9 meses de leitura

Raul Andreucci
Dolores Editora
Published in
7 min readSep 30, 2020

o que me atravessou ao longo deste ano

O último texto do Bruno Rodrigues me inspirou. A ponto de retomar a escrita aqui, algo que estava nos planos e só antecipei. É que li e reli as linhas (bem traçadas) lá no Futebol Café. Viajei. Fui longe. Afinal, é um sonho de que compartilho.

Que delícia seria essa livraria de futebol aqui no Brasil. Para além do expresso (ou coado!), o encontro com os amigos, as trocas com desconhecidos, as dicas dos livreiros; a descoberta e toda aquela curtição dos títulos novos (das editoras que não param de surgir, crescer e produzir, oxalá!), dos achados empoeirados e até dos importados diferentões. Ah… Vai ser demais, né?

Enquanto isso, a gente persegue a utopia. Fixa o olhar na meta, opa, no gol, melhor dizendo, e não desiste. Aproveita o percurso todo. Devorando livros, pesquisando sobre mais obras e autores, produzindo conteúdos a respeito disso tudo e desenvolvendo editora (s) e livro (s) de futebol.

Com esse sentimento, decidi separar minhas leituras deste ano. Tudo o que devorei. Bati as fotos, pedi ajuda ao próprio Bruno (que emprestou um livro, já devolvido, ressalte-se! rs!) e à Débora, minha namorada (que é dona de alguns e está com outros — obrigado, mor!) e corri para escrever.

Queria mostrar o que me atravessou até este último dia de setembro. Compartilhar e, quem sabe, te animar a ler (cada vez mais!).

Contabilizei 30 livros. Posso ter confundido algum do ano passado ou estar esquecendo qualquer outro. Não tem problema. Aumentaria ou diminuiria um pouquinho o número. O importante é ter essa dimensão. E pensar. Tá na minha média? Ou foi pouco? Muito, talvez? Nunca é demais, vai.

Eu, se fosse você, entrava na brincadeira. Contava também. Vai ter quem leu mais, menos… E tá tudo certo! Um dos aprendizados dessa vida também está em entendermos, aceitarmos e acolhermos o nosso tempo e a nossa dinâmica (para qualquer coisa!). E encontrar aquele nosso jeitinho, só nosso, de levar o que for — e os outros que se incomodem!).

No meu bolo tem futebol, romance, poesia, quadrinhos e até ensaios de política. Sem folêgo ou mesmo conhecimento o suficiente para comentar todos, vou, em bloco, de pequenas pitadas. Fica à vontade pra anotar nomes de livros, fazer lista de outros que vierem à mente…. Vale tudo!

Daí, quando tiver a livraria — ou em novas edições do Café Itinerante, vai saber –, assunto (e livro) é o que não vai faltar.

Boa leitura!

o/

A criança interior

Quem não tem, tá perdido. Quer dizer, todo mundo tem uma criança interior. E quem sufoca aquele eu de quando era pequeno, sempre pronto a curtir e aprontar, bom, sempre pode abrir o calabouço e se permitir ser mais lúdico e leve. Aberto às descobertas e ao puro prazer de se divertir. Essa dureza não leva a nada. A minha criança interior adora super herois. Não conseguimos (nem queremos) acompanhar essa atualizações. Lemos os quatro clássicos que sobraram. Destaco na imagem da esquerda o Batman Preto e Branco. Pura arte. Histórias do morcegão assinadas por feras dos quadrinhos. E, na esquerda, o (quase) cinema mudo do Gustavo Duarte, ex-chargista do Lance!. Birds e Monstros, com direito a autógrafo, são geniais!

O processo de autoconhecimento

Eu tinha preconceito com o que ficou conhecido como “auto-ajuda”. Nos últimos anos, porém, caíram no meu colo Elisama Santos, Brené Brown e Matheus Rocha. Virei fã. E semana passada aprendi com Murilo Gun a falar em “autoconhecimento”. Com essa pegada, revisitei um livro infanto-juvenil de quando estudei clown, do Cláudio Thebas, chamado O livro do palhaço. Sempre volto a essa obra porque me lembra da importância de valorizar quem eu sou, o meu palhaço de cada dia, e de insistir na leveza (e na risada!) mesmo diante dos tropeços. Do lado dele tá um do Carpinejar, Família e tudo, que me ajudou um tico a mais a acomodar tantas questões das relações consangüíneas. E, há menos de um mês, descobri o Samuel De Leonardo, com o seu Hacasos. O pai do Victor Figols, companheiro de Ludopédio, escreveu contos e crônicas que mexeram comigo. E me fizeram pensar em mim e nos outros. De como a vida é efêmera e, ao mesmo tempo, linda, poética. Por isso, mesmo sem ser exatamente de autoconhecimento, cabe aqui. Quase o mesmo motivo pra colocar, como se vê na direita, os livros do Ruy Barbosa e do Vladimir Safatle, discurso e ensaio teórico, respectivamente, que também me colocaram em outra perspectiva de jornada de vida e de país.

