Aprendendo a partir dos problemas

Raquel Mediano
Creditas Academy
Published in
5 min readApr 19, 2021

Você, habitante deste planeta chamado Terra, sabe o quanto as coisas por aqui são complexas, imprevisíveis, mudam o tempo todo… É tudo super incerto, mas uma coisa a gente tem certeza: tudo pode mudar (e vai)! Nos últimos anos, o quanto mudou a comunicação, o transporte, nossas rotinas, a forma de nos relacionarmos!

As distâncias encurtaram. Conseguimos acompanhar a vida de amigos e família a quilômetros de distância. Temos acesso à informação e ao conhecimento… e muitas vezes, quase que em tempo real.

É aí que começa o grande desafio de ensinar. Alunos sempre conectados e acesso ilimitado à informação transformam o professor em mediador e facilitador do conhecimento, ao invés de ter o papel de detentor do conhecimento e das respostas. Se você quer saber lidar com o livre acesso à informação, é super importante conhecer as metodologias ativas de aprendizagem.

Metodologias ativas de aprendizagem são modelos de ensino em que aprendentes têm a responsabilidade de construção do seu próprio conhecimento e se tornam o centro do processo de aprendizagem.

Para saber mais sobre metodologias ativas de aprendizagem e porque utilizá-las, corre lá no nosso post Como é que as pessoas aprendem? Aqui nesse artigo, você vai conhecer uma metodologia ativa chamada Problem Based Learning (PBL), ou Aprendizagem Baseada em Problemas.

Na PBL, o ensino parte da solução ativa de problemas

Treinadores apresentam problemas reais ou situações específicas para discussões e soluções colaborativas, em grupos. Há participação ativa com ideias, percepções e sugestões.

A PBL surgiu no final da década de 60. Ela começou a ser desenvolvida nas universidades McMaster (Canadá) e Maastrich (Holanda), baseada nos conceitos do psicólogo americano Jerome Seymour Bruner e do filósofo John Dewey.

Bruner afirmava que a educação deveria colocar os estudantes em contato com problemas, incentivar a discussão desses temas em grupos e a busca de soluções. Essa proposta foi chamada de Learning by Discovery ou Aprendizagem pela Descoberta.

Dewey, por sua vez, defendia a ideia de que a educação deve ser baseada na reconstrução da experiência. É essa ponte com a realidade que produz o crescimento e motivação para a aprendizagem.

Porém, embora tenham inspirado a PBL, ela foi desenvolvida em outro contexto. Houve uma primeira experiência na Harvard Business School, mas ela foi recriada na escola médica de MacMaster, no Canadá. A estratégia de estruturação de currículo foi criada com a intenção de superar a defasagem entre os anos iniciais do curso, caracterizados por uma formação dominantemente teórica, e o início da prática médica dos seus acadêmicos. A construção curricular por PBL permitiu uma relação de prática/teoria/prática como processo de formação dos médicos desta universidade.

Tudo começa com uma situação problema. O problema, portanto, é o ponto de partida e conduz o processo de aprendizagem, que é organizado em ciclos estruturados de atividades.

Vamos ao passo a passo… como aplicar a PBL?

Para começar, esse processo é feito através da quebra do grupo de participantes em grupos menores — com 5 a 15 pessoas — e, idealmente, cada grupo possui facilitadores para acompanhar a discussão.

As discussões ocorrem em sessões chamadas tutoriais.

