Como tornar as metodologias ativas em suas parceiras tecnológicas

Técnicas e métodos para o desenvolvimento no digital

Raquel Thomé
Creditas Academy
6 min readMar 15, 2021

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Foto de Andrea Piacquadio

Para muitas pessoas, pensar no desenvolvimento digitalmente não é mais um assunto tão novo assim, mas os métodos e possíveis tecnologias ainda estão em constante teste e sempre abrem uma bifurcação para uma mudança positiva na participação e engajamento de quem aprende. Já citei em um texto anterior as problemáticas da educação digital, que pode ser um lugar com potencial de não-exclusão e extremo proveito do conteúdo. Então, partindo desta premissa, podemos tentar elucidar algumas metodologias ativas e estratégias que tornam a educação digital mais possível de ser de fato aproveitada.

Vou enunciar aqui a respeito das metodologias ativas que apresento, que são muito mais voltadas à atuação no desenvolvimento e na aprendizagem do que na construção do conteúdo. Com isso dito, vamos a elas.

Uma das minhas preferidas é a Aprendizagem de Projetos, também conhecida como PBL — Project Based Learning que tem uma irmã gêmea de nome, a Aprendizagem Baseada em Problemas que veremos logo mais.

A Aprendizagem de Projetos propõe a atividade prática como ferramenta principal de interação. Contrariamente a ouvir a explicação dos detalhes de uma atividade, a pessoa aprendente recebe o convite da participação em ações reais para o desenvolvimento da competência a ser trabalhada. Esta é uma metodologia que tem sua criação na educação formal, especificamente na pedagogia, o que não nos impede de admirar e aproveitar o melhor dela para a andragogia e também para a mais nova queridinha do momento, a heutagogia, uma aprendizagem autônoma independente da faixa etária. Essa possibilidade de adaptação faz com que o lugar de quem ensina seja sempre mutável e de extrema aprendizagem com a realização de testes e aprimoramento, que podemos superficialmente chamar de Agile Learning.

Mas, retomando, na Aprendizagem de Projetos é extremamente importante que as pessoas aprendentes entendam nitidamente quais são os objetivos de aprendizagem da proposta a ser desenvolvida nos encontros. Primeiro, se aponta um objetivo geral, por exemplo: compreender os impactos que a Guerra do Vietnã causou na população ribeirinha do país. E, para introduzir, uma frase ou uma foto são suficientes, porque neste começo a precariedade de recursos instrutivos é o que dá a enorme autonomia e possibilidade de criatividade desta atividade. Aqui se introduz à aprendente a aquisição de conhecimentos e habilidades por meio de um processo de investigação em torno de questões complexas. Gosto bastante de pensar que o projeto pode ser qualquer entrega que resulte do estudo do assunto proposto.

Olhando para esta metodologia aplicada à educação digital, podemos pensar que projetos podem ser abrigados em programas e softwares diferentes, alimentados pelos aprendentes no processo colhendo dados e relatórios para quem ensina. Também, as referências de estudo básicas como o próprio Google e bibliotecas on-line, podem oferecer um acervo digital que facilita o acesso infinito aos materiais, além de minimizar custos que o ensino presencial exigiria.

Seguindo a lógica de bom aproveitamento no desenvolvimento digital, a queridinha do momento é a que tem a mesma sigla da anterior, mas é baseada em problemas: a Problem Based Learning. Embora o desenvolvimento de um projeto geralmente ocorra com a resolução de problemas, uma metodologia tem como foco o projeto, e a outra, o problema. Basicamente, se propõe uma pesquisa de diversas causas possíveis para a resolução de um problema, preferencialmente problemas reais, em um determinado contexto, especificamente da competência a qual se destina o desenvolvimento. São problemas mal estruturados que possibilitam o delineamento de várias questões-problema e a busca de possíveis e diferentes soluções.

Os contextos tangíveis e as consequências apresentadas em uma atividade de aprendizagem baseada em problemas permitem que a aprendizagem se torne mais profunda e durável. À medida que você apresenta lições por meio de cenários da vida real, os aprendentes devem ser capazes de aplicar o que aprenderam, caso enfrentem problemas semelhantes, podendo desenvolver habilidades para a vida toda relacionadas à negociação e à comunicação de seus pensamentos com outras pessoas. Existem muitos prós e contras apontados a esta metodologia, mas posso apresentar mais uma que passa pela mesma polêmica e pode ser muito positiva se for bem conduzida.

