(Nota nº 1) O desconhecido é preponderante ao conhecido

André Silva
#Diários de bordo
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2 min readMay 11, 2024

Eu muito mais desconheço do que conheço. A grande maioria das coisas no universo eu não conheço. O não conhecimento é uma constante, porquanto para tudo conhecer seria necessário onipresença, seria necessário que a parte estivesse em todos os lugares ao mesmo tempo ou que uma tal forma do conjunto dos sujeitos fosse manifesta e expressa, o que poder-se-ia chamar de Deus. Dizer isso não significa que este último quadro não seja possível. Contudo, continuando o raciocínio, temos o não conhecimento como uma constante, embora isso também é verdadeiro para o conhecido enquanto memória em um amplo sentido. A impossibilidade de se conhecer tudo e a necessidade de uma tal onicienscia se justificam pela rede, ou melhor, pelo sistema complexo. Se um elemento de um sistema com uma grande quantidade de elementos se altera, transformações em todo o sistema são observáveis. Isto por si só já demonstra que não é possível dizer de uma ciência que pretenda tudo saber, mas que apenas reconheça conhecer um aspecto do real. Para a ciência conhecer é preciso antes reconhecer que ela desconhece. E isto se faz com a filosofia a partir de suas perguntas. A ciência assim é um eterno tributo ao desconhecido como parte importante para dar valor ao reconhecido. É pelos que desconhecem no mundo a quem a ciência deve servir oferecendo-lhes meios e conquistando-lhes o interesse de desejar conhecer o real, o desconhecido, a fim de que ela própria seja capaz de conhecer mais aspectos do real. A ciência assim, mais conhece quanto mais integre, quanto mais converse a partir do dialogo entre as correntes de diferentes domínios, com reconhecidos (e reconhecendo) limites. Logo, diante tudo isso, não se pode defender uma filosofia ou uma ciência materialista se não se tem uma garantia acerca dos Estados de percepção da matéria. Se este modo de percebe-la é variável de modo que nos diferimos de outras espécies, não pode se ter garantias sobre o quanto percebemos. Podem haver estados da matéria imperceptíveis. Se há desconhecido e se não há um conhecimento completo sobre as formas de manifestação no mundo e se a própria forma é domínio do fenômeno não é possível engessar sua condição. O que está constante é a existência e, para nós, o pensar. Penso, logo existo. Se essa existência abarca o desconhecido e o fenômeno, então conhecer não é um absoluto domínio do material, se este material se equivaler àquilo que é percebido. E aí diante o desconhecido uma pergunta: quando começamos a conhecer? Ou porque existimos? Ou quando começamos a existir e de que modo? A ausência de respostas exatas, precisas e definitivas e a impossibilidade de haver tal presença é por si só um determinante de que não se pode ser apenas materialista.

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André Silva
#Diários de bordo

Pensador, investigador e “filosofista”. Pesquisa a ciência, a consciência, o espírito, linguagem, cultura, redes, etc. Mestre em C.I. Instagram: @andrefonsis