Por um debate liberal e não estatizante

A academia e mídia pautam as conversas como se somente existisse um lado a ser ouvido. Mas não, há, pelo menos, mais um.

Felipe Torquini
A Dissidência
3 min readNov 15, 2018

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A mentalidade brasileira está contaminada com o estatismo para resolução de problemas que, se resolvidos de forma privada – de forma natural com o progresso cultural – obteriam resultados mais efetivos sem haver prejuízos, ou pelo menos com estes diminuídos. As discussões políticas, sociais e econômicas ainda estão sendo feitas como se as medidas de Getúlio Vargas fossem responsáveis pelo único progresso que o Brasil possui – além de algumas medidas do ex-presidente e atual presidiário Lula. Certamente meu recorte de discussão está sendo feito sobre a grande mídia, parte relevante das mídias independentes e da academia. Entretanto, a Petrobras não é uma empresa estratégica. A Eletrobrás não é do povo. As mais de 100 estatais são, de forma geral, resíduos de um Estado incompetente – muito mais do que o normal. A CLT é inspirada no fascismo – assim como Getúlio, e não é a grande protetora do trabalhador brasileiro. A Reforma da Previdência é sim necessária e sem ela o país vai quebrar e boa parte dos que pretendem após sua velhice possuir uma renda através do Estado não vão conseguir. A Reforma Trabalhista foi extremamente branda e mesmo assim, é um dos maiores avanços do século.

A compreensão distorcida é facilmente notada quando qualquer curioso procura na internet os números de intervenção estatal em relação ao desenvolvimento de cada país ou a quantidade de encargos trabalhistas que o trabalhador possui e o empregador é submetido quando decide empreender. A ideia dos acadêmicos, que, de forma geral, nunca trabalharam, é sustentada financeiramente pela massa que, assim como seus filhos, não possui acesso a universidade. Os filhos das famílias mais ricas do país frequentam, se formam e pautam futuramente temas com uma visão que inversa à da classe dominante no Brasil. As duas últimas eleições mostram que, de forma geral, o brasileiro não concorda com as ideias socialistas. A maioria dos socialistas não tiveram acesso ao conteúdo liberal. E essa é uma constatação fácil de ser feita: quando uma ideia domina a academia e as salas de aula, automaticamente uma massa que só possui esse caminho de obter conhecimento é influenciado. Autores conservadores do Reino Unido ou liberais não chegam (ou chegavam, até poucos meses) às livrarias.

Um debate livre precisa incluir pelo menos alguma dessas obras, clássicos do conservadorismo e do liberalismo. (Foto: Aldo Nobuo/Acervo Pessoal)

Constatado o domínio da esquerda na produção jornalística e acadêmica, é necessário entender como ela foi rompida com a vitória de Jair Bolsonaro. A oposição ao aparelhamento estatal obtido pela esquerda está sendo combatida com uma visão que não está necessariamente acordada com as medidas que devem ser propostas para o avanço do país. O globalismo não é o maior problema do mundo; armas não são a solução para a segurança (e sim uma liberdade individual extremamente necessária); a doutrinação nas escolas, embora seja um grande problema, não é o motivo da falha do sistema educacional brasileiro – que, só para não deixar em branco, é a falta de liberdade, assim como em todas as áreas do país e não a falta de intervenção do governo; o aquecimento global não é o debate que deve ser posto em cheque. Além de Bolsonaro possuir um caráter de espécie sindicalista e a favor de privilégios durante sua trajetória política, sua equipe também não é exemplo de liberdade – excluindo Paulo Guedes. As nomeações para saúde e educação ainda não foram feitas, entretanto, Marcos Pontes, futuro ministro de Ciência e Tecnologia, anunciou que é necessária a abertura de capital privado nas universidades, levantando um ponto relevante na discussão.

Uma troca de governo não pode significar uma continuação de ideias erradas feitas por pessoas diferentes. O ambiente intelectual não pode inverter o sinal de quem atua sem haver mudanças nas estruturas. As ideias de Getúlio, Lula e o regime militar não são, de forma ampla, erradas por serem de direita ou de esquerda, mas sim por concordarem com a ausência de democracia, de liberdade econômica, de liberdade individual e, no limite, do tripé inteiro. O debate e o modo de pensar do governo e da academia, que pauta o debate público, precisa começar a ser feito com base no liberalismo, e não no estatismo de lado A ou B.

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