Efeitos da Luz Azul no organismo

Nesta publicação, vamos entender como a luz azul afeta o nosso organismo, iluminação típica de celulares, tablets e computadores.

Higor Souza Cunha
ARGO — Divulgação Científica
5 min readOct 24, 2021

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Figura 1. Exposição à Iluminação Artificial no período noturno. Fonte [1]

Introdução

Na sociedade contemporânea, é muito comum o uso de diferentes aparelhos eletrônicos, como celulares, tablets, computadores e televisões, por pessoas de praticamente todas as faixas etárias. O que talvez poucas pessoas se perguntam é como tais aparelhos prejudicam a nossa saúde, o que faz sentido, pois no geral temos interesse no entretenimento e nos picos de dopamina (neurotransmissor que quando liberado provoca sensação de prazer) envolvidos.

Para esmiuçar esse contexto que pouco refletimos sobre, mas que sentimos na prática os efeitos, nesse texto vamos tratar sobre os Efeitos da Luz Azul no nosso organismo. Mas por que esse tema? Vejamos a imagem a seguir para pensarmos a respeito:

Figura 2. Uso de aparelho eletrônico no período noturno. Fonte [2]

Acredito que muitos de nós já ficamos na madrugada vendo filmes/séries, jogando videogame ou mesmo deitados vendo as redes sociais antes de dormir. Pelo menos uma vez, cada um de nós já se deparou com algum alerta sobre os problemas desses comportamentos, como a Figura 2, que nos fala sobre “Insônia, Distúrbios Metabólicos, Fadiga Visual e Ressecamento da Retina”. Nessa publicação vamos entender o motivo pelo qual essas condições foram mencionadas!

Hormônios e Ciclo Circadiano

Antes de tudo, vamos primeiro entender como ocorre a captação da luz pelo nosso organismo.

Figura 3. Esquema da inibição e estimulação da Glândula Pineal através da luz. Fonte [3]

Na Figura 3, vemos o Núcleo Supraquiasmático (NSQ) que recebe a informação da retina acerca do ritmo claro/escuro do ambiente. O NSQ é responsável por sincronizar o relógio biológico, pois interpreta e transmite os estímulos luminosos à Glândula Pineal, sendo esta responsável pela produção de Melatonina (hormônio do sono que regula o ciclo circadiano e promove o bom funcionamento do organismo) [4].

O Ciclo Circadiano ou Relógio Biológico é um período de aproximadamente 24h durante o qual ocorre uma série de mudanças no funcionamento do organismo dos seres vivos, como ilustra a Figura 4.

Figura 4. Ciclo Circadiano. Fonte [5]

Para o nosso contexto é importante focarmos na produção da Melatonina.

Figura 5. Níveis fisiológicos de melatonina no período de 24h. Fonte [3]

A Glândula Pineal é ativada quando não há estímulo luminoso, por isso o pico máximo de melatonina ocorre na metade da noite — nesse período a temperatura do corpo cai, o nível de atividades do nosso metabolismo é mínimo e os hormônios responsáveis pela regeneração das células são ativados [6].

Para entender melhor sobre como funciona o nosso sono, sugere-se a leitura de uma das nossas publicações: A importância do sono: você está dormindo certo?

Problema da Iluminação Azul

Os aparelhos eletrônicos utilizam a tecnologia LED para a luminosidade e analisando o espectro típico de emissão na Figura 6 notamos o pico na faixa do azul.

Figura 6. Espectro típico da energia em função do comprimento de onda. Comparativo entre Vapor de Sódio (High Pressure Sodium), Haleto metálico (Ceramic Metal Halide) e LED branco. Fonte [7]

Estudos vêm demonstrando que a exposição constante à luz azul no período da noite faz com que o cérebro entenda que ainda não anoiteceu, modificando todo o ciclo circadiano do organismo, uma vez que retarda a produção da Melatonina [2].

A alteração crônica do Ciclo Circadiano é algo que pode afetar seriamente a saúde, em virtude do desenvolvimento de doenças e condições crônicas.

O infográfico a seguir destaca alguns dos possíveis problemas:

Figura 7. Problemas de saúde decorridos da exposição à luz azul. Fonte [8]

Se pararmos para pensar, faz sentido o nosso organismo responder de tal forma, afinal, ao longo do nosso processo evolutivo a luz do dia moldou todo o sistema biológico. A Figura 8 nos ajuda a compreender isso: podemos observar que no começo do dia o tom mais alaranjado (nascer e pôr do sol) é propício para o descanso (é até mais confortável para a nossa visão), enquanto que no período de maior produtividade temos uma coloração mais azulada, típica dos aparelhos eletrônicos. Isso naturalmente afeta a percepção de dia e noite.

Figura 8. Tonalidade da luz natural durante o dia. Fonte [9]

Conclusão

É importante destacarmos que o problema em si não é a iluminação artificial, mas a tecnologia que apresenta a coloração azul e obviamente os nossos hábitos. Já existem pesquisas buscando desenvolver aparelhos eletrônicos sem a emissão da luz azul para, assim, atenuar os malefícios.

Todavia, há algumas formas de nós mesmos melhorarmos a situação, como fazendo uso de softwares para adaptação da luz nas telas. Seguem algumas sugestões:

• O F.lux, disponível para Windows, Mac e Linux, coloca um filtro que impede a emissão de luz azul na tela, assim que o Sol se põe por completo.

• Usuários de Android podem instalar o Twilight, que aciona um filtro que bloqueia a luz azul em tablets e celulares.

Felizmente, opções não faltam. Porém, aliado a elas, também precisamos de informações sobre o assunto. Dessa maneira, com esse importante conjunto de “ferramentas”, poderemos melhorar a nossa qualidade de vida!

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