O que é a “síndrome do jeito dela”

E porque essa não é uma boa desculpa para ser um idiota

Samuel de Almeida
Desen
3 min readJan 19, 2018

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No fim do ano passado eu escrevi um texto sobre Amizades Tóxicas, e falei sobre um problema que, na minha opinião, é um dos pilares que sustenta situações negativas em relacionamentos, sejam amizades, namoros, ou até dentro da família.

A síndrome do jeito dela é uma forma de justificar comportamentos prejudiciais de outras pessoas. É arrogante e acha que está sempre certo, mas é o jeito dele. Sempre chega atrasada nos compromissos, mas é o jeito dela. Fala mal dos amigos pelas costas, mas é só o jeito dele.

Essa síndrome nasce no fato de que seres humanos são bons em se adaptar às condições ao seu redor, e ações que normalmente consideramos desconfortáveis podem passar a ser justificáveis quando somos expostos à elas repetidas vezes.

Pense nas séries em que um personagem é colocado em condições de pressão constante, e vai se tornando cada vez mais frio e/ou agressivo. Rick, The Walking Dead, é um bom exemplo dessa adaptação.

Uma das situações em que normalmente temos o primeiro contato com a síndrome do jeito dela é dentro de casa. Em muitas famílias, mãe e pai assumem, de forma intencional ou não, os papeis de policial bom e policial ruim.

O ruim é aquele que pressiona o acusado a confessar algo, ameaça todas as coisas que podem acontecer com ele, bate na mesa e sai gritando da sala. O bom é aquele que chega depois e pede desculpas pelo comportamento do companheiro, fala de forma tranquila, tenta convencer o acusado de que está ali para ajudar, mas só pode ajudar caso ele confesse.

Na família, o mais comum é que o pai seja o policial ruim, e a mãe seja o bom — enquanto o pai proíbe, se estressa, castiga, a mãe chega depois e fala calma, meu filho, você sabe que seu pai é assim, esse é o jeito dele.

Como geralmente temos pouco espaço para discutir com nossos pais e, quando mais novos, não sabemos nem mesmo como explicar exatamente o que estamos pensando, as saídas costumam ser ficar calado e aceitar, mostrando que o jeito dele dá certo e fazendo com que se perpetue, ou reagir de forma exagerada, por não aguentar a pressão, o que leva o pai a impor ainda mais o seu personagem de poder.

A partir daí, a visão de que as pessoas têm o jeito dela, e esse jeito pode incluir tentativas de se impôr, piadas idiotas, diminuir a importância do outro, agressões verbais e até mesmo físicas. Normalmente essa visão é um dos fatores determinantes para que as pessoas não consigam se livrar de relacionamentos abusivos.

Então aceitamos que alguém ridicularize as nossas ações, que alguém seja sempre o centro das conversas, falando apenas do que ela própria vez. Deixamos passar quando um amigo faça um comentário racista, ou quando um outro fala que ficou com uma menina quase apagada de bêbada em uma festa. Todo tipo de ato negativos, até mesmo covarde, sob a justificativa de ser o jeito da pessoa.

Mas e quanto ao seu jeito?

Usando a própria lógica de que todas as pessoas podem ter o jeito delas, e algumas se escondem atrás disso para ter atitudes erradas, você também pode ter o seu jeito, e fazer com que parte dele seja não aceitar que essas atitudes passem batidas.

Se impôr, estar disposto a ser aquele que questiona os comportamentos que acha errados, contra você ou outras pessoas, estar sempre atento para não ser você mesmo o que erra e se justifica com a síndrome do jeito dela, todas essas ações podem fazer parte do que você constrói como a sua personalidade.

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Samuel de Almeida
Desen

Aquela bio com uma crise existencial por não saber me definir.