Primeiro, um problema real, um case, uma situação específica é apresentada aos participantes. Esse problema é estruturado de forma a conectar a teoria a elementos práticos que precisam ser aprendidos. A partir da leitura e entendimento do problema, seguimos o passo a passo:

  1. Pré-discussão: Os participantes levantam os conceitos desconhecidos. #levantamento
  2. Identificação do Problema: Participantes analisam a situação proposta para definir qual é o problema a ser solucionado. #definir #limitar #analisar
  3. Brainstorming: A partir de conhecimento prévio, os participantes discutirão, levantarão ideias e apontarão possíveis caminhos para a solução. #ativarconhecimentoprévio #ideias
  4. Resumir: Resumem os conceitos, teorias e conteúdos que devem estudar para encontrar a solução para o problema proposto. #estruturar
  5. Pré-discussão: Formulam os objetivos de aprendizagem. #formular
  6. Buscar informações: Momento de buscar conteúdo. É fundamental que os participantes estudem em pequenos grupos, utilizando-se da aprendizagem entre pares. #processocolaborativo #buscar
  7. Pós-discussão: Em uma sessão, os participantes apresentam suas ideias, debatem e propõem uma solução para o problema. Ao final, resumem toda a informação levantada e sintetizam os aspectos mais importantes da discussão. #solução

Todo esse processo é conduzido pelos participantes, assumindo diferentes papéis em cada sessão:

  • Líder da discussão, responsável por conduzir a reunião: pontuar o problema, moderar a discussão, organizar a apresentação dos argumentos e ideias, ponderar a relevância das informações apresentadas, estimular a participação dos membros do grupo, resumir as principais informações, apresentar as conclusões e controlar o tempo.
  • Secretário, responsável por registrar as informações levantadas e as disponibilizá-las para o grupo, para que sejam consultadas na fase de estudo e pesquisa. Este registro contém uma visão geral das ideias e das possíveis soluções que foram apresentadas, além de listar os objetivos de aprendizagem. Na pós-discussão, o secretário faz um relatório, reportando as principais informações e sumarizando os principais aprendizados.
  • Treinador e facilitador, também chamado de tutor, é responsável por supervisionar os tutoriais, mediar e acompanhar o processo, oferecendo feedbacks individuais e coletivos.

Mas será que funciona?

Em 2013 a FGV/EESP ganhou destaque na mídia nacional por ser a primeira instituição de ensino do país a empregar, em seu curso de graduação, um novo modelo de aprendizagem baseado na Solução de Problemas e Desenvolvimento de Projetos (PBL). Saiba mais na matéria publicada pelo O Estado de S. Paulo.

Ao longo do curso de Economia, os alunos desenvolvem dois projetos individuais (no 1º e no 4º anos) e dois projetos em grupo (no 2º e no 3º anos). O grande objetivo é integrar a teoria (estudada através dos problemas) com a prática, tornando os alunos capazes de entender como elas se relacionam.

O primeiro é o Projeto de Carreira, destinado a auxiliar os alunos a traçar estratégias e compreender quais conhecimentos e competências deverá adquirir para alcançar a carreira pretendida.

O segundo e o terceiro são, respectivamente, projetos de microeconomia e macroeconomia. Os alunos vão em busca de situações e problemas reais a serem resolvidos nas duas grandes áreas da teoria econômica, definem o tema específico a ser trabalhado, tarefas, cronograma de atividades e pontuam os fatores relevantes para o êxito do projeto. Sob a supervisão de um professor, os alunos desenvolvem modelos teóricos e/ou empíricos que se apresentem como solução para a situação que se propuseram investigar. Isto exige abordar conteúdos de mais de uma disciplina curricular, relacioná-los com fatos concretos, traçar cenários e destacar as premissas que sustentem suas conclusões.

Na avaliação dos próprios estudantes, há vários efeitos positivos do PBL sobre sua formação, tais como: adquirir o hábito de estudar continuamente, habilidade de trabalhar em grupo, autonomia, aprendizagem autodirigida, liderança, entre outros. Há estudos científicos que demonstram resultados positivos das metodologias de ensino do tipo cooperative learning sobre o aprendizado e outras habilidades socioemocionais.

Para encerrar, trabalhar na aprendizagem a partir de resolução de problemas desenvolve uma das competências mais importantes em nosso contexto atual: criatividade! Mas esse é um papo para um próximo post ;)

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