Implementando Inovação em Grandes Empresas: Métricas & Iniciativas
As grandes empresas que dominam o mercado atualmente já identificaram o maior desafio que têm pela frente: passar por uma transformação cultural e digital profunda, para que consigam se manter competitivas no mercado e inovar continuamente.
Os desafios são grandes: Burocracia interna, buy-in da Diretoria, processos ultrapassados, um cenário de muitas incertezas e competição global.
A pergunta deixou de ser ‘devemos ou não inovar?’ e passou a ser:
Como implementar e medir o impacto de uma estratégia de inovação?
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Empresas que desejam começar uma estratégia de inovação têm que executar seu Core Business da maneira mais eficiente possível, enquanto promovem Iniciativas de Inovação.
Essa capacidade de organização ambidestra, ou seja, atingir o máximo de eficiência no negócio atual enquanto se adapta e explora cenários futuros, é o primeiro pré-requisito para que grandes empresas comecem o processo de transformação cultural.
O segundo pré-requisito é compreender o conceito dos 3 horizontes da inovação e do conceito de Lean Startup.
A partir desses 3 pré-requisitos, Steve Blank desenhou um framework para gestão da inovação (imagem acima) que eu tomei a liberdade de complementar com o que aprendi ao participar de um encontro do Centro de Referência em Inovação (da FDC), e assistindo aos painéis da ABDI no CASE 2018.
Em todas essas ocasiões, pude escutar as maiores referências de Inovação do Brasil (de professores a Heads de Inovação das maiores empresas brasileiras), compartilhando e validando os dados apresentados abaixo.
Conheça agora os 3 horizontes da Inovação e algumas sugestões de métricas e iniciativas para implementar em sua empresa.
Boa leitura!
O primeiro horizonte da inovação engloba todas as atividades do modelo de negócio já existente (e rodando) da empresa. Ele representa o ‘agora’ e todas as iniciativas de inovação devem focar nos processos internos.
É importante que ele seja o primeiro foco das iniciativas, exatamente porque foi através dele que as grandes empresas conquistaram suas posições de liderança no mercado.
Alvo:
Problemas cotidianos/operacionais;
Objetivo:
Inovação incremental em processos, protocolos e custos (para aumentar a lucratividade do negócio existente);
Diferencial:
Milhares de pequenas mudanças são impossíveis de serem percebidas de fora, e impossíveis de se imitar pela concorrência;
Perspectiva:
Curto prazo / trimestres;
Risco:
Baixo
Iniciativas:
- Palestras de introdução à cultura da inovação (sensibilização);
- Treinamentos de Decisão Relâmpago
(capacitação para resolução de problemas simples); - Hackathons com Design Sprints
(capacitação para resolução de problemas complexos);
Indicadores:
- Clima Organizacional;
- Retenção de Colaboradores;
- Treinamentos Realizados;
- Ganhos de Produtividade;
Métricas:
- Engajamento de colaboradores em projetos de inovação (%);
- Nº de ideias geradas e aprovadas;
- Nº de ideias reprovadas e armazenadas no sistema;
- % processos criados/refinados/extintos;
- Tempo de Atendimento (aos Clientes e Fornecedores);
O amadurecimento do primeiro horizonte é percebido quando gestores e colaboradores adotarem e incentivarem a geração de ideias, propondo projetos para os outros horizontes, alinhados à missão da empresa.
Como seus resultados são focados em curto-prazo, fica mais fácil perceber as mudanças culturais, e todos se tornam evangelizadores da inovação.
O segundo horizonte da inovação foca no refinamento e na criação de novos produtos e serviços, ou seja, na extensão do Core Business da empresa.
É importante que ele seja o segundo foco das iniciativas, exatamente porque os colaboradores e líderes já foram sensibilizados e capacitados, logo terão condições de identificar oportunidades e assumir riscos razoáveis na proposição de novas soluções.
