E a curva de Tuckman no remoto?

E aí galerinha tudo certo?

Há tempos que eu não escrevo por aqui, o trabalho remoto por mais benefícios que a gente tenha colhido, o fato de termos sido forçados a esse modelo de trabalho através de uma pandemia foi uma pancada na saúde mental em muitos. Bruce Wayne Tuckman um pesquisador da psicologia em 1965 publicou sua pesquisa “Tuckman’s stages of group development” e mesmo hoje com trabalho remoto os grupos continuam existindo e interagindo o que ainda faz com que essa pesquisa seja relevante, a gente só precisa ponderar um pouco mais sobre essa dinâmica de interagir bastante através da telinha. 😉

Eu não pretendo explicar a curva de Tuckman no detalhe aqui nesse artigo então se você não sabe o que é, segue esse artigo para ajudar esclarecer do mestre Jorge Audy -> https://jorgeaudy.com/2013/07/11/a-curva-de-tuckman-e-quase-um-oraculo

A ideia desse artigo é fazer uma especie de curadoria para atividades que podem ser trabalhadas em cada uma das etapas da curva, e essa curadoria é baseado na minha experiência como profissional e ser humano então fiquem a vontade para iniciar debates nos comentários, me procurarem nas redes ou eventos presenciais para discordar ou debater algo! Afinal de contas o movimento de comunidades é isso, divergir e discutir para chegar a conclusões melhores que somente a ideia de um indivíduo.

Forming (Formação)

Aqui a etapa onde as pessoas estão se conhecendo e é tipo a lua de mel da curva, então seguem algumas atividades para galera se conhecer tanto remoto quanto presencial:

• Personal maps

A versão online trás algumas oportunidades das pessoas se conhecerem dividindo-as em salas conforme a atividade avança, a ideia dessa atividade é separar as pessoas em duplas onde uma pessoa pergunta coisas sobre a outra em algumas esferas da vida pessoal e ou profissional, eu achei bem interessante usar o Mind Map do Miro na época, apoiado pela criação de salas do Teams.

• 1:1s — Durante a formação do time é importante dedicar tempo de qualidade individualmente com os membros usando escuta ativa e se focando em entender como as relações estão se formando. Se você tiver como faça recorrências semanais durante o forming.
• 16 Personalidades é outra atividade que ajuda as pessoas a se conhecerem melhor, indiferente de você não se conformar com o resultado do teste ou acreditar nele, o objetivo é interagir e conversar para que as pessoas se conheçam melhor. 😄
• Team Wall

No print acima tem mais que só o Team Wall certo, mas quem trabalhava no presencial costumava ter uma parede do time, onde muitas coisas eram acordadas e até comunicadas. No modelo remoto podemos usar boards virtuais para simular esse espaço também. Aqui, nesse exemplo, nós tínhamos o nosso team wall quase todo preenchido (e ao longo da existência do time conforme as retrospectivas avançavam, a gente incrementava, tipo hoje vamos fazer a parte das nossas forças, perícias e áreas de desenvolvimento e assim por diante), um mural com fotos e prints do time, um board de Kaizens (ações derivadas das retros), além de um board com todo o fluxo de valor com acordos claros e de tempos em tempos a gente revisava. Claro que não foi tudo feito no forming nesse board mas começou nessa etapa e o time em questão estava sendo reestruturado ao mesmo tempo que se adaptava ao modelo remoto.

• Statik é um acrônimo para ‘System Thinking Approach To Introduce Kanban’. É uma maneira de introduzir o método que busca uma abordagem evolucionária, ou seja, ele procura entender o momento atual de um determinado contexto e a partir disso pensar qual seria a melhor melhoria a ser feita e observar os impactos da mesma, o método traz bom embasamento no método científico já que busca constantemente olhar para as métricas do fluxo de valor desse contexto onde está inserido.

Outra boa maneira de começar o time e talvez de para seguir a mesma lógica que usei no Team Wall é o Statik e como o Caco - Kanban Expert | Mentoria | Agilidade e o Lucas Guimarães já cobriram muito bem isso no artigo deles, vou deixar só a referencia para vocês aqui, lembrando que é só uma recomendação fazer essa atividade no Forming.

• Kickoff de times (home made hehe)

Essa atividade eu bolei porque em algum momento na nossa tribo a gente precisou reestruturar 3 ou 4 times quase que ao mesmo tempo em função de uma mudança na estratégia da empresa, então como as pessoas a grande maioria já se conhecia só estaria talvez indo trabalhar em outro contexto com novas conexões eu elaborei um passo a passo que visava responder 4 perguntas, que nome esse time teria, quais seriam os acordos iniciais, qual fluxo mínimo de trabalho e seus acordos em cada etapa e o que definiria sucesso para esse time.

