Linha de Pesquisa Mídias e Processos Audiovisuais

Fabricia Bogoni
Das Teorias
Published in
9 min readJun 7, 2016

Por Fabricia, Fernando, Guilherme, Kélliana, Lidiane, Rumenig e Vanessa

O Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da UNISINOS é constituído por quatro linhas de pesquisa, as quais possuem perspectivas de abordagem dos fenômenos comunicacionais bastante distintas. A linha de pesquisa 1, Mídias e Processos Audiovisuais, conforme o próprio nome indica, estuda essencialmente os produtos audiovisuais e as suas mídias. Os trabalhos alinhados a ela investigam a significação, a produção, a circulação e o consumo do audiovisual a partir da estética, da técnica e da linguagem assim como do devir cultural, da estratégia e da economia política dos meios.

Em 24 de maio de 2016, na disciplina de Teorias da Comunicação, realizou-se um seminário específico sobre a LP1, o qual teve como ponto de partida dois textos que dão a ver autores, conceitos e metodologias da linha. Os sete novos alunos de Mestrado da LP1 — Fabricia Bogoni, Fernando Beretta Del Corona, Guilherme Malo Maschke, Kélliana Braghini, Lidiane Mallmann, Rumenig Pires e Vanessa Furtado — conduziram esse seminário a partir de duas frentes de abordagem:

1) apresentação geral da linha

O que estudamos? Quem são nossos professores? Qual é a trajetória acadêmica deles? O que pesquisam atualmente? O que é o grupo de pesquisa TCAv? Quais são as nossas dinâmicas de grupo? O que é o evento Semana da Imagem?)

2) apresentação dos textos:

Trânsitos e conectividades na web: uma ecologia audiovisual, de Suzana Kilpp e Sonia Montaño

Novas mídias como tecnologia e ideia: dez definições, de Lev Manovich.

O PPT do seminário pode ser acessado aqui.

Nesse relatório, recuperam-se brevemente os dois textos para, a partir deles, evidenciar algumas perspectivas de abordagem da LP1 em relação ao audiovisual como produto comunicacional. Além disso, apresentam-se algumas imagens que, de certa forma, dão a ver tanto os objetos pesquisados pelos alunos, quanto a diversidade de audiovisuais estudados na linha.

Trânsitos e conectividades na web: uma ecologia audiovisual é um artigo redigido por Suzana Kilpp e Sonia Montaño sobre a ecologia do audiovisual da web. Nele, verificam como a plataforma Justin TV enuncia o vídeo ao vivo a partir de sua interface. Nesse movimento, percebem as relações desse tipo específico de audiovisual da web com o lugar em que se insere, o site Justin TV, de onde emergem sentidos de trânsito e conectividade. Para as autoras,

“[…] o trânsito e a conectividade, enunciados como tais, são, na verdade, as mais decisivas experiências de imersão na informação que nos são ofertadas na web”. (KILPP; MONTAÑO, 2012, p. 141).

Contudo, para além da temática do artigo, que se constitui em um exemplo de como investigações sobre o audiovisual podem ser realizadas na LP1, destaca-se a aplicação da metodologia das molduras e a adoção de uma perspectiva ecológica.

A metodologia das molduras é uma proposta da pesquisadora Suzana Kilpp que articula conceitos e procedimentos metodológicos para estudar aquilo que engendra o televisivo, os construtos. Nesse caso, ela foi atualizada para estudar aquilo que engendra o audiovisual da web, os seus construtos específicos. Aqui, então, é possível conhecer uma metodologia da LP1 e entender como ela pode ser aplicada em outros audiovisuais, para além da TV, que serviu de base para a proposta de Kilpp.

Já a perspectiva ecológica é utilizada para pensar o meio, o ambiente ali constituído ou o “mundo” ali engendrado, as relações que ali ocorrem entre imagens, tecnologias, estéticas e pessoas. Dentre os autores citados no artigo, Marshall McLuhan é uma figura importante para a LP1. Como foi discutido na aula sobre a Teoria do Meio, a sua proposta de pensar que o meio é a mensagem ajuda a perceber as especificidades para além do conteúdo. Outras apropriações são possíveis, e a professora Sonia Montaño é a referência na linha quando se trata de McLuhan.