O Estudo de Caso, que é uma metodologia bastante antiga, mas que a meu ver ainda é capaz de trazer resultados surpreendentes, consiste em relatos de situações ocorridas no mundo real, e que ao serem apresentados às aprendentes têm a finalidade de preparação para a prática ao mesmo tempo em que se ensina a teoria. Um estudo de caso sempre envolve um dilema, o que pede uma tomada de posição. É rico em descrição dos dados e informações, envolve capacidades de interpretação, análise, elaboração de argumentos, transferência entre teoria e prática, persuasão e abertura para aprender com as outras pessoas, tomar decisões e rever pontos de vista. Não é preciso consenso, o objetivo desta metodologia é elucidar a riqueza de pontos de vista diferentes, apoiados em fundamentos teóricos. Chego a pensar que pode ser ótima para tratar competências voltadas à diversidade ou valores da empresa que busca não excluir pessoas, trazendo a questão da diferença como algo possível no dia a dia.

Pensando que a possibilidade de aprendizagem digital está muito mais na autonomia de quem aprende e de poder conduzir aquilo que realmente faz sentido, vou apresentar mais uma metodologia que considero extremamente rica de recursos e derivações em ótimos resultados na aprendizagem. A Aprendizagem por Pares, também conhecida como Peer Instruction, propõe a alteração da dinâmica de aprendizado para que as aprendentes se apoiem no entendimento dos conceitos e, em seguida, sejam conduzidas pela pessoa que ensina no aperfeiçoamento desse aprendizado por meio de questões dirigidas. Nesta metodologia existe um pré-work proposto, que é ler a respeito do tema ou já encaminhar um artigo específico. Depois, com todas as pessoas juntas, quem estiver conduzindo o encontro faz um questionário de perguntas a respeito do tema já lido. As aprendentes respondem às perguntas e a partir deste feedback, quem estiver facilitando explica os conceitos e problemas do conteúdo proposto. Uma nova rodada de perguntas pode acontecer e as aprendentes se dividem em duplas para que possam discutir suas respostas, entrar em contato com o que cada pessoa entende do assunto e depois apresentar o parecer a todas no encontro, podendo assim responder juntamente e trocar suas impressões. Neste caso, o uso das tecnologias digitais é fundamental nessa metodologia apresentada, porque processos que envolvem a automação e a repetição de dados são objeto de desenvolvimento pelo uso de analytics e podem ser incorporados nos processos de aprendizagem, de forma a gerar mais tempo para se dedicar aos resultados quando se trata de realmente direcionar o aprendizado ao ser aprendente.

As trocas, automações e descentralizações do lugar de quem ensina levam de encontro à última metodologia que eu gostaria de apresentar, a Sala de Aula Invertida que é também conhecida como Flipped Classroom. Nessa metodologia, a pessoa que ensina vai produzir vídeos dos conteúdos, que usualmente fariam em sala, e disponibiliza on-line para ser acessado em casa ou no momento escolhido. O que tradicionalmente é feito em grupo e ao vivo passa a ser executado individualmente. O encontro ao vivo passa a ser um e spaço para tirar dúvidas e realizar outras atividades, tais como as de laboratório (atividades preparatórias para o próximo encontro) e resolução de problemas. Neste caso, ao utilizar-se das tecnologias digitais, a pessoa que ensina modifica substancialmente o seu papel em “sala de aula”, que passa a focar na aprendizagem, tornando as pessoas aprendentes responsáveis também por esse processo, o que é um incrível avanço.

Estas são algumas das metodologias ativas que considero serem focadas na aprendizagem e não puramente no ensino. Poderia citar mais recursos que fazem com que o desenvolvimento no digital seja um lugar subversivo de melhorias, mas vou me conter e deixar para um próximo texto. Não sei dizer se todas são metodologias ativas ou técnicas digitais de aprendizado, mas fazem seu papel na desaprendizagem da pessoa que ensina e traz ao palco a pessoa que aprende.

Referências: Metodologias ativas e tecnologias digitais: aproximações e distinções — de Rosilei Ferrarini, Daniele Saheb e Patricia Lupion Torres

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