Alvo:
Produtos e serviços existentes da empresa;
Objetivo:
Criação de novas features, engenharia de valor, expansões, otimizações, etc;
Diferencial:
Experimentar com tecnologias já estabelecidas e/ou emergentes é mais seguro e trabalhar novos canais de distribuição e novos produtos para consumidores existentes são iniciativas com alto potencial de ROI;
Perspectiva:
Médio prazo / semestres;
Risco:
Moderado
Iniciativas:
- Design Sprints (individuais)
(assumindo riscos razoáveis e trazendo o cliente para perto); - Hackathons com Design Sprints
(em programas para estagiários e desafios de departamentos específicos);
Indicadores:
- Qualidade Percebida;
- Satisfação e Recompra;
- Crescimento de Vendas;
Métricas:
- Orçamento investido em projetos de inovação (%);
- Taxa de projetos de inovação dentro do orçamento;
- Taxa de extrapolação orçamentária de projetos de inovação;
- Acompanhamento do cronograma dos projetos;
- % de novos produtos/serviços no portfólio;
O amadurecimento do segundo horizonte da inovação é percebido quando equipes dedicadas para a execução das ideias conquistaram autonomia e compreenderam que têm de estar em diálogo constante com o Horizonte 1 para que esses adotem os projetos de inovação que foram bem sucedidos.
O terceiro horizonte da inovação foca no desenho do futuro, com metodologias não necessariamente testadas.
Nesse horizonte a grande empresa está incubando uma, ou várias, StartUps (nascidas internamente ou captadas através de programas). Elas irão operar com velocidade e urgência, em busca de modelos de negócio replicáveis e escaláveis.
Alvo:
Novas tecnologias e modelos de negócio disruptivos;
Objetivo:
Arriscar e experimentar com o desconhecido, buscando maneiras de deixar a própria empresa obsoleta;
Diferencial:
Iniciativas de capital intensivo (como a criação de Labs e programas de Aceleração) são muito competitivas, uma vez que poucas empresas dedicam quantidades massivas em iniciativas de inovação;
Perspectiva:
Longo prazo / anos;
Risco:
Alto
Iniciativas:
- Design Sprints (individuais ou hackathons)
(simulando tecnologias ainda não desenvolvidas e modelos de negócio); - Open Innovation
(procurando e dialogando com Startups que possuem soluções aplicáveis à indústria em que a grande empresa está inserida, através de laboratórios próprios ou parcerias com aceleradoras); - Intraprendedorismo
(ideal para alocar funcionários com perfil empreendedor. Eles são os ‘rebeldes’ que normalmente seriam demitidos por não se encaixar no planejamento, e se tornarão CEO’s das Startups internas);
Indicadores:
- Qualidade Percebida;
- Taxa Interna de Retorno;
- Custos Operacionais;
Métricas:
- Seed money para novos projetos (%);
- Affordable loss (%);
- Nº de projetos incrementais, radicais e disruptivos gerados;
- Faturamento e investimento em novos produtos (%);
- Redução de Custos de Projetos Incrementais;
- ROI de novos produtos ou tecnologias;
Para o amadurecimento do terceiro horizonte da inovação é essencial que as iniciativas/StartUps estejam geograficamente distantes da operação da grande empresa (em Labs, escritórios próprios, aceleradoras, universidades, etc). Isso as protegerá de toda a burocracia e métricas de curto-prazo que podem ser fatais para seu sucesso.
O terceiro horizonte está maduro quando conquistou sua autonomia, desenhando seus próprios processos, protocolos e KPIs.
Conclusão
Empresas ambidestras estão permanentemente experimentando nos Horizontes 2 e 3 enquanto melhoram implacavelmente sua capacidade operacional do Horizonte 1, para continuar atendendo seus clientes atuais.
Só é possível atingir esse patamar quando a Diretoria compartilha uma visão estratégica, com valores, identidade e intenção alinhados. Esse alinhamento é imprescindível pois operar nos 3 horizontes demanda muita tolerância para resolução de conflitos, ao navegar em ambientes de alta instabilidade e risco.
“Organizações inovadoras recompensam o sucesso, celebram as falhas e punem a inação” — Robert Sutton
Referências
Para escrever esse artigo me baseei no trabalho dos profissionais:
- Steve Blank, uma das maiores referências de Inovação no mundo;
- Hugo Ferreira, professor de Inovação na Fundação Dom Cabral;
- Painéis de Inovação para Grandes Empresas da ABDI (no CASE);
- Livro — Lean Startup
- Livro — Radical Candor
That’s it! O que achou do artigo? :)
Sinta-se à vontade para deixar dúvidas, comentários e sugestões e caso trabalhe liderando iniciativas de inovação, compartilhe suas experiências!
Abraços e até a próxima!
