da Copa do Mundo, muito menos para as esportistas mato-grossenses.

Marta comemora o 17º gol feito em Copa Do Mundo. Foto: Alex Caparros — FIFA/FIFA via Getty Images

E ai, na reunião, nos olhamos e perguntamos: como podemos usar o áudio para fazer com que as pessoas tenham empatia com esses temas? E foi no formato narrativo que encontramos a solução.

Assim nasceu o podcast De Lá Pra Cá e o Ditando Regras. Dois podcasts que adoram contar histórias. O De Lá Pra Cá, conta como a Universidade Pública atinge a sociedade. Já o Ditando Regras fala sobre o esporte na visão de mulheres, feito totalmente por elas.

O formato narrativo foi escolhido pois ouvíamos nele uma maneira de envolver os ouvintes nas histórias. Esse é nosso maior objetivo. Usar todas as ferramentas para te “tirar” do fone de ouvido e ir direto para a vivência das pessoas. É isso que sentimos quando escutamos o 37 Graus, Faxina, Budejo, Vozes - Histórias e Reflexões, Rádio Escafandro, Vida De Jornalista, Projeto Humanos… a lista é longa.

Mas não vamos falar como os grandes podcasts nacionais fazem suas produções. Quero te contar como é o nosso processo de criação que, aliás, está em constante mudança. Por isso, não leve como regra o que vamos escrever. Todos aprendemos lendo, fazendo, ouvindo. Enquanto produzimos, aprendemos o que dá certo e errado nos podcasts. Adapte a produção para sua realidade e para o que você gosta quando escuta seu próprio podcasts.

Bora contar um pouco sobre a nossa balbúrdia!

Projeto

Sempre começamos um podcast com papel e caneta ou Google Docs e teclado. Idealizamos, em grupo, os passos a seguir pensando em como seria o programa. O projeto inicial nunca é o final, sempre mudamos uma coisa ou outra. A jornada nos permite lapidar as etapas de produção. Assim, não seguimos o projeto a risca, nos permitimos explorar diferentes abordagens do áudio. Dessa forma sabemos o que dá certo, o que dá errado, o que gostamos e não gostamos.

O que você quer evidenciar?

A concepção dos nossos podcasts sempre surgiu a partir de um problema que nós percebíamos. No caso do Ditando Regras, elas observaram uma ausência das mulheres na mídia esportiva, tanto de quem conta as histórias quanto a das protagonistas, e resolveram evidenciar. Já o De Lá Pra Cá falou como a Universidade Pública atinge a sociedade por meio dos projetos de extensão e de pesquisa espalhados por diferentes faculdades e institutos. O podcast Vida Em Quarentena, teve a mesma concepção. Em março, no início da pandemia no Brasil, nos juntamos virtualmente para pensar qual seria nosso papel naquele momento. Resolvemos contar histórias, de pessoas e como elas estão vivendo a crise do novo coronavírus. Porque, por mais que no começo a cidade de Cuiabá estivesse em isolamento social, a gente via que tinha muitas fake news, pessoas subestimando o perigo da doença e muitos desertos noticiosos, ou seja, cidades no Mato Grosso que tinham poucas informações sobre o vírus. Nosso objetivo era claro, fazer com que os ouvintes sentissem empatia pelas pessoas e o formato narrativo era o ideal para isso.

Ter algo para evidenciar se torna um propósito da produção do podcast. Vira meio que um objetivo que o grupo abraça. Faz com que cada integrante não pense só nas horas que vai receber depois, mas também em um motivo maior. Meio coach né? Mas ter algo para evidenciar foi um objetivo que uniu a galera.

Público alvo

Depois disso pensamos em público alvo. Pra quem é o podcast? Como seria a melhor maneira de se comunicar com esse grupo de pessoas? Usamos uma linguagem mais formal ou informal? Como as pessoas absorveriam as informações nos podcast? Onde elas escutariam?

É aqui que o Comunicast tem uma experiência bem legal com isso. Quando montamos o projeto do Vida Em Quarentena, logo pensamos nos desertos noticiosos e como poderíamos ajudar. Então nasceu o Minuto Quarentena, que consiste em pequenos áudios que levam informações sobre a COVID-19 por meio das histórias que contamos no podcast para as rádios comunitárias do Brasil inteiro.

Os dois conteúdos em áudio levam as mesmas histórias, mas para pessoas diferentes e de maneiras diferentes. No Vida Em Quarentena tentamos atingir um público entre 18 e 30 anos e nos aprofundamos bastante nos assuntos de uma maneira informal, com músicas e muitas falas dos entrevistados. Para o Minuto Quarentena é bem diferente. O público que esperamos atingir está entre 25 e 40 anos e se informa sobre a COVID-19 pelo rádio. O rádio é rápido e as pessoas escutam sem fone de ouvido, por isso, usamos uma linguagem mais direta, com informações e falas pontuais, mas completas, sem muita música e sons ambientes.

Oque nos ajuda muito (e pode ajudar você também) são as pesquisas e dados disponibilizados na internet sobre o consumo de rádio e podcast. O Kantar Ibope Mídia faz estudos sobre o consumo de mídias no Brasil e disponibiliza o resultado no site deles. Outra pesquisa é a PodPesquisa, feita pela ABPod (Assosiação Brasileira de Podcasters). O objetivo é entender como é o consumo de podcast no Brasil. Para saber um pouco mais sobre as nossas produções, usamos outros meios. Como hospedamos os podcasts no Anchor, temos acesso às ferramentas do próprio agregador e do Spotify. Elas nos ajudam a entender quem são nossos ouvintes, qual a idade deles, quanto tempo escutam o episódio, quantas pessoas escutaram e até dão dicas de como aumentar a audiência.

Esses são os artistas que os ouvintes do podcast Vida Em Quarentena mais escutam. Arrasaram!

Existem muitos outros passos que seguimos mas vou deixar para outro membro do Comunicast contar. Para saber mais, fica esperto no nosso Medium e nas redes sociais. Assim que sair as próximas matérias, insiro o link aqui.

Continue a leitura.

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