A minha literatura bagunçada

É a seção mais defasada. Os poucos, porém, valem por muito! Começo pela imagem do meio, mais precisamente com A história do Olho, indicado pelo meu irmão do meio, o João Gabriel. Uma referência na literatura erótica que me atiçou e gerou sensações (e consequências) inimagináveis. Se você tá de peito aberto, vale experimentar. O pai da menina morta, também no centro, foi uma grata surpresa. Apesar de ter demorado a entrar na dinâmica do Tiago Ferro, aos poucos você se vê imerso na dimensão do fato que o título denuncia: a morte da filha do protagonista. Do caralho. Na direita, tem dois da Débora. Devorei A Fúria, com contos de realismo mágico, e, meses depois, o Quarto de Despejo, o diário de uma catadora de lixo nos anos 1950. E, por último, na esquerda, com muito carinho, os livros da Primata, do meu irmão caçula, o Caio — Macaio Poetônio. Eu não sou muito de poesia, talvez porque me sinta… burro? Acho que sim. Estúpido por não entender. Talvez por isso também me empolgue tanto quando sinto em mim, lá no amâgo, aquelas palavras… E saco a tal da conexão que se faz nesse tipo de arte só por sentir.

Ah, o futebol!

Ahá! chegamos ao que tanto interessava à maioria, imagino! Rs! Como ano passado suei para lançar a Dolores Editora e assentar suas bases mínimas, agora tive de tirar o atraso. Conferir o que os colegas aprontaram. Continuo fã da Grande Área, isso é certo! Só deles foram as biografias de Guardiola, Klopp e Mourinho – com Ancelotti na fila. O primeiro do Pep está entre os meus favoritos. E posso dizer que já me sinto amigo de Axel Torres. Gol da Alemanha é um primor. Da corner, tem alguns na fila. O de Hernán Casciari, Não Ligo para Futebol, me deixou ouriçado e… preciso dizer… foi uma decepção. Tem textos bacanas, mas o machismo e a misoginia em um dos textos, motivo de conversas com muitas mulheres, que confirmaram essa impressão, para mim, seria o suficiente para vetar a publicação. A passada de pano do prefácio não adianta nada. Aprendi bastante com o livro da Primeiro Lugar, o necessário Bicha!, do João Abel. Por recomendação do Lucio Branco, li o do Almir Pernambuquinho, um depoimento editado do jogador, sem qualquer papa nas línguas – revelações bombásticas! E, por fim,me apaixonei por El Partido, de Andrés Burgo, lido em um fim de semana! Esse é o tal emprestado pelo Bruno. Conta toda a história em torno do fatídico Argentina x Inglaterra, pela da Copa do Mundo de 1986, no México. Um documentário em folhas de papel.

Os livros das editoras e a fila de sempre

Como estou em três editoras (uma como faz tudo, a Dolores Editora; outra como parte de um coletivo, a Editora Ludopédio; e a terceira em sociedade com o amigo Jorge Wakabara, a Eita Editora), li um bocado de manuscritos nesses nove meses e ao menos cinco livros estão editados (lidos, relidos e ajustados, bonitinhos, portanto! Rs!) e quase no prelo (esperando ilustração, diagramação, definições…). Dois saíram! E ficam pertinho de mim, porque não canso de namorá-los: o Democracia Fútbol Club (Ludopédio) e o Si, Copimila (Eita). Nesses três meses de fim de ano vai pintar mais lançamento. Ao menos mais dois! E, espero eu, a conclusão de mais leituras – abrindo caminho sempre pra mais! Rs! Estou curtindo agora o Futebol à esquerda, do Quique Peinado, e tentando destravar outro, de ficção, intitulado Sistema Nervoso. A capa é linda, mas sabe quando não engata? Enfim… Rs!

E você, o que leu em 2020?

Um abraço!

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Raul Andreucci
Dolores Editora

Editor e Idealizador da @dolores_editora ⚽ 📕 ✍🏼 | Colaborações editoriais com Eita, Grande Área e Ludopédio 🙌🏽 | Jornalista 📰 | Mestre em Sociologia 📓