Gabriel Estácio
Construção
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6 min readOct 21, 2021

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47: POR MEU BRAÇO

Uma das coisas que mais me atormentam nessa vida de caminhada com Deus é a necessidade que minha carne tem de assumir o controle de tudo. Eu vivo, confesso, entregando o controle de toda a minha vida nas mãos de Deus, e vivo “tomando o controle de volta” quando algo não sai do jeito que eu quero, ou parece demorar demais.

Esse não é um problema exclusivo. Bem que eu gostaria, por amor a você, que isto fosse um erro só meu, mas, infelizmente, esse erro é rotineiro na nossa vida. Apesar de ser algo que gostaríamos de parar de fazer, nós parecemos simplesmente não conseguir. E por quê? Pra que a gente entenda isso, é necessário voltar ao início da aventura humana na Terra.

Quando Adão e Eva foram enganados pela serpente, o argumento usado por ela foi que eles seriam iguais a Deus. Como já comentamos aqui no texto A Criação de Deus, satanás usou do ego e da ambição do homem para conduzi-lo à queda. Puxando um pouco dessa ideia e do que a Bíblia nos mostra, podemos dizer que naquele momento, das poucas coisas que Adão tinha consciência, uma delas é que ele dependia de Deus. Era Deus que sustentava o jardim.

A queda então surge também do desejo da independência. Adão não queria só ser igual a Deus, mas também queria não depender mais D’Ele. Queria ser dono da própria vida, do próprio destino… Em resumo: Adão queria ser seu próprio Deus.

Esse é um desejo que ainda ecoa na nossa carne pecaminosa: queremos controlar tudo que conhecemos, e a ideia de confiar em Deus para isso, mesmo sendo Ele capaz de conhecer tudo e fazer todas as coisas, nos parece mais complicada do que a ideia de um simples ser humano tentar controlar todo um contexto social pra que as coisas cooperem pro cumprimento de suas vontades. Isso nada mais é do que um desejo de ser um deus. Isso nada mais é do que nós tentando realizar o desejo frustrado de Adão: ser igual a Deus.

Imagem e semelhança não são suficientes, queremos ser iguais, maiores até, se possível… Nosso impulso natural é de rebeldia, somos perversos por natureza.

Mas, imagine se fosse possível que controlássemos o nosso contexto para trabalhar ao nosso favor: a humanidade seria um grupo de deuses mimados que viveria em pé de guerra quando as vontades de um fossem contrárias às vontades de outro. Dificilmente seríamos uma sociedade desenvolvida como somos hoje. Se o desejo do coração de Adão tivesse se cumprido, a humanidade teria, no máximo, chegado a Caim e Abel, e depois terminaria. A graça de Deus se manifesta também na nossa impotência e na imprevisibilidade do amanhã.

Ainda assim, insistimos em querer fazer tudo do nosso jeito e conquistar as coisas com a força do nosso braço, e isso tem algumas explicações. A primeira delas é a nossa falta de fé. Cremos em um Deus que já deu sinais grandiosos na história de que tudo está sob seu controle e que nada foge da vontade D’Ele. Mesmo quando achamos que as coisas estão acontecendo do nosso jeito, elas estão, na verdade, obedecendo à vontade D’Ele.

Mas em nosso coração, preferimos crer que aquilo é fruto do nosso esforço, porque falta em nós fé para confiar que esse Ser Todo-Poderoso é capaz de conduzir a nossa vida da melhor maneira possível. Que esse Deus é capaz de dirigir nosso destino de acordo com o propósito que Ele escolheu para nós, mesmo que não faça sentido aos nossos olhos.

Será que Ele não sabe, melhor do que nós mesmos, o que é bom para nós? E mesmo que não fosse bom, não foi Deus quem nos criou? Qual o sentido de criar algo sem um propósito definido? Porque Ele se daria o trabalho de criar algo e deixar que a própria criatura determinasse seu propósito?

A verdade é que Ele sabe o que é melhor não só pelo fato de ser Todo-Poderoso, mas porque ele já tinha determinado nosso propósito nesse mundo de acordo com a sua vontade antes mesmo de nos criar. Obedecer a vontade D’Ele não pode ser visto como algo sacrificial, porque é o natural. É o fluxo normal da dinâmica criação/Criador.

É claro que isso é muito mais teórico do que prático, afinal, na prática a gente tem que lidar com o conflito de controlar nosso destino x confiar em Deus, e obedecê-lo acaba sendo sim um sacrifício, mas não quer dizer que isso seja o certo. O esperado era que a criação obedecesse os propósitos estabelecidos por seu Criador naturalmente…

Nossa teimosia em querer ter tudo sob controle é um reflexo da falta de fé num Deus capaz de fazer muito mais do que imaginamos. Isso não quer dizer que nós não temos fé. Isso quer dizer que nós não temos fé suficiente para confiar N’Ele, e isso é evidência de que não somos nada além de homens perversos.

Outra explicação para essa guerra constante que travamos com Deus é a nossa busca por glória. É muito mais gostoso encher a boca pra dizer: “isso aqui é meu! Eu conquistei com meu esforço! Aplaudam a mim porque fui eu que construí todo esse caminho e conquistei o prêmio sozinho. É mérito meu, é fruto do meu esforço, é tudo meu!”, do que dizer: “eu só tenho isso por causa do Senhor. Quando Ele me deu, fui grato a Ele, e se Ele decidir tomar de mim, continuarei sendo grato, pois é o Senhor quem governa todas as coisas”.

Se afirmar como alguém independente, que é capaz de conquistar as coisas pela própria força, nos parece muito mais atrativo que demonstrar dependência. Faz parte da natureza humana. O problema é que isso é um castelo de cartas: é instável, frágil, e é falso. Um castelo de cartas não é um castelo de verdade. E o que acontece? Ao mínimo contato, no soprar de uma brisa suave que seja, o castelo cai.

Não é que Deus faz você cair pra mostrar que você depende D’Ele. Quem faz você cair é você mesmo, confiando na própria força. É apenas uma questão de tempo até que tudo desmorone e, pela graça de Deus, você perceba que é incapaz de andar sozinho.

Nós dependemos totalmente e exclusivamente da graça de Deus e da misericórdia D’Ele para continuarmos de pé. Se não for Ele segurando nossa mão, nós somos apenas pó.

E perceba o seguinte: Deus não segura a sua mão aonde você vai. Ele só segura a sua mão se você está indo pra mesma direção D’Ele. É lógico, não é? Se vocês estiverem de mãos dadas indo em direções opostas, vai chegar o momento em que vão ter que soltar as mãos. O problema é que quando isso acontece, Ele continua sendo Deus, e você não é nada.

Somos apenas homens perversos, até que a graça D’Ele nos encontre, nos inunde, nos transforme e nos leve na mesma direção que Ele anda, e então é natural: se estamos de mãos dadas com Ele, somos sustentados por Ele e por Ele apenas. É graça, amigos. Apenas graça. Somente ela é capaz de nos sustentar, tanto no dia da benção, quanto no dia da aflição. Só o Senhor é quem tem poder para nos manter de pé. Porque D’Ele, por Ele e para Ele são todas as coisas!

Gabriel Estácio, 21 de outubro de 2021.

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