O que fazer para nunca mais acontecer? Investimento em pesquisa de novas vacinas e medicamentos
A crise já nos custou trilhões de dólares. Sem dúvida trata-se da maior destruição de riqueza da história humana, ao menos em números absolutos (claro que isso se deve, antes de mais nada, ao fato de que o mundo nunca foi tão rico quanto hoje).
Uma parte ínfima desses recursos poderia ter sido aplicada na pesquisa e desenvolvimento de novas vacinas e como o mundo poderia se preparar para uma nova pandemia.
O médico Peter Hotez, renomado especialista em vacinas, diz que sua equipe estava perto de uma vacina contra o coronavírus anos atrás, mas ele não conseguia garantir o financiamento para a vacina na época.
“Se tivéssemos tido esses investimentos desde o início para realizar isso até os ensaios clínicos anos atrás, poderíamos ter uma vacina pronta para ser usada”. Leia a reportagem na integra aqui.
Se o investimento em vacinas teria compensado tanto, por qual motivo ele não foi feito? Economistas explicam isso como sendo um problema de externalidade positiva.
Externalidades “são os efeitos colaterais de uma decisão sobre aqueles que não participaram dela. Existe uma externalidade quando há consequências para terceiros que não são levadas em conta por quem toma a decisão. Ela pode ter natureza negativa, quando gera custos para os demais agentes (poluição atmosférica, de recursos hídricos, poluição sonora, sinistralidade rodoviária, congestionamento, etc.), ou natureza positiva, quando os demais agentes, involuntariamente, se beneficiam, (por exemplo, investimentos privados em infra-estrutura e tecnologia)”. Fonte: Wikipedia.
A externalidade é mais uma das “falhas de mercado” e, como as demais, sua solução passa geralmente por envolver o governo, o qual deverá, no caso, subsidiar mais tais pesquisas.
Uma descoberta de base (por exemplo, a pesquisa por vacinas) “pode permitir determinado avanço científico que proporcione uma tecnologia que irá me beneficiar, mesmo que eu não tenha pago por seu desenvolvimento. Caso este benefício pudesse ser internalizado (só se beneficiasse quem tivesse pago), certamente eu estaria disposto a desembolsar mais do que eu efetivamente desembolsei em um cenário onde há externalidades, ou seja, onde posso me beneficiar da transação de terceiros a custo zero”. Retirado deste texto que possui uma explicação detalhada para quem deseja entender melhor a teoria economia por de trás disso.
Para além do investimento direto do Estado, pode-se pensar em maneiras criativas de tentar envolver os principais atores afetados pela crise do corona vírus. Por exemplo, o setor de turismo e de aviação, de longe os mais afetados, poderiam reservar voluntariamente parte de seus lucros para o financiamento de pesquisa e desenvolvimento na área de pandemias, desde a pesquisa de novas vacinas e medicamentos até a prevenção (veja também a proposta específica que fizemos com relação aos aeroportos e centros de monitoramento de epidemias). Caso conheça os tomadores de decisão nestas áreas compartilhe com eles este artigo.
É claro que, se estes não optarem por voluntariamente contribuir, o Estado poderá se sentir pressionado a impor as medidas. O setor de aviação já sofre grande pressão para que arque com o impacto da emissão de gases do efeito estufa. Trata-se aqui do outro tipo de externalidade dos economistas, a externalidade negativa.
“Se fosse um país, a aviação seria o 7º maior emissor de CO2 do mundo, logo atrás da Alemanha”. Propostas de criação de novos impostos ou taxas neste sentido já estão algum tempo em debate e poderão ser acrescidas de mais uma “taxa pandemia." Fonte.
Ainda que o setor de aviação e turismo não possa ser responsabilizado diretamente pelo novo coronavírus, eles de fato contribuíram para a alta velocidade com que este se espalhou em todo mundo. Tal como a poluição dos aviões, governos e sociedade civil podem passar a encarar a questão como uma custosa “externalidade negativa” destes setores e assim tentar cobrar a conta também destes atores econômicos.
Alternativamente, este setor pode buscar, num processo sadio de autorregulação e responsabilização, tomar por si próprio as redes deste processo e ajudar em tudo quanto ação futura preventiva de novas pandemias, sendo de seu próprio interesse que elas não tornem a ocorrer dado o desastre que estas representaram para seus negócios. Voltemos ao exemplo do médico Peter Hotez e sua equipe que não conseguiram assegurar recursos para sua pesquisa para com a SARS. Qual ínfimo percentual dos lucros das empresas que hoje sofrem com a crise teria sido capaz de financiar essa pesquisa?
De todo modo, caberá a sociedade civil cobrar de todos atores envolvidos maior atenção as áreas de pesquisa médica mais negligenciadas e todas demais medidas preventivas para evitar a próxima crise do coronavírus.
O que você pode fazer?
Agora, caso você deseje fazer uso de seu dinheiro no combate direto a esse problema, considere realizar doações para organizações voltadas ao combate a pandemias ou aos riscos catastróficos gerais. Especificamente para pandemias, sugerimos, em linha com a Open Philanthropy apoiando, o programa de biosegurança da Nuclear Threat Initiative ou a Johns Hopkins Center for Health Security.
O Guia de carreiras 80.000 horas também sugere doar a Johns Hopkins e também para fundação Gates que recém criou fundo específico para combate a COVID-19 e também recomendam doação para o Center for Global Development, tendo neste caso um foco maior em ajudar os mais pobres do mundo que mais serão atingidos nesta crise.
Para riscos catastróficos gerais, sugerimos doações para o Long-Term Future Fund o qual se compromete a sempre buscar investir nas medidas mais eficazes neste sentido.
Outra maneira que você pode ajudar com relação a isso, principalmente se ainda for universitário: considere uma carreira em biossegurança e ajude no combate a pandemias. Sugerimos primeiro ler esse capítulo do Guia de Carreiras: Será que uma pessoa pode fazer a diferença? . Depois disso, leia esse capítulo com uma análise detalhada sobre o impacto capaz de alcançar caso venha a trabalhar no combate a pandemias.
Este artigo faz parte da série: “Coronavírus: o que fazer para nunca mais acontecer”.
Autor: Fernando Moreno