Suzana Kilpp e Sonia Montaño são pesquisadoras e professoras da Linha de Pesquisa 1, Mídias e Processos Audiovisuais, do PPG em Ciências da Comunicação UNISINOS. Kilpp desenvolve pesquisas sobre televisão desde 1996. Em sua tese de doutorado, formulou o conceito de ethicidade televisiva e propôs a metodologia das molduras. Em seu atual projeto de pesquisa, estuda a TV nos dispositivos móveis. Montaño pesquisou televisão no TCC (2002) e no Mestrado (2007) e plataformas de vídeo no Doutorado (2012). Em seu atual projeto de pesquisa, que dá continuidade ao trabalho do Doutorado, investiga a ethicidade usuário enunciada na interface gráfica da plataforma de vídeo YouTube e os usos e apropriações ali permitidos aos usuários.

O texto de Lev Manovich, Novas Mídias como Tecnologia e Ideia: dez definições, é, em suma, um ensaio sobre o crescimento das novas mídias. Ele traz uma contextualização — desde as grandes exposições de arte em novas mídias até seu amadurecimento no final dos anos 90 — e a chegada de uma “crise”: é preciso um campo especial de arte em novas mídias? A seguir o autor enumera 10 definições sobre novas mídias. Destaca-se aqui algumas delas.

1 — Novas Mídias x Cibercultura: de acordo com Manovich, são dois campos de pesquisa distintos, um com ênfase em fenômenos sociais ligados à internet, e outro ao estudo dos novos objetos culturais capacitados pelas tecnologias de comunicação em rede.

2 — Novas mídias como tecnologia computacional utilizada para distribuição: nesse tópico, questiona-se o que, afinal, são esses novos objetos culturais. Para o autor, as novas mídias são objetos culturais que usam a tecnologia computacional digital para distribuição e exposição, como, por exemplo, a internet, os sites, os jogos de PC. Os objetos que usam computação para produção e armazenamento, mas não a utilizam para a distribuição final, não são considerados novas mídias, como, por exemplo, os programas de TV, os filmes, as revistas, os livros, etc. Existe um problema, segundo o autor, com essa definição: 1) ela precisa ser revista a cada ano devido às “inovações” (como a da TV analógica para a digital, por exemplo); 2) o termo “novas mídias” pode perder a especificidade se a maioria das formas de cultura usar distribuição computadorizada; 3) ela não diz nada sobre os efeitos da distribuição. É preciso buscar a semelhança entre os objetos (sites, jogos, etc.) por serem expressos por meio de um PC.

4 — Novas mídias como software: Meio/Conteúdo. Quando Manovich trata das novas mídias no sentido das mídias digitais — e, especialmente, do computador, surge novamente a questão sobre a diferença entre um meio e o seu conteúdo — uma ligação com os estudos de Marshall McLuhan, uma ocorrência frequente nos escritos de Manovich. Antigamente as tecnologias possuíam meios diferentes e específicos para serem lidos e consumidos. Com o advento da tecnologia digital, diferentes conteúdos se tornam acessíveis e, de maneiras inéditas, fora dos seus meios comuns. Essas novas tecnologias também mudaram a maneira de se acessar esses conteúdos com sua conversão para data, possibilitando, por exemplo, a procura por tags, do banco de dados, através da metadata.

5 — Novas mídias como o mix entre convenções culturais existentes e as convenções do software: Toda mídia é uma mistura de tecnologias antigas com novas, redescobertas e adaptadas. Mais uma vez na obra de Manovich, isso cria um diálogo com os estudos de McLuhan, especialmente seu conceito das Leis da Mídia. Manovich comenta que a parte criativa, porém, ainda é subordinada à criação humana, com a técnica das novas mídias gerando efeitos antes impossíveis. Outros elementos de mídias antigas ainda continuam sendo adaptados nas novas mídias, como, por exemplo, o conceito de páginas, a estrutura retangular da tela e um ponto de vista móvel no computador. Na visão moderna, uma imagem de representação era para ser contemplada, e não interligada. Com o desenvolvimento das interfaces gráficas, redefiniu-se a imagem como uma oposição figura-fundo, fundo passivo (background) e ícones e hiperlinks ativos, que estimulam a interação. Da mesma maneira, técnicas digitais modernas de navegação em espaços 3D ainda se utilizam de conceitos originários da gravação analógica, como zoom, pan, tilt, etc. Todos esses exemplos ajudam a entender como funciona essa mistura de elementos antigos com novos em novas mídias.