Storming (Tempestade)

ahhhhh é aqui que o bicho pega hahaha, mas assim não precisa se desesperar, existem algumas coisas que podem te ajudar nessa fase, enquanto no Forming as pessoas estão se conhecendo e aparentemente está tudo certo, a fase do Storming as pessoas começam a conflitar e discordar um do outro e isso não precisa ser uma coisa ruim! Se bem feita a gestão de conflitos (a Roberta Koche tem uma palestra sensacional sobre isso e apareceu em um podcast da k21 ❤ também) pode começar a criar um ambiente propicio a discordarmos uns dos outros, claro que em algum momento a gente precisa convergir e seguir em frente, mas sem a abertura para discordar o "consenso" pode ser somente a visão da pessoas mais convicta da sala, indiferente dela ser a pessoa melhor preparada para conduzir um determinado tema, em um mundo tão caótico e complexo é preciso dar lugar a lideranças situacionais com bagagem para atuar, e isso só é possível com algumas pitadas de segurança psicológica.

Outra dica nessa fase é não ser roteador de conflitos, trabalhamos com pessoas adultas, então quando um conflito emerge e você se vê em uma situação onde está ouvindo os 2 lados, sugira a seus colegas conversarem entre si para resolverem, de coração aberto, afinal de contas todo mundo está dando o seu melhor para um bom resultado, não faz sentido ficar alimentando essas coisas, as pessoas precisam aprender a discordar, chegar a um ponto de comprometimento e seguir em frente, mesmo que não concorde 100% um com o outro, buscamos aqui um amadurecimento como grupo e cada grupo será único e encontrará seu próprio caminho!

Ah, mas e as atividades? O que eu rodo aqui deus? me ajuda! Aqui o simples bem feito tende a funcionar, mantenha as 1:1s, nas retrospectivas (ou qualquer que seja o momento que você para para fazer melhoria contínua) faça o safety check, pode ser que mesmo fazendo as pessoas não vão querer falar sobre inicialmente, continue fazendo, com o tempo e convivência fazendo uma boa gestão de conflitos as pessoas começam a confiar mais umas nas outras e isso abre espaço para elas falarem mais abertamente sobre.

Algumas atividades para rodar nessa etapa:

• The four L’s aqui vocês terão 4 quadrantes para listar coisas que, amaram (loved), aprenderam (learned), sentiram falta (Lacked) e por fim que desejaram que tivesse acontecido (Longed) com objetivo de agrupar coisas que o grupo pode não estar debatendo no dia a dia, e de fato debater.
• Lean Coffee uma atividade bem simples que visa listar tópicos a serem debatidos e votar coletivamente em quais falar primeiro.

E obviamente esteja preparado para lidar com possíveis saídas do time, porque existem coisas inegociáveis em determinados contextos e nesse momento elas vem à tona e faz parte da vida adulta escolher não estar mais em um time, pois algo ali não conversa com a gente como ser humano, ou por simples escolha pessoal mesmo. Tentar ser perfeito nesse sentido (de não perder nenhum membro do time) só vai te fazer sofrer e honestamente tentar ser perfeito em qualquer aspecto vai gerar sofrerimento… Eu poderia seguir falando sobre esse momento da curva, mas queria deixar algo mais resumido para nortear vocês nesse momento:

"Uma tempestade passa, pense na tripulação e no barco enquanto estiver navegando nela, você será recompensado depois."

Norming (Normalizando)

Então tá! Nos conhecemos, navegamos águas perigosas em meio a tempestades e aqui estamos firmes e fortes! Chegou a hora agora de revisitar nossos acordos, ficar mais a vontade de cobrar esses acordos, porque não é porque está escrito em um board que todo mundo vai seguir, não sair correndo ao minímo sinal de fumaça para mudar tudo que já foi consolidado até então! Precisamos de dados e fatos para nos aprofundarmos nessa etapa da curva, enquanto a gente estiver sendo guiado por pessoas com grande carisma e retórica sem dados e fatos que embasem a direção a gente corre o risco de ficar eternamente no Storming sempre gerindo a próxima crise, senso de urgência é importante, mas a sua vida e a sua saúde é mais, então tomem cuidado ao ponderar sobre essa etapa, muita gente acha utópico sair do Storming em função do momento de mercado da TI, mas eu continuo acreditando que ganhar mais grana a qualquer preço não vale a pena e vou continuar acreditando que a curva de Tuckman é algo valido no processo de evolução de times!

