O valor do UX Designer em equipes ágeis

Renan Moura
Dotz Design
Published in
9 min readJul 15, 2022
Post-its amarelos alinhados, uma caneta preta, um teclado e um mouse brancos. Todos esses objetos estão postos sobre uma mesa de madeira
Foto por Kelly Sikkema em Unsplash

Atualmente, muito se fala sobre o aumento na necessidade de contratar um time de UX designers para auxiliar nos processos das empresas (principalmente aquelas que fornecem produtos digitais).

O mercado de UX Design vem ganhando cada vez mais força nos últimos anos. Com os impactos da pandemia do coronavírus, as empresas passaram a perceber a grande importância de fortalecer o lado digital de produtos e serviços.

Porém, apesar do aumento na necessidade de melhorar a experiência dos usuários, podemos observar que o boom do UX design está apenas em seu início.

O Nielsen Norman Group atualmente define 6 estágios de maturidade para mensurar o desejo e a capacidade de uma empresa entregar um design centrado no usuário. Esses níveis de maturidade englobam, além de outros aspectos, processos, operações, apoio da liderança e cultura. São eles:

  1. Ausente — UX é ignorado, ou não existe.
  2. Limitado — O trabalho de UX é raro, feito ao acaso e não é dada importância o suficiente a ele.
  3. Emergente — O trabalho de UX é funcional e promissor, porém é feito de forma inconsistente e ineficiente.
  4. Estruturado — A empresa tem metodologias semissistemáticas relacionadas a UX que são bem difundidas, mas com vários graus de efetividade e eficiência.
  5. Integrado — O trabalho de UX é compreensivo, efetivo e abrangente.
  6. Orientado ao usuário — A dedicação para UX em todos os níveis leva à coleta de insights profunda e designs centrados no usuário excepcionais são gerados.
Os 6 níveis de maturidade, de acordo com o Nielsen Norman Group

No meio desse crescimento acelerado, surgem alguns questionamentos: O que é, de fato, UX Design? Por que precisamos tanto de um UX designer na equipe? Como podemos encaixar os processos de design num squad que trabalha com metodologias ágeis?

A ideia deste artigo é esclarecer a importância do trabalho de um UX designer no contexto ágil, explicando também os principais benefícios de incluir uma equipe de UX designers em squads de projetos digitais e fazendo associações com a minha experiência aqui na Dotz até então.

O que é e o que não é UX Design

UX Design, ou User Experience Design, ou Design de Experiência do Usuário é uma área que procura entender e desenhar a melhor experiência que o usuário de um determinado produto ou serviço pode obter ao interagir com ele.

Em outras palavras, designers olham para um produto e, através de muito estudo e pesquisa sobre os comportamentos do usuário final e sua interação com cada ponto de contato de uma jornada (como as áreas de compra e venda do produto, ou até mesmo o serviço de pós-venda que foi fornecido), elaboram uma soluções para atender às principais necessidades desse usuário — conciliando-as com as solicitações vindas das áreas de negócio da empresa. Apesar de essa definição abranger não somente o mundo digital, nós o usaremos como referência ao longo deste artigo.

Conhecimento é poder!

Para criar tais soluções, o UX designer utiliza uma série de metodologias e desenvolve diversas ferramentas que o auxiliam no dia a dia de trabalho. Abaixo, listo algumas das tarefas mais comuns do UX designer, e aproveito para dizer que elas são algumas das ferramentas mais comuns que procuro usar durante minha jornada de descoberta nos projetos em que participei até então:

  • Ele conduz pesquisas, para entender a fundo o escopo do projeto e poder desenhar a jornada do usuário, que é o caminho que ele percorre enquanto utiliza o produto.
  • Cria personas, representações detalhadas dos usuários finais que ajudam a aumentar a empatia que toda a equipe deve sentir por eles.
  • Cria protótipos para representar versões da solução a ser criada, o produto final, em baixa, média ou alta fidelidade. Os protótipos são muito utilizados em testes de usabilidade, momentos em que é feita a validação das hipóteses levantadas anteriormente — de preferência junto ao usuário final.

Hoje em dia, a área de UX Design tornou-se bastante popular e, por conta disso, as pessoas muitas vezes utilizam termos incorretos para defini-la. É válido ressaltar que o trabalho e as entregas de UX não se definem em:

  • Garantir uma boa usabilidade em uma tela, deixando de lado o restante — Usabilidade é apenas uma parte do processo. Não vai servir de nada ter soluções fáceis de usar, mas que não têm funcionalidades úteis para o usuário, ou que tenham uma estética visual despadronizada.
  • Desenhar telas bonitas — Design de interface é, também, somente uma parte do processo de entendimento da experiência do usuário. Não adianta fazer uma tela esteticamente linda mas que não cumpra nenhum propósito, ou cuja usabilidade seja falha.
  • Criar uma solução sem saber para quem ela está sendo criada — Isso é um dos erros mais comuns que ocorrem em muitas empresas. A receita para uma experiência ruim é projetar um produto sem entender quem de fato o usará. Isso muito provavelmente vai gerar um retrabalho no futuro, pois uma tela criada com base em “achismos” nem sempre atenderá às necessidades dos usuários finais.
Fatos são fatos.

Benefícios do UX Design

A preocupação com o investimento em UX Design traz benefícios não somente para o usuário, mas também para a empresa.