6 — Novas Mídias como a estética que acompanha o estágio inicial de todas as modernas mídias e tecnologias de comunicação: Manovich propõe que uma nova mídia é exatamente o que seu nome sugere; que, efetivamente, ao longo do tempo, mídias diferentes exercem papeis semelhantes; que é possível procurar certas técnicas estéticas e tropos ideológicos que acompanham todas as tecnologias das mídias modernas e da telecomunicação — como permitir “melhor democracia”, dar melhor acesso ao real, contribuir para “a erosão dos valores morais”, destruir a “relação natural entre os humanos e o mundo”. Ele faz uma aproximação entre o cinema dos anos 60 e o advento de câmeras mais leves e tecnologias que permitiram o surgimento do cinéma vérité com o cinema independente dos anos 90 e a utilização de câmeras digitais, assim como com o surgimento de movimentos cinematográficos como Dogma 95. Da mesma maneira, ele sugere que diferentes mídias podem seguir avanços e percursos semelhantes. Ele usa como exemplo o CD-ROM, que passou de uma exibição de slides estáticos para a sobreposição de elementos móveis sobre estáticos até chegar em imagens em movimento, espelhando o movimento que o cinema passou da lanterna mágica, para o praxinoscópio até o cinematógrafo. O autor reconhece que essa proposta apresenta limites, e que não é sempre tão circular. Novas funções surgem com o tempo, outras desaparecem. Algumas estão em constante repetição, outras são redescobertas. Para ser completamente fiel, precisa-se relacionar a história da tecnologia com histórias sociais, políticas e econômicas no período moderno.

Nos demais tópicos Manovich destaca que a função do computador é basicamente executar algoritmos. Todavia, segundo o autor, os algoritmos já existiam antes de serem utilizados pelos computadores. Compara-se as técnicas de pintura renascentistas aos algoritmos atualmente usados para o processamento de imagem. Embora com seu procedimento semelhante, a computação abre possibilidades inéditas como a comunicação em tempo real e o controle de dispositivos em tempo real, além de multimídias interativas, síntese musical em tempo real, entre outras possibilidades técnicas e estéticas.

Seguindo suas especulações, Manovich relaciona as realizações artísticas das vanguardas da década de vinte, em especial, a vanguarda russa, com as possibilidades de produção dos softwares. O que se faz e pode fazer com as tecnologias digitais já foi feito , em certa medida , pelas vanguardas, tornando o software uma metamídia, como uma revisão das produções das vanguardas. Através da manutenção dos conteúdos produzidos, as novas formas de arte englobam uma revisão das produções passadas. Além de articular as vanguardas russas da década de 20, Manovich relaciona a produção dos anos 60 com happenings, instalações, performances com a cultura de software, onde este por definição seria uma “obra aberta”, com possibilidades de efeitos e montagem diversos. Como diz o autor: “O maior filme de vanguarda é um software como o Final Cut Pro ou o After Effects, que contém as possibilidades de combinação de milhares de trilhas separadas em um filme individual, além de estabelecer várias relações entre todas essas trilhas diferentes — e, portanto, desenvolve a idéia vanguardista do filme como uma partitura visual abstrata para seu próprio fim e além”.

Lev Manovich é de origem Russa, reside atualmente nos EUA. É professor e pesquisador na City University of New York (CUNY) onde direciona o projeto Software Studies Initiative. Seus interesses atuais envolvem história da arte digital, análise cultural através de Big data e estudos de software. Conhecido por seus trabalhos direcionados à origem e desenvolvimento das novas mídias e tecnologias digitais. Publicou livros relevantes sobre o assunto como The language of new media, Soft Cinema: Navigating the Database e Software Takes Command.

O audiovisual como objeto de estudo dos novos alunos de Mestrado da LP1

Fabricia Bogoni
Fernando Beretta Del Corona
Guilherme Malo Maschke
Kélliana Braghini
Lidiane Mallmann
Rumenig Pires
Vanessa Furtado

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Fabricia Bogoni
Das Teorias

Jornalista, Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos, Bolsista do CNPq.