Ensaio sobre a ansiedade

Maximilian Rox
Conto que te Conto
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2 min readOct 28, 2018

Posfácio

O que eu li no jornal não saiu da minha cabeça o dia inteiro. Pra piorar, o último trem da noite resolveu parar no meio do caminho.

O metrô, antes quieto e exalando suspiros de cansaço, em minutos se encheu em um depósito de xingamentos. Por mais grande que fosse, o vagão estufava de inquietações assim que as pessoas interfonavam para a cabine principal.

Nesse alvoroço, ninguém percebeu que a porta dos fundos abriu lentamente. Talvez nem eu tivesse prestado atenção nisso se minha cabeça não ficasse presa no desespero por sair daquele lugar. E, lá fora, em meio ao tecido claustrofóbico de túneis, havia um pequeno vão que se estendia iluminado por pequenas lâmpadas amarelas.

Eu senti alívio pela primeira vez naquele dia de merda. Como se um carteiro chegasse em sua casa depois de você esperar semanas por uma correspondência. O que quer que fosse, a porta aberta me soou como um convite. Desci cuidadosamente e ninguém se importou com isso. Eles estavam lá. E eu estava aqui.

Pouco a pouco, o som da euforia foi se apagando conforme avançava pelo túnel — até que o silêncio reinou e eu encontrei o destino inesperado de minha caminhada.

Era uma praça pequena com bancos de madeira, mas uma árvore ao centro nascia do próprio concreto. Minha surpresa foi maior ainda quando entrei no pátio aberto à luz da lua e respirei uma tranquilidade como nunca havia sentido na vida.

A calma era… Absoluta. Eu ouvia o som do orvalho caindo das folhas até que se entregava totalmente pela gravidade. Também sentia o cheiro de uma umidade tímida, digna da chuva de sábado em que você fica espalhado pelo sofá.

Aliás, dava pra ouvir eu mesmo pensando tudo isso. Era como se estivesse logo ali, projetado no banco ao lado. Foi então que entrei na brincadeira e sorri; disse oi pra mim mesmo e conversei por horas com aquela sensação gostosa no peito digna dos encontros mais agradáveis que você já teve na vida.

Só voltei ao trem depois de algumas horas. Por lá, encontrei a porta aberta e mais ninguém no vagão. As portas fecharam no mesmo instante em que sentei no banco e eis que o metrô seguiu perfurando a noite como se nada tivesse acontecido. E eu, quem diria, esqueci o que tinha lido no jornal.

Viciadamente

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Maximilian Rox
Conto que te Conto

Jornalista com ascendente em poesia. Community manager; Call of Duty, games, esports.