De um lado, o usuário ganha, pois produtos que forneçam uma boa experiência e facilidade de uso ajudam a solucionar os problemas que eles enfrentam no dia a dia, possivelmente reduzindo uma jornada que antes era longa, cansativa ou problemática. Ele ganha fluidez no processo de compra e, consequentemente, o seu engajamento com o produto melhora à medida que ele vai se tornando um usuário constante.

Já para a empresa, os ganhos são muitos: usuários mais fiéis e satisfeitos(e, consequentemente, um aumento no número de receita), processos bem estruturados e mais fluidos e custos com suporte e tempo de implementação reduzidos são os benefícios que mais se destacam.

O cliente ganha, seu diretor ganha, sua empresa ganha, TODO MUNDO GANHA!!

Na Dotz, um grande passo já foi conquistado antes mesmo de eu começar a fazer parte da equipe de design: a alta gestão já está confiante de que o estudo e aprimoramento na experiência dos usuários é essencial para garantir a fidelização e melhoria contínua de nossos processos. Ter o apoio da diretoria é importante para que os UX designers possam ter espaço para apresentar soluções embasadas em dados e pesquisas.

O UX Design nos contextos ágeis

“Google, Amazon e Apple poderiam esmagar o Spotify em um nanossegundo, se a empresa não estivesse perpetuamente se esforçando para ser mais rápida, melhor e mais barata. Para sobreviver, o Spotify precisa ser ágil. Eles precisam estar sempre um passo à frente.”

— Dr. Jeff Sutherland, co-criador do Scrum

O modelo Agile foi criado em 2001, por um grupo de desenvolvedores de software, com o objetivo de atender às demandas de forma dinâmica, flexível e eficiente, focando na interação entre as pessoas (tanto dentro da equipe quanto fora dela).

O cenário do mercado tecnológico atual é ágil, e isso é um fato. As empresas correm para fornecer as melhores experiências possíveis para seus clientes, e, claro, estão sempre à frente aquelas que conseguem alcançar primeiro um lugar afetivo no coração de seus clientes.

Apesar de Agile e UX terem uma grande sinergia, já que ambos desejam focar nas pessoas envolvidas no processo de criação de um produto, a qualidade da entrega pode acabar sendo comprometida nessa relação, uma vez que o Agile tende a priorizar a implementação do software, deixando de lado processos de design que requerem certo tempo para pesquisa.

E aí, fica a dúvida: como elaborar um processo que garanta tempo para analisar hipóteses e testar soluções enquanto é utilizada uma abordagem ágil para o projeto?

Como unir Agile com UX?

O primeiro passo para isso é que o próprio time de design precisa definir quais tarefas os UX designers realizam. As tarefas maiores (como o processo de pesquisa, benchmarks, criação de protótipos) e as tarefas menores (como problemas de interface que surgem somente no dia a dia do desenvolvimento) devem ser tratadas de forma diferente. Para cada uma, deve-se analisar a capacidade da equipe, a urgência da tarefa para entregar valor ao usuário e a outros stakeholders e a forma como a tarefa será desenvolvida.

Além disso, cada membro da equipe precisa entender claramente quais são suas responsabilidades. É muito comum que as tarefas do UX designer sejam confundidas com as tarefas dos Product Owners. Esse foi um dos desafios que encontrei atuando como Product Designer, e o que fiz para resolvê-lo foi explicar claramente para a equipe as diferenças entre as duas ocupações: enquanto o designer utiliza de seu conhecimento do contexto do negócio para indicar as mudanças que proporcionarão melhoria na experiência do usuário final, o Product Owner usa esse conhecimento para priorizar o backlog da equipe e direcionar o produto para o melhor caminho, com base em uma visão de mercado.

O Gartner propõe um modelo que alinha os conceitos de Design Thinking, Lean Startup e Agile, onde há um momento inicial de descoberta, empatia e ideação e um momento posterior dedicado à criação de soluções e experimentações de forma em uma série de iterações do produto:

Modelo ideal de Design Thinking unido a Lean Startup e Agile segundo o Gartner

A aplicação desse modelo não deve ser seguida à risca, mas pode, sim, ser adaptada de acordo com o nível de maturidade da empresa. O importante é sempre ter em mente uma visão de design estratégico, como foi levantado pela estrategista de design Jaime Levy:

Estratégia de UX é o processo que deve ser iniciado primeiro, antes de iniciar o design ou desenvolvimento de um produto digital. É a visão de uma solução que precisa ser validada com clientes potenciais reais para provar que é desejada no mercado. Embora o design de UX englobe vários detalhes, como design visual, estratégia de UX é o “quadro geral”. É um plano de alto nível para atingir uma ou mais metas de negócios em condições de incerteza.

Conclusão

O processo de incorporação das metodologias de design na Dotz tem evoluído a cada dia mais. O time de design se reúne frequentemente para discutir pontos de atenção e possíveis melhorias em nossa relação com os demais profissionais que nos cercam e isso, por si só, é fundamental para que sempre exista a preocupação em refinar os processos que existem atualmente.

É sempre bom lembrar que nada do que eu escrevi aqui faz parte de uma "receita de bolo". Os processos de design que seguimos devem sempre se adaptar à realidade em que estamos vivendo, já que métodos pré-definidos servem para nós somente como guias.

Designer, tente sempre ousar, se adaptar, mudar e não se envergonhar de voltar atrás caso algum processo que você seguiu não tenha dado certo. Cresça. Evolua. E deixe sempre claro o quão valioso é o impacto do seu trabalho no lugar onde você está.

Você é incrível!

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