Entrevista com Bernardo Loureiro

Rodrigo Medeiros
datavizbr
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4 min readAug 4, 2019

Essa semana tivemos a oportunidade de entrevistar o Bernardo Loureiro, do Medida SP, um laboratório de visualização urbana. Primeiramente gostaríamos de agradecer ao Bernardo por aceitar a entrevista e por compartilhar conhecimento com a comunidade de visualização de dados no Brasil.

Projeto Gênero e nomes de ruas

O Bernardo é mestre em Desenho Urbano pela Parsons School of Design, com foco em uso de dados e tecnologias para urbanismo. Desenvolve análises, visualizações e aplicativos voltados para problemas urbanos.

Você poderia me contar um pouco da sua trajetória com visualização de dados? Poderíamos nos contar também como iniciou o MedidaSP?

Me especializei em análise e visualização de dados durante meu mestrado em urbanismo. Estudei na Parsons em Nova York, como bolsista do programa Ciência Sem Fronteiras do governo federal, e lá tomei contato com um ecossistema muito ativo de pessoas trabalhando com dados e mapeamento.

Após o mestrado e de volta em São Paulo me deparei com um grande volume de dados abertos. A Prefeitura de São Paulo havia lançado o portal de dados espaciais Geosampa recentemente, e havia poucas análises feitas sobre esses dados. Comecei a desenvolver análises e publicar online, e assim nasceu o Medida SP, através do qual também passei a dar cursos e consultoria na área.

Percebi no seu trabalho o uso de várias ferramentas (PostGIS, Highcharts, Mapbox, CARTO, QGIS), linguagens de programação (SQL, Javascript, Python) e frameworks (D3, Odyssey.js, AngularJS, Node. js, Leaflet, MapboxGL) para a criação de visualização de dados. Como você organiza seu fluxo de trabalho ou, melhor, quais tipos de abordagem e/ou metodologia você utiliza para decidir quais dessas serão utilizadas em cada projeto?

Todo projeto começa no papel e caneta, e acho que isso é um dos maiores aprendizados que tive da minha graduação em arquitetura e urbanismo pela FAU USP. Depois, há um processo em que transito entre o papel e o computador. Essa é geralmente a fase em que faço análise exploratória de dados e avalio possíveis ferramentas de visualização.

Eu sou agnóstico em relação a ferramentas: acho que a melhor ferramenta é aquela que resolve o projeto bem e de um jeito eficiente. A medida que você vai desenvolvendo mais projetos você passa a ter uma intuição melhor de qual vai ser a ferramenta mais apropriada para o problema. Mas é importante estar sempre aberto para avaliar novas ferramentas e frameworks em qualquer projeto. Se o projeto começa a virar uma batalha constante entre você e a ferramenta é um bom sinal de que há algo errado e você deve reavaliar o que está fazendo.

Entre todas essas ferramentas, linguagens e frameworks, quais você mais gosta de trabalhar para criar visualização de dados? Por quê?

Como disse, eu prefiro usar a ferramenta mais adequada para cada projeto. Mas tem um lugar especial no meu coração para o JavaScript, talvez porque foi a primeira linguagem que aprendi seriamente. E para fazer mapas, QGIS, pela sua simplicidade e por ser um projeto open source incrível.

Qual é a maior dificuldade em trabalhar com o D3 e AngularJS na realidade de projetos freelancer como os seus?

D3 tem uma curva de aprendizado alta, e um approach bem diferente da maioria dos frameworks de JavaScript. Se você não tem uma noção boa de JavaScript, o D3 pode acabar te confundindo mais ainda.

Hoje eu não tenho mais usado o Angular e tenho preferido fazer projetos com React. A dura realidade do desenvolvimento front-end é que os frameworks entram e saem em voga muito rápido, então o que você aprende hoje pode estar em desuso em pouco tempo.

Quais outras ferramentas, linguagens de programação e frameworks para criação de visualização de dados você pode sugerir para quem está iniciando nessa trajetória?

Se você gosta de mapas, QGIS é uma ótima porta de entrada para esse mundo. No caminho, você pode ir aprendendo um SQL básico, que vai sempre ser útil e bom pro seu currículo.

Se quiser partir para uma linguagem mais robusta, depende um pouco do seu foco. Não há um caminho único, mas hoje em dia eu sugiro JavaScript se você quiser focar mais em visualizações interativas e desenvolvimento front-end. Se quiser algo mais para análise de dados sugiro pegar a trilha Python e Pandas.

Mas para mim o mais importante de tudo é ter um projeto que você quer fazer, e tentar fazê-lo e ir aprendendo as ferramentas no caminho. Aprender uma ferramenta ou linguagem nova é muito difícil se você não tiver algo que você deseja fazer com ela. É executando projetos que eu mais aprendo. Ninguém quer passar 80 horas para aprender como calcular uma sequência de Fibonacci em JavaScript (eu pelo menos não quero). Procure tutoriais e cursos focados em projetos e ao mesmo tempo tente fazer seus próprios projetos usando o que aprendeu. E não esqueça de tentar se divertir no caminho.

A equipe do datavizbr agradece mais uma vez a participação do Bernardo nessa entrevista e teremos outras entrevistas nas próximas semanas.

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Rodrigo Medeiros
datavizbr

Interaction Designer and Professor, PhD. Curator at @datavizbr. #ux #dataviz