Lembre-se por mais que quando muda uma pessoa no time seja por sair ou entrar uma nova possa existir a possibilidade de voltarmos, nessa etapa é importante reforçarmos coisas como Onbording documentado e bem estruturado, pensem, como vocês gostariam de ser recebidos em um time? assim como uma boa gestão do conhecimento (olha só documentações, quem diria elas são muito úteis no modelo assíncrono de trabalho). Ah, mas eu não gosto de documentar! O negócio é interação o tempo todo! Bom então sinto lhe dizer, mas talvez você curta as tempestades mesmo que isso não esteja fazendo bem para sua saúde. 😢

• Pizza Kanban

aqui está uma boa atividade para rodar nessa etapa, é bem focado em viver mesmo que rapidamente o método Kanban do David Anderson na prática, mas ao mesmo tempo é divertido, foi uma das atividades que mais tive feedback positivo do próprio time! A atividade ja tinha estourado seu tempo e a galera queria continuar jogando! hahaha a Kamilla Queiroz na época foi quem inspirou a rodar no meu time, segue o artigo dela para guiar vocês no Pizza Kanban

Performing (Performando)

Bom se já tem gente achando utópico o Norming imagina o Performing! haha mas assim, aqui cabe de novo falar sobre perfeição por vezes a gente busca isso, mesmo sem saber, inconscientemente a gente busca a perfeição por um motivo ou outro, e isso não é justo nem com vocês mesmos nem com os times que vocês trabalham, logo eu queria deixar algumas dicas aqui de situações que acontecem que você pode considerar como um comportamento de performing. Aí cabe ao grupo chegar a conclusão sobre o que é sucesso daquele contexto, é um serviço prestado? É parte de uma jornada dentro de um produto complexo? Enfim, a gestão de produtos contemporânea entra aqui rasgando, não existe time performando sem impactar negócio e seus resultados, então vamos lá:

• Algo não cheira bem em produção, enquanto o atendimento não reportar nada eu não estou nem aí! 😓 #Bleh
• Algo não cheira bem em produção, deixa eu ver qual impacto disso? 🤔#Yeah
• Algum gestor falando sobre alguma métrica de negócio importante, que assunto chato eu quero aumento azar dessa métrica aí. 😓 #Bleh
• Algum gestor falando sobre alguma métrica de negócio importante, será se a gente resolvesse aquela dívida técnica não iria impactar esse indicador? 🤔 #Yeah

Eu poderia seguir listando mais coisas (alias dependendo de como reagirem eu aprofundo em algum ponto esse artigo, porque a partir dele tem bastante espaço para isso) mas queria deixar vocês com isso hoje, o que quis chamar atenção nos exemplos acima é que um time que está com pensamento curioso e preocupado com o ecossistema onde trabalha, tem uma grande chance de estar em performing mesmo que existam problemas para resolver, afinal das contas nós pessoas de TI somos resolvedores de problemas e isso é a nossa realidade que deveria ser orgulho ao invés de ficarmos nos colocando para baixo, nada vai ser perfeito, mas como tu encara o dia a dia de problemas pode ser libertador! E para não sair sem uma atividade dessa etapa, segue:

• Statik (Aqui também 😆)
• Value Stream Mapping — É um artefato criado para ajudar todos envolvidos a entender o fluxo de valor de um determinado contexto, pode ajudar a entender pontos de hand-off entre times, gargalos. Ela pode ser tão abrangente quanto incluir inclusive estruturas externas a sua empresa, quanto pode ser somente a que o seu time é impactado, tudo depende do seu objetivo com essa atividade.
• Starway to Heaven (Futurospectiva) — Nessa atividade você e seu time vão desenhar um futuro em que queiram chegar e em cada degrau o que precisa ser feito para chegar em um outro patamar como time.
• Event Storming — Atividade mega colaborativa que visa criar em uma linha do tempo uma jornada que faça sentido para algo que você queira melhorar ou resolver.

Galera, espero que esse artigo ajude um pouco a nortear vocês durante o processo de navegar na curva de Tuckman e até a próxima. 😄

PS: Muito obrigado Eluza Pinheiro pela ajuda na revisão do artigo ❤

@TO DO: Faltam algumas referências no artigo assim que der eu atualizo 😅